Segundo
a Pnad Contínua, 14,1 milhões de brasileiros estão sem trabalho; com
flexibilização das medidas de isolamento, mais pessoas saíram em busca de
emprego
Vinicius
Neder, O Estado de S. Paulo
RIO
- Apesar da recuperação da economia no terceiro trimestre, o mercado de
trabalho fechou mais 883 mil vagas, ao mesmo tempo em que a flexibilização das
medidas de isolamento social para conter a covid-19 incentivou mais pessoas a
procurarem trabalho. Com isso, a taxa de desemprego subiu para 14,6%, o maior nível desde 2012,
conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad
Contínua), iniciada naquele ano.
Segundo
economistas ouvidos pelo Broadcast/Estadão, o quadro é ligeiramente melhor
na passagem de agosto para setembro, mas o cenário do mercado de trabalho ainda
é de “fragilidade”.
Os dados, divulgados nesta sexta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmaram, como esperado, que a taxa de desemprego aumentou. No trimestre de junho a agosto, ficou em 14,4% - os dados da Pnad Contínua são divulgados mensalmente, mas sempre para um trimestre móvel. A alta no desemprego já era esperada porque grande parte dos trabalhadores que perderam seus trabalhos, fossem formais ou informais, desistiu de procurar uma ocupação. Ou, por causa das medidas de isolamento social, ficaram em casa e evitaram procurar novas vagas.
Pela
metodologia internacional das estatísticas de mercado de trabalho, seguida pelo
IBGE, só é considerada desocupada a pessoa que tomou alguma atitude para buscar
ativamente um trabalho. Donas de casa dedicadas apenas aos cuidados do lar e
estudantes que optam apenas pelos estudos não são considerados desempregados,
por exemplo.
Conforme
a flexibilização gradual das medidas de isolamento, a partir de junho, mais
trabalhadores voltaram, aos poucos, a procurar trabalho. Aqueles que não
encontraram são considerados desocupados. Assim, o total de desempregados, de
12,791 milhões no segundo trimestre, saltou 10,2% no terceiro trimestre, para
14,092 milhões. Em um trimestre, são 1,302 milhão de desempregados a mais. O
aumento deverá continuar, à medida que, com a reabertura da economia, mais
trabalhadores voltem a procurar uma vaga.
“Talvez
o auxílio emergencial tenha continuado favorecendo que as pessoas se mantenham
fora da força de trabalho em setembro, mas no trimestre móvel até outubro, que
captura mais ao menos a perspectiva de redução da parcela, o retorno deve ser
maior e o desemprego deve subir com mais força”, disse João Leal, economista da
Rio Bravo Investimentos.
Ao
garantir uma renda mínima para os trabalhadores informais, o auxílio
emergencial permitiu, pelo menos parcialmente, que eles fizessem o isolamento
social, deixando de sair para trabalhar nas ruas. Um trabalhador com carteira
assinada que tenha tido seu salário reduzido, trabalhado de casa ou ficado com
jornada reduzida continuou sendo considerado como empregado pelo IBGE. O
trabalhador informal que ficou em casa passou para fora da força de trabalho.
Dada
essa particularidade, o estrago da pandemia no mercado de trabalho é mais bem
captado na taxa composta de subutilização da força de trabalho, espécie de taxa
ampliada de desemprego, que considera também os trabalhadores que não
procuraram uma vaga, mas gostariam de trabalhar, e aqueles que trabalham menos
horas do que gostariam. No terceiro trimestre, esse indicador ficou em 30,3%,
muito próximo dos 30,6% do trimestre móvel terminado em agosto, se mantendo em
níveis recordes.
Na
prática, são 33,179 milhões de brasileiros sem trabalho, contingente equivalente
à população de Angola. Foi uma alta de 3,9% ante o segundo trimestre e um salto
de 20,9% sobre o terceiro trimestre de 2019. Em um ano, 5,725 milhões de
trabalhadores, o equivalente a toda a população da Finlândia, entraram nessa
situação.
A
migração de trabalhadores da situação em que gostariam de trabalhar, mas não
estão procurando uma vaga, para o desemprego, à medida que essas pessoas
comecem a sair de casa atrás de trabalho, não mudará o indicador como um todo.
Por isso, alguns economistas dizem que o desemprego já existe, na prática. O
crescimento da taxa nos próximos meses se dará apenas por uma questão
metodológica.
Para
reverter o quadro, seria preciso recuperar os postos de trabalho perdidos na
crise, mas, conforme os dados do IBGE, o terceiro trimestre ainda foi de
perdas. Na passagem do primeiro trimestre para o segundo, a pandemia abateu
8,876 milhões de vagas de trabalho, entre formais e informais, conforme a
variação da população ocupada total, que tombou 9,6%. No terceiro trimestre, o
total de ocupados ficou em 82,464 milhões, 1,1% abaixo do segundo trimestre.
Mais 883 mil vagas foram cortadas.
Para
Adriana Beringuy, gerente da Pnad Contínua, a redução no ritmo de fechamento de
vagas já pode ser considerada um processo de melhora. A recuperação de todas as
vagas perdidas logo no terceiro trimestre era improvável, mesmo com a retomada
da economia.
“Ainda
que a melhora esteja ocorrendo, o tamanho da perda foi muito grande”, afirmou
Adriana, referindo-se à queda na ocupação no segundo trimestre. “De fato, dado
o tamanho da perda de ocupação é complicado esperar já no terceiro trimestre a
reversão”, completou a pesquisadora.
Segundo
Adriana, após responder por cerca de 70% das vagas fechadas no mercado de
trabalho na passagem do primeiro para o segundo trimestre, as ocupações
informais cresceram no terceiro trimestre. Na passagem do segundo para o
terceiro trimestre, são 870 mil trabalhadores informais a mais ocupados,
indicando que a flexibilização do isolamento social permitiu que uma parte dos informais
voltasse às ruas. Sem essa alta, o número total de fechamento de vagas no
terceiro trimestre seria ainda maior.
Com
o aumento das vagas informais, a taxa de informalidade ficou em 38,4% da
população ocupada no terceiro trimestre, acima dos 36,9% do segundo trimestre.
Após a recessão de 2014 a 2016, com a economia crescendo lentamente entre 2017
e 2019, o surgimento de vagas informais puxou a lenta melhora no mercado de
trabalho. Com isso, no terceiro trimestre do ano passado, a taxa de informalidade
atingiu o nível máximo da série, com 41,4%. Naquela ocasião, eram 38,806
milhões de brasileiros em ocupações informais. Em um ano, são 7,168 milhões de
informais a menos no mercado, indicando que muitos desses trabalhadores ainda
estão sem ocupação.
O emprego formal teve impacto negativo. O contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado ficou em 29,366 milhões no terceiro trimestre, queda de 2,6% sobre o segundo trimestre, sinalizando para o fechamento de 788 mil postos formais em um trimestre. Ante o terceiro trimestre de 2019, a queda foi de 11,2%. São 3,709 empregos formais fechados em um ano. / Colaborou Cícero Cotrim
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