Folha de S. Paulo
O golpe, se ocorrer, será um dos únicos da
história feito às claras, com conhecimento da população e das instituições
Como já havia acontecido com a camisa da
seleção —um dos emblemas da “pátria em chuteiras”, na expressão de Nelson
Rodrigues, e que hoje se transformou em símbolo do bolsonarismo—, o Sete de
Setembro foi sequestrado. Não haverá o tradicional desfile cívico-militar, cujo
ponto alto, ao menos para mim, eram as acrobacias da Esquadrilha da Fumaça. Não
se exibirá pela enésima vez o filme “Independência ou Morte”, que de lambuja
seria uma homenagem póstuma ao ator Tarcísio Meira com suas suíças à dom Pedro.
O Dia da Independência virou um ato de
dependência. Bolsonaro convocou uma manifestação a seu favor com
todas as características de um ensaio de golpe. Ou do golpe propriamente dito.
O qual, se ocorrer, será um dos primeiros da história dado ao conhecimento
geral da população e das instituições, com dia e hora marcados, nome e
sobrenome dos conspiradores.
Não há o que festejar nas ações do governo, que despenca em popularidade e se agarra a mentiras divulgadas nas redes sociais. Então se prepara uma baderna, com aval dos generais que aceitaram fazer parte da aventura recebendo altos salários. Que tal invadir o STF? Fechar Senado e Câmara? Talvez assim as coisas melhorem e Bolsonaro possa assumir o cargo de generalíssimo. Eis a lógica de quem está bancando os “protestos”, sobretudo empresários ruralistas e varejistas e pastores evangélicos, além da máquina de ódio que funciona dentro do Palácio da Alvorada.
A mobilização de tropas da PM para o ato no
feriado nacional é o ingrediente explosivo desse caldo. Insufladas por
Bolsonaro, não é de hoje que as forças auxiliares agem à revelia de
governadores, achando-se no direito de organizar motins por aumento de salário.
E agora de fazer manifestações políticas na rua. Irão armados?
O clima de nuvens negras estaria mais sereno se, em maio, o Exército tivesse
punido o general Pazuello por ter virado um reles cabo eleitoral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário