- O Globo
Foi há seis anos, em uma segunda-feira, 15 de setembro. O banco Lehman Brothers não abriu as portas, e a economia internacional balançou no abismo. A resposta do Brasil à crise foi inicialmente certa e depois desandou. A indústria consumiu bilhões de reais em socorro do governo, e isso não funcionou. Ela representava 30,5% do PIB e hoje é 23,5%. O mundo está melhor que nós.
O crédito travou aqui e no mundo. O primeiro movimento do Banco Central foi impedir que esse travamento afetasse empresas saudáveis. Havia, além disso, um grupo grande de empresas apostando na queda do dólar, mas a moeda americana subiu. O Banco Central liberou compulsório, vendeu dólares, e o BNDES liderou o financiamento dos processos de fusão e de compras de empresas encrencadas, recebendo para isso empréstimos do Tesouro.
O arsenal de intervenção fazia sentido na emergência. Mas os empréstimos para o BNDES continuaram, saindo de R$ 9 bilhões, em 2008, para mais de R$ 400 bilhões, hoje. Isso era parte do que o governo definia como “política industrial”. Incluía também outras medidas equivocadas. Subsídios foram dados para a indústria, principalmente a automobilística. Foram elevadas barreiras ao comércio externo, repetindo-se o mesmo erro de fechar o país e subsidiar a indústria para que ela florescesse. Ela murchou e perdeu participação na economia. O investimento também nunca mais foi o mesmo. Perdeu cinco pontos percentuais do PIB, de 24,21%, no terceiro trimestre de 2008, para 19,29%, no segundo tri deste ano.
O gasto com subsídios ajudou a colocar as contas públicas na berlinda, e o Brasil foi rebaixado em março passado pela S&P. Agora, por esta agência, estamos apenas um ponto acima do grau especulativo.
O excesso de confiança e a subestimação do que estava acontecendo teve consequências. O diagnóstico equivocado levou a política econômica para a direção errada. Passados seis anos, o que se vê, hoje, é um país que não cresce e tem inflação elevada, enquanto várias outras economias se recuperam. Desde o início do segundo mandato do ex-presidente Lula as decisões do governo vinham se distanciando das que haviam sido adotadas no primeiro mandato. Em setembro de 2008, houve uma espécie de licença para gastar, e para errar.
O pior em uma política econômica é quando ela cria efeitos colaterais sem que aconteçam os benefícios. A indústria está encolhendo em média 1,17 ponto percentual do PIB por ano. Podem haver fatores estruturais nesse encolhimento, mas ele comprova que o remédio usado pelo governo nada reverteu. O problema está principalmente na indústria de transformação, a mais importante entre os subsetores industriais, pois é a que transforma produtos básicos, matéria-prima, em produtos finais ou intermediários, com mais alto valor agregado. Fazem parte desse grupo a indústria automotiva, de alimentos processados, têxtil, eletroeletrônicos, químicos, máquinas e equipamentos, entre muitos outros. Juntos, eles caíram de 18,69% do PIB para 12,49% desde setembro de 2008.
O crescimento de 2010 foi em parte recuperação da retração de 2009, em parte aquecimento excessivo injetado na economia para garantir a eleição da presidente Dilma. Ao assumir, ela teria então que fazer um ajuste e mudança de rumo em 2011, para evitar a inflação e corrigir as distorções que já se acumulavam.
Os EUA enfrentaram baixo crescimento e alto desemprego por vários anos e agora se recuperam. A Europa foi atingida por um tsunami que arrastou vários países para o colapso da dívida soberana que, por um tempo, colocou em questão até a sobrevivência do euro. O Brasil não fechou qualquer acordo de comércio, perdendo as oportunidades que apareceram para permanecer fiel ao Mercosul, ampliado com a Venezuela.
Todos os subsetores industriais perderam participação no PIB. A indústria extrativa, que engloba a extração de petróleo e de minério de ferro, era 3,84% do PIB e hoje é 3,69%. Mesmo com a exploração do pré-sal, a produção de petróleo da Petrobras, na verdade, está estagnada há seis anos. Em parte, reflexo do erro de parar, por anos, os leilões de novas áreas para mudar o marco regulatório. A crise foi o detonador inicial, mas a estagnação e a inflação alta não são derivadas dos problemas internacionais, mas sim dos erros cometidos na resposta a um risco que inicialmente se subestimou.
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