Revista Veja
Setores radicais estão querendo tornar pior
o que já não está bom
O semestre parecia positivo ao país. A
vacinação seguia derrubando os índices de óbitos pela Covid-19 nos estados. A
economia caminhava bem, e o câmbio em queda sinalizava que o cenário poderia se
configurar para melhor. A arrecadação estava em alta e a dívida pública,
em baixa. O Brasil, porém, é o Brasil. E, quando tudo poderia melhorar em meio
à tragédia da pandemia, uma tormenta de tolices, equívocos e disputas frívolas
arruinou a expectativa quando mais precisávamos dela.
Ainda que o Brasil seja melhor do que parece,
setores radicais estão querendo que o que não está bom fique pior. Mesmo diante
do risco de nova onda de Covid-19 e de uma crise hídrica que pode ser terrível,
em especial em ambiente de inflação em alta e desemprego em nível assustador,
há quem queira incendiar o parque institucional.
A instabilidade política trabalha contra o país. E quem a está incentivando não percebe isso. Cabe às instituições, inclusive o governo, conter os ânimos. Há tempos afirmei que o presidente Jair Bolsonaro tem em seus aliados mais radicais os seus principais adversários. Ao ser complacente com os delírios de seus apoiadores, para dizer o mínimo, Bolsonaro pode estar inviabilizando tanto o seu governo quanto o seu desejo de se reeleger.
“Não há caminho para rupturas no país sem
que isso provoque imensos transtornos aos brasileiros”
As consequências são óbvias: Lula foi
“ressuscitado” politicamente e o centro, que parecia pouco competitivo, pode se
transformar em uma alternativa viável. No establishment econômico há um misto
de enfado, desânimo e estupefação com a incapacidade do governo de capitalizar
o que faz de bom. E, por outro lado, com a sua capacidade de se meter em
querelas inúteis. Seu histórico é digno de uma república de bananas podres:
ofensas pessoais, ameaças de invasão a órgãos públicos, paralisações, acusações
sem prova, ameaças de agressões e não aceitação das regras democráticas, além
de meteoros fiscais e propostas tributárias polêmicas.
Temos o privilégio de ser uma nação com
poucos problemas gerados no exterior. Nossos problemas são 100% brasileiros.
Mas estamos exagerando. Ao programarmos protestos contra instituições, passamos
uma péssima imagem para os investidores. Como se estivéssemos, enquanto país,
brincando de roleta-russa com um revólver carregado de balas.
Setores radicais que apoiam o governo
querem forçá-lo a praticar haraquiri institucional. Só não percebem que o resto
do país não quer isso. Por mais que o povo desconfie das instituições, somos um
país cujo nível de reformismo é de baixo impacto. Acreditamos que mudanças
cumulativas podem trazer bons resultados, e as reformas feitas nos últimos
cinco anos mostram justamente que estávamos avançando.
Não há caminho nem clima para rupturas
institucionais sem provocar imensos transtornos aos brasileiros, sobretudo aos
que estão à margem do sistema. O direito de manifestação é livre e assegurado
pela Constituição. E deve ser respeitado. Contudo, isso não significa que os
manifestantes, sejam de qualquer espectro político, tenham passe livre para
atacar instituições, vandalizar prédios e afetar o direto de ir e vir. É hora
de termos mais juízo como nação e começar a pensar no elevado custo da
instabilidade institucional.
Publicado em VEJA de 1 de setembro de
2021, edição nº
2753
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