terça-feira, 5 de agosto de 2014

Eduardo sobe o tom

- Correio Braziliense

O presidenciável do PSB, Eduardo Campos, aproveitou o dia de campanha em São Paulo para fazer ataques aos dois principais rivais na corrida ao Planalto: a presidente Dilma Rousseff (PT) e ao senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Ele criticou a resposta da petista em relação à denúncia da revista Veja que apontou combinação de perguntas e respostas na CPI da Petrobras. Questionada, a presidente afirmou que cabe ao Congresso responder. O pessebista declarou que Dilma "tem tudo a ver com a crise da Petrobras".

O presidenciável do PSB também fustigou o candidato Aécio Neves ao Ironizar as declarações do tucano em relação ao corte de ministérios. Segundo Eduardo, Aécio prefere "fazer marketing eleitoral" a mostrar que "tem responsabilidade para mudar o Brasil" — o tucano anunciou ontem que pretende extinguir pastas, como a da Pesca, e criar a da Infraestrutura. "Acho que qualquer discussão sobre estrutura antes de apresentar o conteúdo é falha. Eu preferiria saber quais são as ideias dele sobre a pesca, porque tem muita gente vivendo de pesca, e as ideias dele para infraestrutura, porque, no tempo que o partido dele governou, a infraestrutura do Brasil não avançou praticamente nada", disse Campos.

Juventude
As declarações de Eduardo foram feitas no lançamento da Carta da Juventude, documento que reúne propostas de políticas públicas voltadas para os jovens. Ao lado da vice na chapa, a ex-senadora Marina Silva (PSB), o socialista prometeu criar um fundo nacional para financiar o passe livre estudantil. "Os R$ 12 bilhões vão vir justamente do orçamento fiscal, de onde vem muitas vezes hoje dinheiro para obras que não terminam, para cargos comissionados, ministérios e publicidade. Vamos priorizar", disse.

CPI da Petrobras - Dilma se isenta de responsabilidade

• Campos aponta responsabilidade da presidente em problemas da estatal

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff se recusou a comentar ontem a denúncia da revista "Veja" de que dirigentes da Petrobras tiveram acesso prévio a perguntas que seriam feitas por parlamentares governistas na CPI da Petrobras. Para a presidente, o assunto não é da responsabilidade do Planalto.

- Acho que é uma questão que deve ser respondida pelo Congresso - disse Dilma.

Ao ser questionada sobre a decisão do PSDB de entrar com representação na Procuradoria Geral da República para pedir a apuração da denúncia, a presidente disse que esse é um direito do partido.

- Acho que o PSDB faz as representações que quiser fazer em Brasília - comentou Dilma, durante visita a unidade de saúde em Guarulhos, em São Paulo.

Mais tarde, o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, contestou a declaração de Dilma e disse que a petista é responsável, sim, pelos problemas da estatal porque comanda a área de energia do governo desde que assumiu o ministério da área, no começo do governo Lula, em 2003. O candidato destacou que a denúncia envolve "senadores da base, gente do governo".

- A presidenta Dilma tem tudo a ver com a crise da Petrobras. Foi presidente do conselho de administração da Petrobras por oito anos e nomeou a presidente (da empresa). Se ela disser que não tem nada a ver com isso, quem é que tem? - indagou o presidenciável.

A reportagem mostrou que a presidente da Petrobras, Graça Foster, e ex-dirigentes da estatal ouvidos na CPI do Senado que investiga a empresa tiveram acesso prévio a perguntas preparadas por funcionários da liderança do PT e da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. A revista cita também o relator da CPI da Petrobras, senador José Pimentel (PT-CE), que teria recorrido ao ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra e a Graça Foster para fazer chegar às mãos de José Sérgio Gabrielli, também ex-presidente da estatal, as perguntas do depoimento que ele deu em 20 de maio. (Colaborou Sérgio Roxo

Candidatos atrás de indecisos em SP

Atrás de 10 milhões de votos

• Dilma, Aécio e Campos vão a São Paulo, onde 31% dos eleitores ainda não têm candidato

Renato Onofre, Sérgio Roxo, Silvia Amorim e Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - Com o início da cobertura diária das campanhas eleitorais pela TV Globo, os quatro primeiros colocados na corrida presidencial - Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Pastor Everaldo (PSC) - escolheram ontem São Paulo como o primeiro campo de batalha na nova etapa da corrida eleitoral. Em jogo, o voto de dez milhões de paulistas que ainda não decidiram em quem votar, contra cinco milhões no Rio e três milhões em Minas. Segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 17 de julho, 31% dos eleitores de São Paulo estão indecisos ou votarão em branco/nulo no dia 5 de outubro.

