O Globo
Ideia dos governadores de se reunirem com
os chefes das três Forças Armadas para medir a temperatura das manifestações do
dia 7 de setembro é oferecer poder político a quem por direito constitucional
não o tem
Não se deve oferecer poder político a
quem por direito constitucional não o tem. A ideia dos governadores de se
reunirem com os chefes das três Forças Armadas para medir a temperatura e
tratar das manifestações do dia 7 de setembro é exatamente isso, dar força e
poder político aos militares. O Brasil não precisa disso numa hora como esta. Conversar
com os chefes militares pode até ocorrer, mas informalmente e nunca de maneira
concertada e coletiva. No caso, os militares têm um dever constitucional e a
ele devem se ater. Se ocorrer um badernaço de policiais militares armados no
dia 7, caberá às Forças Armadas intervir para manter a lei e a ordem, como
manda a Constituição. E ponto.
Generais só devem ser ouvidos sobre
questões militares ou que envolvam atividades fora das definições
constitucionais em que as Forças Armadas possam ser empregadas. Se um
governador precisar da ajuda do Exército para abrir uma estrada ou construir
uma ponte, por exemplo. Ou se um ministro precisar do serviço da Aeronáutica
para transportar vacinas para um local que não é servido por linhas aéreas
comerciais. Conversar com militares sobre suas atribuições constitucionais é
chover no molhado. Sabem o que o general Paulo Sérgio, comandante do Exército,
responderia aos governadores se estes lhes perguntassem como agiria em caso de
baderna no 7 de setembro? Que agiria de acordo com o que determina a
Constituição.
Aliás, o general Paulo Sérgio disse esta semana que o Exército respeitará sempre seus limites constitucionais. Falou isso no discurso que fez no dia do soldado. Foi claro diante do presidente da República, que ouviu calado. Mesmo que Jair Bolsonaro tente dar um golpe (e vai tentar), não será no dia 7 de setembro deste ano. E no momento em que tentar, pelo que se ouviu no dia do soldado, será rechaçado pelo Exército. Poderá ter o apoio de policiais militares? Sim. Mas estes nada podem sozinhos, não são organizados nem disciplinados. Sua reputação é péssima em todas as unidades da federação, ao contrário das Forças Armadas, uma das instituições mais respeitadas do país.
Exército, Marinha e Aeronáutica jamais se
subordinarão a um golpe engendrado pela PM que, embora seja uma força de
segurança pública, também em muitos casos é sinônimo de violência e terror.
Tampouco as Forças Armadas se aliarão às milícias, quase todas formadas por
ex-oficiais e ex-praças das PMs e dos Bombeiros. O que resta a estes agitadores
que pretendem se manifestar armados no dia 7 é a baderna.
Usar a arma da corporação para se
manifestar em vias públicas e ameaçar a democracia é crime. PMs armados em ato
civil são declaradamente covardes. Qualquer ato de violência que vier a ocorrer
será de responsabilidade destes que desrespeitam as leis e a Constituição. E
devem ser punidos. É importante que os opositores de Jair Bolsonaro entendam
isso e não insistam em se manifestar no mesmo dia. Podem dar o argumento que os
extremistas precisam para iniciar a baderna e responsabilizar o outro lado.
Embora o Congresso estude uma
quarentena de cinco anos para militares disputarem eleição, ninguém tem medo de
medir forças com eles. Mas que venham desarmados, sem as fardas, reformados, e
pelo voto. Em 2018, arrastados pelo fenômeno que elegeu Jair Bolsonaro, 72
militares foram eleitos para exercer mandatos nas câmaras estaduais e federal e
no Senado. Menos de 5% dos 1626 parlamentares eleitos naquele ano excepcional.
Dos 27 governadores eleitos, dois são militares reformados.
Todos os militares foram eleitos
depois de se reformarem. Embora muitos usem seus antigos cargos antes do nome,
como o ex-senador major Olímpio, nenhum deles é mais militar. São todos civis e
só por isso foram habilitados para disputar um cargo eletivo. O poder político
é civil no Brasil, manda a Constituição. Quer usar farda e armas pagas pelo Estado?
Então fique no quartel. A beleza da democracia é que o eleito será sempre
aquele que o povo escolher. Pode ter sido coronel, sargento, professor ou
advogado, pode nem ser o melhor, mas sempre será um civil escolhido pelos
eleitores de maneira livre e secreta.
