• Do balanço negativo da disputa consta o desinteresse dos candidatos, com exceção de Marina, em divulgar a íntegra de seus programas de governo
Há características especiais nesta eleição em que o PT tenta permanecer, pela quarta vez consecutiva, no Planalto, além do fato de que, vitoriosa a candidatura da presidente Dilma Rousseff, o partido completará 16 anos seguidos no poder, um recorde na história republicana brasileira. Getúlio emplacou 15, porém oito dos quais como ditador.
Outra peculiaridade, esta específica do pleito, é que, desde 1989, na eleição de Collor, não há uma briga tão dura na definição de quem chegará em segundo lugar, para concorrer num eventual segundo turno com a candidata petista.
O papel que Lula e Brizola cumpriram em 89 agora é protagonizado por Marina Silva e Aécio Neves. Naquela eleição, o resultado ficou indefinido até o final da apuração, quando Lula confirmou o lugar no segundo turno por apenas 0,63 ponto percentual (16,08% contra 15,45% de Brizola).
Pesquisas do Ibope e Datafolha divulgadas na noite de quinta-feira espelhavam a indefinição em torno do segundo lugar, com este último instituto revelando um empate técnico, com a diferença de três pontos entre os dois, 24% para Marina e Aécio, 21%, situada na margem de erro da sondagem. De acordo com o Ibope, a distância entre eles era maior — 24% a 19%. Mas nada também definido.
Jogada no centro da campanha eleitoral, como cabeça de chapa do PSB, pela tragédia da morte de Eduardo Campos, Marina Silva, como temiam os petistas, representou, naquele momento, grande ameaça a Dilma.
Mas, com pouco tempo de propaganda gratuita (dois minutos contra 12 da petista), a candidata foi atacada com violência pelo PT. Chegou a demonstrar alguma resistência, também diante da artilharia tucana, mas não resistiu, e a sua curva de intenção de votos entrou em mergulho, enquanto Aécio Neves iniciava alguma reação e Dilma subia de patamar. As curvas de Marina e Aécio têm tendências que, a depender do instituto de pesquisa, indicam poder se cruzar neste fim de semana. Ou não. Aproxima-se uma apuração emocionante.
Os ataques petistas a Marina, outro aspecto da campanha, entram para a história político-eleitoral brasileira como um dos exemplos do vale-tudo aético, destinado a explorar o alto nível de desinformação da maior parcela da sociedade. Tudo isso contaminado por preconceitos da esquerda.
Panfletos em forma de vídeos exploraram de forma cínica a proposta de independência operacional do Banco Central, feita por Marina, como se ela fosse entregar o país aos “banqueiros”, responsáveis por tirar a comida da “mesa do povo". Não fosse esta a mesma proposta feita pela então candidata Dilma na campanha de 2010.
A relação pessoal e política de Marina com Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú-Unibanco, mas conhecida por ser educadora, também foi usada de forma vil. A candidata do PSB foi tratada como alguém que é “sustentada” por banqueiros, quando bancos foram e são grandes financiadores de campanhas petistas. O que é do jogo.
Do balanço negativo da campanha consta, também, a falta de programas. Com exceção do PSB. Aécio Neves começou a divulgar o seu em capítulos, em prejuízo de uma visão global das propostas. Adiantou que Armínio Fraga será seu ministro da Fazenda, mas também não é o bastante.
Já Dilma se esquiva porque não quer responder à grande pergunta: manterá a mesma e equivocada política econômica num segundo mandato? Se houver segundo turno, é assunto a ser esclarecido. E mesmo que não haja.
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