O Brasil conviveu com índices anuais de inflação de dois dígitos em todos os anos de 1954 a 1994, chegando em muitos deles a mais de 200%. O recorde foi em março de 1990 com um índice de 83,95% em um único mês. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgou a revisão de sua projeção de inflação medida pelo IPCA para 2021 de 5,9% para 7,1%. Isto é muito superior ao centro da meta inflacionária de 3%. Seria um movimento episódico em função da pandemia ou uma tendência de perda de controle? É cedo para dizer, mas com inflação não se brinca.
Algumas correntes teóricas equivocadas
defendem uma certa complacência com a inflação em troca de um índice maior de
crescimento da economia. Mas a inflação, a partir de certo nível, ganha
dinâmica própria e acarreta graves consequências sociais e políticas. Basta
lembrar a experiência histórica mais emblemática, a hiperinflação alemã da
República de Weimar, que chegou a 29.500% ao mês entre 1922 e 1923, e foi a
incubadeira do “ovo da serpente” nazista. Claro que estamos longe disso.
A inflação é caracterizada pela alta geral,
contínua e persistente dos preços. Quando cresce a patamares elevados torna “o
orçamento familiar uma peça de humor negro e o orçamento público uma obra de
ficção” como certa vez descreveu o professor Luiz Gonzaga Belluzzo. A inflação
se transforma num biombo atrás do qual se operam brutais transferências de
renda. É um tema de fácil percepção popular. A carestia dos alimentos e a
inflação geral é sentida por todas as donas de casa no supermercado e por todos
os trabalhadores. A inflação já elegeu e derrubou governos.
As causas da inflação brasileira são
várias. Déficits públicos, quando financiados por expansão monetária, podem
pressionar os preços pelo aumento da demanda, se não houver capacidade ociosa
na economia. Choques de custos resultantes do encarecimento das importações ou
até de fatores climáticos, como os atuais aumentos da energia e dos alimentos,
também têm o seu papel.
As incertezas quanto ao futuro político e
econômico, como também ocorre em nossos dias, podem desencadear posturas
defensivas na fixação dos preços. A estrutura oligopolizada gerando baixa
concorrência e o fechamento da economia que inibe a competição, como é nosso
caso, também resultam em inflação. A queda da produtividade que determina baixa
eficiência e competitividade também alimenta a espiral. A rigidez do mercado de
trabalho excessivamente regulado gera inflação. E o componente inercial, que
esteve fortemente presente no Brasil no início dos anos de 1980 e início dos
90, provoca uma dinâmica autônoma onde inflação gera mais inflação.
Portanto, as políticas clássicas ortodoxas
de aperto fiscal e monetário são insuficientes. O buraco é mais embaixo. Temos
que persistir na transformação estrutural da economia através das reformas para
que a estabilidade conquistada pelo Plano Real seja preservada.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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