sábado, 2 de agosto de 2025

Os sinais de Haddad para o governo Trump - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Se os EUA se afastarem do Brasil, abre-se um caminho para uma aproximação ainda maior com a China

Após o anúncio do tarifaço de 50% por Donald Trump, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) é até agora o membro do governo Lula que tem emitido publicamente os sinais mais contundentes na direção de uma abertura efetiva de diálogo com os EUA.

Haddad vem endossando a posição de que o Brasil tem todo o interesse em estreitar laços e que busca parceria com os americanos. Esse é um ponto que o governo Trump tem interesse em relação ao Brasil, após ver o avanço da China na região. Perdeu o bonde e tenta agora correr atrás.

É também uma forma de contraponto do ministro, pela via econômica e diplomática, à atuação dos bolsonaristas na Casa Branca, que levou à sobretaxa e às hostilidades de Trump ao governo e ao STF. A sinalização de Haddad não pode ser subestimada como simples retórica após os Estados Unidos colocarem 700 produtos na lista de exceções, ao mesmo tempo em que são crescentes os rumores em Brasília de novas sanções a autoridades brasileiras e seus familiares, o que incluiria a embaixadora em Washington, Maria Luiza Viotti.

Trump disse que ama os brasileiros e que Lula pode falar com ele quando quiser para discutir as tarifas impostas a produtos nacionais, mas poucos duvidam que ele vá parar com as ameaças.
A saída para o Brasil é o bolso das empresas e dos consumidores americanos, como mostrou a lista de exceções à tarifa adicional, que seguiu a lógica dos negócios acima de tudo.

Em conversa não muito distante no tempo, com Janet Yellen, ex-secretária do Tesouro no governo Joe Biden, Haddad falou que o objetivo do governo não era o de se afastar dos Estados Unidos, mas de fato se aproximar com base na complementaridade entre as duas economias.

O ministro fez o mesmo em maio, quando se encontrou com o atual secretário do Tesouro, Scott Bessent, numa reunião que teve como ponte o ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga.

A lógica dessa conversa toda é a de que, se os Estados Unidos se afastarem do Brasil, abre-se um caminho para uma aproximação ainda maior com a China.

 

Nenhum comentário: