domingo, 23 de março de 2025

Trump e Bolsonaro contra a Justiça - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Nem tudo o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, mas a Justiça é fundamental lá e cá

Na semana em que o Supremo vai julgar se põe ou não no banco dos réus um ex-presidente da República e oficiais de quatro estrelas por tentativa de golpe, é importante refletir sobre “coincidências” entre fatos e movimentos no Brasil e nos Estados Unidos. Lá, como cá, a Justiça lidera a resistência e a defesa do estado democrático de direito e é o alvo principal dos ataques dos tiranos.

Ao voltar ao poder, Donald Trump ultrapassa todos os limites de legalidade e civilidade ao dar acesso a Elon Musk, o sulafricano que se tornou o homem mais rico do mundo e é eminência parda do seu governo, a informações sigilosas sensíveis do Pentágono sobre uma hipotética guerra com a China.

Caracteriza óbvio conflito de interesses, já que Musk tem negócios estratosféricos com a China, mas principalmente um risco à segurança nacional da maior potência nuclear e ao próprio planeta. Tão absurdo que Trump foi obrigado a vir a público negar. Mas… quem anunciou o acesso foi o próprio Musk, que efetivamente foi ao Pentágono. Passear?

Com a sociedade e as Forças Armadas divididas, como no Brasil, o Judiciário assume a linha de frente, derruba decisões ilegais e ilegítimas e põe Trump no seu devido lugar. Ele não foi eleito para ser tirano e imperador do mundo, com poderes para implodir a democracia, direitos humanos, comércio e economia internacional.

No Brasil, o STF conteve a apologia de rua e de internet das ditaduras, conduziu investigações sobre planos reais de golpe de Estado articulados no Planalto, Ministério da Justiça, órgãos de inteligência e forças policiais e militares. E tem sido implacável com os criminosos do 8/1, como tende a ser com os líderes do golpe.

Nos EUA, também é a Justiça que vai barrando audácias como negar cidadania a nascidos em solo americano, desmontar a estrutura administrativa, acabar com a ajuda humanitária da maior potência no mundo. Vai se preparando para intervir em favor da democracia.

Por isso, como o Supremo e o ministro Alexandre de Moraes são o alvo número 1 do bolsonarismo nas redes e conchavos, a Suprema Corte dos EUA e seu presidente estão na mira do trumpismo e diretamente de Musk, capaz de brindar com US$ 100 quem assinar uma ação popular contra “juízes ativistas”, leia-se legalistas.

Lá, como cá, há empenho para inverter a realidade e acusar a Justiça de antidemocrática, golpista, antinacionalista e esquerdista. Seria cômico, não fosse trágico. Que o STF julgue Bolsonaro e seus asseclas com base nas provas e evidências e deixe um exemplo para a história, os EUA e o mundo de como punir e barrar novas tentativas de golpe.

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