A campanha de Dilma aposta que as primeiras aparições na TV em São Paulo podem minimizar o alto índice de rejeição da petista no maior colégio eleitoral do país e evitar o crescimento do seu principal adversário no estado, o mineiro Aécio Neves. Ambos estão empatados na corrida eleitoral com 25% das intenções de voto dos eleitores paulistas. Aécio tem como meta fazer o paulista acreditar que ele pode suprir a falta de um candidato do estado nesta eleição. Pela primeira vez desde a redemocratização, São Paulo não tem representante na disputa ao Planalto. O tucano aposta em aparições públicas na capital ao lado dos dois últimos ex-candidatos à Presidência pelo PSDB: o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, e o ex-governador e candidato ao Senado, José Serra.

Já Eduardo Campos quer fazer de São Paulo a vitrine para se tornar mais conhecido entre o eleitorado. Para isso, ele reforça as aparições na cidade ao lado da ex-senadora e candidata à vice-presidência em sua chapa, Marina Silva. Ser conhecido também é o objetivo do candidato do PSC, Pastor Everaldo, que estará pelo menos duas vezes por semana no estado.

Agenda de última hora
Dilma começou a nova fase da campanha em Guarulhos, na Grande São Paulo, numa agenda marcada de última hora. Acompanhada de ministros e de assessores de campanha, a presidente visitou uma unidade de saúde da família e conversou com médicos e funcionários, além de posar para fotos com crianças no colo. Com sua equipe de filmagem, o marqueteiro João Santana acompanhou a presidente. A ideia, disseram assessores do governo, era mostrar o programa Mais Médicos na primeira aparição de campanha de Dilma nos telejornais nacionais.

De acordo com as pesquisas, Dilma enfrenta sua maior rejeição em São Paulo. Para tentar reverter a situação, a campanha presidencial tem focado suas ações no estado. Na semana passada, já esteve na capital para um encontro da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, na quinta-feira, volta à cidade para receber o apoio de sindicalistas de seis centrais, entre elas a Força Sindical.

Em pronunciamento ontem à imprensa, Dilma fez questão de aproximar do estado o tema do Mais Médicos. Segundo ela, São Paulo é a unidade da federação que mais demandou profissionais do programa federal. No posto visitado ontem, dos seis médicos que atendem a população, dois são cubanos contratados pelo governo. João Santana quer usar o programa como chamariz da campanha.

Pela manhã, assessores do governo disseram que a visita à unidade de saúde era uma agenda mista de campanha e atividade governamental. O ministro da Comunicação, Thomas Traumann, confirmou, no entanto, que era uma visita de campanha. Questionado pelo GLOBO se a presidente havia usado avião oficial para a viagem, disse que Dilma viajou em uma aeronave fretada pelo PT. Mesmo sendo uma agenda de campanha, Dilma estava acompanhada de Traumann e foi recebida pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Segundo membros do estafe presidencial, o marqueteiro João Santana acompanhou a visita para gravar o programa de TV da campanha. Um dos seguranças da Presidência comentou que aquele teria sido o motivo da viagem. Entretanto, uma assessora da Presidência disse que não houve filmagem no interior do prédio público.

A assessoria da Presidência acrescentou que Dilma não estava fazendo campanha durante o expediente porque a presidente não tem horário fixo de trabalho, e, por conta do cargo que ocupa, está sempre à disposição.

A professora de Direito Eleitoral da FGV-Rio Silvana Batini explicou que a legislação vigente veta a veiculação de propaganda de qualquer natureza em bens do poder público e de uso comum.

- No que diz respeito ao expediente, um agente político faz seu próprio horário de trabalho, o que não se estende aos servidores - disse Silvana, que é também procuradora Regional da República no Rio.

Menos cargos de confiança
Aécio abriu a semana de campanha na capital paulista com uma participação em um congresso com empresários do agronegócio de todo o país. Ao lado das principais lideranças do PSDB no estado e do vice da chapa presidencial tucana, Aloysio Nunes Ferreira, Aécio acompanhou alguns discursos, mas deixou o evento antes de fazer um pronunciamento porque se atrasaria para o próximo compromisso.

Mais tarde, em sabatina ao portal "G1", o candidato do PSDB disse que estuda a criação de um ministério para a área de infraestrutura e logística. A pasta seria resultado da fusão de outros ministérios, mas Aécio não quis dar detalhes.

- Vamos apresentar esse novo desenho mais adiante. Em primeira mão, quero dizer aqui que estamos estudando a criação de um forte Ministério da Infraestrutura. Não quero entrar em detalhes, mas ele trataria dos investimentos em rodovias, ferrovias e da área de energia. Fica essa primeira sinalização - afirmou.

Aécio reafirmou a promessa de reduzir a "22 ou 23" o total de ministérios, sem especificar todos que eliminaria, mencionando apenas a pasta da Pesca. Atualmente, são 39. Ainda em relação à reestruturação da máquina do governo, o tucano prometeu reduzir em um terço os cerca de 23 mil cargos de confiança.

