• Planalto avalia que candidata levará eleição ao 2º turno
- Valor Econômico
O mercado não teme a eleição de Marina Silva, se ela for confirmada como a candidata do PSB à Presidência em substituição a Eduardo Campos, morto em um trágico acidente aéreo na quarta feira. A preferência é, de longe, por Aécio Neves, candidato do PSDB. Mas se Marina for a vitoriosa, "menos mal", comentou um gestor de investimentos que passou pelo governo do PT. "Ela é percebida como alguém que evoluiu muito e se mostra pragmática", completou.
"Com Aécio eleito, a Bolsa de Valores subiria para mais de 70 mil pontos. Se a vitória for da presidente Dilma Rousseff, ela cai para a casa dos 40 mil pontos. Caso Marina vença o pleito, a Bovespa permanecerá no patamar atual, entre 50 mil e 55 mil pontos, até se ver os primeiros passos de seu governo", arriscou um outro participante do mercado, ao tentar medir o peso de cada candidatura para o mercado de ações.
Marina cercou-se de economistas respeitados no meio financeiro e assumiu um discurso "correto", em favor da estabilidade, dizem. Defendeu o retorno da política econômica ao tripé que a sustentava até meados do segundo mandato de Lula e que, negligenciada de 2010 para cá, permitiu o aumento da inflação para o teto da meta.
"Reafirmamos o compromisso de manter o superávit primário, o câmbio flutuante, a meta da inflação e a autonomia do Banco Central", declarou a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, tão logo migrou para o PSB de Eduardo Campos, no ano passado, depois de tentar criar seu próprio partido (Rede Sustentabilidade). Na ocasião, ponderou que a autonomia do BC não seria institucionalizada.
Em entrevista no início de agosto, porém, Marina já estava com uma visão distinta: "Nossa posição unânime é de que o BC tem de ter autonomia, porque sem ela não há como dar conta daquilo que queremos recuperar que são os instrumentos da política econômica. O Eduardo (Campos) sempre tem defendido a autonomia na prática e o sinal do ponto de vista político que viria com a sua institucionalização", afirmou.
Um de seus principais assessores, Eduardo Giannetti, advogou a candidatura de Marina como "solução natural" e, novamente, tranquilizou os mercados ao dizer que "na área econômica, o PSB é igual ao PSDB", segundo reproduziu uma outra fonte da área financeira.
Se um governo Marina não assusta os mercados, também não os empolga. E há preocupação em relação às relações da ex-senadora com as lideranças do PSB e com o Congresso.
A morte de Eduardo Camposo caiu como um terremoto no núcleo das campanhas dos três principais candidatos à sucessão presidencial. Ontem, economistas de grandes instituições financeiras tentavam debulhar os números das eleições de 2010 para verificar com o máximo de precisão possível o tamanho do capital político de Marina Silva.
Removendo o que teria sido voto de protesto que migrou para o PT no segundo turno, a ex-senadora ficaria com menos de 16%. Com 19,33% dos votos válidos no primeiro turno, Marina levou a eleição de 2010 para o segundo turno.
No governo, a avaliação é que a eleição, com Marina, irá para o segundo turno e a ex-senadora entra na disputa com uma forte base eleitoral e com uma presença e linguagem que a diferencia do PT e do PSDB e a colocam como a terceira via de fato. "Marina é a expressão da revolta de junho de 2013", comentou uma fonte do Palácio do Planalto.
Hoje, com a divulgação do IBC-BR de junho, o índice de atividade do Banco Central, ficará mais clara a real situação da economia e se a campanha de Dilma pela reeleição será embalada por uma recessão.
Em maio o IBC-BR registrou retração de 0,18%.
Os dados do varejo, anunciados ontem, foram muito ruins. Houve, no segundo trimestre, uma queda de 3,06% das vendas em volume do varejo ampliado, que inclui veículos, comparado ao primeiro trimestre. Esse resultado e a contração de 1,95% da produção industrial são dois bons termômetros que vão definir o nível da atividade econômica no período.
Todas as informações até agora disponíveis convergem para um PIB negativo no segundo trimestre que pode ter uma contração de 0,5%, reduzir a performance do primeiro trimestre e configurar um quadro efetivo de recessão. Isso será divulgado pelo IBGE no fim do mês, a cinco semanas das eleições.
Como está claro nas análises dos economistas do Banco Central, o período de crescimento baixo com desemprego também baixo chega ao fim. Algum desemprego deverá começar a aparecer provavelmente após as eleições, e ele será tão menor quanto maior for a confiança de empresários e consumidores. O país está a espera de "um choque de confiança", que pode ou não vir das eleições.
As indicações de que Lula vai ter maior presença no suposto segundo mandato de Dilma poderiam até ser um elemento de melhora dos índices de confiança. A declaração do presidente do PT, Rui Falcão, que em entrevista ao Valor disse que Lula terá protagonismo maior em um novo governo Dilma, porém, foi interpretada como mera tentativa de acalmar os mercados.
O Palácio do Planalto vê Marina como uma forte candidata ao título. Já era antes de ter seu projeto de partido barrado na Justiça eleitoral. É é muito mais agora, diante da comoção causada pela morte de Eduardo Campos, dizem assessores oficiais.
"Não se trata apenas de Marina, mas de alguém que tem uma história lendária. Que tentou criar um partido e foi barrada, renunciou a sua candidatura e aceitou ser vice de Eduardo Campos, que entraria no avião que caiu, mas na última hora desistiu e que, agora, deverá ser 'ungida' candidata", discorreu um assessor de Dilma.
A favor da presidente Dilma há a expectativa de que Aécio e Marina façam uma campanha polarizada na disputa pelo segundo lugar, de tal sorte que ficará muito difícil um apoiar o outro no segundo turno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário