segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A Semana da Pátria de 11 dias. Por Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Responsabilizar aqueles que tramaram contra a democracia representa o rompimento com a tradição de impunidade

Semana da Pátria, pelo calendário oficial, compreende os dias entre 1º e 7 de setembro, período dedicado à celebração da soberania nacional. Em 2025, porém, excepcionalmente a Semana da Pátria se estendeu até o dia 11 de setembro, quinta-feira passada, data da inédita condenação de um ex-presidente da República por liderar uma trama de golpe de Estado —entre outros crimes— na tentativa de se manter no poder depois da derrota na eleição 2002.

Muito, muito, mas muito além de preferências político ideológicas ou de disputas partidárias, o momento é emblemático e decisivo para a defesa e preservação do Estado Democrático de Direito. Responsabilizar aqueles que tramaram contra a democracia representa o rompimento com a tradição de impunidade que historicamente beneficiou criminosos de colarinho branco no Brasil.

Além disso, é simbólico que a condenação de oito figurões —todos eles homens brancos— tenha coincidido com o ano em que a redemocratização completa quatro décadas. A consolidação da democracia depende de que todo o cidadão reconheça e aceite que nem sempre suas vontades, crenças ou convicções poderão prevalecer.

Lembrei do prefácio à edição brasileira do livro "Como Salvar a Democracia", no qual o cientista político espanhol Juan Lins chama de "democratas semileais" os políticos tradicionais que toleram, ajudam e protegem autoritários. Segundo ele, um presidente autocrata sozinho jamais é suficiente para matar uma democracia. Isso porque, os autocratas precisam de cúmplices —políticos tradicionais que toleram, ajudam e protegem os autoritários.

Coisa que me levou a pensar nas articulações em curso no Congresso Nacional para aprovar um projeto de anistia que beneficie todos os envolvidos nos recentes atos golpistas. Num cenário desses, fica a pergunta: Parlamentares deveriam concentrar esforços para promover o retrocesso de uma conquista nacional contra a impunidade e em favor da democracia?

 

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