domingo, 14 de setembro de 2014

Marina pede 'dia de trégua' na campanha ao lembrar um mês da morte de Campos

• Em campanha no Nordeste, presidenciável diz que vai 'falar somente das propostas para o Brasil'

Leticia Lins e Cássio Bruno – O Globo

RECIFE - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirmou que quer "estabelecer um dia de trégua na campanha" ao lembrar a morte do então candidato do partido, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que completa um mês neste sábado. Marina foi criticada pela presidente Dilma Rousseff e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter chorado ao desabafar sobre as críticas que tem recebido de petistas.

- Hoje é um dia muito especial para todos nós. Neste dia, quero estabelecer um dia de trégua na campanha e quero falar somente das propostas para o Brasil. Nada de agressões - disse Marina. - Esse dia é um dia simbólico para os partidos, para os candidatos do mesmo partido e de partidos diferentes, simbolizar esse espaço em diálogo e respeito. Então, em memória de Eduardo Campos ofereço neste dia a outra face. A face do diálogo, do respeito, de que acredito nas pessoas.

Marina e viúva prestam homenagem nas redes
Nas redes sociais, a candidata publicou uma carta aberta em homenagem ao ex-governador em que afirma "o Brasil perdeu uma liderança jovem, propositiva e vigorosa em defesa do desenvolvimento econômico e social". Segundo ela, a candidatura "expressava a esperança de uma desejada renovação no quadro político brasileiro".

"Mas a força do político residia, antes de tudo, no homem amoroso, devotado à mulher e aos filhos. O jogo bruto da política não o impedia de ser gentil até com os adversários, buscando o diálogo e o debate respeitoso de ideias", escreveu Marina, que também publicou uma foto dela abraçada ao aliado. Neste sábado, haverá uma missa às 17h, no Recife, com a presença de familiares, amigos e políticos.

A viúva de Campos, Renata, também escreveu um texto lembrando a data da tragédia no Facebook. Citando versos de um poeta de Mário Quintana, a viúva perguntou: "Dudu, lembra do nosso último dia dos namorados?". Em seguida, a própria Renata mesma respondeu:

"Você me presenteou com esses versos: 'As pessoas não se precisam, elas se completam. Não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida'. Parece que Mário Quintana sabia direitinho tudo que vivemos desde que começamos nossa vida juntos, eu com 13 anos e você, 15".

Cartazes são depredados e jogados em frente à casa de Campos
Apesar do dia de homenagens, dezenas de cartazes com propaganda da Frente Popular amanheceram rasgados e atirados na frente da residência da família do ex-governador, localizada no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte da capital. A Frente Popular é a coligação de 21 partidos, liderada por Paulo Câmara (PSB), candidato à sucessão estadual, ex-Secretário de Campos e por ele indicado para a disputa.

Segundo a assessoria de imprensa do PSB o caso ainda não havia sido denunciado à polícia nem ao TRE até as 15h deste sábado.

"Não bastasse o sofrimento pela perda de um ente querido, a viúva de Eduardo, Renata Campos, e seus cinco filhos ainda tiveram que passar por esse constrangimento", diz a nota do PSB. "Os vândalos não respeitaram a dor da família, dos amigos e correligionários de Campos".

De acordo com o PSB, houve depedração de material nas avenidas Dezessete de Agosto, Rosa e Silva e Estrada do Arraial, três das principais vias de acesso à Matriz de Casa Forte, local da missa de trigésimo dia. No bairro de Casa Forte, onde fica a paróquia, também foi observada a destruição de propaganda, que normalmente ficam em cavaletes, nas calçadas.

Na terra dos irmãos Gomes, Marina pede trégua em nome de Campos

• Candidata à Presidência da República pelo PSB lembrou a morte do ex-colega de chapa, que completa um mês neste sábado, em agenda no reduto dos irmãos Ciro e Cid Gomes, adversários de Campos

Talita Fernandes - Veja

A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, invocou a memória de Eduardo Campos, morto há um mês em um acidente de avião no litoral de São Paulo, para pedir uma trégua dos ataques adversários à campanha. "Hoje é um dia muito especial para nós porque faz exatamente um mês que nós perdemos o Eduardo Campos. Nós queremos estabelecer esse dia como um dia de trégua na campanha, queremos falar de propostas, de coisas que juntos a gente sonhou pelo Brasil", disse. O pedido foi feito durante entrevista coletiva concedida neste sábado em Sobral, cidade do interior do Ceará e reduto dos irmãos Cid e Ciro Gomes, ex-pessebistas aliados de Dilma que romperam com Campos após o partido anunciá-lo como candidato ao Planalto. Depois disso, os irmãos migraram para o novato PROS.

Marina, que vem sofrendo um verdadeiro bombardeiro de seus opositores, especialmente do PT, reforçou o discurso que vem repetindo de que é possível governar com os melhores de todos os partidos e afirmou que há qualidades em todos os setores da sociedade e também nas siglas. "Infelizmente, foi preciso que Eduardo perdesse sua vida para que todos os partidos e políticos reconhecessem seu valor", disse.

Questionada sobre as críticas feitas pelos Gomes à sua candidatura, Marina disse que "oferece a outra face". "Em nome da memória de Eduardo Campos, que foi companheiro de Ciro Gomes no mesmo partido, eu quero, nesse dia, oferecer a outra face: do diálogo e do respeito, de quem acredita na democracia", se limitou a dizer. O governador do Ceará, Cid Gomes, fez coro com o PT e disse que, se eleita, Marina não cumpriria o mandato e classificou sua candidatura como "canoa furada". O deputado Cid Gomes, ex-governador do Estado, disse que Marina representa "um vazio absoluto".

Homenagens - Neste sábado, Marina tem programada uma intensa agenda de campanha com eventos em Campina Grande (PB), João Pessoa (PB) e em Teresina, no Piauí. Coordenadores da campanha disseram que fizeram questão de manter a agenda em Sobral como uma espécie de homenagem a Campos, que ainda no começo da corrida eleitoral tinha intenção de fazer campanha na terra dos seus opositores. Em vez de voar voos comerciais, como vem fazendo, Marina optou por fretar um jato neste fim de semana para viabilizar a agenda intensa. Integrantes da campanha se emocionaram durante o voo ao lembrar de histórias de Campos, que morreu a bordo de uma aeronave.

No Recife, terra natal do ex-governador, está prevista uma missa no fim da tarde em sua memória. Em sua página no Facebook, a viúva Renata Campos e os cinco filhos - Maria Eduarda, João, Pedro, José e Miguel - assinaram um texto em homenagem a Campos. "Pode ficar tranquilo. Sua bandeira é agora a bandeira de todos os brasileiros. Seu amor e sua dedicação são nossa maior herança. Não, não vamos desistir do Brasil em hipótese alguma", dizia a mensagem, direcionada a 'Dudu', como Campos era chamado pela família e por amigos próximos.

Aécio Neves diz que Dilma não tem condições morais de pleitear segundo mandato

• Tucano comenta denúncia da revista ‘Veja’ de que o PT pagou para não vazarem documentos no caso Petrobras

Daniel Leite – O Globo

BELO HORIZONTE - O candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Aécio Neves, disse que o governo da presidente Dilma Rousseff não tem condições morais para pleitear o segundo mandato, ao comentar reportagem da “Veja” neste sábado. Segundo a revista, o PT foi chantageado para que não fossem revelados documentos comprovando a suposta participação de integrantes do partido no escândalo da Petrobras.

- A marca do governo do PT é essa, uma denúncia por semana, e cada uma mais grave que a outra. Nós temos que resgatar o padrão ético na Presidência da República - afirmou Aécio.

Aécio lembrou que essa é a reta final da campanha, e disparou mais críticas. Cobrou ética da Presidência da República.

- Nós temos que resgatar o padrão ético na Presidência da República. O governo da presidente Dilma perdeu as condições, perdeu autoridade até moral de pleitear um segundo mandato - afirmou.

De acordo com o texto, a legenda teria arrecadado R$ 6 milhões na estatal para calar denúncias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência e um dos coordenadores da campanha de Dilma, e outros petistas.

O tucano ainda afirmou que a presidente Dilma perdeu as condições de governar e que Marina Silva “não adquiriu essas condições”.

Aécio não comenta pesquisa do Ibope
Aécio se negou a comentar a última pesquisa Ibope, divulgada na sexta-feira, em que aparece novamente em terceiro lugar, com 15% das intenções de voto, atrás de Marina e Dilma.

- Um pouco antiga, né? - retrucou, após perguntar quando foi feito o levantamento e a reportagem responder que foi entre os dias 5 e 8 deste mês.

Aécio disse que estará no segundo turno. "Só não sei com quem", emendou.

O tucano participou de evento com jovens na Praça do Papa, região centro-sul da capital mineira.

Durante o encontro, foi assinado um pacto pela juventude e igualdade racial. O presidenciável seguiu em carreata até a Praça Sete, no Centro da cidade, acompanhado do candidato ao governo mineiro pelo PSDB, Pimenta da Veiga, e ao Senado, também pelo partido tucano, Antônio Anastasia. Neste domingo, o tucano fará campanha no Rio.

A razão contra a baixaria e a apelação: O Estado de S. Paulo – Editorial

A inacreditável baixaria e a apelação na qual o desespero de Dilma Rousseff e a empáfia de Marina Silva transformaram a campanha eleitoral em sua fase decisiva tiveram um contraponto na atuação de Aécio Neves, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, em sua participação, no último dia 10, na rodada de entrevistas com os presidenciáveis realizada pelo jornal O Globo. No momento em que o PT apela para o que sabe fazer melhor - atacar e iludir - e Marina recorre ao bom-mocismo e à manipulação de obviedades para seduzir um eleitorado ávido por mudanças, o candidato do PSDB introduziu um sopro de racionalidade no debate eleitoral.

O que se pode esperar daqui para a frente da campanha petista é a desfaçatez crescente de Dilma Rousseff diante do mar de lama que envolve seu governo, como ela demonstrou sem o menor constrangimento na entrevista ao Estado publicada no dia 9, ao responder sobre o mais recente escândalo na Petrobrás: "Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve, eu posso garantir que todas, vamos dizer assim, as sangrias que eventualmente pudessem existir estão estancadas". "Sangrias", aliás, sobre as quais a ex-ministra de Minas e Energia e chefe do governo "não tinha a menor ideia".

Marina Silva, por sua vez, tem falado muito sobre a "nova política" que se propõe a levar ao Planalto e pouco sobre como e o que fará para transportá-la do plano das boas intenções para a realidade dura de um ambiente político que a prática dos últimos 12 anos levou a limites extremos de degradação. E fala pouco sobre os 24 anos em que, sob as asas do guru Lula, militou nas falanges petistas que, com denodo e método, se dedicaram a desmoralizar as instituições democráticas do País.

Surpreendido, como todo o Brasil, pela reviravolta provocada na campanha eleitoral com a morte trágica de Eduardo Campos, Aécio Neves, cuja candidatura até então parecia presença certa contra Dilma Rousseff no segundo turno, defronta-se agora com a necessidade de, em circunstâncias mais desfavoráveis do que até então, demonstrar que é a melhor opção para um eleitorado claramente ávido por mudanças.

Sem considerar a questão estritamente política, que é essencial, mas pouco compreendida em toda sua complexidade - ou simplesmente rejeitada pela maior parte do eleitorado -, o fator decisivo numa eleição presidencial é certamente a economia, traduzida em seus efeitos sobre o cotidiano dos cidadãos. Para reduzir a questão a sua expressão mais simples, quando a economia vai mal a produção cai, os empregos mínguam, a carestia aumenta e a insatisfação geral se instala. É exatamente o que acontece hoje no País, depois de quatro anos de incompetente e desastrado governo.

Diante desse desastre que nem a indispensável existência de programas sociais como o Bolsa Família consegue mais dissimular, está claro que o Brasil precisa, mais uma vez, de uma competente ação governamental de estabilização e desenvolvimento econômico, a exemplo do que ocorreu 20 anos atrás, quando a inflação anual atingia incríveis quatro dígitos e o então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, comandou uma equipe de economistas que criou e implantou o Plano Real, a partir de três fundamentos básicos: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.

Esse é, claramente, um desafio para o qual Dilma Rousseff, até por formação ideológica, não tem a menor disposição - nem o PT dispõe de quadros habilitados - para enfrentar. Marina Silva, por sua vez, tampouco conseguiu demonstrar até agora genuína disposição, e disponibilidade do necessário apoio de quadros técnicos, para a difícil tarefa de recuperar a economia brasileira.

Além do comprometimento histórico dos tucanos com a estabilidade e o desenvolvimento econômico do País, Aécio Neves pode contar com a credibilidade de quadros técnicos comprovadamente competentes. E essa foi a ênfase de sua participação na entrevista ao jornal carioca, ao repudiar a baixaria e a apelação emocional na campanha: "Tenho feito um esforço maior e vou fazê-lo até o último dia desta eleição. Acredito que, no momento da decisão, vai prevalecer a onda da razão".

Merval Pereira: O uso do medo para ganhar voto

- O Globo

O sociólogo Manuel Castells, um dos maiores especialistas em redes sociais, diz que o medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que alguém recebe.

Os recursos da moderna propaganda estão sendo usados à exaustão nesta campanha para explorar as descobertas mais recentes da neurociência, que já definiu que o eleitor vota mais com a emoção do que com a razão.

Mais uma vez o PT apela para o esquerdismo canhestro para tentar barrar a caminhada da hoje adversária Marina Silva, assim como fez com os candidatos do PSDB em pleitos anteriores.

A privatização já foi o argumento da vez, mas, como o próprio governo petista teve que privatizar portos, rodovias e aeroportos para destravar os investimentos, achou-se outro bode expiatório contra Marina, como o Banco Central autônomo ou o petróleo do pré-sal.

Sempre aparentando uma estratégia de esquerda, uma suposta defesa dos desvalidos, o que o PT faz é explorar o medo das camadas menos informadas da população criando fantasmas contra seus adversários.

O fenômeno mais interessante desta eleição é a troca de posições entre os candidatos do PSDB e do PSB, com Marina concretizando todos os projetos estratégicos previstos por Aécio Neves quando da campanha ainda participava o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.

Contando com o esquema partidário do PSDB, bem mais capilarizado que o do PSB, Aécio pretendia neutralizar a força do PT no Nordeste com boas votações em estados daquela região onde a oposição se fortalecera depois da eleição de 2010, como Bahia e Ceará, além de contar com a vitória natural de Campos em Pernambuco.

Se em 2010 Dilma elegera-se com votação espetacular no Norte e no Nordeste, onde tirara mais de 11 milhões de votos de diferença para o candidato tucano no 2º turno, este ano alterações importantes indicavam que a votação naquelas regiões poderia ser diluída entre os três principais adversários, mesmo que Dilma continuasse com vantagem.

A entrada de Marina na disputa, devido à morte trágica de Campos, fez com que se concretizasse a mudança de quadro nas votações, mas a favor dela. Dilma, que teve média de 70% dos votos do Nordeste em 2010, neste momento está com 47%, enquanto Marina tem 31%. Aécio está com a mesma votação que Serra teve em 2010: 8% dos votos nordestinos.

Em PE, Marina manteve a maioria dos votos de Campos e lidera com 45%, enquanto Dilma tem apenas 38%. Na BA, Dilma está à frente com 50%, mas em 2010 teve 67%. Em nenhum dos dois estados, com 43% do eleitorado do Nordeste, Aécio está à frente, embora a coligação DEM-PSDB esteja vencendo a eleição para o governo na Bahia.

No Sudeste, Dilma está com 28%, em contraponto aos 46% que teve na última eleição, pois venceu em Minas. Marina hoje tem 36% dos votos do Sudeste, mais que Serra em 2010, mesmo este tendo vencido em SP. Marina, no momento, vence em São Paulo e disputa o segundo lugar em Minas com Aécio.

Em SP, o governador Geraldo Alckmin pode vencer no 1º turno. O PSDB tem vencido regularmente a eleição para presidente em SP, mas desta vez quem está à frente é Marina. No Rio, onde a presidente teve vitória com 3,7 milhões (43,8%) no 1º turno, e 4,9 milhões (60,5%) no 2º , a candidata Marina Silva lidera as pesquisas, impossibilitando que a presidente Dilma repita sua performance.

O esquema partidário paralelo que Aécio montou com dissidentes da base aliada do governo do estado, que rejeitaram o apoio do PT a Lindbergh Farias, não está funcionando a seu favor. No Sul, Dilma caiu de 43% para 35%, e tem a mesma votação que Serra em 2010. Marina tem 28%, enquanto Aécio mantém 20%.

Mais um exemplo de que as alianças feitas não estão alavancando Aécio: no Rio Grande do Sul, a senadora do PP Ana Amélia vence para o governo do estado, mas Aécio está em 3º lugar. Marina atualizou seu programa de governo, em especial na parte econômica, e encontrou semelhanças com o eleitorado do PSDB, o que facilitará uma transferência de votos no segundo turno.

O PT, por seu lado, conseguiu dar à campanha o tom de confrontação radicalizada que lhe é propício. Marina terá que contar com a organização partidária dos aliados da oposição para fazer frente à máquina partidária petista no 2º turno.

