sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Fernando Gabeira: Palácio do Planalto, Brasília

- O Estado de S. Paulo

Internet é isto mesmo: um território livre onde se trocam informações, críticas e insultos. É raro uma pessoa pública nela encontrar apenas elogios. E raro um texto sobre ela que não desperte comentários sacanas. Wikipédias, desciclopédias, com informações truncadas, dizem o que querem e, se as pessoas acreditassem firmemente no que leem na rede, ficariam paralisadas caso encontrassem um personagem dos verbetes, o médico e monstro. Suas reações seriam como as de Alec Guines no Dr. Strangelove, de Stanley Kubrick: os gestos desmentiriam as palavras, o abraço se transfiguraria num soco, e vice-versa.

Num prefácio para o livro do treinador Rômulo Noronha sugeri a natação como uma das táticas para enfrentar comentários negativos. Você os lê, mergulha e, nos primeiros cem metros, começa a achar que não foram tão graves assim. Nos 400 metros, já admite que talvez possam ajudar você de alguma forma, na autocompreensão ou na aceitação do mundo.

Algo muito grave acontece quando os ataques nascem num computador do Palácio do Planalto, sede do governo federal. É o caso das inserções feitas na biografia dos jornalistas Carlos Sardenberg e Miriam Leitão.

Como sempre, o governo reagiu, a princípio, dizendo que era difícil rastrear a origem das notas, os dados foram desmanchados - a mesma tática usada para as gravações das câmeras naquele problema de Dilma Rousseff com uma diretora da Receita Federal. A segunda explicação também é clássica: o Wi-Fi do Planalto é usado por visitantes, pode ter sido alguém de fora - de preferência, da oposição.

Às vezes paro para pensar: por que o PT faz tanto mal a si próprio? Deixo o campo estritamente moral para raciocinar apenas de uma forma política. O caso do Santander é típico: uma nota realista sobre o comportamento do mercado provocou uma grande reação, sua autora foi demitida e o banco, forçado a se derreter em desculpas.

O mercado deve ser livre para fazer suas previsões. E arcar com as consequências. O mercado tinha uma visão negativa no primeiro mandato de Lula. E errou, pois o País iniciou um processo de crescimento.

A pressão contra o Santander, além de sugerir censura, amplificou a análise do banco, que em outras circunstâncias ficaria restrita aos clientes especiais. Assim mesmo, aos que se orientam politicamente por cartas bancárias. O governo conseguiu transformar uma simples análise num debate nacional, o que era um consenso entre analistas de mercado se tornou uma consistente crítica à política econômica de Dilma.

A julgar pelo digitador do Palácio do Planalto, as coisas estão pegando aí, na política econômica: os dois jornalistas atingidos são críticos das medidas do governo com base nas evidências.

No universo político, a artilharia sempre foi comandada pelos blogueiros mantidos por empresas do Estado. Eles cuidam de nos combater com dinheiro público e racionalizam essa anomalia com a tese de que uma verba muito maior é usada pelos meios de comunicação que criticam o governo.
Os intelectuais dissidentes em Cuba dão de barato que o governo os vigia, os boicota e promove campanhas para assassinar sua reputação. Mas é uma ditadura.

Num país democrático, essas práticas, além de condenáveis, não são eficazes. Todo este universo de rancor acaba se voltando contra os agressores, que, como dizem os orientais, sempre se desequilibram no ataque. Os nove jornalistas atacados, nominalmente, por um dirigente do PT tiveram a solidariedade internacional, uma nota de apoio da organização Repórteres sem Fronteiras.

O PT sabe que existe um nível de rejeição ao partido nas grandes cidades - em Vitória os petistas já não usam estrelas e bandeiras vermelhas, talvez nem barba. O que parece não perceber é como seus movimentos autoritários aumentam a rejeição. É como se um partido abrisse mão de seduzir e se focasse apenas em intimidar.

Esse é um jogo muito perigoso. Em primeiro lugar, porque há muitos homens e mulheres que não se intimidam. Em segundo, porque envenena uma atmosfera que já é medíocre com atos de campanha sem graça, muitos bebês no colo, Dilma comendo cachorro-quente. Come cachorro-quente, pequena. Olha que não há mais metafísica no mundo, senão cachorro-quente.

O PT conseguiu construir uma linguagem própria. O verbete aloprado é um descoberta para se distanciar de seus combatentes da guerra suja. Digo com conhecimento de causa. Depois das eleições de 2006, interroguei todos os chamados aloprados. Era estranho que aloprados tivessem coletado mais de R$ 1 milhão. Mais estranha, ao longo dos interrogatórios, a recusa em responder, a frieza matemática em usar os mecanismos legais em sua defesa. Aloprados?

Se um dia aparecer o aloprado do computador do Planalto, observem como se esquiva, como é difícil achar nele algum traço que o defina como aloprado, como resiste às provocações. Ele é resultado de uma cultura que domina a política brasileira desde 1992. A constante tentativa de liquidar o outro é uma arma típica de ditaduras. Infelizmente, para uma grande parte da esquerda, a democracia ainda não é um valor estratégico.

Não sei qual será o resultado das eleições. Mas acho que o PT faz tudo para merecer uma derrota, algo que lhe dê pelo menos a chance de refletir sobre o período sombrio que acabou instalando no Brasil.

Uma força verdadeiramente democrática, à esquerda, seria boa para o futuro.
Será que é preciso que Cuba desmorone, que a Venezuela fracasse mais claramente, para que os petistas se convençam de que esse não é o caminho?

Sei que assim procedendo me exponho ao Twitter de todos vocês. Mas é preciso combater essa cultura de ressentimento e mediocridade que leva um digitador do Palácio do Planalto a dedicar sua tarde ao ataque a jornalistas na Wikipédia.

Não é um aloprado, mas um caso extremo e talvez cristalino: revela, em toda a sua profundeza, o abismo em que nos lançaram.

*Jornalista

Míriam Leitão: Era da incerteza

- O Globo

O Brasil vive um momento de profunda incerteza, como naqueles dias nublados em que não se vê muita coisa ao olhar para o horizonte. Na economia, há dúvidas em muitas áreas ao mesmo tempo e isso reduz o ímpeto para os investimentos produtivos e faz oscilar a bolsa ao sabor da notícia de cada dia. A política vive, a 50 dias das eleições, um ambiente de comoção e mudança.

Um cenário assim piora ainda mais a economia. Os indicadores não estão bons há algum tempo. De vez em quando sai uma taxa positiva, mas não chega a afastar o quadro mostrado pelo conjunto dos outros índices. Os números de cada dia desenham o movimento de pequenas altas, e sucessivas quedas, que vão confirmando a conjuntura em desaceleração forte. Um ano em que os empresários pisaram no freio, em que a indústria encolheu, as vendas diminuíram e as perspectivas pioraram.

Nem mesmo um ano ruim seria anormal na economia, já que há ciclos, fases, e freio de arrumação. O que é de fato preocupante é que o Brasil vem crescendo pouco há anos e o ritmo diminuirá ainda mais em 2014 porque os investidores estão com temores sobre o futuro.

Há perguntas demais para respostas pouco sólidas. Os dois candidatos à frente nas pesquisas precisam explicar melhor como pretendem enfrentar e superar os vários obstáculos que estão impedindo o Brasil de crescer. A dúvida maior recai sobre a presidente Dilma, porque ela tem o mais elevado percentual de intenção de votos, é a governante que tomou decisões que levaram a vários problemas e não tem demonstrado qualquer interesse de falar sobre a superação das dificuldades para a economia brasileira.

Dilma prefere repetir frases fabricadas pelo seu marketing que não guardam relação com a realidade, como a de que Fernando Henrique teria deixado o país numa situação equivalente à que a Argentina está agora. Qualquer pessoa que acompanha o assunto conhece os fatos e despreza essas frases de efeito. Entre investidores, isso pega mal porque se vê a governante fugindo das explicações que precisa dar sobre seu projeto para ajustar o que tem que ser corrigido de imediato na economia e no setor energético.

A incerteza alimenta o pessimismo e até o exagera às vezes. O dado da Pesquisa de Clima Econômico da FGV mostrou que o grau de confiança está no pior nível desde o Plano Collor. A pesquisa é feita com metodologia alemã desde 1989. Evidentemente que não há nada parecido agora com aquele momento, janeiro de 1991, quando o país vivia uma recessão, com o dinheiro confiscado, mas essa é a percepção dos economistas pesquisados. É preciso mudar isso.

O ambiente econômico pode se alterar com um choque de confiança, mas ele terá que vir da política, que neste momento vive o período de luto e dúvida que se segue ao trauma provocado pela morte de Eduardo Campos. Ainda que fosse o terceiro na disputa, Campos tinha grandes chances de ser um líder importante em qualquer cenário, ou consolidando uma terceira via, ou empurrando os outros candidatos a assumirem posições mais objetivas em relação aos dilemas econômicos e ambientais. Campos não teria muito tempo no horário de televisão, mas já vinha rodando pelo setor privado, explicando suas ideias. O candidato Aécio Neves tem também feito esse esforço. Já a presidente Dilma tem mais dificuldades de dizer como superará os problemas da economia, porque teria que, em primeiro lugar, reconhecê-los.

A retirada súbita de Eduardo Campos do cenário político nacional torna inevitável o reconhecimento de como a República brasileira tem sido marcada pelo trágico e o inesperado. Um longo governo oligárquico, duas ditaduras, um suicídio, uma renúncia, um impeachment, a morte de Tancredo no momento da posse e perdas de lideranças com futuro promissor vão deixando suas cicatrizes na República brasileira.

O futuro será delineado nos próximos dias quando saírem as primeiras pesquisas de intenção de voto neste novo tabuleiro eleitoral que surge após a queda do avião em Santos. Antes, será preciso a coalizão PSB-Rede anunciar o que vai fazer diante da fatalidade. Por enquanto, há muitas vozes e pouco consenso.

Claudia Safatle: Os mercados não temem Marina

• Planalto avalia que candidata levará eleição ao 2º turno

- Valor Econômico

O mercado não teme a eleição de Marina Silva, se ela for confirmada como a candidata do PSB à Presidência em substituição a Eduardo Campos, morto em um trágico acidente aéreo na quarta feira. A preferência é, de longe, por Aécio Neves, candidato do PSDB. Mas se Marina for a vitoriosa, "menos mal", comentou um gestor de investimentos que passou pelo governo do PT. "Ela é percebida como alguém que evoluiu muito e se mostra pragmática", completou.

"Com Aécio eleito, a Bolsa de Valores subiria para mais de 70 mil pontos. Se a vitória for da presidente Dilma Rousseff, ela cai para a casa dos 40 mil pontos. Caso Marina vença o pleito, a Bovespa permanecerá no patamar atual, entre 50 mil e 55 mil pontos, até se ver os primeiros passos de seu governo", arriscou um outro participante do mercado, ao tentar medir o peso de cada candidatura para o mercado de ações.

Marina cercou-se de economistas respeitados no meio financeiro e assumiu um discurso "correto", em favor da estabilidade, dizem. Defendeu o retorno da política econômica ao tripé que a sustentava até meados do segundo mandato de Lula e que, negligenciada de 2010 para cá, permitiu o aumento da inflação para o teto da meta.

"Reafirmamos o compromisso de manter o superávit primário, o câmbio flutuante, a meta da inflação e a autonomia do Banco Central", declarou a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, tão logo migrou para o PSB de Eduardo Campos, no ano passado, depois de tentar criar seu próprio partido (Rede Sustentabilidade). Na ocasião, ponderou que a autonomia do BC não seria institucionalizada.

Em entrevista no início de agosto, porém, Marina já estava com uma visão distinta: "Nossa posição unânime é de que o BC tem de ter autonomia, porque sem ela não há como dar conta daquilo que queremos recuperar que são os instrumentos da política econômica. O Eduardo (Campos) sempre tem defendido a autonomia na prática e o sinal do ponto de vista político que viria com a sua institucionalização", afirmou.

Um de seus principais assessores, Eduardo Giannetti, advogou a candidatura de Marina como "solução natural" e, novamente, tranquilizou os mercados ao dizer que "na área econômica, o PSB é igual ao PSDB", segundo reproduziu uma outra fonte da área financeira.

Se um governo Marina não assusta os mercados, também não os empolga. E há preocupação em relação às relações da ex-senadora com as lideranças do PSB e com o Congresso.

A morte de Eduardo Camposo caiu como um terremoto no núcleo das campanhas dos três principais candidatos à sucessão presidencial. Ontem, economistas de grandes instituições financeiras tentavam debulhar os números das eleições de 2010 para verificar com o máximo de precisão possível o tamanho do capital político de Marina Silva.

Removendo o que teria sido voto de protesto que migrou para o PT no segundo turno, a ex-senadora ficaria com menos de 16%. Com 19,33% dos votos válidos no primeiro turno, Marina levou a eleição de 2010 para o segundo turno.

No governo, a avaliação é que a eleição, com Marina, irá para o segundo turno e a ex-senadora entra na disputa com uma forte base eleitoral e com uma presença e linguagem que a diferencia do PT e do PSDB e a colocam como a terceira via de fato. "Marina é a expressão da revolta de junho de 2013", comentou uma fonte do Palácio do Planalto.

Hoje, com a divulgação do IBC-BR de junho, o índice de atividade do Banco Central, ficará mais clara a real situação da economia e se a campanha de Dilma pela reeleição será embalada por uma recessão.

Em maio o IBC-BR registrou retração de 0,18%.

Os dados do varejo, anunciados ontem, foram muito ruins. Houve, no segundo trimestre, uma queda de 3,06% das vendas em volume do varejo ampliado, que inclui veículos, comparado ao primeiro trimestre. Esse resultado e a contração de 1,95% da produção industrial são dois bons termômetros que vão definir o nível da atividade econômica no período.

Todas as informações até agora disponíveis convergem para um PIB negativo no segundo trimestre que pode ter uma contração de 0,5%, reduzir a performance do primeiro trimestre e configurar um quadro efetivo de recessão. Isso será divulgado pelo IBGE no fim do mês, a cinco semanas das eleições.

Como está claro nas análises dos economistas do Banco Central, o período de crescimento baixo com desemprego também baixo chega ao fim. Algum desemprego deverá começar a aparecer provavelmente após as eleições, e ele será tão menor quanto maior for a confiança de empresários e consumidores. O país está a espera de "um choque de confiança", que pode ou não vir das eleições.

As indicações de que Lula vai ter maior presença no suposto segundo mandato de Dilma poderiam até ser um elemento de melhora dos índices de confiança. A declaração do presidente do PT, Rui Falcão, que em entrevista ao Valor disse que Lula terá protagonismo maior em um novo governo Dilma, porém, foi interpretada como mera tentativa de acalmar os mercados.

O Palácio do Planalto vê Marina como uma forte candidata ao título. Já era antes de ter seu projeto de partido barrado na Justiça eleitoral. É é muito mais agora, diante da comoção causada pela morte de Eduardo Campos, dizem assessores oficiais.

"Não se trata apenas de Marina, mas de alguém que tem uma história lendária. Que tentou criar um partido e foi barrada, renunciou a sua candidatura e aceitou ser vice de Eduardo Campos, que entraria no avião que caiu, mas na última hora desistiu e que, agora, deverá ser 'ungida' candidata", discorreu um assessor de Dilma.

A favor da presidente Dilma há a expectativa de que Aécio e Marina façam uma campanha polarizada na disputa pelo segundo lugar, de tal sorte que ficará muito difícil um apoiar o outro no segundo turno.

Rogério Furquim Werneck: A reeleição e a Petrobras

• A presidente Dilma Rousseff agora acha que empresa deve ser preservada da campanha eleitoral

- O Globo

Voltas que o mundo dá. A presidente Dilma agora acha que a Petrobras deve ser preservada da campanha eleitoral. "Se tem uma coisa que tem que se preservar, porque tem que ter sentido de Estado, sentido de nação e sentido de país, é não misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país. Não é correto, não mostra qualquer maturidade."

Quem agora diz isso é a mesma candidata que, a partir de 2009, transformou a partidarização do papel da Petrobras no pré-sal em plataforma de lançamento de sua candidatura à Presidência. É difícil que alguém já tenha se esquecido da sua campanha eleitoral em 2010, saturada por cenas em que a candidata aparecia, em sondas, plataformas e navios, com mãos lambuzadas de petróleo, envergando indefectíveis capacetes e macacões da Petrobras.

O problema é que, desde então, a Petrobras converteu-se em inesgotável poço de temas espinhosos, que a presidente preferiria não ter de tratar na campanha da reeleição. O Planalto tem boas razões para estar preocupado. O potencial de desgaste político é, de fato, grande.