Também presente à capital paulista, Campos criticou a proposta do concorrente tucano.

- Qualquer discussão sobre a estrutura antes de apresentar o conteúdo é falha. Eu preferia saber quais são as ideias dele para a pesca, porque tem muita gente vivendo da pesca, e também as ideias dele sobre infraestrutura, porque no tempo em que o partido dele governou a infraestrutura do Brasil não avançou praticamente nada - atacou Campos, referindo-se aos mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.

Ao lado de Marina, em encontro com representantes de movimentos de juventude dos partidos de sua coligação, Campos reafirmou duas das propostas com maior apelo de sua campanha: o compromisso com o passe livre no transporte público para estudantes e a universalização do ensino em tempo integral.
Em almoço no Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo (Setcesp), o candidato do PSC à Presidência da República, Pastor Everaldo, afirmou que negocia com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição ao governo paulista, uma agenda conjunta entre os dois no estado:

- Apoiamos a eleição dele no estado e também queremos apoio. No momento certo, o governador irá pedir voto comigo.

O candidato também anunciou a criação de um Ministério da Segurança Pública.

Projeção de crescimento cai pela 10ª vez

• Analistas de mercado, segundo pesquisa do BC, veem expansão de 0,86%

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - As medidas de estímulo ao crédito adotadas pelo Banco Central (BC) há duas semanas não foram suficientes para melhorar as previsões de crescimento do país. A projeção do mercado financeiro para este ano, captada na pesquisa semanal Focus, feita pelo BC com os analistas das principais instituições financeiras do país, registrou queda pela décima semana consecutiva, passando de 0,90% para 0,86%.

O pessimismo tem várias razões. Os juros básicos estão altos (11% ao ano) e assim devem continuar por um bom tempo. As contas públicas estão cada vez mais debilitadas, com resultados no vermelho por dois meses seguidos. As vendas no varejo desaceleram. A criação do emprego está menor que o esperado, apesar de o desemprego se manter baixo. E a perspectiva de retração para o setor industrial foi revista para 1,53%, ante 1,15% na semana passada.

- Mesmo se as medidas fossem de magnitude muito maior, demoraria para reverter as projeções. Só que as medidas foram pequenas para mudar todo o cenário - avaliou Alexandre Póvoa, sócio da Canepa Asset Management. - Tudo isso é reflexo de números ruins a curto prazo, e o governo não tem nenhum coelho para tirar da cartola.

Os economistas também estão preocupados com o represamento dos aumentos das tarifas públicas neste ano, o que terá impacto na economia em 2015. A projeção de alta dos preços administrados continua em 5% para 2014. Para o ano que vem, passou de 6,75% para 6,9%.

Já a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado pelo governo na meta de inflação, perde força há três semanas. Na pesquisa do BC, caiu de 6,41% para 6,39% este ano. O teto da meta é 6,5%. Já para 2015, a projeção teve a terceira alta consecutiva, de 6,21% para 6,24%.

As estimativas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) para o Brasil, porém, são bem mais otimistas: expansão de 1,4% este ano, uma das menores taxas na América Latina, segundo relatório divulgado ontem. Na média, as economias latino-americanas e do Caribe crescerão 2,2%.

PIB do Brasil entre os piores da América Latina

• Cepal corta para 1,4% a previsão de crescimento do país em 2014. Para analistas do mercado financeiro, a expansão será ainda mais modesta e não passará de 0,86%

Deco Bancillon – Correio Braziliense

O pessimismo que se alastra entre empresários e famílias também alcançou os organismos internacionais. Menos de duas semanas após o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortar de 1,9% para 1,3% a projeção de crescimento econômico do Brasil em 2014, ontem foi a vez da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) também revisar para baixo as projeções para o desempenho do país.

A entidade das Nações Unidas (ONU) reduziu de 2,3% para apenas 1,4% a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano. A revisão dos números foi anunciada no mesmo dia em que a pesquisa Focus, do Banco Central, revelou que a projeção do mercado financeiro para o crescimento da economia brasileira, bem mais pessimista, caiu pela décima semana consecutiva. A estimativa passou de 0,9% para 0,86%.

Outros países da região também tiveram as previsões de crescimento revisadas para baixo pela Cepal, mas em intensidade menor que a do Brasil. O México, por exemplo, deverá avançar 2,5%. Até abril deste ano, a entidade projetava que a expansão da economia mexicana seria de 3%.

O mesmo ocorreu com o Chile, onde o organismo internacional tem sede. A estimativa para o crescimento daquele país foi reduzida de 3,7% para 3% em 2014. Em situação pior estão Cuba e Argentina, que tiveram as projeções cortadas em 0,8 ponto percentual. O país da América Central deverá crescer 1,4%, o mesmo desempenho do Brasil. Já o vizinho sul-americano praticamente ficará estagnado, com expansão de apenas 0,2%.