Dora Kramer: Acender as velas

• No meio da guerra, Aécio espera que ‘onda de razão’ ainda o leve ao 2º turno

- O Estado de S. Paulo

Vista assim de baixo, do terceiro lugar nas pesquisas, a cena eleitoral obviamente não é agradável para o tucano Aécio Neves, há um mês tido por muita gente - do governo inclusive - como o provável próximo presidente da República.

O panorama virou, Marina Silva entrou no páreo carregando com ela para o cenário o fator emocional. Para o bem e para o mal. O debate cortou relações com a racionalidade e com isso ficou abalado o que era o principal trunfo do candidato do PSDB.

Ainda assim, Aécio nem pensa em se "reinventar" como um novo personagem. Uma espécie de santo guerreiro a fim de tentar nos próximos 20 dias recuperar a desvantagem na base da pancadaria. "Não vou apelar. Prefiro continuar explicando que o PT perdeu as condições de governar e a Marina ainda não adquiriu essas condições."

Na avaliação do comando da campanha do PSDB, não há outro caminho nessa reta final. Enquanto Dilma Rousseff e Marina brigam, o candidato do partido precisa abrir espaço no meio ressaltando as fragilidades das duas adversárias para tentar capitalizar prejuízos e benefícios da guerra de extermínio entre ambas.

Partindo do princípio de que a capacidade de destruição do PT é ilimitada, Dilma seria a sobrevivente, embora bem machucada, e Aécio contaria sair ileso do incêndio. O tucano certamente sabe que o fator tempo não o favorece, mas também leva em conta que o alto grau de agressividade dos ataques mútuos pode provocar alterações mais rápidas no cenário.

Para ele, claro, o ideal seria algo como o advento de uma "onda de razão" a tomar conta do eleitorado. De forma espontânea, difícil de acontecer. A fim de reconquistar os votos daqueles que passaram a ver Marina Silva como a possibilidade de derrotar o PT, nos próximos 20 dias põe na rua uma campanha para chamar o eleitor ao que define como "mundo real".

"Quero chamar as pessoas a prestar atenção ao seguinte: que não basta apostar numa utopia, que representamos a governabilidade de fato, que a mudança começa no dia primeiro de janeiro de 2015 com o trabalho de uma equipe qualificada e que não se esgota no dia da eleição. Há o dia seguinte e nesse, se eleita, Marina vai acabar governando com o PT", diz.

Na parte que lhe toca como presidente do PSDB, desde já Aécio afirma que ela não poderia contar com o partido em seu projeto de governar com os melhores.

"Se eu perder, é porque a maioria resolveu que o PSDB não deve governar. A decisão sobre quem é governo ou oposição está nas mãos do povo. Não cabe a nós alterar o resultado da eleição por obra de acordos com o vencedor. Seria até uma fraude. Portanto, a escolha em relação aos mais qualificados deve ser feita nas urnas."

Avalistas. Em reuniões com setores que lhes são refratários - agronegócio, mas não só -, Marina Silva tem dito que, se eleita presidente, sua equipe econômica terá feições tucanas e as políticas sociais serão conduzidas aos moldes petistas.

Outro tempo. A atmosfera na posse do ministro Ricardo Lewandowski na presidência mostrou que o Supremo Tribunal Federal não é mais o mesmo. Onde se faziam discursos convocando o Judiciário a assumir sua parcela de responsabilidade no combate à "avalanche de delitos que sacode o País", agora o que se ressalta é o esforço da Corte para preservar o ambiente ameno entre os pares.

Isso na mesa de autoridades composta, entre outros, pelos presidentes da Câmara e do Senado, ambos apontados como partícipes do esquema de corrupção da Petrobrás. Denúncia que, se comprovada, será examinada pelo STF.

Pelo rumo e pelo balanço da carruagem, o ativismo pode vir a dar lugar ao inativismo judicial.

Eliane Cantanhêde: A força de São Paulo

- Folha de S. Paulo

O foco da eleição está todo em São Paulo, onde se amontoam quase 32 milhões de eleitores, 22,4% do país. Marina tem 40% no Estado, onde compensa a vantagem de Dilma no Sul e a franca dianteira da petista no Norte e no Nordeste. Aliás, Marina já atingiu 31% nos Estados nordestinos, feudos de Dilma e Lula.

Dilma só tem 26% em São Paulo, o que puxa para baixo seu desempenho no fundamental Sudeste, onde ela perde por 28% a 36% de Marina.

Aécio patina em 16% em São Paulo, o que apavora mais o PSDB do que a própria candidatura dele. O futuro do partido, incerto, depende muito dos votos paulistas.

Todas as campanhas, portanto, quebram a cabeça e gastam sola de sapato para conquistar os paulistas, não só da capital, mas principalmente do rico e conservador interior.

A coisa é complicada. O PT mantém o favoritismo na disputa presidencial, mas seu candidato ao governo de São Paulo nunca chegou a dois dígitos nas pesquisas. Com o PSDB ocorre o contrário: em terceiro na presidencial, tem tudo para reeleger Alckmin já no primeiro turno.

Quanto a Marina: não tem a estrutura partidária nem os palanques de PT e PSDB --aliás, não só em São Paulo--, mas disparou entre os paulistas. Eles têm forte rejeição ao PT e, apesar de renovarem o crédito de Alckmin, não parecem se animar com o mineiro Aécio.

O tucano está ensanduichado não apenas entre as vantagens objetivas de Dilma e a novidade Marina, mas também entre as premências em São Paulo e Minas. Se o PSDB não pode ser um fiasco em São Paulo, Aécio não pode perder feio em Minas. E ele está sete pontos atrás de Dilma no Estado que governou. Nos dois casos, do PSDB e de Aécio, é questão de sobrevivência.

Em tempo: a diferença pró-Marina em São Paulo é de 14 pontos no primeiro turno e de 25 no segundo, e ela tem a seu favor os erros de Dilma na economia. Não é trucidando Neca Setubal que o PT vai reverter isso.

Luiz Carlos Azedo: Agora é com as ruas

• O eleitor está cada vez mais consciente de que seu desejo expresso nas urnas será respeitado. É daí que pode vir a alternância de poder — e não do bla-bla-blá nas redes sociais

Correio Braziliense

A disputa eleitoral chegou ao momento mais decisivo, a três semanas do pleito, cuja principal característica é a volatilidade das intenções de voto da maioria dos eleitores. É uma situação na qual tudo o que é sólido pode se desmanchar e todo cuidado é pouco.

No momento, a presidente Dilma Rousseff (PT) lidera a disputa no primeiro turno; Marina Silva (PSB) está em ligeira vantagem no segundo turno; e Aécio Neves (PSDB) aposta tudo numa mudança de cenário no qual possa avançar graças à “desconstrução” da candidata do PSB.

As últimas pesquisas mostram mais ou menos isso, mas nada impede que o quadro possa se modificar radicalmente até 3 de outubro. A recuperação de Dilma Rousseff nas pesquisas é atribuída à melhora de avaliação de seu governo pela população, em consequência da maciça propaganda feita na televisão.

Pesaram para configuração desse cenário os duros ataques contra Marina Silva, que deverão continuar, do pescoço pra cima, como aconteceu em relação às polêmicas sobre o pré-sal e o Banco Central. Sem falar nos desacertos iniciais do PSB em relação ao programa de governo, no confinamento de sua campanha a ambientes fechados e no pouco tempo de televisão.

A grande interrogação na disputa eleitoral entre o governo e a oposição é a capacidade de recuperação de Dilma Rousseff na reta final de campanha. A melhora dos índices de aprovação do governo é a grande aposta do marqueteiro João Santana, em razão da vantagem proporcionada pelo maior tempo de televisão.

A candidata, porém, parece que tomou gosto pela radicalização do discurso político, recidiva de seu voluntarismo juvenil, e pela pancadaria verbal, na qual sempre cresce diante dos adversários, como ficou demonstrado quando disputou a Presidência em 2010.

Rejeição
Ocorre que a campanha de Dilma tem um ponto fraco: o desgaste eleitoral do PT é muito grande, tanto que a legenda vai mal das pernas nas eleições majoritárias e proporcionais na maioria dos estados.

Além disso, é elevado o índice de rejeição de Dilma Rousseff, da ordem de 42%, segundo a pesquisa do Ibope, contra 25% de Marina e 36% de Aécio. Se persistir nos ataques, o risco da rejeição aumentar é grande.

Dilma pode perder a eleição no segundo turno. Hoje, esse é o cenário provável diante das tendências atuais do processo eleitoral. Quais seriam os demais cenários? A desidratação da candidatura de Dilma, a essa altura do campeonato, parece improvável. A presidente Dilma conseguiu manter sua coalizão unida, conta com o empenho pessoal e decisivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha e está com o PT na ofensiva contra os adversários.