Para começar, é preciso ter em mente que, por impressionantes que sejam, as perdas decorrentes das trapalhadas de Pasadena são incomparavelmente menores que as envolvidas no faraônico projeto da Refinaria Abreu e Lima, imposto pelo Planalto à Petrobras. E, como já tive oportunidade de destacar em artigo publicado neste mesmo espaço, em 4 de julho, sob o título "Desperdício em grande escala", Dilma Rousseff é a figura chave para esclarecer como essa imposição de fato se deu, pois ocupava posições centrais em cada um dos principais elos da cadeia de comando com que o Planalto controlava os investimentos da Petrobras. Era, ao mesmo tempo, ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, coordenadora do PAC e presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

Mas as dificuldades com as duas refinarias são apenas parte dos espinhosos problemas que vêm aflorando na empresa. O irresponsável represamento de preços de combustíveis vem não só impondo grande desgaste ao governo, como exigindo dotes de malabarista para tentar manter um discurso que faça sentido sobre a questão. A rápida deterioração das contas da Petrobras, na esteira da "queima de caixa" decorrente desse represamento, vem reforçando expectativas de que o governo não terá como deixar de aumentar preços de combustíveis logo após as eleições. Mas, empenhado em vender a ideia de que a inflação voltará a ficar abaixo do teto de tolerância da meta no fim do ano, o governo não quer dar alento a expectativas de um "tarifaço" pós-eleitoral. É o que explica as manifestações desencontradas sobre correção de preços dos combustíveis que vêm sendo feitas pelo governo e pela Petrobras.

Em entrevista ao "Valor" De 11 de agosto, Rui Falcão, presidente do PT, preocupado com a questão, apresenta a melhor racionalização que conseguiu articular para a política de represamento de preços de gasolina: "...Você tinha que fazer uma escolha entre remuneração de acionistas e o poder aquisitivo da população. E a Petrobras, além de ter acionistas, é um patrimônio do povo brasileiro."

A racionalização revela visão confusa e deturpada do problema. O povo brasileiro, através do Tesouro, é o acionista controlador da Petrobras. Manter preços de gasolina irrealistas é uma política pervertida que subsidia proprietários de automóveis à custa do povo brasileiro. O governo só teve de apelar para esse represamento populista de preços porque não soube conduzir a política macroeconômica. Agora, só lhe resta tentar evitar na marra que a inflação fique ainda mais alta do que já está.

Sobram razões para o Brasil lamentar o desaparecimento prematuro de Eduardo Campos, um dos políticos mais talentosos e promissores de que o País dispunha. Como bem mostrou sua entrevista ao "Jornal Nacional", na véspera do acidente que lhe foi fatal, o candidato do PSB à presidência tinha visão extremamente lúcida da urgência de se dar encaminhamento mais consequente às grandes questões que hoje afligem o país.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC- Rio

Eduardo Giannetti: Eduardo Campos

- Folha de S. Paulo

O Brasil está de luto. Liderança não se improvisa: é obra do preparo e da dedicação infatigável, mas é também dom da natureza --atributo de pessoas que parecem nascidas e talhadas a exercê-la. A morte medonha de Eduardo Campos priva nossa vida pública de uma excepcional vocação de liderança. A perda se fará sentir por muitas gerações de brasileiros. O vazio é imenso.

Conheci Eduardo Campos há pouco menos de um ano. O contato veio por intermédio de Marina Silva, com quem trabalhei na campanha de 2010 e de quem aceitei o desafio de colaborar na elaboração do programa da Rede Sustentabilidade para as eleições deste ano.

Confesso que o gesto ousado de Marina ao surpreender a todos e aliar-se a Eduardo Campos após a interdição da Rede deixou-me de início hesitante. Tinha dúvidas sobre a natureza da aliança e sobre o real compromisso de Eduardo com os valores e propostas centrais do nosso programa. Preferi observar à distância e procurei me inteirar da situação antes de qualquer decisão.

A habilidade e o magnetismo pessoal de Eduardo me causaram forte impressão desde a primeira vez que presenciei (anonimamente) uma palestra sua em São Paulo. Constatei o seu efeito em mim e na expressão dos que me rodeavam na plateia. Logo me dei conta de que estava diante de um talento persuasivo de rara qualidade na nossa cena política. Senti vontade de conhecê-lo.

A aproximação ocorreu de forma paulatina. À medida que se estreitava o convívio, em reuniões de trabalho, conversas esporádicas e participações conjuntas em eventos, passei a admirar sua inteligência, disposição ao diálogo e capacidade de trabalho. Aos poucos se me foi revelando a generosa pessoa humana --lúcida, delicada e serena-- que lastreava sua atuação como homem público.

As dúvidas se dissiparam e firmou-se em mim a convicção de que a aliança Eduardo-Marina exprimia um fato genuinamente novo em nossa combalida democracia --uma coalizão alicerçada em princípios compartilhados e apta a promover corajosa depuração de nossas práticas políticas. Juntei-me ao time.

A irrupção do absurdo em nossas vidas abre uma fenda que nada sacia. Como dar conta da morte brutal de um jovem pai amoroso e amigo leal? Como explicar a perda de um líder na plenitude do vigor e talento? Onde o sentido?

Frágil e efêmera criatura, o ser humano sucumbe ante o mistério que o exaspera. Mas se o mundo em que nos foi dado existir é opaco e refratário à nossa fome de sentido, só um caminho nos resta: lutar no limite de nossas forças para que ele adquira sentido.

Que o exemplo de luta, doação e amor ao Brasil de Eduardo Campos nos dê força de seguir adiante e ilumine os nossos passos.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Vice do PSB é o principal obstáculo de Marina
Com a trágica morte de Eduardo Campos, o vice-presidente que gosta de se posicionar como “esquerda do PSB”, tornou-se o principal empecilho à candidatura de Marina Silva à presidência. Ele agora assume o comando do partido. Considerado um “tiranossauro da velha esquerda brasileira”, ele foi contra o rompimento com o governo PT para lançar candidatura própria. Foi contra até à aliança com Marina.

• Missão impossível
Aliados cogitam Roberto Amaral para vice, numa tentativa de tentar a concordância dele para lançar Marina à Presidência pelo PSB.

• Fim do 2º turno
Líderes tucanos temem que Roberto Amaral submeta a Dilma e a Lula, a quem é ligado, o caminho que o PSB deve seguir.

• Outros cotados
O PPS defende Roberto Freire para vice de Marina. No PSB, há quem prefira outro pernambucano, Maurício Rands, muito ligado a Campos.

• Renata é opção
Marqueteiros do PSB sugerem Renata Campos, mulher de Eduardo, para vice de Marina. As duas se tornaram bem próximas na campanha.

• Doações de empresas suspeitas implicam petista
Fiscal implacável das doações de campanha até para correligionários, o deputado Henrique Fontana (RS), ex-líder do PT na Câmara, está enrolado na revelação de documentos apreendidos por investigadores que o relaciona entre sete deputados que pediram doações a empresas suspeitas de ligação ao cartel dos trens. O documento foi entregue pelo Conselho de Defesa Econômica (Cade) a autoridades federais.

• Empenho
Fontana chegou a dizer que não pediu nem recebeu doações dessas empresas, mas admite empenho pela “expansão do modo ferroviário”.

• Me dá um dinheiro aí…
Além de Fontana, fazem parte da lista de deputados apontados como pedintes Carlos Zaratini e Jilmar Tatto, ambos do PT de São Paulo.

• Outros pedintes
Também estão na lista Jaime Martins (MG) e Milton Monti (SP), do PR, Leonardo Quintão (PMDB-MG) e Vanderlei Macris (PSDB-SP).

• Alavanca
Lideranças de Pernambuco não falam publicamente, mas em particular dizem que a comoção pela morte de Eduardo Campos deve alavancar a candidatura de Paulo Câmara (PSB) para governador.

• Fraquinho
Membros do Conselho de Ética consideraram “fraco” o relatório de Júlio Delgado (PSB-MG) pedindo a cassação de André Vargas, que foi mais centrado no jatinho do doleiro do que no casos de tráfico de influência.

• CNC cochilando
Dorme no ponto o presidente da Confederação Nacional do Comércio, Antônio de Oliveira Santos, que há 34 anos se agarra como carrapato ao cargo: até agora os candidatos a presidente não conhecem as demandas do setor que gera mais de 40 milhões de empregos no País.

• Ato ecumênico
O senador João Capiberibe (PSB-AP) organizou ontem à noite um ato ecumênico em memória de Eduardo Campos, em Macapá. A expectativa inicial do partido era reunir 20 mil pessoas.

• Bronca coletiva
Aline Peixoto, mulher de Rui Costa, candidato do PT ao governo, rodou a baiana em Jequié (BA), onde não encontrou material de campanha do marido no comitê de Euclides Fernandes (PDT) e Antônio Brito (PP).

• Trauma
Candidato ao Senado, Paulo Bornhausen (PSB-SC) ficou abalado com a tragédia que matou Campos: “Me veio à memória o acidente aéreo do Júlio Redecker. Acompanhei a busca pelos corpos, foi um horror”.

• Justiça lenta?
Advogados têm reclamado do sistema de acesso processual, no Superior Tribunal de Justiça. Eles demoram mais de quinze minutos para ter acesso. O sistema está sempre muito lento.

• Dinheiro é vendaval
A mulher do governador capixaba Renato Casagrande (PSB) gastou só R$ 282 em viagem a São Paulo, em 2013. Mas a do antecessor Paulo Hartung pegou pesado com o erário, entre 2007 e 2010: R$ 83,7 mil.

• Boa notícia
Em meio à consternação pelo falecimento de Eduardo Campos, uma notícia positiva: o possível adiamento da propaganda eleitoral gratuita.

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Um partido dividido
O PSB só tomará qualquer decisão em relação ao futuro depois do funeral de Eduardo Campos e do dos demais passageiros e tripulantes do avião que caiu em Santos. Mas integrantes do partido que conseguem enxergar alguma coisa além das lágrimas e dos olhos inchados pela dor da perda citam que, independentemente dos desdobramentos, vislumbram um rio largo sujeito a pequenos braços fora do leito principal. O leito principal, que toma conta das declarações de integrantes do partido, é a candidatura de Marina Silva à Presidência da República. Como bifurcações, podemos considerar uma ala mais próxima dos tucanos, pró-Aécio Neves; e outra que reúne históricos dispostos à reaproximação com o PT.
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Caberá a Marina Silva tentar evitar esse esfacelamento. Sua liderança política nunca foi tão testada como agora. E ela tem ao seu lado o discurso do próprio Eduardo, que passou os últimos dias de vida criticando o atual modelo do governo Dilma. Diante disso, por mais que os petistas prestem homenagens a Eduardo, a Pedrinho Valadares e os familiares de todas as vítimas, não há força capaz de garantir um retorno ao leito petista.

Quem manda
O presidente Nacional do PSB, Roberto Amaral, que procura se manter forte diante de toda essa tragédia, chegou ao limite. A nota divulgada ontem por ele foi justamente para tentar estancar qualquer movimento precipitado no rumo eleitoral dos socialistas. A Rede Sustentabilidade foi na mesma direção. A hora é de luto. Não de luta.

Apostas políticas
Quem entende do traçado acredita que as próximas pesquisas apontarão a ex-senadora Marina Silva encostada em Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas de intenção de voto. Uma das primeiras a sair do forno será a do Datafolha, registrada na noite de quarta-feira. Como o partido tem dez dias para escolher seu candidato, o instituto decidiu se antecipar ao PSB.
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"Das frases de Eduardo (Campos), fico com a aquela em que ele afirma que este país será diferente no dia em que o pobre estudar no mesmo colégio dos ricos"
Do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que chegou a ser cogitado como candidato a vice na chapa
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Consultar para planejar
O senador Cristovam Buarque enviou uma carta a todos os que saíram do PT para que eles listassem os motivos e vislumbrassem o futuro. Um dos poucos que se disse indisposto a ingressar em qualquer novo movimento político foi Wladimir Palmeira, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro. Sinal de quem vê algo novo por aí, fora da polarização PT-PSDB. E não será para esta eleição.

Projetos no ar.../ O ex-diretor-geral da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) Marcelo Dourado (foto) planejava selar com o candidato do PSB o compromisso de retomada do projeto de ferrovias com a construção de uma fábrica de trilhos no Brasil. "Somos o maior produtor de minério de ferro do mundo e desde a década de 1930 não produzimos mais trilhos. A pedrinha de minério de ferro que eu pretendia dar de presente a ele agora ficou sem dono", diz Marcelo.

...Mas nem tanto/ Num programa de tevê, o mesmo Marcelo Dourado, um dos nomes do PSB de Brasília, citou ontem Marina Silva como a candidata natural.

Marconi na lida/ Depois de cancelar sua agenda no Entorno do Distrito Federal na tarde de quarta-feira por conta da trágica morte de Eduardo Campos, o governador-candidato de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), passou por Brasília, para visitar correligionários. A todos com que conversou, apostou na vitória de Vilmar Rocha para o Senado contra o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Mulher de fibra/ Aqueles que estiveram com Renata Campos ontem saíram impressionados com a força da ex-primeira-dama de Pernambuco nesse momento tão difícil.

Homenagens/ Em Brasília, está marcada para terça-feira uma missa de 7º Dia pela morte de Eduardo Campos, Pedro Valadares, Carlos Percol, Marcelo Lyra, Alexandre Severo e os pilotos Marcos Martins e Geraldo Cunha, na Catedral, às 12h15.

Painel :: Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

As condições de Marina
O grupo de Marina Silva afirma que ela apresentará condições para não assumir "às escuras" a candidatura do PSB. A negociação passará pela escolha de um vice "confiável" para seu núcleo político. "Precisamos de garantias de que os compromissos serão mantidos e precisamos saber quem o PSB vai oferecer para simbolizar esses compromissos", diz um aliado que conversou com ela nos últimos dois dias. Os preferidos são Júlio Delgado, Maurício Rands e Beto Albuquerque.

Moderador Para os marineiros, o novo vice precisaria preencher três requisitos: lealdade a Eduardo Campos, confiança da ex-senadora e capacidade de unir a "ala petista" e a "ala tucana" do PSB.

Compromissos Outro aliado diz que Marina "não será candidata apenas da Rede". "Há pontos do ideário dela que não estão no programa de Eduardo e isso continuará assim. Ela não fará novas exigências, mas também não cederá completamente".

Relógio A cúpula do PSB pré-agendou a primeira reunião formal sobre a nova chapa para o dia seguinte ao sepultamento de Campos. A previsão é que o debate ocorra segunda-feira no Recife.

Bússola Com isso, a mudança da chapa só será discutida oficialmente após a divulgação do novo Datafolha.

Carteira Alguns doadores de campanha já enviaram recados de que ajudariam Marina para assegurar que haverá segundo turno.

Verde Um amigo lembra que a ex-senadora também sofreu forte baque quando Chico Mendes morreu, em 1988, mas resistiu. "A Marina é feito bambu: o vento verga, mas não quebra", diz.

Último desejo Renata Campos, viúva de Eduardo, manifestou a esperança de que as buscas no local da tragédia não sejam encerradas até que os bombeiros localizem a aliança do marido.

Silêncio Próximo ao PT e a Lula, o presidente em exercício do PSB, Roberto Amaral, não falou ontem com Marina.

Rei posto Pessoas ligadas a Campos manifestaram desconforto com as duas notas que Amaral assinou como presidente nacional do PSB. Ele ocupava o cargo de vice e dispensou a expressão "interino" ou "em exercício".

Sozinho Amaral andava isolado na cúpula do PSB. Contrário ao lançamento da candidatura própria e à aliança com Marina, tinha se distanciado da campanha.

Prazos O mandato da atual executiva do PSB termina em dezembro, quando estava prevista nova eleição. No entanto, a sigla se antecipou e aprovou em junho a recondução dos dirigentes.

Dúvidas Em tese, isso significa que Amaral, reeleito para a primeira vice-presidência, pode herdar o comando do partido até o fim de 2017. Mas pode haver pressões por uma nova eleição.

Choque Um banco de investimentos encomendou pesquisa telefônica para medir a intenção de voto em Marina na quarta-feira, dia do acidente. A enquete foi cancelada porque muitos eleitores se recusaram a responder.

Rebanho Com Marina no páreo, o PT acredita que o apelo do nanico Pastor Everaldo (PSC) com os evangélicos tende a desaparecer.

Nas ruas Apesar de Dilma Rousseff ter suspendido a campanha por três dias, bandeiras com seu nome eram vistas ontem em São Paulo.

Após o luto A TV Globo avisou aos principais candidatos ao governo paulista que voltará hoje a cobrir a disputa no "SP TV".
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Tiroteio
"A aliança tem de manter o ideal de ser uma alternativa ao projeto petista que aí está. Do contrário, corre o risco de se esfarelar."
DO DEPUTADO ROBERTO FREIRE (PPS-SP), presidente nacional da sigla, sobre os rumos da coligação presidencial que era liderada por Eduardo Campos.
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Contraponto
Um bombeiro no Planalto

Eduardo Campos costumava contar uma história para mostrar a diferença de temperamento entre ele e Dilma Rousseff. Relatava que, durante uma reunião, um ministro entrou na sala e foi duramente repreendido por ela.

--Posso falar? --questionou Campos, quando o auxiliar saiu-- Na minha terra, homem abre a porta do carro e não leva desaforo para casa. O que a sra. fez não se faz.

--O que sugere? --perguntou a presidente.

--Acho que a sra. tem que pedir desculpas.

A dupla foi até a outra sala. Dilma encontrou o ministro cabisbaixo. Deu um abraço e um beijo em sua cabeça.

Panorama Político :: Ilimar Franco

- O Globo

O PSB e o PPS vão de Marina
O martelo já foi batido. Mas, antes do anúncio, os socialistas querem que Marina entenda que não é a candidata da Rede, mas de uma coligação. E que ela é a continuidade da saga iniciada por Eduardo Campos. Garantem que ele gostaria que seu projeto fosse mantido . E relatam que Campos e Marina se entendiam muito bem e acertaram pessoalmente as bases políticas e programáticas da aliança.

A ajuda pode virar dragão
Para efeitos de propaganda, os tucanos repetem ("felizes") que, com a candidatura de Marina Silva (PSB/Rede) à Presidência, o segundo turno está garantido. Mas, nos bastidores, estão aflitos. Avaliam que Marina poderá, a curto prazo, ampliar em até seis pontos as intenções de voto de Eduardo Campos (9%). Em outubro (2013), quando era candidata, Marina tinha 29% (Datafolha). Em novembro, 26% e em abril (2014), 27%. Estrategistas do PSDB relatam que em pesquisa de julho ela tinha 14%. "Ela vinha desidratando", comentou um tucano. Mas vêem agora o risco de ela recuperar terreno e virar uma alternativa viável contra a presidente Dilma.
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"Foi um casamento muito feliz. O Eduardo encontrou a Marina, e o PSB se uniu à Rede quando os socialistas buscavam a renovação "
Maurício Rands Integrante da coordenação do programa de governo da chapa Eduardo Campos/Marina Silva
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Interesses divergentes
A cúpula do PMDB avalia que seus dois candidatos a governos estaduais que apoiavam Eduardo Campos não migrarão para Marina Silva. Nelson Trad (MS) e Ivo Sartori (RS) são de estados com forte atuação do agronegócio.

E ela voltou
O PT acreditava que poderia ganhar a eleição de Aécio Neves no primeiro turno. No ano passado, eles comemoraram quando a Rede não foi registrada, e Marina ficou de fora da sucessão. Agora, a fatalidade recolocou Marina no jogo. A disputa será mais complexa, mas os petistas não creem que os eleitores de Aécio migrarão para Marina.

Procurando um rumo
Os candidatos socialistas à Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas vivem um momento de incerteza. Não sabem o efeito nas suas campanhas da substituição de Eduardo Campos (PSB) por Marina Silva (Rede).

A classe média instruída
Os tucanos consideram que o fundamentalismo religioso e ambiental de Marina Silva impedirá que eleitores da classe média instruída abandonem Aécio Neves. Os petistas, por sua vez, dizem que, no caso de segundo turno, esse mesmo fundamentalismo será um obstáculo para que esses eleitores tucanos migrem para Marina.

O herdeiro
Analistas independentes avaliam que o candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, vai se beneficiar da comoção diante da morte de Eduardo Campos. O eleitor vai ficar sensível ao apelo de votar no herdeiro.

Disputa pelos evangélicos
Com a chegada de Marina Silva à disputa, que tem como parcela relevante do seu eleitorado os evangélicos, Pastor Everaldo, candidato do PSC à Presidência, terá de criar estratégia para não ver seus eleitores migrarem para a nova candidata.
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DIRIGENTES DO PSB garantem que não há resistências relevantes à confirmação da vice Marina Silva como a nova candidata do partido à Presidência.

Pesquisa Datafolha: SP, PE, PR, MG, DF, RJ, RS

São Paulo
Com 55%, Alckmin é líder isolado em disputa inalterada

Em cenário quase idêntico ao de julho, governador tucano seria reeleito no 1º turno, mostra Datafolha
Instados a listar as melhores áreas da gestão, 22% disseram 'nenhuma', 24% não souberam responder

O início das atividades de rua das campanhas eleitorais não produziu impacto relevante na disputa pelo governo do Estado de São Paulo.

Pesquisa Datafolha finalizada na quarta-feira (13) mostra que o tucano Geraldo Alckmin seria reeleito no primeiro turno com 55% dos votos, numa situação quase idêntica à da pesquisa anterior. Desde julho, ele oscilou um ponto para cima.

A vantagem de Alckmin em intenções de voto é bastante folgada. Ele tem mais que o dobro da soma de todos os seus adversários juntos.

Em segundo lugar na disputa aparece o presidente licenciado da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf (PMDB), com os mesmos 16% do levantamento anterior.

Enquanto o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) oscilou de 4% para 5%, a soma das intenções de voto nos candidatos de partidos menores variou de 4% para 3%.

A margem de erro do levantamento é de dois pontos. Considerando isso, portanto, a situação de todos os concorrentes pode ser considerada inalterada em relação a julho.

O levantamento traz um indício de consolidação da posição de Alckmin: a melhoria de seu desempenho na pesquisa espontânea (quando o eleitor responde em quem pretende votar sem ver os nomes dos concorrentes). Ele passou de 15% para 20%.

No único cenário de segundo turno testado, Alckmin também lidera com folga. Vence Skaf por 63% a 26%.

A pesquisa apurou ainda as taxas de rejeição dos concorrentes. Padilha tem 28%. Skaf e Alckmin estão tecnicamente empatados nisso: 20% e 19%, respectivamente.

Aprovação
O Datafolha também investigou a aprovação da gestão Alckmin. O governo é considerado bom ou ótimo por 47%. Para 36%, é regular. E para 14%, ruim ou péssimo.

Instados a dizer espontaneamente quais são as melhores áreas do governo, 22% disseram "nenhuma". Outros 24% não souberam responder. O setor com mais citações positivas foi educação/escolas, com 12%.

No ranking das piores áreas, saúde foi lembrada por 48%. Violência/polícia ficou com 16%.

Pernambuco
Senador tem 47% e venceria eleição no primeiro turno

Se a eleição fosse hoje, o senador Armando Monteiro Neto (PTB) seria eleito governador de Pernambuco no primeiro turno. Ele aparece com 47% dos votos na pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (14).

Paulo Câmara, do PSB, aparece em segundo, com 13%. Ele era o afilhado político de Eduardo Campos, que morreu quarta-feira (13) num acidente aéreo em Santos (SP).Os outros quatro candidatos somam 5%.

O Datafolha ouviu 1.198 eleitores, entre os dias 12 e 13. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

A eleição em Pernambuco prometia um duelo particular entre Campos e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois foram muito próximos até que o ex-governador pernambucano deixou a base aliada de Dilma Rousseff (PT) para se lançar candidato à Presidência.

Monteiro, ex-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), é o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Câmara, ex-secretário da Fazenda de Eduardo Campos, contava com o padrinho político para alavancar sua candidatura. A ideia era repetir a fórmula de 2012, quando Campos elegeu outro desconhecido, Geraldo Júlio (PSB), prefeito do Recife.

A estratégia do PSB previa uma presença maciça do presidenciável na propaganda de rádio e TV de Câmara, que começa no próximo dia 19. Além disso, estava combinado que Campos aproveitaria as viagens ao Nordeste para participar de eventos junto com o afilhado político.

A dúvida, agora, é como o eleitor pernambucano irá reagir diante da morte trágica de Campos e de que forma os candidatos se comportarão em relação a isso.

Avaliação
O Datafolha também avaliou o grau de satisfação dos pernambucanos com o governador João Lyra Neto (PSB), que assumiu o cargo há quatro meses, quando Eduardo Campos se licenciou para a disputa presidencial.

Sua gestão foi aprovada por 24% dos entrevistados. Para 39% o desempenho de Lyra é regular e 12% o consideram ruim ou péssimo.

Para 22%, não há nenhuma área do governo Lyra que mereça ser destacada como a de melhor desempenho. Com 21% das citações, educação foi a área mais bem avaliada. Saúde foi a de pior desempenho para 42%.

Paraná
Tucano Richa e senador Requião dividem liderança

O atual governador Beto Richa (PSDB) e o ex-governador Roberto Requião (PMDB) dividem a liderança na disputa pelo governo do Paraná, diz pesquisa Datafolha concluída nesta quarta (13).

Richa está numericamente à frente de Requião: tem 39% das intenções de voto, contra 33% do peemedebista. Considerando a margem de erro, de três pontos percentuais para mais ou para menos, estão tecnicamente empatados.

