Ao meu ver, três equívocos deveriam ser
evitados:
1 - Exclusivismo
O Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre
não devem ser exclusivistas, isto é, não deveriam pretender organizar sozinhos
as manifestações e excluir um amplo leque de potenciais aliados na defesa da
democracia. Outros importantes movimentos cívicos já deviam ter sido convidados
para a coordenação dos atos e para a definição de bandeiras comuns. É o caso,
por exemplo, de movimentos como Acredito, Livres, Agora, entre outros.
2 - Partidarização e instrumentalização
eleitoral
Os protestos do dia 12/9 têm também o apoio
do Novo, o partido que lançou João Amoêdo, candidato à presidência da República
em 2018, e o PSL, partido que hoje majoritariamente está na oposição, apesar de
ter sido a legenda pelo qual Bolsonaro se elegeu.
A participação dos partidos é positiva e
necessária. Deveria ser ampliada por todos aqueles que defendem as instituições
democráticas, independente do lugar que ocupam no espectro político.
O espírito dos protestos deveria ser o mesmo da frente ampla de 1965 que reuniu os partidários dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart e representantes do PSB de João Mangabeira e do PCB de Luís Carlos Prestes.
Os atos deveriam ser, portanto,
suprapartidários como foram os comícios das diretas já, em 1984. Neles não
deveriam ser colocadas candidaturas de postulantes à presidência da República.
Alguns desses movimentos defendem a candidatura dos juiz e ex-ministro da
Justiça Sérgio Moro. É legítimo que apoiem, mas não deveriam usar as
manifestações para fins eleitorais.
3 - Estreiteza
As manifestações não deveriam se estreitas,
mas, ao contrário, as mais amplas possíveis. Assim, bandeiras que dividam as
forças democráticas deveriam ser evitadas. Palavras de ordens como Fora Lula e
Fora PT não deveriam ser utilizadas nos atos. Seria louvável atrair lideranças
petistas e sobretudo os eleitores do PT que queiram protestar contra o governo
Bolsonaro.
Não deveriam repetir o erro sectário de
grupos de extrema-esquerda que hostilizaram militantes do PSDB e do PDT de Ciro
Gomes em manifestações contra o bolsonarismo.
Os protestos precisam ser fortes. Os
democratas devem dar uma vigorosa demonstração de força política e de apoio
social. Se estreitarem, os atos do dia 12/9 podem falhar nesse objetivo. Pelo
contrário, se os organizadores ampliarem o movimento sem preconceitos políticos
e ideológicos, têm tudo para alcançar grande repercussão política.
Os projetos partidários e eleitorais devem
ser colocados num outro momento, subordinados à urgente tarefa de preservar a
democracia no Brasil. Não podemos correr o risco, ainda que baixo, de não
realização de eleições em 2022.
* Jornalista e cartunista e autor dos livros Era uma vez em Praga – Um brasileiro na Revolução de Veludo e Lênin, Martov a Revolução Russa e o Brasil, entre outros.
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