O cenário alternativo seria a volatilização da candidatura de Marina Silva, sob o fogo cerrado dos adversários, inclusive Aécio Neves (PSDB). O risco desse cenário é o fortalecimento da candidatura de Dilma, para onde estariam migrando os votos perdidos por Marina Silva, provocando um desfecho já no primeiro turno.

Esse risco, porém, é limitado pela radicalização do discurso político da presidente da República, sobretudo em relação à economia, que espanta o establishment, e pelo desgaste provocado por escândalos envolvendo o PT, como o “mensalão” e as maracutaias na Petrobras, que causam ojeriza à parcela significativa da sociedade.

De qualquer maneira, a disputa eleitoral está na boca do povo, nos trens e metrôs, nos bares e restaurantes, feiras e supermercados, farmácias e padarias, barbeiros e loterias esportivas. A campanha de rua deve ganhar mais intensidade. Isso pode ser decisivo numa disputa muito emparelhada.

Ninguém vai levar o eleitor a votar puxando-o pelo nariz. Graças ao voto secreto, direto e universal, com eleições a cada dois anos — temos a maior democracia de massas do mundo —, o eleitor está cada vez mais consciente de que seu desejo expresso nas urnas será respeitado. É daí que pode vir a alternância de poder — e não do bla-bla-blá nas redes sociais.

João Bosco Rabello: A opção pela farmácia

- O Estado de S. Paulo

A pouco mais de 20 dias da eleição, as pesquisas mantêm a fotografia de um segundo turno entre as candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva, a despeito dos maus resultados na economia e da corrupção avassaladora no governo, espremido entre o mensalão e os escândalos na Petrobrás.

Parte da resistência da candidatura de Dilma Rousseff ao ambiente negativo de seu governo é atribuída à decisão estratégica da campanha de incutir o medo na população mais carente com a perda de benefícios sociais, numa versão exitosa da linha derrotada do PSDB na primeira eleição de Lula.

Se é verdade - e tudo indica que sim -, a estratégia deu certo aplicada também a Marina Silva, o que chega a ser surpreendente se considerada sua origem petista e seu compromisso com a pobreza, respaldado pela biografia pessoal e pela recorrente profissão de fé religiosa.

Mas o pouco ou nenhum impacto, até aqui, da corrupção na estatal mais importante do País e da recessão econômica no espírito do eleitor indica que o medo de perder o pouco que tem é maior que a racionalidade.

Tem-se aí um eleitor de resultados - e de poucos resultados -, conformado com o que tem e temeroso de que mudanças sejam ainda piores. Mal comparado, comporta-se diante do quadro do País como o paciente que precisa de cirurgia, mas prefere adiá-la indo à farmácia.

É uma oportunidade para refletir também sobre a qualidade do eleitorado brasileiro em contraponto à cobrança que faz da qualidade dos candidatos. Parece estabelecido um círculo vicioso em que cobranças e promessas satisfazem as partes, excluindo o debate político com base em programas mínimos de governo.

Nesse contexto, temas que falam direto à moral e à emoção assumem o protagonismo na campanha, muito embora a maioria deles diga mais respeito ao Legislativo do que ao Executivo, casos do casamento gay, aborto e legalização das drogas, que não são cobrados aos candidatos ao primeiro.

Não há dúvida sobre a prevalência da linha populista em tal cenário, que dispensa os candidatos de programas e que orienta o eleitor pelo efeito Tiririca : "pior do que está não fica".

Marina Silva ainda apresentou programa genérico, mas, pelo fato de estar redigido, lhe permite cobrar dos adversários os seus. Aécio Neves o faz com mais racionalidade, não vende ilusões e conta com o êxito do PSDB na estabilização da economia nos anos 90.

Já Dilma Rousseff, que mais deveria dizer o que fará por ter levado o País à recessão e representar a continuidade, anuncia apenas "uma equipe nova". É a líder nas pesquisas.

Ferreira Gullar: Antes da bomba

• Tanto Dilma quanto Aécio terão de encontrar um meio de desmanchar a aura quase mística que envolve Marina

- Folha de S. Paulo / Ilustrada

Como cidadão que sou, preocupado com o rumo que tomará o Brasil, tenho procurado acompanhar a campanha eleitoral para a Presidência da República. Indiscutivelmente, é nos debates com os principais candidatos, promovidos pela televisão, que melhor se pode conhecê-los, sacar quem na verdade são, o que dizem pensar e o que fariam à frente do governo.

De fato, dos onze, só três --Dilma, Marina e Aécio-- oferecem alguma consistência no que afirmam e prometem. Os outros, se algo representam, é uma parcela insignificante da opinião pública e a representam mal, ou porque mal sabem o que dizem ou porque apenas repetem atitudes políticas e ideológicas ultrapassadas.

Devem ter alguma razão especial para se candidatarem, pois sabem muito bem que pouquíssimos votos lhes serão dados pelos eleitores. É certo que só aparecer perante o país como candidato à Presidência da República, já é, por si só, uma distinção especial (ainda que, para muita gente, seja motivo de gozação).

Os outros três candidatos, pelo contrário, representam, de uma maneira ou de outra, parte considerável do eleitorado, conforme indicam as pesquisas de opinião.

Certamente, cada um deles ganhou significação e força eleitoral por razões diversas, relacionadas com suas respectivas atuações no plano político, suas ideias e atuações que, de modo ou outro, as distinguem no contexto social.

Durante os debates, as qualidades e defeitos se revelam, muito embora os três busquem mostrar-se à altura da função governamental a que aspiram.

Até onde consigo perceber, Aécio Neves é o candidato mais consistente no que afirma e no modo como o faz. Vale-se de um discurso bem articulado e da experiência administrativa de governador, que foi, do Estado de Minas Gerais.

Por outro lado, Dilma Rousseff não se expressa bem, chegando mesmo a gaguejar quando se aventura a improvisar em vez de ler o que trouxe escrito. Não obstante, argumenta consistentemente quando cita obras realizadas por Lula e por ela.
Já quando tenta responder às críticas a seu governo, afirma qualquer coisa, mesmo que contradiga a realidade: afirmou que a inflação está próxima de zero, que o país está crescendo, muito embora os próprios dados oficiais digam o contrário. Por isso mesmo, os adversários acusam-na de inventar um Brasil em tecnicolor, que só ela conhece. Apesar disso, deu sinal de recuperação nas últimas pesquisas.

Quanto a Marina Silva, pode-se dizer que é a própria figura de brasileira que comeu mal na infância, não ganhou carnes nem força nem voz. É uma sobrevivente. Não obstante, fala fluentemente, pensa claro e parece saber o que pretende fazer para mudar o Brasil.

Sua imagem é a de uma visionária que promete um milagre. Essa imagem ganhou maior expressão com a morte trágica (e absolutamente imprevisível) de Eduardo Campos, de quem ela se tornou a herdeira política.

Tudo isso emprestou à sua candidatura tal força que a emparelhou, inicialmente, com Aécio Neves, e a colocou à frente de Dilma Rousseff no segundo turno. Penso que nem ela, Marina, imaginava que isso fosse acontecer tão cedo. E isso se mantém até o momento em que escrevo esta crônica.

Mas muita água ainda vai rolar até o dia 5 de outubro.

Sem qualquer dúvida, tanto Dilma quanto Aécio terão de encontrar um meio de desmanchar essa aura quase mística que envolve a figura de Marina e a torna uma candidata acima da realidade objetiva, ou seja, para além das condições que normalmente regem a disputa eleitoral.

Era, portanto, inevitável que Dilma e Aécio tentassem desfazer essa aura, apontando as carências de Marina. Um dos argumentos, usados por ambos, é que não será possível a ela governar o país sem um partido político importante e sem uma base parlamentar.

E que ninguém nos ouça, mas o risco seria constituir uma base semelhante à montada por Lula e herdada por Dilma, às custas de inventar ministérios para cedê-los aos aliados. Tudo o que ela promete --dizem os oponentes-- não irá além de palavras.

Não acho possível e, fora isso, não deixaria de ser uma experiência fascinante ter no governo uma mulher visionária disposta a mudar o país. Mas ninguém sabe o que vai acontecer, depois da bomba da delação premiada, cujo pavio foi aceso.

José Antonio Segatto: Greves, direitos e responsabilidades

- O Estado de S. Paulo

As greves que ora se sucedem nas universidades públicas paulistas recolocam um problema crucial, qual seja, os sentidos, as razões e as implicações dos movimentos paredistas no setor público, em particular para as instituições estatais e para a sociedade que o mantém.

Não é demais lembrar que a Constituição de 1988 - entre as muitas inovações no que se refere à expansão dos direitos de cidadania - estabeleceu no artigo 37, inciso VII, que o direito de greve dos servidores públicos "será exercido nos termos e limites definidos em lei complementar". Posteriormente, com a Emenda Constitucional n.º 19/1998, a exigência de regulamentação da greve no setor público passou de lei complementar para lei ordinária - essa alteração, se por um lado facilitou formalmente a regulamentação, por outro passou a exigir que isso fosse feito por meio de lei específica.

Entretanto, passados anos, o Legislativo não aprovou nenhuma lei estabelecendo normas específicas para o exercício do direito de greve na administração pública. Em face da incapacidade ou omissão do Congresso Nacional em regulamentar a matéria, o Supremo Tribunal Federal, em 2007, ao julgar mandados de injunção ajuizados por alguns sindicatos de servidores, decidiu aplicar à esfera do setor público, no que couber e com as devidas adaptações, a lei de greve do setor privado (Lei n.º 7.783/89). Essa determinação, obviamente, era temporária e visava a solucionar o problema enquanto permanecesse o hiato legislativo ou até que o Congresso aprovasse legislação específica.

Não obstante o caráter provisório de tal resolução da Corte Suprema, o fato é que, passados sete anos, o direito de greve dos servidores públicos continua sem regulamentação. E isso não se deve simplesmente à inércia parlamentar - tramitam no Congresso Nacional mais de uma dezena de projetos de lei (PLs) sobre essa matéria, entre eles o PL 4.497/01, proposto pela deputada Rita Camata, e o PL 710/11, pelo senador Aloysio Nunes Ferreira. A lacuna deve-se, em boa medida, ao fato de a regulamentação não interessar a muitas corporações e a alguns partidos; a esses importa a manutenção da imprecisão legal que permite toda sorte de conveniências e prerrogativas.

O problema da extensão da Lei n.º 7.783/89 ao setor público é que ela não responde às suas especificidades. A greve dos trabalhadores na empresa privada visa a compelir o empresariado a negociar a remuneração e/ou os benefícios de seus empregados; ao paralisar as atividades produtivas ou de prestação de serviços, a greve nesse setor faz cessar os lucros apropriados do sobretrabalho. Já no âmbito estatal, quem perde é a sociedade, que deixa de receber os serviços a que tem direito e para os quais contribuiu por meio de impostos. Além do mais, o estatuto e o contrato de trabalho de uns e de outros, servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada, são distintos e envolvem determinados direitos e deveres muito diferentes.

A inadequação da aplicação da lei geral de greve ao setor público é manifesta nas interpretações e nos usos que dela fazem juristas, sindicalistas e outros agentes interessados ou envolvidos. Muitos são os problemas e as implicações decorrentes de tal adaptação determinada pelo Supremo Tribunal Federal, como, por exemplo, os da não interrupção ou da paralisação do serviço público, da definição dos serviços essenciais, da eficácia e da aplicabilidade da lei, da isonomia e da legalidade, da mediação e do julgamento, da coerção e do arbítrio. O único consenso é o de que a greve constitui um direito legítimo e fundamental.

As peculiaridades do exercício do direito de greve no setor público tornam-se ainda mais evidentes quando se analisa o caso das universidades públicas, em especial no caso das estaduais paulistas, USP, Unicamp e Unesp, que são dotadas de autonomia didático-científica, administrativa e financeira - mantidas com 9,57% do ICMS arrecadado no Estado - e autogeridas: todos os cargos dirigentes são eletivos pela comunidade universitária.

Assim sendo, elas têm o poder de definir o orçamento, os salários, os benefícios, as carreiras, etc. Ou seja, têm relativa autonomia para estabelecer e prescrever normas e diretrizes.

Nessas condições, são de difícil compreensão por qualquer cidadão comum os propósitos ou os objetivos dos constantes, persistentes e prolongados movimentos paredistas nessas instituições de ensino superior. O direito de greve, historicamente um instrumento fundamental para a defesa dos interesses dos trabalhadores e recurso extremo em situações de impasse, foi banalizado, tornando-se mesmo trivial em algumas unidades universitárias.

Utilizando-se de meios e modos inapropriados, afrontosos e intimidatórios - piquetes, "trancaços", "cadeiraços", etc. -, as greves acabaram se convertendo em expedientes perversos de aviltamento da prestação de serviços públicos essenciais: ensino, pesquisa e extensão. Conduzidas por um sindicalismo de resultados agressivos e movidas por um corporativismo insaciável, têm como meta primordial e exclusiva a maximização de interesses e a potencialização de benefícios e/ou vantagens.

É desnecessário dizer que tais concepções e práticas têm acarretado a depreciação e/ou a degradação dessas universidades públicas, que estão, incontestavelmente, entre as principais instituições de ensino e pesquisa do País. Fato é que têm encontrado guarida na ausência de normas e procedimentos democráticos e no limbo jurídico determinado pela não regulamentação do direito de greve no setor público.

À vista disso, a greve no setor público, como direito constitucional legítimo e inalienável, para que seja efetivo, deve ser regulamentado com urgência a fim de que possa ser exercido de forma responsável, soberana e democrática, sem afrontas e arbitrariedades.

Professor titular do Departamento de sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp Araraquara

Miriam Leitão: Seis anos depois

- O Globo

Foi há seis anos, em uma segunda-feira, 15 de setembro. O banco Lehman Brothers não abriu as portas, e a economia internacional balançou no abismo. A resposta do Brasil à crise foi inicialmente certa e depois desandou. A indústria consumiu bilhões de reais em socorro do governo, e isso não funcionou. Ela representava 30,5% do PIB e hoje é 23,5%. O mundo está melhor que nós.

O crédito travou aqui e no mundo. O primeiro movimento do Banco Central foi impedir que esse travamento afetasse empresas saudáveis. Havia, além disso, um grupo grande de empresas apostando na queda do dólar, mas a moeda americana subiu. O Banco Central liberou compulsório, vendeu dólares, e o BNDES liderou o financiamento dos processos de fusão e de compras de empresas encrencadas, recebendo para isso empréstimos do Tesouro.

O arsenal de intervenção fazia sentido na emergência. Mas os empréstimos para o BNDES continuaram, saindo de R$ 9 bilhões, em 2008, para mais de R$ 400 bilhões, hoje. Isso era parte do que o governo definia como “política industrial”. Incluía também outras medidas equivocadas. Subsídios foram dados para a indústria, principalmente a automobilística. Foram elevadas barreiras ao comércio externo, repetindo-se o mesmo erro de fechar o país e subsidiar a indústria para que ela florescesse. Ela murchou e perdeu participação na economia. O investimento também nunca mais foi o mesmo. Perdeu cinco pontos percentuais do PIB, de 24,21%, no terceiro trimestre de 2008, para 19,29%, no segundo tri deste ano.

O gasto com subsídios ajudou a colocar as contas públicas na berlinda, e o Brasil foi rebaixado em março passado pela S&P. Agora, por esta agência, estamos apenas um ponto acima do grau especulativo.

O excesso de confiança e a subestimação do que estava acontecendo teve consequências. O diagnóstico equivocado levou a política econômica para a direção errada. Passados seis anos, o que se vê, hoje, é um país que não cresce e tem inflação elevada, enquanto várias outras economias se recuperam. Desde o início do segundo mandato do ex-presidente Lula as decisões do governo vinham se distanciando das que haviam sido adotadas no primeiro mandato. Em setembro de 2008, houve uma espécie de licença para gastar, e para errar.

O pior em uma política econômica é quando ela cria efeitos colaterais sem que aconteçam os benefícios. A indústria está encolhendo em média 1,17 ponto percentual do PIB por ano. Podem haver fatores estruturais nesse encolhimento, mas ele comprova que o remédio usado pelo governo nada reverteu. O problema está principalmente na indústria de transformação, a mais importante entre os subsetores industriais, pois é a que transforma produtos básicos, matéria-prima, em produtos finais ou intermediários, com mais alto valor agregado. Fazem parte desse grupo a indústria automotiva, de alimentos processados, têxtil, eletroeletrônicos, químicos, máquinas e equipamentos, entre muitos outros. Juntos, eles caíram de 18,69% do PIB para 12,49% desde setembro de 2008.

O crescimento de 2010 foi em parte recuperação da retração de 2009, em parte aquecimento excessivo injetado na economia para garantir a eleição da presidente Dilma. Ao assumir, ela teria então que fazer um ajuste e mudança de rumo em 2011, para evitar a inflação e corrigir as distorções que já se acumulavam.