Para a Cepal, latino-americanos e caribenhos foram afetados pela redução do comércio global e pela queda do preço das commodities (matérias-primas com cotação em bolsa). "O barateamento dos preços das exportações segue reduzindo a conta corrente dos países, inclusive do Brasil. Também há menos importações, refletindo a menor demanda das famílias e o baixo crescimento econômico", disse Jurgen Weller, diretor substituto da Divisão de Desenvolvimento Econômico da entidade.

Contudo, nem todos os países da região serão afetados pela redução do comércio global. A secretária executiva do órgão, Alicia Bárcena, lembrou que Colômbia e México têm economia mais dinâmica e crescerão mais do que em 2013. Mesmo com essas exceções, a entidade reduziu a estimativa de crescimento do conjunto da América Latina e do Caribe de 2,7% para 2,2% em 2014, em função, especialmente, dos maus resultados de economias como Brasil, Argentina e Chile.

Defasagem
"Os dados que estão ficando evidentes ao longo do semestre já apontavam para uma desaceleração de vários setores produtivos no Brasil, em especial da indústria, e para a queda das exportações", disse o diretor da Cepal para o Brasil, Carlos Mussi. Ele observou que as previsões da entidade foram feitas no fim de junho e não incorporam dados divulgados no mês seguinte que traçam um cenário ainda mais preocupante para o crescimento econômico de 2014.

É o caso do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) referente a maio, que encolheu 0,18%. Considerado um termômetro para o PIB, o indicador sinaliza que o a economia está a um passo da recessão, o que poderá ficar comprovado no fim deste mês, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os resultados do PIB no segundo trimestre.

A julgar pelos dados da indústria, as expectativas não são nada favoráveis. O setor teve quatro quedas mensais desde março. Em junho, a produção nas fábricas encolheu 1,4%, o pior resultado desde dezembro. Comparado a junho de 2013, houve retração ainda maior, de 6,9% — o mais baixo desempenho desde setembro de 2009.

Alberto Aggio: O impasse venezuelano

- O Estado de S. Paulo

Desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder na Venezuela, no final de 1998, a América Latina foi impactada pela mística da revolução bolivariana, depois identificada pela fórmula "socialismo do século 21". Visto como mais uma contestação à teorização do "fim da História", como leitura do mundo após o colapso do "comunismo histórico", bem como da noção de revolução como fiat da História, a Venezuela de Chávez passou a ser o epicentro de uma América Latina que voltava a desafiar o sentido do tempo histórico.

Bem-sucedido na Venezuela, o chavismo estabeleceu-se como referência de novos governos eleitos no Equador, na Bolívia e na Nicarágua, além de influenciar parcelas significativas de intelectuais e políticos de esquerda na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Brasil. Mesmo combalido pelo desaparecimento da sua liderança maior, em 2013, e pela profunda crise econômica que vem alimentando manifestações de descontentamento ao largo do país, o chavismo parece ainda pairar sobre o continente como um espectro difuso e belicoso.

Com Chávez no poder a América Latina, depois da vaga democratizante das duas últimas décadas do século 20, voltou a falar de revolução. Sem se afastar de Cuba, o chavismo não buscou uma reiteração da revolução cubana de 1959, tampouco de quaisquer outras experiências comunistas e socialistas do século passado. O chavismo procurou instituir seus fundamentos a partir de um mítico amalgama ideológico que alberga militarismo, marxismo, cristianismo, guevarismo e latino-americanismo, dentre outras linhagens, todas mobilizadas pragmaticamente para garantir sua sobrevivência no poder.

Atento à cena mundial, Chávez reconheceu que nenhuma transformação de caráter socialista poderia ser realizada na Venezuela dispensando alguns requisitos básicos da democracia política, dentre eles uma ordem constitucional legitimada - a nova Constituição bolivariana de 1999 - e uma regularidade no processo eleitoral, ainda que privilegiando elementos de democracia participativa e direta. Seu grande desafio foi estabelecer sua legitimidade como revolucionária e democrática, simultaneamente.

A "revolução chavista" baseia-se num conjunto de políticas voltadas para a diminuição da pobreza por meio da distribuição da renda petrolífera. A presença do Estado na economia garantiu crédito e consumo aos mais pobres, o que possibilitou a diminuição da pobreza e da indigência no país, conforme dados da Cepal. Porém, quando sobreveio a crise internacional em 2009, a economia venezuelana viu-se sem alternativas, com perda de crescimento, inflação e desabastecimento. A violência social recrudesceu e se somou à violência política do Estado e dos "coletivos chavistas" contra opositores e manifestantes.

