O Estado de S. Paulo
Presidente não conseguirá se tornar imperador, mas suas tentativas abalarão democracia dos EUA
Os últimos movimentos de Donald Trump
confirmam suas pretensões imperiais: do monarca absolutista que usurpa as
prerrogativas dos outros poderes e do colonizador que cobiça as riquezas de
outros povos.
Trump invocou na calada da noite do dia 14 a
Lei do Estrangeiro Inimigo, para deportar 137 venezuelanos sem o devido
processo legal. A lei, de 1798, só pode ser aplicada durante guerras. No dia
seguinte, ignorou a ordem do juiz James Boasberg de suspensão das deportações
para El Salvador e retorno dos aviões que já tivessem decolado.
O responsável por imigração da Casa Branca, Tom Homan, declarou: “Eu não me importo com o que juízes pensam”. Trump postou que o juiz devia sofrer impeachment. Numa rara manifestação pública, o presidente da Suprema Corte, o conservador Robert Smith, qualificou a ideia de “inacreditavelmente perigosa”.
Trump decretou o desmantelamento do
Departamento de Educação e destinou US$ 4 bilhões de ajuda militar para Israel,
decisões que cabem ao Congresso. Estudantes e funcionários estão sendo
perseguidos.
As demissões sumárias de funcionários
encarregados de fiscalizar o governo estão sendo derrubadas na Justiça. A
Suprema Corte suspendeu na sexta-feira a demissão de Hampton Dellinger, diretor
do Escritório do Procurador Especial, que recebe denúncias de irregularidades
no governo.
Em fevereiro, Trump aboliu uma lei de Nova
York que taxa veículos na hora do rush. A governadora Kathy Hochul disse que o
presidente não poderia interferir em lei estadual, e que eles se encontrariam
no tribunal. Trump postou: “Aquele que salva seu país não viola nenhuma lei”,
uma frase atribuída ao imperador Napoleão Bonaparte.
Na sexta-feira, Trump, 47.º presidente dos
EUA, anunciou o nome do próximo caça: F-47. Os anteriores foram F-34 e F35. Nem
sempre os aviões seguem a ordem, mas nunca tinha havido um salto desse para
homenagear um presidente.
Sua política externa é norteada por planos de
colonizar Ucrânia, Faixa de Gaza, Canadá, Groenlândia e Panamá, e deixar que as
outras potências imperialistas, China e Rússia, façam o mesmo com seus
vizinhos.
Depois de tentar impor à Ucrânia um contrato
pelo qual os EUA ficariam com a metade das receitas dos minérios e da
infraestrutura do país, agora Trump quer se apropriar da rede de geração e
transmissão de energia, enquanto entrega à Rússia as áreas por ela ocupadas.
O presidente não conseguirá se tornar um
imperador, mas suas tentativas causarão fraturas na democracia americana e na
ordem internacional baseada em regras.
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