Os EUA enfrentaram baixo crescimento e alto desemprego por vários anos e agora se recuperam. A Europa foi atingida por um tsunami que arrastou vários países para o colapso da dívida soberana que, por um tempo, colocou em questão até a sobrevivência do euro. O Brasil não fechou qualquer acordo de comércio, perdendo as oportunidades que apareceram para permanecer fiel ao Mercosul, ampliado com a Venezuela.

Todos os subsetores industriais perderam participação no PIB. A indústria extrativa, que engloba a extração de petróleo e de minério de ferro, era 3,84% do PIB e hoje é 3,69%. Mesmo com a exploração do pré-sal, a produção de petróleo da Petrobras, na verdade, está estagnada há seis anos. Em parte, reflexo do erro de parar, por anos, os leilões de novas áreas para mudar o marco regulatório. A crise foi o detonador inicial, mas a estagnação e a inflação alta não são derivadas dos problemas internacionais, mas sim dos erros cometidos na resposta a um risco que inicialmente se subestimou.

Adriana Calcanhotto - Eu Vivo a Sorrir

Antonio Machado: El crimen fue en Granada - a Federico García Lorca

1. El crimen

Se le vio, caminando entre fusiles,
por una calle larga,
salir al campo frío,
aún con estrellas de la madrugada.
Mataron a Federico
cuando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos
no osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;
rezaron: ¡ni Dios te salva!
Muerto cayó Federico
?sangre en la frente y plomo en las entrañas?
... Que fue en Granada el crimen
sabed ?¡pobre Granada!?, en su Granada.

2. El poeta y la muerte

Se le vio caminar solo con Ella,
sin miedo a su guadaña.
?Ya el sol en torre y torre, los martillos
en yunque? yunque y yunque de las fraguas.
Hablaba Federico,
requebrando a la muerte. Ella escuchaba.
«Porque ayer en mi verso, compañera,
sonaba el golpe de tus secas palmas,
y diste el hielo a mi cantar, y el filo
a mi tragedia de tu hoz de plata,
te cantaré la carne que no tienes,
los ojos que te faltan,
tus cabellos que el viento sacudía,
los rojos labios donde te besaban...
Hoy como ayer, gitana, muerte mía,
qué bien contigo a solas,
por estos aires de Granada, ¡mi Granada!»
3.
Se le vio caminar...
Labrad, amigos,
de piedra y sueño en el Alhambra,
un túmulo al poeta,
sobre una fuente donde llore el agua,
y eternamente diga:
el crimen fue en Granada, ¡en su Granada!

sábado, 13 de setembro de 2014

Opinião do dia: Dora Kramer

Está claro, pois, que a campanha do PT achou um atalho mais fácil para travar o atual combate: no lugar de tentar convencer, prefere enganar o eleitor. Campo no qual se sente bastante à vontade.

Dora Kramer, jornalista. Iludir é preciso, O Estado de S. Paulo, 12 de setembro de 2014.

‘Em todos os partidos tem gente corrupta’, diz Dilma

• Candidata do PT criticou sua principal adversária, Marina Silva, e disse que denúncias sobre Petrobras não afetam a ela nem a pessoas de confiança

O Globo

RIO — A presidente Dilma Rousseff (PT), que fechou nesta sexta-feira a série de sabatinas do GLOBO com os presidenciáveis, criticou sua principal adversária, Marina Silva (PSB), e se defendeu das denúncias de desvio de recursos da Petrobras. Ao falar sobre as alianças partidárias costuradas em seu governo, afirmou que "em todos os partidos tem gente corrupta e gente que não é corrupta". E defendeu que a democracia "não pode prescindir de partidos":

- Eu não acho que a democracia possa prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, nós caímos na mais negra ditadura. Ou tem alguém muito poderoso por trás disso - declarou. - Em todos os partidos, tem gente corrupta e gente que não é corrupta. Tem partidos que tem compromissos históricos. O meu partido, o PT, tem uma história de luta, de militâncias. O PMDB é um partido que lutou pela redemocratização. Eu sou da época em que ia-se para a cadeia.

Em referência à candidata do PSB, Dilma disse que quem "chega no governo e acha que não tem que negociar, está no mau caminho".

- No governo, você tem que fazer suas coisas: uma coisa é propor e a outra é negociar. Se você acha que chega no governo e não tem que negociar, você tá no mau caminho. Para ser presidente, tem que ter coluna vertebral. Errar, você erra 24 horas por dia - disse Dilma, quando perguntada sobre arrependimentos em seu mandato, em que apontou a falta de especialistas na área da Saúde e ausência de uma reforma no Ensino Médio.

Petrobras
Durante a sabatina, a candidata comentou as denúncias de corrupção na Petrobras e disse que pediu a descontinuidade do ex-diretor Paulo Roberto Costa, investigado por operar um esquema de desvio de recursos da estatal, porque "não tinha afinidade com ele".

- Há corrupção em todas as empresas públicas ou privadas. A Petrobras tem órgãos internos e externos de controle. Mas quem descobriu foi a Polícia Federal. Se eu tivesse sabido qualquer coisa sobre o Paulo Roberto, ele seria demitido e investigado. Eu tirei o Paulo Roberto com 1 ano e 4 meses de governo. Eu não sabia o que ele estava fazendo. Eu tirei, porque não tinha afinidade nenhuma com ele.

Sobre as investigações, a candidata afirmou que não afetará nem ela nem pessoas de sua confiança. Segundo a petista, "não é fácil de achar" as irregularidades que envolvem o ex-diretor da estatal.

- Isso não afeta nem a mim nem pessoas que têm a minha consideração. Tudo o que emergir dessa investigação, eu tenho certeza que será algo que transformará o Brasil em um país que pune e que investiga. A corrupção tem um compadre, um amigo, um protetor: a impunidade. Essa história que aumentou a corrupção é que quando você não investiga, não aparece - disse Dilma - Isso que aconteceu na Petrobras, não é facil de achar, não é fácil de investigar. Eles estão investigando há mais de um ano.

A colunista Míriam Leitão questionou Dilma sobre um parecer técnico emitido pela Petrobras, publicado pelo GLOBO, que dizia que, se a construção da refinaria Abreu e Lima fosse superior a R$10 bilhões, não deveria ser feita.

- A diretoria na Petrobras tem autonomia para o dia a dia dela. São eles que decidem o que tem que continuar ou não. Na época, achamos que precisava fazer - argumentou - Eu não tenho condição de avaliar tecnicamente. Não sei de cabeça quais foram as justificativas da empresa para continuar a fazer a refinaria. O Brasil tem que ter refinaria, porque temos que ser exportadores de petróleo. Se eu produzo petróleo bruto e não refino, eu condeno o Brasil a virar uma commoditie.

Banco Central
A candidata do PT comparou a independência do Banco Central à instituição de um "quarto poder", que ela chamou de questionável. "Poder tem que ser eleito pelo povo", alegou Dilma:

- O quarto poder, que é o poder da independência do Banco Central, é algo extremamente questionável. Uma coisa é autonomia operacional. Outra coisa é independência do Banco Central - Independência é de poder. O banco central não é um poder. O Banco Central é uma instituição. Poder tem que ser eleito pelo povo, como o Legislativo ou o Executivo. Ou como o Judiciário, que tem um mandato durante a vida. Um presidente do Banco Central poder sair e servir um banco, ir para uma instituição de crédito lá fora.

Dilma negou ter defendido, em 2010, a independência do Banco Central. Ela explica que era a favor da "autonomia" da instituiçao, que ela disse ter mantido ao longo de seu mandato.

- Independência do Banco Central é o que está sendo proposto.Autonomia não precisa de lei nenhuma. Eu acredito que o Banco Central teve autonomia. Como teve autonomia no governo Fernando Henrique Cardoso, sabe por quê? Quantos presidentes do Banco Central o Fernando Henrique demitiu? Dois. Isso é autonomia relativa. Eu sou a favor da autonomia do Banco Central e pratico. Porque nos Estados Unidos, pra ser independente sabe qual é o mandato? Máximo emprego. Estabilidade de preço. Juros moderados de longo prazo. Esse é o mandato.

Ataques a adversários
Dilma justificou a intensa onda de ataques à candidata Marina Silva, dizendo que todas as suas críticas são baseadas em programas de governo ou programas partidários em rádio ou TV.

- Tudo sobre Aécio e Marina que nós discutimos é sobre o que eles fizeram ou falaram. É muito perigosa a vitimização. Não estamos atacando pessoalmente, até porque a Marina é bem intencionada. Eu disse que ela estava sendo financiada por banqueiros, eu falo em cima de fatos. Disse sobre o que vocês (imprensa) estão divulgando. Se são inverdades, eu não tenho nada a ver com isso.

