segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A nova ameaça de Trump sobre compra de diesel russo. Por Assis Moreira

Valor Econômico

Combustível representa mais da metade das importações brasileiras vindas da Rússia até agosto

O Brasil gastou US$ 3,8 bilhões com a compra de diesel da Rússia entre janeiro e agosto, representando 54,5% de tudo que importou daquele país. É 16,4% menos do que no mesmo período do ano passado, mas ainda um fluxo significativo.

Agora, Donald Trump reativou as baterias e pressiona os outros países do G-7 – Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Japão, Canadá, além da União Europeia – a se juntarem a Washington na imposição de tarifas aos países que compram petróleo à Rússia.

O principal alvo declarado é a China, o maior comprador. Mas a nova ofensiva de Trump deflagrou o sinal de alerta na Esplanada dos Ministérios.

COMÉRCIO BRASIL – RUSSIA/ janeiro-agosto, em dólares

EXPORTAÇÕES......IMPORTAÇÕES........SALDO

976 milhões...........7,0 bilhões.............-6,1 bilhões

(-10,4%) .................(-6,4%)

IMPORTAÇÕES – 1) Óleos combustiveis de petróleo e minerais betuminosos: US$ 3,8 bilhões, ou 54,5% do total importado (-16,4% em relação ao mesmo período do ano passado). 2) Adubos e fertilizantes químicos (exceto fertilizantes brutos) US$ 2,8 bilhões ou 39,5% do total (+25,7%).

EXPORTAÇÕES - 1) Carne bovina: US$ 381,3 milhões ou 28,8% do total exportado, +66,2% em relação ao mesmo período do ano passado. 2) Café: US$ 49 milhões, ou 5% do total, e alta de vendas de 54,0%.

Fonte: MDIC

Em reunião virtual de ministros de finanças do G-7, na sexta-feira, o secretário americano Scott Bessent e o principal representante comercial Jamielsen Greer insistiram para os parceiros se juntarem aos EUA para ‘''tomar medidas drásticas neste momento crítico’’ contra os importadores de petróleo russo.

No sábado, foi a vez de Trump voltar ao tema em rede social: “Estou pronto para aplicar sanções importantes à Rússia quando todos os países da OTAN concordarem e começarem a fazer o mesmo, e quando todos os países da OTAN PARAREM DE COMPRAR PETRÓLEO DA RÚSSIA”, disse ele em uma postagem nas redes sociais, citando o que ele disse ser uma carta enviada a seus colegas da OTAN.

Ele continuou: “Como vocês sabem, o compromisso da OTAN em VENCER tem sido muito inferior a 100%, e a compra de petróleo russo por alguns tem sido chocante! Isso enfraquece muito sua posição negocial e seu poder de barganha com a Rússia. De qualquer forma, estou pronto para ‘agir’ quando vocês estiverem. É só dizer quando”.

“Acredito que isso, juntamente com a OTAN, como um grupo, aplicando TARIFAS DE 50% A 100% À CHINA, a serem totalmente retiradas após o fim da GUERRA com a Rússia e a Ucrânia, também será de grande ajuda para ENCERRAR esta GUERRA mortal, mas RIDÍCULA”, afirmou Trump.

O presidente americano já impôs uma tarifa adicional de 25% sobre as importações da Índia para tentar interromper as compras indianas de petróleo bruto russo com desconto, elevando as tarifas punitivas totais sobre os produtos indianos para 50% e afetando as negociações comerciais com Nova Deli.

A pressão agora vem quando os EUA fazem nova rodada de negociação com a China, em Madrid, num contexto em que os americanos reclamam que os chineses tem feito concessões insignificantes para manter a trégua comercial.

Para um importante observador brasileiro, porém, toda essa movimentação de Washington parece mais jogo de cena para não ter que tomar medidas mais duras contra a Rússia.

Isso porque os europeus não vão embarcar em aplicar sanções contra o Brasil, India e outros só porque compram petroleo/diesel da Rússia. A Europa ainda é um dos principais compradores de gás russo.

Os EUA terão assim a desculpa de que os europeus não vão aplicar sanções, e tampouco farão isso, já que Trump condiciona uma coisa à outra.

O jornal Washington Post nota, de seu lado, que desde que Vladimir Putin foi recebido com tapete vermelho por Trump no Alaska, o russo aumentou os ataques contra a Ucrânia, atingiu alvos ocidentais naquele país e drones russos invadiram o espaço aéreo da Polônia.

As importações de diesel russo pelo Brasil na verdade caíram 16,4% neste ano, enquanto as compras de fertilizantes aumentaram 25,7%.

Em Brasília, importantes personagens não creem que o Brasil sofrerá sanção por causa do comércio com a Rússia. Mas lembram que Trump surpreende a cada momento e procura manter todo mundo fora da zona de conforto.

Ao mesmo tempo, o sentimento em setores da Esplanada dos Ministérios é de que, no plano bilateral, o governo Trump pode estar ‘cozinhando’’ algo contra o Brasil após a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.

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