Valor Econômico
Combustível representa mais da metade das
importações brasileiras vindas da Rússia até agosto
O Brasil gastou US$ 3,8 bilhões com a compra
de diesel da Rússia entre janeiro e agosto, representando 54,5% de tudo que
importou daquele país. É 16,4% menos do que no mesmo período do ano passado,
mas ainda um fluxo significativo.
Agora, Donald Trump reativou as baterias e pressiona os outros países do G-7 – Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Japão, Canadá, além da União Europeia – a se juntarem a Washington na imposição de tarifas aos países que compram petróleo à Rússia.
O principal alvo declarado é a China, o maior
comprador. Mas a nova ofensiva de Trump deflagrou o sinal de alerta na
Esplanada dos Ministérios.
COMÉRCIO BRASIL – RUSSIA/
janeiro-agosto, em dólares
EXPORTAÇÕES......IMPORTAÇÕES........SALDO
976 milhões...........7,0
bilhões.............-6,1 bilhões
(-10,4%) .................(-6,4%)
IMPORTAÇÕES – 1) Óleos combustiveis de
petróleo e minerais betuminosos: US$ 3,8 bilhões, ou 54,5% do total importado
(-16,4% em relação ao mesmo período do ano passado). 2) Adubos e fertilizantes
químicos (exceto fertilizantes brutos) US$ 2,8 bilhões ou 39,5% do total
(+25,7%).
EXPORTAÇÕES - 1) Carne bovina: US$ 381,3
milhões ou 28,8% do total exportado, +66,2% em relação ao mesmo período do ano
passado. 2) Café: US$ 49 milhões, ou 5% do total, e alta de vendas de 54,0%.
Fonte: MDIC
Em reunião virtual de ministros de finanças
do G-7, na sexta-feira, o secretário americano Scott Bessent e o principal
representante comercial Jamielsen Greer insistiram para os parceiros se
juntarem aos EUA para ‘''tomar medidas drásticas neste momento crítico’’ contra
os importadores de petróleo russo.
No sábado, foi a vez de Trump voltar ao tema
em rede social: “Estou pronto para aplicar sanções importantes à Rússia quando
todos os países da OTAN concordarem e começarem a fazer o mesmo, e quando todos
os países da OTAN PARAREM DE COMPRAR PETRÓLEO DA RÚSSIA”, disse ele em uma
postagem nas redes sociais, citando o que ele disse ser uma carta enviada a
seus colegas da OTAN.
Ele continuou: “Como vocês sabem, o
compromisso da OTAN em VENCER tem sido muito inferior a 100%, e a compra de
petróleo russo por alguns tem sido chocante! Isso enfraquece muito sua posição
negocial e seu poder de barganha com a Rússia. De qualquer forma, estou pronto
para ‘agir’ quando vocês estiverem. É só dizer quando”.
“Acredito que isso, juntamente com a OTAN,
como um grupo, aplicando TARIFAS DE 50% A 100% À CHINA, a serem totalmente
retiradas após o fim da GUERRA com a Rússia e a Ucrânia, também será de grande
ajuda para ENCERRAR esta GUERRA mortal, mas RIDÍCULA”, afirmou Trump.
O presidente americano já impôs uma tarifa
adicional de 25% sobre as importações da Índia para tentar interromper as
compras indianas de petróleo bruto russo com desconto, elevando as tarifas
punitivas totais sobre os produtos indianos para 50% e afetando as negociações
comerciais com Nova Deli.
A pressão agora vem quando os EUA fazem nova
rodada de negociação com a China, em Madrid, num contexto em que os americanos
reclamam que os chineses tem feito concessões insignificantes para manter a
trégua comercial.
Para um importante observador brasileiro,
porém, toda essa movimentação de Washington parece mais jogo de cena para não
ter que tomar medidas mais duras contra a Rússia.
Isso porque os europeus não vão embarcar em
aplicar sanções contra o Brasil, India e outros só porque compram
petroleo/diesel da Rússia. A Europa ainda é um dos principais compradores de
gás russo.
Os EUA terão assim a desculpa de que os
europeus não vão aplicar sanções, e tampouco farão isso, já que Trump
condiciona uma coisa à outra.
O jornal Washington Post nota, de seu lado,
que desde que Vladimir Putin foi recebido com tapete vermelho por Trump no
Alaska, o russo aumentou os ataques contra a Ucrânia, atingiu alvos ocidentais
naquele país e drones russos invadiram o espaço aéreo da Polônia.
As importações de diesel russo pelo Brasil na
verdade caíram 16,4% neste ano, enquanto as compras de fertilizantes aumentaram
25,7%.
Em Brasília, importantes personagens não
creem que o Brasil sofrerá sanção por causa do comércio com a Rússia. Mas
lembram que Trump surpreende a cada momento e procura manter todo mundo fora da
zona de conforto.
Ao mesmo tempo, o sentimento em setores da Esplanada dos Ministérios é de que, no plano bilateral, o governo Trump pode estar ‘cozinhando’’ algo contra o Brasil após a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.
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