A minha vida é um barco abandonado 
Infiel, no ermo porto, ao seu destino. 
Por que não ergue ferro e segue o atino 
De navegar, casado com o seu fado ? 
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado 
Torne seu vulto em velas; peregrino 
Frescor de afastamento, no divino 
Amplexo da manhã, puro e salgado. 
Morto corpo da ação sem vontade 
Que o viva, vulto estéril de viver, 
Boiando à tona inútil da saudade. 
Os limos esverdeiam tua quilha, 
O vento embala-te sem te mover, 
E é para além do mar a ansiada Ilha.

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