A petista, que critica Marina por "ter recebido doação de dinheiro de banqueiros", explicou que as contribuições que recebeu de bancos foram para o seu partido e não em seu nome.

- Eu recebi para a minha campanha. Minha campanha é uma campanha institucional. Ninguém nunca se aproximou de mim para dizer "agora eu quero que você faça isso". A Marina disse que eu tinha pago uma bolsa banqueiro. Eu disse: eu não só não paguei bolsa banqueiro como também não recebi.

Comissão da verdade
Uma das perguntas foi sobre a cooperação das Forças Armadas com as investigações da Comissão da Veradade. Dilma foi questionada se tomaria alguma atitudo em relação a isso, na posição de presidente.

- Vamos aguardar o relatório da Comissão da Verdade'. Sem isso, nós ficamos na especulação. Se a comissão revelar atitudes negativas, nós vamos ver o que fazer - declarou Dilma - Houve um grande passo que foi criar a Comissão da VerdadeFoi um grande avanço. Vou tomar todas as medidas cabíveis para resolver sobre o que faltou e o que não faltou. Esse vai ser um momento excepcional do desvendamento da verdade.

Reforma política
Ao falar de reforma política, a presidente voltou a defender uma consulta popular. Após as manifestações em junho do ano passado, ela tentou aprovar um plebiscito para a realização da reforma política.

- Não estamos conformados com essa diferença que existe entre o Brasil e seu sistema político. Incluímos milhões de pessoas, o país mudou, mas do ponto de vista do seu sistema político, ele ficou atrasado. Eu não acredito que nós faremos uma reforma política como aquela, mandando simplesmente um projeto para o Congresso. Eu acredito que o único jeito de ter sustentação é fazer uma consulta popular. Só a consulta popular dá legitimidade e força para aquilo que a população resolver. Mandar para o Congresso e dizer que são os bons que vão fazer é muita ingenuidade.

Religião
Dilma falou sobre sua opção religiosa. Ela disse que "o Estado é laico, o Estado não tem religião e não deve ter", mas contou que segue a religião católica desde que estudou em um colégio de freira, em Minas.

- Fui aluna de um colégio de freiras e comecei a fazer política com o Grupo Gente Nova. Depois, em Porto Alegre, eu tive uma relação mais ou menos desse tipo com um grupo religioso. Eu sou uma pessoa que acredita nos princípios da religião católica. Eu acredito em todos que creem, porque a religião tem uma base ética entre as pessoas. Isso, para mim é um valor. Eu acho que tem um sentido também humano fundamental - afirmou - O Estado é laico, o Estado não tem religião, não deve ter. E é inconstitucional transformar qualquer religião em religião do estado.

A candidata aproveitou para elogiar o Papa Francisco.

- Eu considero que o Papa Francisco vai dar uma contribuição a muitas coisas no mundo. Ele prega e faz isso. Ele é um dos fatores de maior valorização na Igreja católica nos últimos 100 anos. Respeito muçulmano, respeito evangélico, respeito todas as religiões, mas tenho imensa admiração pelo Papa Francisco.

LGBT
Após a polêmica envolvendo a mudança do programa de governo da rival, Marina Silva, Dilma disse ter compromisso com a criminalização da homofobia.

- Tenho integral compromisso com a criminalização da homofobia. O projeto [que tramitava no Congresso, que criminalizava a homofobia] não tem só o artigo de criminalização de homofobia, tem outros artigos. Nem todos os artigos do projeto o governo é favorável.

De acordo com a candidata, a união civil de homossexuais é uma questão "solucionada", mas o Estado não tem como impor a aprovação do casamento gay porque isso seria assunto das religiões.

- O Supremo aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, e reconheceu os direitos das relações estáveis. O que eu acho é que o Estado não tem condições de impor o casamento religioso. Mas o Estado, como é laico, tem dever de reconhecer todos os direitos do casamento entre um homem e mulher tem para as pessoas do mesmo sexo. Essa é uma questão solucionada. A discussão central é a questão a respeito da homofobia. É absolutamente necessário, assim como foi necessário criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher.

Economia
Na área da economia, Dilma respondeu sobre a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, caso ela seja reeleita.

- Eu tenho grande respeito pelo trabalho do Guido Mantega. Ele está passando por uma fase difícil da vida pessoal dele. Me comunicou que em função disso não pretende seguir no próximo mandato.

Perguntada sobre a estagnação econômica, a candidata do PT usou o argumento de que a crise internacional abalou a criação de empregos no mundo o que não aconteceu no Brasil, segundo argumentou.

- Nós tivemos uma política nesse momento defensiva. Uma política defensiva é de proteção do país para enfrentar a crise. Política defensiva em que você constrói o alicerce da retomada - explicou Dilma - É impossivel enfrentar a crise fazendo esse modelito. Paro de investir e não tem futuro. Não desempregamos, nós não cortamos salários - disse.

Dilma ressaltou que o relatório da OCDE apontou uma tendência de que haveria uma crise de empregos "que tem comprometido a demanda desses países".

- É muito difícil falar qual é o número que é a tendência. Eu acredito que o segundo semestre será muiro melhor que o primeiro semestre. Essas comparações pontuais são grandes armadilhas. O que está acontecendo no mundo todo e é reconhecido é que houve uma queda oferta. No caso dos EUA atribuíram a um inverno muito tenso. No segundo trimestre, houve queda de vários países. Pela primeira vez, na Alemanha, houve uma grande queda. Não é uma questão de produtividade , porque se tem indústria tecnológica é a Alemanha - afirmou - o G20 tem 100 milhões de desempregados. Nós estamos enfrentando uma crise que não é só nossa. É uma crise que começa no centro do mundo.

Dilma se defendeu, afirmando que não reduziu salários e investiu em infraestrutura.

- Alguns reagiram cortando drasticamente os salários. Nós não fizemos assim. Nós reagimos garantindo aumento salarial. Nós reagimos garantindo investimento na infraestrutura do país.

Segurança
Sobre o tema da Segurança, a candidata afirmou que a situação do Brasil piorou. E criticou a fragmentação da atuação na área, que cabe aos estados.

- Eu acho que de fato a situação no Brasil em relação à Segurança piorou. O crime organizado age de forma coordenada em todo o território nacional . E os estados agem de forma fragmentada. A União tem que também se tornar responsável pela segurança pública, que hoje é atribuição dos estados. Sempre houve um lavar as mãos.

A candidata elogiou o sistema de segurança adotado durante a Copa do Mundo, em que as forças de segurança atuaram de forma integrada.

- Na Copa, não podiíamos deixar uma quebra na segurança pública. Então o que fizemos? Centros de comando e controle. Nesses centros, conseguimos um grau de integração extremamente elevado. Por isso, estamos querendo mudar a Constituição e fazer centros de comando e controle nos 26 estados, além de tratar as fronteiras dos estados como fronteiras reais.

Colunistas avaliam desempenho de Dilma na sabatina do Globo

• Candidata fecha a série de entrevistas com os presidenciáveis

O Globo

RIO — Para os colunistas do GLOBO que participaram da sabatina com a presidenciável Dilma Rousseff (PT), realizada no Palácio da Alvorada nesta sexta-feira, a candidata foi firme em defender as políticas implementadas pelo governo federal, mas se esquivou de perguntas específicas sobre a estagnação da economia e a alta da inflação. Para Ancelmo Gois, há uma diferença entre a Dilma do contato pessoal e a Dilma durante entrevistas:

— No contato pessoal, ela parece outra pessoa. Mais amável, mais humana a ponto até de se emocionar em alguns momentos. Do ponto de vista do conteúdo, ela não consegue convencer sobre a questão das alianças e de tantos acordos políticos. Aí ela não é convincente.

Ilimar Franco, da coluna Panorama Político, entende que a presidente demonstrou entendimento sobre temas técnicos:

— A candidata defendeu vários pontos de vista e de programas de sua campanha, no qual tem sustentado sua plataforma de reeleição. Ela demonstrou grande entendimento sobre diversos temas técnicos.

Já para Miriam Leitão, Dilma se omitiu em dar explicações sobre de que forma retomará o crescimento da economia brasileira.

— Ela não explicou como vai tirar o país da estagnação e da inflação alta, que foi a primeira pergunta que fiz. Optou por falar da crise internacional e do que conseguiu fazer, como manter emprego. É uma preocupação grande porque, como foi no governo dela que a economia chegou a esta situação, queremos saber como ela vai reverter. Falou da crise internacional, mas os países que foram atingidos já estão saindo dela. Então a explicação internacional não é suficiente. E sobre o setor elétrico, eu também não achei que ela deu uma resposta satisfatória.

Segundo Merval Pereira, a candidata à reeleição driblou as perguntas espinhosas, como negociações do PT com outros partidos.

— Ela está muito convicta de suas razões e conseguiu driblar todas as perguntas relacionadas ao PT e ao seu governo, sobretudo nas negociações com os partidos, cujo ponto é o mais fraco do seu governo. É a velha política. Este será o debate que vai pautar o segundo turno.

Ricardo Noblat compreende que Dilma se excede na duração de suas respostas para evitar maior variedade de abordagem de assuntos.

— A candidata falou demais por duas razões: ela só sabe falar demais e, também, por esperteza, para não responder a mais perguntas e correr mais riscos. Pelo fato de ela falar muito, a variedade de assuntos não foi tão grande. Mas acho que, ainda assim, o público se sentiu satisfeito

Dilma precisa lançar programa de governo: O Globo - Editorial

• A presidente anunciou que em um segundo mandato trabalharia com uma equipe renovada. E também novas ideias. Mas ainda é muito pouco para satisfazer os eleitores

Como candidata à reeleição e uma das favoritas até agora nas pesquisas eleitorais, a presidente Dilma Rousseff deve uma definição de suas propostas, especialmente na área econômica, para um possível segundo mandato. Sua mais forte concorrente, Marina da Silva (PSB), já lançou o seu programa e Aécio Neves (PSDB) promete o dele para breve. A candidata à reeleição, porém, se limita a dar balanços, favoráveis, de sua polêmica gestão — principalmente na economia — e anuncia que divulgará propostas em tópicos, na propaganda eleitoral. O resto são platitudes e definições óbvias e consensuais, como o apoio à Educação. O que teme a candidata? O máximo que avançou foi anunciar, de forma implícita, o afastamento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em eventuais novos quatro anos de Planalto: “governo novo, equipe nova”.

O resultado foi esvaziar o cargo do Ministro da Fazenda e reforçar o temor de que persistirá nos erros cometidos até aqui. Na entrevista ao GLOBO, ontem, transmitida ao vivo pela internet, lançou nova variação do mesmo: “governo novo, ideias novas”. Continua insuficiente para eleitores e a sociedade como um todo. De aviso prévio, Mantega diz que será necessária uma política fiscal mais austera no ano que vem, com a busca de um superávit primário da ordem de 2% a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Com isso, observa o esvaziado ministro, a política monetária poderá ser mais flexível (leia-se: redução nas taxas básicas de juros e menos aperto no crédito) no combate à inflação.

Dilma poderia comentar as declarações de Mantega e jogar alguma luz sobre o que pensa para o futuro, considerando que a inflação se mantém alta, as contas públicas desequilibradas e sob absoluta desconfiança dos analistas, dada a contabilidade criativa. E nada faz prever uma consistente retomada do crescimento. Nem o bom resultado da estimativa de evolução do PIB, em julho, feita pelo Banco Central (1,5% de expansão). Por enquanto, apenas um fato isolado. A presidente precisa deixar claro se manterá ou não a política fiscal expansiva e o que pensa da gestão futura do Tesouro Nacional, com seus repasses bilionários para bancos oficiais e a maneira criativa de contabilizar despesas. Há, ainda, o problema dos preços públicos artificialmente contidos. A julgar pela entrevista ao GLOBO, a Petrobras — e os acionistas minoritários, dentro e fora do país — não terá atendida a reivindicação de deixar de subsidiar o consumidor de combustíveis.

Nem tampouco deve-se esperar qualquer maior autonomia do Banco Central, dada a virulência dos ataques da campanha da candidata à adversária Marina Silva, por esta defender a formalização desta autonomia, como fazem nações desenvolvidas. Mas tudo são inferências, deduções de pronunciamentos e entrevistas. O país necessita é de definições formais, claras. Manter no ar dúvidas como essas não favorece sequer a própria candidata.

Aécio: 'eu não bebo desse cálice do PT'

• Tucano criticou a presidente Dilma Rousseff, que afirmou, durante sabatina do Globo, que todos os partidos têm corruptos

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, reagiu nesta sexta-feira à declaração da presidente Dilma Rousseff, que, durante sabatina realizada pelo GLOBO, disse que todos os partidos têm corruptos. O tucano, que cumpriu agenda nesta tarde na capital paulista, disse que o PSDB é diferente do PT e acusou o partido adversário de ser "leniente" com a corrupção na Petrobras.

— Nós somos muito diferentes do PT. Eu não bebo desse cálice do PT. O PT permitiu que a maior empresa pública brasileira fosse instrumento de uma organização criminosa — afirmou o tucano.

Aécio também questionou as declarações de Dilma de que ela desconheceria os feitos na estatal.

— Esse diretor que hoje está preso e começa a denunciar para onde ia esse dinheiro era alguém que convivia com alguma intimidade com o governo, como um todo, e com ela própria (Dilma) quando presidente do conselho (da Administração da estatal).

Em seguida, o tucano afirmou que considera o governo conivente com supostos desvios de recursos da Petrobras.

— Não há como tapar o sol com a peneira.O governo do PT foi absolutamente leniente com todas as estruturas que se montaram dentro do estado brasileiro.

O candidato do PSDB comentou a afirmação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse nesta quinta-feira, em Manaus, ser "amigo" do tucano.

— O Lula era um bom reserva da lateral esquerda do meu time quando éramos deputados em Brasília. Depois, quando presidente, tivemos uma relação institucional correta e republicana. Não trato meus adversários como inimigos e fico feliz que o presidente Lula, diferente do que disse em outras ocasiões, vem nessa mesma direção.

Aécio voltou a criticar o tom adotado por Dilma na campanha e disse que a adversária "baixou o nível do debate". Por outro lado, o tucano acusou a candidata Marina Silva (PSB) de "não querer o debate".

— Temos uma candidata que baixou o nível do debate e uma outra que não quer o debate e que se ofende simplesmente com a lembrança de que ela militou por mais de 20 anos no PT.

Dilma defendeu autonomia do BC na campanha presidencial de 2010

• Petista, que hoje critica proposta de Marina Silva, já apoiou liberdade do órgão na fixação de juros

• Na TV, presidente acusa candidata do PSB de tentar entregar a banqueiros o controle da política econômica

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Embora critique a proposta de independência do Banco Central feita pela campanha da candidata rival Marina Silva (PSB), a presidente Dilma Rousseff (PT) já defendeu, no passado, que a autonomia da autoridade monetária é "importantíssima".

Em entrevista à rádio CBN, quando ainda era candidata em 2010, Dilma disse que achava "importantíssima a autonomia operacional que o Banco Central teve no governo do presidente Lula". "Sempre tivemos uma relação muito tranquila com o BC", acrescentou.

Após a eleição, o então nomeado presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declarou que recebeu a determinação da presidente de atuar com "total autonomia" no controle da inflação e no estabelecimento da política monetária (fixação dos juros).

Em entrevista coletiva, Tombini afirmara que Dilma havia dito a ele que "nesse regime [de metas de inflação] não há meia autonomia. É autonomia total".

Marina propõe conceder autonomia, assegurada por lei, ao BC, com mandatos fixos a seus dirigentes.

Em comerciais na televisão, a campanha de Dilma acusa a adversária de tentar entregar aos banqueiros o controle da política econômica, "um poder que é do presidente e do Congresso, eleitos pelo povo".

Na última quarta-feira (10), a presidente disse, em entrevista no Palácio da Alvorada, que a proposta da adversária reflete uma visão econômica "que não está dando certo no mundo".

Refere-se aos EUA e a outros países que estiveram no centro da crise global em 2008/2009, em parte causada pela falta de regulamentação sobre alguns investimentos feitos no mercado financeiro. Na crise, bancos quebraram, como o Lehman Brothers, e outros foram socorridos pelo governo ou vendidos a concorrentes.

Dilma afirmou que é preciso escutar todos os setores da sociedade, incluindo os bancos, mas disse que deixá-los ditar a política monetária do país é outra história.

"Nós não achamos necessário a autonomia do Banco Central", afirmou. "Entre isso [ouvir o setor] e eu achar que os bancos podem ser aqueles que garantem a política monetária, fiscal e cambial vai uma diferença".

Nesta sexta (12), a Folha informou que empresários reclamam de estarem sendo vítimas de um processo de "satanização" nas propagandas do PT usadas para desconstruir a imagem de Marina.

"Santa Sé"
Durante a campanha presidencial de 2010, Dilma respondeu a uma afirmação feita pelo adversário José Serra (PSDB), de que "o Banco Central não é a Santa Sé".

Nas eleições deste ano, o senador e candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) defende, em um eventual governo, a autonomia operacional do BC (sem a necessidade de formalização em lei).