• Numa campanha eleitoral cheia de surpresas e sem que se possa antever o resultado, principais propostas continuam indefinidas
Poucas vezes terá havido, na história recente do país, quadro eleitoral tão incerto quanto o que marca a disputa presidencial deste ano.
A hegemonia do projeto petista, que parecia inabalável pouco mais de um ano atrás, sofreu a reviravolta das manifestações de junho. O fenômeno esvaziou-se, entretanto, num panorama sucessório em que dois candidatos de oposição (Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB) seguiam numa pré-campanha tépida.
Veio o acidente que tirou a vida do pessebista, multiplicando o que sua vice, Marina Silva, podia ter de simbolicamente providencial.
Como numa espécie de teste de laboratório, cujo desfecho ainda não se pode prever, a campanha deste ano pôs à prova a bandeira marinista da nova política e, paralelamente, coloca em exame a consistência da polarização clássica entre PT e PSDB.
Há razões, do ponto de vista ideológico e social, para que o eleitorado se divida entre a visão gerencial representada pelos tucanos e o caráter mais proativo de governos petistas no que tange à diminuição das desigualdades sociais.
O espaço para uma terceira via não se abre, curiosamente, em algum ponto médio entre esquerda e direita. Esses termos fazem escasso sentido quando Lula, Sarney, Collor e Maluf se aliam numa mesma base de apoio parlamentar.
A polarização encontra seus limites na medida em que a realidade das coligações partidárias e dos acordos nos Estados impõe a intervenção de políticos alheios a compromissos doutrinários.
Daí deriva a sensação de falsidade que contamina as propostas de seus candidatos à Presidência. Tanto Dilma Rousseff (PT) como Aécio não podem governar sem alianças que, em boa parte, diluem a imagem vendida à militância.
Num paradoxo facilmente explicável, recaiu sobre Marina a impressão de ser ainda mais inconsistente do que seus rivais.
Se PT e PSDB jogam habilmente na dualidade entre as palavras de ordem e a velha prática que as desmente, a palavra de ordem de Marina foi a de uma nova prática, sem nada de concreto que pudesse confirmá-la, numa campanha feita de acenos para vários lados.
O eleitor se vê com a difícil tarefa de escolher entre programas genéricos, sem garantia sequer de que o pouco anunciado será cumprido. Nem por isso sua mensagem --de advertência ou incentivo-- será menos importante.
A democracia se constrói aos poucos; expectativa, descrença e hesitação se expressam de modo incerto a cada eleição --mais nesta, sem dúvida, do que nas anteriores.
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