Negociar o quê?
Os governadores, liderados por João Doria,
erram ao tentar negociar com o presidente Jair Bolsonaro. Não há o que
negociar. Não há mais diálogo possível com o chefe do Executivo. Os
entendimentos têm que ser feitos com os Poderes Legislativo e Judiciário, com
os setores organizados da economia, o agronegócio incluído, com sindicatos
patronais e profissionais, com a comunidade acadêmica e com a sociedade civil.
É impossível pacificar o país convencendo Bolsonaro que o caminho moralmente
aceito e constitucionalmente possível não é o dele.
Não chamem os bombeiros
Neste momento, bombeiros apenas atrapalham
o percurso que o Brasil terá de seguir até se ver livre de Bolsonaro. O
ministro Luiz Fux já tirou o uniforme e o capacete e voltou a usar a
toga.
Cabeça de bozo
Os brasileiros lotaram as praias e os
parques no fim de semana passado. Ipanema, vista de quem andava do outro lado
da calçada, parecia viver um veranico normal, como se estivéssemos em agosto de
2019. Havia de tudo naquela orla, menos máscaras. Ah, sim, faltaram também
as bandeiras do Brasil.
Beija mão 1
O presidente parece mesmo disposto a
destruir a candidatura de André Mendonça para o Supremo. Jogou Mendonça aos
lobos ao informar aos apoiadores do seu curralzinho no Alvorada que o
candidato a juiz se comprometeu de rezar na primeira sessão de cada semana
da Corte e com ele almoçar uma vez por semana.
Beija mão 2
Quem notou o gesto e já fez um rápido
movimento para ocupar o vácuo involuntário deixado por André Mendonça
foi o ministro do STJ João Otávio Noronha.
Beija mão 3
O apoio do pastor Silas Malafaia ajuda ou
atrapalha a candidatura de Mendonça? Se desse para agradecer e dizer “não,
obrigado”, essa era a hora.
Nosso Rio
Muito bom o Instagram da Prefeitura do Rio.
Moderno, ágil, didático, bem humorado. Vale como uma aula de comunicação.
Melhor calar
Lula é mesmo muito corajoso. Podia ficar na
dele, calado sobre assuntos polêmicos em que o PT está do lado errado da
corda esticada. No caso da censura à imprensa, apelidada de regulação da
mídia pela sua turma, Lula disse que será prioridade em seu governo. Por falar
demais, deixou escapar sua real motivação: “Eu vi como a imprensa destruía o
Chávez”. Significa que é melhor calar a imprensa antes de ouvir dela denúncias
contra o seu governo. Na Venezuela, aliás, a imprensa foi dizimada por Chávez e
Maduro.
Respeitem os índios
Não é de hoje que os índios brasileiros são
desrespeitados e vilipendiados por seus conterrâneos não originários. Quase
todos os ataques que sofrem têm natureza econômica em razão da ocupação e
exploração de terras. Mas eles também sofrem preconceitos racistas facilmente
identificados. O que os índios brasileiros querem é viver em paz nas suas
terras. E querem também, se entenderem ser este o caso, ter o direito de eles
próprios explorarem seus recursos naturais e suas áreas agricultáveis. Deve-se
respeitar o índio como nosso mais rico patrimônio antropológico.
Pobre Minas
Quem achava que Minas Gerais não poderia
chegar mais fundo no poço em que se meteu, surpreendeu-se com a aparição de
Romeu Zuma, na cola do meteoro Bolsonaro de 2018. O governador causa mais
vergonha aos mineiros do que um de seus mais célebres antecessores. Minas
está cada vez mais parecida com o Rio. Acha o governador atual ruim? Corrupto?
Espere o próximo.
Chora mais
Fabio Rigo, herdeiro da empresa que produz o arroz Prato Fino, atacou o SUS no seu Twitter, disse que teve Covid sem sentir cócegas, que não vai se vacinar e concluiu com a frase imortal dos abusados: “Quem pode mais, chora menos”. O tweet foi postado 16 horas depois de o Grêmio, seu time de coração, levar de 4 X 0 do Flamengo. Com todo respeito aos demais gremistas, chora mais, Rigo.
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