No plano político, o chavismo garantiu aos venezuelanos parâmetros mínimos de democracia, com eleições, plebiscitos, Parlamento, etc.. Todavia é facilmente observável que outros requisitos fundamentais da vida democrática foram deslocados do núcleo central do projeto, como a autonomia do Poder Judiciário, a alternância no poder, o respeito à minoria política, a ampla liberdade de imprensa e de expressão, entre outros exemplos. O chavismo manifesta assim imensas dificuldades para sustentar sua legitimidade democrática.

A despeito das vitórias de Chávez em 2000 e 2006 e da eleição de Nicolás Maduro em 2012, o chavismo segue aprisionado em sua armadilha: fazer uma (duvidosa) revolução por meios democráticos que não se ajustam integralmente nem ao seu projeto nem à sua prática. A crise econômica e as denúncias de corrupção vêm produzindo desavenças no governo, o que levou Maduro a substituir ministros e prometer um rearranjo completo no governo. Esse cenário tende a se agravar, uma vez que, além de enfrentar as oposições, o governo começa a apresentar fissuras internas com a aberta dissidência de ex-comandantes chavistas. Para alguns deles, a manutenção de Maduro na presidência mostra-se hoje "um sacrifício inútil".

Nessas circunstâncias, pode-se vislumbrar o colapso do chavismo? Difícil saber. Especialmente em razão das discordâncias no interior da heterogênea oposição venezuelana. Se em seu seio existem os que pensam irrealisticamente numa solução militar contra o governo, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), a maior coalizão eleitoral da oposição, crê que, ao contrário, é necessário respeitar as regras do jogo estabelecidas pela Constituição e se mostra disposta a negociar com Maduro, mesmo sendo acusada de "colaboracionismo". Por outro lado, setores mais radicalizados da oposição continuam a adotar práticas violentas, tal como os "coletivos chavistas", ainda que com menor intensidade, e da mesma forma fazem arder ruas, praças e câmpus universitários numa luta incessante sem abertura para nenhum consenso.

A sedução pela confrontação não é pequena e enquanto o governo caracteriza todos os opositores como fascistas, o partido liderado por Leopoldo López (Voluntad Popular), sem aderir a nenhuma solução militar, flerta com uma insurreição popular, germinada nas manifestações de protesto, para pôr abaixo o governo de Maduro. O resultado desse braço de ferro tem sido mais violência, prisões e repressão. Uma aposta diferenciada emerge, por fim, do Primero Justicia, partido liderado por Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda, que procura atuar no interior da constitucionalidade, obedecendo à agenda institucional. O objetivo é disputar a base social do chavismo, em especial seus organizadores e militantes, que parecem não encontrar espaço na luta pelo poder instalada no interior do governo chavista.

Aferrado à sua trajetória, o "chavismo sem Chávez" busca hoje recuperar uma unidade que vem perdendo em meio a suas próprias contradições. De outro lado, a unidade da oposição mostra-se ainda mais incógnita.

Alberto Aggio é historiador e professor titular da Unesp-Franca

Merval Pereira: Farsa reveladora

- O Globo

Se juntarmos as pressões bem-sucedidas sobre o Tribunal de Contas da União (TCU) para retirar o Conselho de Administração da Petrobras do rol dos culpados pelo prejuízo causado pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, à denúncia de que o depoimento de ex-diretores da estatal na CPMI do Congresso não passou de uma farsa, já que eles tiveram acesso antecipado às perguntas, e foram treinados sobre qual resposta dar, temos mais um grande escândalo envolvendo o Palácio do Planalto e, pelo menos indiretamente, a própria presidente Dilma Rousseff.

Ela foi a principal beneficiária da decisão do TCU de não incluir o Conselho na relação dos culpados, pois o presidia à época em que a compra da refinaria foi aprovada. O próprio ex-presidente Lula entrou no circuito, pressionando seu ex-ministro José Mucio - e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acompanhou o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, a uma audiência com o presidente do TCU para tentar adiar a decisão.

Os demais diretores da Petrobras tiveram seus bens bloqueados e responderão a um processo, inclusive a atual presidente Graça Foster, excluída da lista inicial por um engano do TCU que será sanado ainda esta semana. A reação de vários deles foi de denunciar a responsabilidade de Dilma e de todo o Conselho na compra, o que parecem dispostos a repetir na investigação do Tribunal de Contas.
 
Não é à toa, portanto, que o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor Nestor Cerveró, acusado por Dilma de ser o responsável por um relatório falho que teria levado o Conselho a tomar uma decisão errada, foram tratados a pão de ló pelos assessores governamentais e líderes do PT, que trataram de lhes preparar não apenas as perguntas, mas também as respostas, para que os depoimentos na CPI da Petrobras tivessem aparência de coerência.

A denúncia da revista "Veja", com base em uma gravação clandestina feita por alguém presente em uma reunião na qual o assunto foi tratado em Brasília, mostra que o próprio relator da CPI no Senado, o petista José Pimentel, usou a presidente da Petrobras, Graça Foster, e o diretor da estatal e seu ex-presidente José Eduardo Dutra para passar para os ex-diretores que iriam depor as perguntas que seriam feitas.

Na reunião gravada aparecem o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o chefe do departamento jurídico do escritório, Leonan Calderaro Filho, e um advogado da estatal, Bruno Ferreira, conversando sobre a melhor estratégia para encaminhar as perguntas.

Segundo Barrocas, as perguntas teriam sido formuladas pelo assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência Paulo Argenta; pelo assessor Marcos Rogério de Souza, da liderança do governo no Senado; e por Carlos Hetzel, assessor da liderança do PT na Casa. A participação do assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência leva o escândalo para o Planalto, onde trabalha seu chefe, o deputado Ricardo Berzoini, o mesmo envolvido na eleição de 2006 no escândalo dos aloprados.

De acordo com declarações dos participantes da reunião, o senador petista Delcídio Amaral, que já foi diretor da Petrobras e é apontado como próximo a Cerveró, foi o intermediário para que chegassem a ele o que chamam cinicamente de "gabarito", isto é, as perguntas e as respostas certas, como se tivessem conseguido antecipadamente o resultado certo de um vestibular.

Era "pule de dez", como se diz no Jóquei quando um cavalo favorito vence o páreo, que a CPI sobre a Petrobras seria uma enganação, pois o governo, tendo a maioria, a controlaria. Mas o que não se sabia é que o caso é tão perigoso para o governo que seria necessário armar uma farsa mais ampla que a pura negligência na apuração.

Pela reação dos ex-diretores da Petrobras acusados pelo TCU, enquanto tudo não for resolvido da melhor maneira para eles, pairará sobre o Palácio do Planalto a ameaça de revelações que até agora foram contidas por movimentos radicais como a farsa da CPI. O ex-presidente Gabrielli, que já dissera que a presidente Dilma não pode fugir "de suas responsabilidades", está calado, mas outros diretores anunciaram que não aceitarão a culpa sozinhos.

A ousada manobra para ajudá-los na CPI do Congresso dá bem a mostra do poder de fogo que têm. E dizem que a construção da refinaria Abreu e Lima é muito mais problemática do que a compra da refinaria de Pasadena...

Dora Kramer: Tropeço da tropa

- O Estado de S. Paulo

Pode ter sido só uma coincidência.

Não há na denúncia sobre a farsa dos depoimentos previamente acertados na CPI da Petrobrás no Senado nada que estabeleça uma relação direta de causa e efeito entre uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio da Silva feita em abril último e a denúncia que agora vem a público em gravação transcrita e divulgada pela revista Veja.

Realmente pode ter sido só uma coincidência o fato de Lula ter pedido ao PT que fosse "para cima" da oposição na CPI da Petrobrás a fim de evitar que os trabalhos prosperassem, e a trama cujos contornos se desenham em um vídeo de 20 minutos sobre acertos a respeito das perguntas de senadores e respostas dos convocados a depor.

Na ocasião - uma conversa com blogueiros amigos na sede de seu instituto -, o ex-presidente lembrou que o mensalão começara com uma CPI para investigar denúncia de pagamento de propina nos Correios. Na opinião dele, o PT deveria aprender a lição e não repetir o equívoco de ficar esperando soluções jurídicas. Era preciso ir à luta.

A tropa governista foi ao combate. Usando os instrumentos de praxe. Primeiro, a manobra da presidência do Senado de tentar cassar o direito da minoria, tentativa devidamente cassada pelo Supremo Tribunal Federal.

Depois, recorreu ao seu direito legal de usar a maioria para fazer de conta que investigava para não investigar coisa alguma. Ao ponto de a compra da refinaria de Pasadena não fazer parte da pauta da CPI.

Já ia a comissão de inquérito caminhando para a pretendida insignificância - em parte devido à irrelevância dos depoimentos, em parte à falta de quórum nas reuniões e, por último, à ausência de parlamentares devido às férias pré-eleitorais que o Congresso se autoconcedeu, quando voltou a ter importância.

Não pelos motivos certos, a investigação correta dos negócios da Petrobrás, mas pela informação que esclarece a razão pela qual aqueles depoimentos eram tão desinteressantes, não obstante os depoentes - Graça Foster, José Sergio Gabrieli e Nestor Cerveró - fossem detentores de dados relevantes.

A julgar pela transcrição da gravação, estava tudo combinado. As testemunhas sabiam o que lhes seria perguntado, estavam devidamente orientadas para responder de maneira legalmente adequada aos interesses governamentais e os senadores preparados para aceitar o que ouviam sem contestar.

