Entre nós quando se fala da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estamos nos referindo principalmente ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que avalia o desempenho de estudantes de 15 anos em leitura, matemática e ciências. Nada se fala sobre o Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS) que é a maior pesquisa internacional sobre professores e líderes escolares. Tampouco se sabe do Estudo Internacional de Aprendizagem e Bem-Estar Infantil (IELS) onde se pesquisa internacionalmente que busca avaliar crianças de 5 anos que frequentam espaços Educacionais e Cuidados na Primeira Infância. Ele mede a alfabetização emergente, a numeracia emergente, a empatia e a confiança no comportamento pró-social. E por fim outras duas pesquisas: a Pesquisa sobre Habilidades Sociais e Emocionais (SSES) que identifica e avalia as condições e práticas que favorecem e/ou dificultam o desenvolvimento de competências sociais e emocionais para alunas e alunos de 10 e 15 anos; e, o Programa Internacional de Avaliação de Competências de Adultos (PIAAC), que mede a proficiência dos adultos em alfabetização, letramento matemático e resolução de problemas. Sobre essa última é que vamos refletir.
O último teste PIACC
aconteceu em 2023 e ainda que nós não tenhamos participado, seus resultados
mostraram uma realidade dramática. As chilenas e chilenos tiveram as pontuações
mais baixas em habilidades linguísticas e matemáticas entre os países avaliados,
sem melhora desde 2019. Portugal e Espanha também não se saíram bem. Em uma era
em que as habilidades são fundamentais, os dados são preocupantes, levando em
conta a média do PIACC.
O efeito desses resultados é
claro: o desenvolvimento humano é atualmente o maior obstáculo ao
desenvolvimento dos nossos países. E não é um problema de recursos; embora
esses países como o nosso tenham um bom gasto em educação em proporção do PIB.
Entretanto, eles têm os piores resultados cognitivos. E nós, o que esperar?
O que fazer então? Há muitas
reformas necessárias, mas algo não tão complexo é mudar a estrutura de
incentivos que orienta as decisões desses países, envolvendo as escolas e as
universidades.
Vamos começar com uma
pergunta que nos vem de Norbert Elias (1897-1990) sobre a transição do ensino
médio para o ensino superior. Devido as aspirações profissionais, de status e
cultura, todas e todos procuram se matricular para estudar carreiras universitárias
em instituições de prestígio. Para conseguir isso, é necessária uma média de
notas alta e uma boa pontuação nos exames de admissão. Se buscou reduzir as
lacunas socioeconômicas, diminuindo a diferença entre as alunas e alunos, em
especial com a variável renda, o que levou à uma sociologia onde as notas
escolares não são o critério de maior peso para a composição da população
educacional. Assim, foram gerados incentivos para que as escolas e as
universidades se abrissem, impulsionados por todas as pressões existentes sobre
os jovens e não só.
As instâncias governativas
da educação nos diferentes níveis espaciais também buscam maximizar suas
pontuações frente a capacidade de captação de recursos, focando seu conteúdo e
metodologias nessa dinâmica. Dada essa lógica, os últimos anos do ensino médio
se empobreceram em termos de desenvolvimento real dos índices humanos. Isso
difere em que conosco?
Esta situação pode ser
corrigida sem grandes custos: é urgente melhorar o sistema de ingresso no
ensino superior, para que a educação básica não se reduza a notas ficcionais.
Há experiência internacional suficiente para projetar sistemas melhores.
Outra mudança necessária é
redefinir o papel dos diretores escolares, hoje atendendo muitas normas, mas
sem a cultura da liderança educacional necessária. Também é fundamental
recuperar a autoridade das professoras e dos professores em sala de aula, o que
exige uma outra cultura efetiva para as alunas e os alunos, incluindo sanções
ressocializadoras. A ideia bizarra de que aqueles que estão no controle hoje na
sala de aula são as alunas e os alunos deve deixar de ser uma possível
realidade patética em si.
Entre nós é conhecida
a experiência das escolas de Sobral, no Ceara, que em contextos muito
vulneráveis apresentam resultados semelhantes e/ou melhores do que os de outras
escolas privadas e públicas. De igual forma situações análogas também acontecem
no Chile, Portugal e Espanha. Aprender com essas experiências é a melhor
maneira de alcançar maior equidade.
No ensino superior, os
incentivos à procura académica também se deterioraram. Parece que a inflação de
matrículas não é exclusiva da educação básica. Um dos fatores que aponta nessa
direção é a insuficiência orçamentaria quanto a assistência estudantil, o que
os incentiva a evitar uma derrapagem, embora possa acontecer. Algo semelhante
acontece com quem estuda com os equivalentes ao nosso Fundo de Financiamento ao
Estudante do Ensino Superior (FIES) diante de promessas irresponsáveis. É
fundamental redesenhar a política de gratuidade e créditos em uma direção
diferente das executadas, o que agrava os problemas de incentivos.
A conclusão é clara: se as
políticas educacionais não considerarem seus efeitos no comportamento das
pessoas, não seremos apenas um conjunto de países que mais gastam em educação,
mas também um dos que mais gastam, sem melhorar as adultas e os adultos, que é
fundamental para a melhoria dessas sociedades.
Ricardo Marinho é Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor da Faculdade Unyleya, da UniverCEDAE, da Teia de Saberes e do Instituto Devecchi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário