Folha de S. Paulo
Se os EUA se afastarem do
Brasil, abre-se um caminho para uma aproximação ainda maior com a China
Após o anúncio
do tarifaço de 50% por Donald Trump,
o ministro Fernando
Haddad (Fazenda) é até agora o membro do governo Lula que tem
emitido publicamente os sinais mais contundentes na direção de uma abertura
efetiva de diálogo com os EUA.
Haddad vem endossando a posição de que o Brasil tem todo o interesse em estreitar laços e que busca parceria com os americanos. Esse é um ponto que o governo Trump tem interesse em relação ao Brasil, após ver o avanço da China na região. Perdeu o bonde e tenta agora correr atrás.
É também uma forma de
contraponto do ministro, pela via econômica e diplomática, à atuação dos
bolsonaristas na Casa Branca, que levou à sobretaxa
e às hostilidades de Trump ao governo e ao STF. A sinalização
de Haddad não pode ser subestimada como simples retórica após os Estados
Unidos colocarem 700 produtos na lista de exceções, ao mesmo tempo em
que são crescentes os rumores em Brasília de novas sanções a autoridades
brasileiras e seus familiares, o que incluiria a embaixadora em Washington,
Maria Luiza Viotti.
Trump disse que ama os
brasileiros e que Lula pode falar com ele quando quiser para discutir as
tarifas impostas a produtos nacionais, mas poucos duvidam que ele vá parar com
as ameaças.
A saída para o Brasil é o bolso das empresas e dos consumidores americanos,
como mostrou a lista de exceções à tarifa adicional, que seguiu a lógica dos
negócios acima de tudo.
Em conversa não muito
distante no tempo, com Janet Yellen, ex-secretária do Tesouro no governo Joe
Biden, Haddad falou que o objetivo do governo não era o de se afastar dos
Estados Unidos, mas de fato se aproximar com base na complementaridade entre as
duas economias.
O ministro fez o mesmo em
maio, quando se encontrou com o atual secretário do Tesouro, Scott Bessent,
numa reunião que teve como ponte o ex-presidente do Banco Central, Arminio
Fraga.
A lógica dessa conversa toda
é a de que, se os Estados Unidos se afastarem do Brasil, abre-se um caminho
para uma aproximação ainda maior com a China.
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