Do ponto de vista do comprometimento de um processo de investigação, não poderia haver nada mais perfeito. Um método muito sofisticado, e pérfido, de desmoralizar completamente a função de fiscalização do Congresso.
A presidente Dilma Rousseff não deixa de ter razão quando diz que o Parlamento precisa se explicar. Sobre o envolvimento do Planalto por ora há apenas uma presunção e uma conjugação suspeita de interesses.

Mas, em relação ao Senado, o cenário se delineia mais claro. Não é apenas o relator da CPI, José Pimentel quem fica na berlinda. São os integrantes da comissão que ou repassaram suas perguntas para os "treinadores" ou aceitaram passivamente fazer as indagações que lhes foram passadas por eles.

Desse ponto de vista, a oposição fez bem em não querer participar da CPI. E a situação, ao trazê-la de novo ao foco, pode ter obtido o efeito contrário ao originalmente pretendido.

Nome ao boi. O vice-presidente, Michel Temer, foi enfático ao pedir que o candidato do PMDB ao governo de São Paulo dê menos atenção às pesquisas e mais importância à política, deixando de ouvir tanto o marqueteiro Duda Mendonça responsável pela orientação para que se afaste da presidente Dilma Rousseff devido aos altos índices de rejeição.

Temer lembrou que Duda acaba de perder uma eleição na Colômbia, na qual trabalhou pelo candidato Óscar Iván Zulvaga, derrotado pelo presidente Juan Manuel Santos.

Eliane Cantanhêde: Tudo embolado

- Folha de S. Paulo

Difícil dizer o que é pior: assessores do governo e das lideranças do governo e do PT no Senado redigindo "gabarito" para fazer da CPI da Petrobras uma farsa, ou o governo Lula transformando o Sesi num antro de pelegos ricos de fazer inveja à ditadura militar.

Uma fita amadora obtida pelo repórter Hugo Marques deixa a CPI, a Petrobras e o governo federal numa posição delicada. Foi Dilma quem acusou a Petrobras de fazer um negócio danoso com a compra da refinaria de Pasadena. Agora é a equipe de Dilma no Congresso e no Planalto que prepara a defesa de Graça Foster, José Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró, providenciando as perguntas da CPI e até as respostas que dariam?!

Se for assim, os servidores, sobretudo o do Planalto, fizeram um serviço de ética questionável, os senadores se prestaram a um papel lamentável, e o que dizer de Foster, Gabrielli e Cerveró? Eles não tinham respostas autônomas? Papagaiaram mentiras?

O mais grave é Cerveró, que assumiu dois papéis nesse teatro: foi acusado por Dilma de fazer um parecer falho e incompleto que a induziu a a erro; e agora é defendido pelo próprio governo de Dilma, que lhe teria enviado um script pronto para... rebater o que a própria presidente da República disse publicamente.

Dedução lógica: os escândalos da Petrobras estão associados aos governos Lula e Dilma e é preciso amenizar seus efeitos na campanha. Só isso explica ligar a máquina do Planalto para salvar até mesmo Cerveró.

Já o repórter Murilo Ramos mostrou que uma das noras de Lula (R$ 13,5 mil por mês), a mulher do mensaleiro João Paulo Cunha (R$ 22 mil) e três outros petistas de carteirinha (mais de R$ 30 mil cada um) foram contratados pelo Sesi depois de 2003, já no governo Lula, não necessariamente para trabalhar. Aliás, nem mesmo para dar expediente como os meros mortais.

O bom da história é que a denúncia partiu de funcionários que levam o Sesi a sério. Se a moda pega...

Luiz Carlos Azedo: Trapalhadas oficiais

• A equipe de governo não pode agir como "tropa de assalto" na eleição. É mais ou menos o que aconteceu na CPI da Petrobras

- Correio Braziliense

É tênue e sinuosa a linha que separa o permitido do proibido em matéria de participação de autoridades e funcionários públicos em campanhas eleitorais. O que torna a situação mais ambígua e complexa é o fato de candidatos à reeleição ao Executivo — como a presidente Dilma Rousseff e alguns governadores — concorrerem a um novo mandato no pleno exercício do cargo. Isso torna a disputa evidentemente desigual e facilita o envolvimento indevido da máquina pública na campanha eleitoral.

Talvez seja esse o fator mais perverso do instituto da reeleição, que muitos defendem por garantir a continuidade administrativa, enquanto outros criticam porque avaliam que dois mandatos contíguos obstruem a renovação política e favorecem a formação de oligarquias.

Com os instrumentos de poder à mão e o marketing eleitoral, quem governa goza de favoritismo nas eleições. Mesmo assim, a reeleição da presidente Dilma Rousseff subiu no telhado por causa do fracasso da política econômica e do mau desempenho do governo em áreas como saúde, segurança e educação, além de transportes e energia.