Em terceiro lugar está Gleisi Hoffmann (PT), com 11%.

Com a liderança ameaçada, Richa elegeu Requião como seu principal alvo e afirma que tem várias "balas de prata" contra ele.

Porém, ainda que com alta rejeição (27%), Requião vem ganhando votos de eleitores insatisfeitos com o governo Richa, que passa por crise financeira e chegou a parar obras.

A rejeição do tucano já se iguala à de Requião, considerada a margem de erro: 23%.

O levantamento foi realizado com 1.226 pessoas.

Minas Gerais
Pimentel, do PT, tem vantagem sobre rival tucano

O ex-ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel (PT) lidera a disputa pelo governo de Minas Gerais com 13 pontos à frente do seu principal oponente, o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga (PSDB).

Pesquisa Datafolha realizada entre terça (12) e quinta (14) mostra o petista, apoiado pela presidente Dilma Rousseff, com 29% das intenções de voto, contra 16% do tucano, indicado pelo senador e candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB).

Os indecisos são maioria: 31%. E 14% dos eleitores entrevistados pretendem votar branco, nulo ou em nenhum nome. Por enquanto, 45% dos eleitores de Minas Gerais não têm candidato.

Em terceiro lugar na disputa, com 4%, aparece Tarcísio Delgado (PSB). Os outros quatro candidatos somam 5%.

A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

O Datafolha ouviu 1.238 eleitores em 50 municípios.

Distrito Federal
Mesmo cassado, Arruda segue na liderança

Mesmo com o registro de sua candidatura cassado pela Justiça Eleitoral, o ex-governador José Roberto Arruda (PR) segue na frente na disputa a governador do Distrito Federal. Pesquisa do Datafolha mostra que ele tem 35% das intenções de voto.

O atual governador, Agnelo Queiroz (PT), tem 19% e Rodrigo Rollemberg (PSB), 13%. Os demais candidatos marcaram 11%. Brancos e nulos somaram 12%, e indecisos, 10%. A margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais.

Com isso, Agnelo e Rollemberg aparecem tecnicamente empatados. Foram ouvidos 736 eleitores, entre terça (12) e quarta-feira (13).

Os entrevistados avaliaram mal a administração de Agnelo, que tenta a reeleição. Para 46%, sua gestão é considerada ruim ou péssima. Dessa forma, segundo o Datafolha, o atual governador tem a mais alta rejeição entre os candidatos, com 48%. Arruda vem em seguida --37% dizem que não votariam nele de jeito nenhum.

Rio de Janeiro
Crivella cai, e Garotinho é líder isolado

Senador do PRB perdeu 6 pontos percentuais e agora tem 18%, em empate técnico com Pezão, que tem 16%

Principal razão pode ter sido declaração polêmica associando falta de emprego a atos de criminalidade

O deputado Anthony Garotinho (PR) está isolado no topo das intenções de voto para o governo do Rio, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (15).

A liderança decorre principalmente da queda do senador Marcelo Crivella (PRB), que perdeu seis pontos percentuais em relação ao último levantamento.

O candidato do PR oscilou de 24% para 25%. O ex-ministro da Pesca, por sua vez, caiu de 24% para 18%. A margem de erro é de 3 pontos.

Crivella agora está em empate técnico com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que registra 16% das intenções de voto --oscilando positivamente dois pontos. O senador Lindbergh Farias (PT) manteve 12%.

Entre as 1.317 pessoas entrevistadas na terça (12) e quarta-feira (13), 17% declararam voto em branco ou nulo. Outros 10% afirmaram não saber quem escolher.

A queda de Crivella ocorreu principalmente nos municípios da região metropolitana, entre os mais pobres (renda familiar até dois salários mínimos) e os mais ricos (acima de dez mínimos).

Garotinho, por sua vez, sobe principalmente entre o que ganham de cinco a dez salários mínimos e Pezão, entre os que recebem acima de dez salários mínimos. Ele tem a maior rejeição, contudo, de 40%, contra 20% de Pezão e Lindberg e 16% de Crivella.

Uma hipótese para a queda de Crivella é a exploração de declaração dada à TV Bandeirantes. Ao defender a criação de mais postos de emprego na Baixada Fluminense, região populosa com eleitorado de baixa renda, ele disse: "se deixar a população da Baixada, das regiões periféricas, vivendo na miséria, essas pessoas migram para vir roubar na capital onde tem a maior riqueza".

Rio Grande do Sul
Senadora tem 39%, contra 30% de governador do PT

A senadora Ana Amélia Lemos (PP) lidera a disputa pelo governo do Rio Grande do Sul, de acordo com o Datafolha. Se as eleições fossem hoje, a candidata teria 39% das intenções de voto, contra 30% do segundo colocado, o governador Tarso Genro (PT), que tenta a reeleição.

O peemedebista José Ivo Sartori aparece em terceiro, com 7%. Vieira da Cunha (PDT) tem 3%, enquanto Roberto Robaina (PSOL) e João Carlos Rodrigues (PMN) estão com 1% cada.

Brancos e nulos somam 6%. Não souberam ou não quiseram opinar 14%.

A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos. O levantamento ouviu 1.233 pessoas entre terça (12) e quinta (14) e é o primeiro feito pelo Datafolha após a definição das candidaturas.

Tarso e Ana Amélia vêm polarizando a disputa desde o início da campanha.

O governador busca vincular a adversária ao tumultuado governo da tucana Yeda Crusius (2007-2010), que quase sofreu impeachment. O PSDB apoia a senadora.

Já Ana Amélia vem fazendo críticas à gestão das finanças estaduais pelo PT.

Paulo Vanzolini - Samba abstrato

Maximiano Campos: Lavrador do Tempo

Lavrador do tempo e incerteza,
plantei ilusão e alegria,
pensando que colheria
uma safa de certa beleza

fui buscar as cores da natureza,
as cores que nela havia,
claridade, luz do dia,
para poder ter a certeza

que este poema seria
luminoso e transparente
claro e limpo feito o dia

para ofertá-lo traria
num verso raro e fluente,
o tempo que dele sairia.

Maximiano Accioly Campos (Recife, 19 de novembro de 1941 - Recife, 7 de agosto de 1998 foi um poeta, ficcionista e cronista brasileiro, integrante da geração 65. Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, Maximiano Campos foi cronista do Diario de Pernambuco e superintendente do Instituto de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco. Entre janeiro de 1987 e dezembro de 1988, foi secretário de Turismo, Cultura e Esportes do Governo de Pernambuco, durante a segunda gestão do governador Miguel Arraes, seu sogro. Do seu casamento com Ana Arraes, teve dois filhos - o advogado Antonio Campos e o economista Eduardo Campos.
É autor de 17 livros, alguns publicados postumamente. Sua primeira obra, o romance Sem Lei nem Rei, é também a mais conhecida e trata da briga entre coronéis do sertão e da zona da mata de Pernambuco

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Opinião do dia: Eduardo Campos

Não desistam do Brasil.

Eduardo Campos, em entrevista ao Jornal Nacional, 12 de agosto de 2014

Eduardo Campos (1965-2014) - Tragédia muda eleição

• Queda de avião em que viajavam o candidato à presidência pelo PSB e mais seis pessoas causa comoção; aliados e adversários lamentam o desaparecimento de um nome que era apontado como esperança de renovação política

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO -O tempo estava fechado na Baixada Santista. Com sua equipe, o candidato Eduardo Campos (PSB) rumava para mais um compromisso de campanha na região. O piloto do Cessna Citation 560 XL tentou pousar na base aérea do Guarujá por volta das 9h50m. Não conseguiu. Arremeteu o avião, que acabou se chocando com casas no bairro do Boqueirão, em Santos. Morreram Campos e as outras seis pessoas que estavam no avião. Assim se desenhou, ontem, uma história de horror que abalou o país e pode mudar os rumos da eleição, com o PSB tendo de decidir seu futuro em poucos dias. O acidente deixou destroços do jato em 13 casas do bairro e seis pessoas feridas, entre elas um bebê de 3 meses.

Eduardo Campos tinha 49 anos e o sonho de ser presidente. Em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto (9%, segundo o Ibope da semana passada), estava animado: sua equipe ficou satisfeita com o resultado da entrevista do candidato no "Jornal Nacional" na noite de anteontem. A candidata a vice-presidente, Marina Silva, estava no Rio, mas não embarcou no avião. Viajou a São Paulo em voo de carreira para gravar o programa de TV que começa na semana que vem. A mulher de Eduardo, Renata, estava no Rio com o filho Miguel, de 7 meses, para acompanhar o marido, mas não foi à Baixada Santista. Voltou a Recife com o bebê.

Ontem, já em Santos, Marina não escondia o choque:

- Durante estes dez meses de convivência, aprendi a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar nas suas atitudes e nos seus ideais de vida - disse Marina, que continuou: - Eduardo estava empenhado com esses ideais até os últimos segundos de sua vida, e a imagem que eu quero guardar dele foi a da nossa despedida de ontem: cheio de alegria, cheio de sonhos, cheio de compromissos.

Em uma campanha eleitoral de ânimos acirrados e declarações extremadas, e cujo desfecho se torna mais incerto, a morte de Eduardo Campos ontem uniu brasileiros. Os candidatos fecharam seus comitês e suspenderam as agendas de campanha. A presidente Dilma Rousseff, que concorre à reeleição, decretou luto de três dias. Agora, o PSB tem dez dias para decidir quem concorrerá às eleições no lugar de Campos. Nas eleições passadas, Marina teve 20 milhões de votos no primeiro turno, mas a decisão ficou entre José Serra (PSDB) e Dilma (PT).

- O Brasil perde uma jovem liderança, com um futuro extremamente promissor pela frente. Um homem que poderia galgar os mais altos postos do país. Sem sombra de dúvidas, é uma perda. Para além das nossas divergências, nós mantivemos sempre uma forte relação de respeito mútuo - lamentou Dilma.

Em São Paulo, o candidato do PSDB, Aécio Neves, lastimou a morte de Campos, de quem era amigo há 20 anos.

- Estou muito consternado. É um baque que demora um pouco para se recuperar - disse Aécio, antes de embarcar para o Rio de Janeiro, onde passaria a noite com a sua família.

O ex-presidente Lula, cujo Ministério Campos integrou, disse ter ficado entristecido por perder um "amigo e companheiro". Para Fernando Henrique, ainda que não vencesse as eleições, Campos "seria um líder para a renovação política que tanto necessitamos". Ex-ministros e dirigentes políticos de todo o país também se mostraram consternados.

Eduardo Campos morreu no nono aniversário de morte de seu avô, o ex-governador Miguel Arraes, a quem homenageou com o nome do mais novo de seus cinco filhos, nascido sete meses atrás. Ex-governador, ex-deputado e ex-ministro, Campos era herdeiro político de Arraes, uma das lideranças políticas perseguidas e exiladas pelo regime militar.

No avião, estavam os pilotos Marcos Martins e Geraldo Magela da Cunha, os assessores Pedro Valadares e Carlos Augusto Leal Filho, o Percol, o fotógrafo Alexandre Severo e o cinegrafista Marcelo Lyra. A Aeronáutica enviou dez investigadores ao local do acidente, e a investigação deverá levar meses para ser concluída. A caixa preta da aeronave foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros e entregue ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea. (Colaborou Thiago Herdy)

Adversários de Campos vislumbram ajustes na campanha à presidência

• Provável entrada de Marina Silva à frente da chapa do PSB preocupa dilmistas e aecistas para pleito de outubro

Débora Bergamasco e Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Integrantes das campanhas de Aécio Neves (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT) avaliam que a provável entrada da candidata a vice de Eduardo Campos, Marina Silva, na disputa presidencial exigirá um ajuste nas campanhas.

Já é certo que a estratégia do tucano sofrerá uma guinada. Desde que Aécio se consolidou em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, ele vinha se concentrando em “olhar para cima e nunca para trás”, escolhendo sempre duelar com Dilma, líder nas pesquisas, e encarando o PSB de Campos, em terceiro na corrida, como “carta fora do baralho”.

Mas se Marina assumir a cabeça de chapa, tucanos acreditam que não só será impossível continuar ignorando a corrida dos pessebistas, como avaliam que a ex-ministra tem chances de desbancar Aécio do 2.º turno. Arriscam que ela partiria de um patamar de 15 ou 16 pontos nas sondagens, bem à frente do ex-governador de Pernambuco. O número poderia ainda sofrer uma distorção para cima, avaliam, por conta da superexposição de Marina no noticiário nos próximos dias.

Por ser mais conhecida nacionalmente que Campos e por já ter sido testada na eleição de 2010, quando conquistou cerca de 20 milhões de votos com menos de um minuto de TV, aecistas apostam que Marina poderá retirar não só parte dos eleitores do tucano, mas também parcela do eleitorado de Dilma. Este cenário favoreceria a realização do 2.º turno -ideal para todos os adversários da petista, já que é dela a maior rejeição entre os postulantes. Entretanto, a força de Marina pode ser suficiente também para tirar Aécio do segundo round eleitoral.

Por isso, para tomar as próximas decisões, o PSDB fica a reboque dos movimentos do PSB.
Por enquanto, os primeiros programas de Aécio para o horário eleitoral, que começa na terça-feira, não serão alterados. O motivo é que os filmes iniciais apenas apresentam Aécio como neto do ex-presidente Tancredo Neves, pai de família, marido exemplar, deputado constituinte e governador de Minas Gerais por dois mandatos. Portanto, a nova configuração política em nada afetará a narração da biografia do mineiro na TV.

Potencial. Segundo um integrante da coordenação da campanha de Dilma, o momento é de “dar tempo ao tempo e guardar luto”. Em conversas reservadas, no entanto, avaliam que a tragédia envolvendo o candidato do PSB tem potencial para causar uma reviravolta na disputa eleitoral. Os petistas dão como certo que Marina sucederá Campos como candidata mas ponderam que ainda é cedo para avaliar qual seria o impacto no eleitorado.

Por um lado, apoiadores de Dilma acreditam que Marina, caso confirme a candidatura, terá um período de superexposição na mídia e pode se aproveitar por ser mais conhecida do que Campos e pela comoção nacional em torno da morte do ex-governador de Pernambuco. Por outro, há petistas avaliando que a ausência de Campos pode desencadear disputas internas, fragilizar Marina dentro da aliança PSB/Rede e expor as contradições entre os dois segmentos que compõem o centro da candidatura em assuntos delicados como meio ambiente e agronegócio, principalmente, em Estados onde o PSB se aliou ao PSDB, como é o caso de São Paulo.

Segundo integrantes da campanha dilmista, o programa de estreia no horário eleitoral gratuito deve ter uma homenagem a Campos. O formato ainda não foi definido. Uma ideia é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Campos foi ministro e aliado, grave um depoimento em tom pessoal

Acidente mata Eduardo Campos; rivais preveem Marina candidata

- Folha de S. Paulo

No momento de maior projeção política de sua carreira, o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, morreu em um acidente de avião. O jato em que estava caiu numa área residencial de Santos, litoral paulista, nesta quarta-feira (13).

Também morreram quatro assessores que o acompanhavam e os dois pilotos da aeronave.

Governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula, presidente do PSB e ex-deputado federal, Campos havia completado 49 anos três dias antes.

De perfil conciliador, com formação de esquerda, Eduardo Henrique Accioly Campos era próximo dos movimentos sociais, mas investia em alianças com setores conservadores. Considerado um dos principais expoentes da nova geração de políticos brasileiros, estava em terceiro lugar na disputa pela Presidência, com 8% das intenções de voto no Datafolha.

Campos morreu num 13 de agosto, o mesmo dia da morte de seu avô, o também ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005), personagem que o projetou na política no fim dos anos 80. Ele será enterrado no Recife, junto de Arraes.

As causas do acidente são apuradas pela Aeronáutica. O jato Cessna 560 XL voava do aeroporto Santos Dumont, no Rio, para a Base Aérea de Santos, em Guarujá, região onde Campos faria campanha.

A aeronave iria pousar por volta das 10h, mas arremeteu quando já era vista por quem a esperava. Há relatos de que estava em chamas no momento da queda. Ao menos seis pessoas que estavam próximas ao local atingido pelo jato ficaram feridas.

A presidente Dilma Rousseff, colega de Campos no ministério de Lula e adversária dele na atual disputa eleitoral, decretou luto oficial de três dias e suspendeu suas agendas de chefe de Estado e de candidata à reeleição. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) também cancelou suas atividades eleitorais.

Inscrita como vice na chapa de Campos, a ex-ministra Marina Silva embarcaria na mesma aeronave do candidato, mas mudou de ideia e decidiu pegar um avião de carreira com assessores.

A morte de Campos embaralha o cenário sucessório. Os adversários na disputa apostam que Marina irá assumir seu lugar como candidata do PSB. Conforme a legislação, o partido tem dez dias para anunciar a eventual substituição.

Filho de Ana Arraes, ministra do TCU (Tribunal de Contas da União) e ex-deputada federal, e do escritor Maximiano Campos (1941-1998), Eduardo Campos deixa a mulher, a economista Renata Campos, e cinco filhos: Maria Eduarda, João Henrique, Pedro Henrique, José Henrique e Miguel, que nasceu no começo deste ano.

Cientistas políticos se dividem sobre segundo turno

• No entanto, concordam que Marina é alternativa para o PSB, que não tem outro nome como o de Campos

Carolina Benevides e Renata Leal – O Globo

A morte de Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência, divide cientistas políticos e historiadores ouvidos pelo GLOBO sobre a corrida eleitoral deste ano. Há quem aposte que a eleição será levada para o segundo turno se Marina Silva, até então vice de Campos, for confirmada como a candidata dos socialistas. Com ela, o quadro político, que já conta com Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) nos primeiros lugares da pesquisa, sofreria "mudança significativa". A presença da ex-senadora como cabeça de chapa, no entanto, poderia, para outros especialistas, fazer com que a eleição fosse decidida mesmo em 5 de outubro.

Todos concordam, porém, que o PSB não tem em seus quadros um nome nacional como o de Campos, o que faz com que Marina se torne a alternativa. Dizem ainda que o partido terá dificuldade para encontrar um nome para ser o vice, e que a candidatura de Marina, que se filiou por não conseguir fundar a Rede, seria "de certa maneira uma derrota para o PSB".

Marly da Silva Motta
"Vejo alguns cenários: a Marina pode ser candidata à Presidência. Pode ser ainda que o partido decida lançar um nome próprio. Os socialistas têm bons nomes, como Beto Albuquerque (deputado federal), Márcio França (vice na chapa de Geraldo Alckmin) e Renato Casagrande (governador do ES), mas não vejo nenhum com estatura para o cenário nacional.

O partido não tem também nomes nacionais para ser o vice. Por outro lado, deixar que o vice seja também da Rede (grupo de Marina) seria decretar a falência do PSB. Por conta disso, podem até cogitar apostar na Renata (Campos), mulher de Campos, para ser vice de Marina. Ela tem tradição na militância. Mas, numa eleição presidencial, duvido que assumir o legado do marido cause impacto no eleitorado. Além dessas opções, o partido pode ainda decidir retirar a candidatura, o que faria a eleição ser plebiscitária. Essa possibilidade é a mais distante.

Em relação ao eleitorado, acredito que o de Pernambuco migre para Dilma, assim como o do Nordeste. O das outras regiões, em menor grau, acho que migra para o Aécio. Isso porque os perfis regional e ideológico de Campos são mais voltados para a esquerda. Para o Pastor Everaldo, não vejo migração. Com esse quadro, ganha força a eleição sendo decidida no primeiro turno. Mas, nesse primeiro momento, vai ter muita gente desamparada."

David FLeischer
"Marina se tornar candidata à Presidência é de certa maneira uma derrota para o PSB, mas tem outra saída? Se o partido a confirmar, a eleição tende a ir para o segundo turno. Marina é mais conhecida que Campos. Disputou a Presidência em 2010 e foi ministra do Lula. Já nas próximas pesquisas talvez tenha mais intenção de votos do que ele. No entanto, se a eleição for para o segundo turno, com Dilma e Aécio, pode ser que ela repita 2010 e não apoie ninguém. Nesse cenário, acredito que o Aécio tente conquistar o apoio dela, que não simpatiza com Dilma, com quem teve embates quando eram ministras.

Se Marina for a candidata, ela vai trazer o meio ambiente para a pauta, e Dilma e Aécio terão que incluir o tema e a sustentabilidade nas suas campanhas. Além disso, pode ser que o número de indecisos caia um pouco com essa candidatura, ainda que por enquanto a gente não saiba qual será a rejeição de Marina.

Por outro lado, a morte de Campos pode fazer com que o eleitor dele migre para Aécio e para Dilma. E a chegada de Marina pode fazer com que alguns "dilmistas" e "aecistas" migrem para ela. Como Marina é da Assembleia de Deus, assim como o Pastor Everaldo, pode ser ainda que ele perca alguns votos.

No mais, Marina pode impactar as candidaturas estaduais. Ela provoca emoções fortes. Sendo cabeça de chapa, pode não aceitar determinadas alianças."

Daniel Aarão Reis
"Se a candidata for a Marina, o quadro político sofre mudança significativa. Campos, quando com ela, registrou um crescimento. Se o partido a escolher, terá chances interessantes. Inclusive porque a tragédia pode ser compensada através do voto, pode suscitar numa transformação. Marina apareceria como a candidata que viria lutar pelos ideias de Campos. (Sobre) os votos em branco e nulos, que chegam a um terço do eleitorado, essas pessoas têm mais chances de optar por ela do que teriam de optar por Eduardo. Ele representava uma terceira via, mas ela preenche melhor esse espaço.

Não vejo nos quadros do partido ninguém que tenha a estatura que Campos tinha. Acho que pode acontecer uma coligação, mas o mais provável é que a Marina assuma a candidatura, por mais que isso signifique algum risco. Ela tem uma personalidade muito própria, e o PSB pode perder um certo controle."

Sérgio Abranches
"A decisão de quem será o candidato tem que ser tomada em dez dias, segundo a lei, mas a campanha na TV e no rádio começa antes. O PSB terá que decidir se mantém o acordo, com Marina de vice. Mas o partido não tem liderança com a mesma expressão do Campos. Então, se ela se torna a candidata, pode ficar no mesmo patamar de Aécio, o que configuraria levar a eleição para o segundo turno.

Agora, se for candidata, ela terá que se acomodar nas alianças feitas com o PSB. O Campos aceitava mais do que ela o que chamam de velha política. Ela tem mais restrições. Só que o dono legal da chapa é o PSB. A Rede não é partido ainda."

Christiane Jalles
"É imensa a dificuldade de se fazer qualquer previsão. Como o PSB vai se articular internamente para apoiar Marina ou qualquer outro nome? O Campos vinha construindo a candidatura há tempos. O partido tem grandes lideranças regionais e estaduais, mas há outro nome para substitui-lo? O PSB pode até ter dificuldade em escolher a Marina, mas ela é conhecida nacionalmente e acaba sendo uma alternativa.

(Uma das questões é que) o PSB era o cabeça de chapa e pode não ser mais. Ainda que ela esteja no partido, sabemos que tem outras pretensões. É mais difícil que Marina se torne uma grande liderança no PSB."

Roberto Romano
"Será difícil encontrar um candidato para o partido e para a coligação que o apoiava. E essa morte vai fazer o Brasil voltar ao estágio anterior, no qual de um lado estavam os tucanos e do outro, os petistas. A presença de Campos quebrava esse circuito.

Não sei se o PSB vai apresentar Marina. Se isso acontecer, ela tende a recolher votos. Em relação ao eleitorado, uma parcela considerável fica com ela. Mas uma parte mais conservadora deve seguir para o Aécio. Poucas seriam as chances de os eleitores de esquerda ou mais conservadores votarem na Dilma."

Antonio C. Mazzeo
"Se o PSB mantiver a lógica, Marina é a candidata. Se for assim, o partido pode dar um salto, já que ela tem mais penetração nacional e pode ter um aporte maior nas intenções de voto. No entanto, Marina pode disputar votos com Aécio, e os indecisos podem olhar para outros candidatos mais à esquerda. A candidatura dela poderia, então, diminuir a chance de um segundo turno.

Mas se não é Marina a candidata, quem é?"

Luiz J. Werneck Vianna
"O Campos representava, ao menos no Nordeste, uma atração sobre o voto, porque, do jeito que as coisas estão indo, os votos em branco e nulos serão muito fortes. Sem ele, as coisas no Nordeste ficam mais complicadas.

Quem conseguia se comunicar bem com a Marina era o Campos. É uma ferida muito funda no PSB. Além do mais, ele era o presidente do partido. Não sei como eles vão se erguer desse baque. Vão procurar, mas não há soluções claras à vista.

Vai haver migração para dentro e para fora. Muitos virão para a Marina (se ela for a candidata) e outros sairão por causa dela."

Marcelo Simas 
"O PSB sabe que essa aliança com Marina tem certo grau de artificialismo, não é uma aliança histórica. Ela foi para o PSB por conta da dificuldade de fundar a Rede. Depois das eleições, imaginamos que iria fundar seu partido, já que tem proposta programática muito definida. (Nesse quadro) é difícil prever se o PSB vai anunciar a candidatura dela à Presidência. Mas, dentro do partido, eu não vejo um candidato para esta eleição".