O marqueteiro João Santana, porém, avalia que nada disso terá a importância que a oposição imagina porque Dilma disporá de muito mais tempo de televisão do que os adversários. Ou seja, a partir do próximo dia 19, quando começa a campanha eleitoral de rádio e tevê, a presidente da República passaria a ter duas grandes vantagens estratégicas: o exercício do cargo e o horário eleitoral gratuito.

Autopromoção
Mas voltemos ao divisor de águas. Na semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu multar em R$ 7,5 mil o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, por propaganda eleitoral antecipada. Em 15 de junho, no Palácio do Planalto, o ministro convocou uma coletiva para fazer comparações entre as administrações anteriores dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, o discurso oficial para mascarar os resultados negativos do governo.

Na véspera, havia ocorrido a convenção nacional do PSDB, que oficializou a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República, ocasião em que os integrantes do partido fizeram críticas à presidente Dilma. "O representado não se limitou a rebater críticas ao governo federal. Ao meu ver, ele transbordou conteúdos desconectados da convocação da entrevista", declarou a ministra Maria Tereza, relatora do caso.

Os ministros Henrique Neves e Luciana Lóssio chegaram a defender que Mercadante fosse penalizado também por conduta vedada, mas esse não foi o entendimento majoritário. No mesmo dia, porém, o TSE manteve a decisão de não punir a presidente Dilma Rousseff por propaganda eleitoral antecipada devido ao pronunciamento em cadeia de rádio e televisão no Dia Internacional da Mulher.

Nesse caso, a ministra Maria Teresa alegou que não houve autopromoção. Entretanto, o ministro Teori Zavascki corroborou a tese de que o exercício do cargo já é vantagem estratégica na eleição: "O próprio fato de aparecer na mídia sem mesmo fazer um pronunciamento já significa uma vantagem. O fato de a presidenta fazer um pronunciamento no Dia da Mulher já significa uma vantagem eleitoral, o que não quer dizer propaganda institucional".

Responsabilidades
A equipe de governo não pode agir como "tropa de assalto" na eleição. É mais ou menos o que teria acontecido na CPI da Petrobras, em cujos trabalhos funcionários do Palácio do Planalto e da direção da empresa supostamente interferiram para proteger os investigados. É uma situação recorrente para quem acompanha os bastidores do Congresso, mas, dessa vez, parece que ficaram as impressões digitais.

Não chega a ser um caso de Código Penal, a não ser que se aceite a inquinação de advocacia administrativa quanto aos servidores envolvidos (Art. 321 — Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário). Há, porém, fortes indícios de que houve improbidade administrativa, que é um ilícito de natureza civil. Um assessor direto do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, é citado no vídeo. Haveria, assim, interferência indevida e vedada do Poder Executivo e da Petrobras sobre o Legislativo.

Além disso, caso os fatos se confirmem, não se pode descartar a eventual imputação de crime de responsabilidade para ministros eventualmente envolvidos. Até a presidente Dilma correria esse risco, caso estivesse envolvida, pois a Constituição entende, no art. 85, que "são crimes de responsabilidade os atos do presidente da República que atentem contra a Constituição e, especialmente, contra: (...) o livre exercício do Poder Legislativo".

Raymundo Costa: O grande eleitor e a campanha de Dilma

• As expectativas do PT sobre a agenda de Lula nas eleições

- Valor Econômico

O comitê eleitoral de Dilma Rousseff decidiu concentrar a campanha à reeleição nos maiores colégios eleitorais do país, onde a presidente vem perdendo terreno nas pesquisas. Na lista das prioridades estão, pela ordem, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul e Pernambuco. A perda de densidade eleitoral de Dilma na grande maioria desses Estados, segundo avalia a campanha presidencial, pode comprometer a vantagem de votos que o PT espera tirar na região Nordeste, esteio da eleição da presidente em 2010.

A agenda de Dilma deve dar prioridade a esses Estados, sem muito alarde para não provocar contrariedade nos demais Estados e regiões. A expectativa, nos bastidores da campanha, é sobre a agenda a ser cumprida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT e o comitê de Dilma querem fechar logo uma agenda robusta, muito embora seja possível encontrar, na coordenação da campanha e no Palácio do Planalto, quem diga que a presidente tem hoje condições de se eleger sozinha, a partir do tempo de televisão de que disporá no horário gratuito de propaganda eleitoral, quase o dobro dos demais candidatos, quando poderá então prestar contas de seu governo e discorrer sobre o que pretende fazer, se ganhar mais quatro anos da mandato.

Lula tem reiterado vontade de ajudar e diz que está à disposição do partido. Na prática, o que se vê até agora está distante do enunciado triunfalista de antes de a campanha começar, segundo o qual o ex-presidente estaria no Sul, quando Dilma estivesse no Norte, um no Oiapoque e outro no Chui, numa dança frenética e letal para os adversários do projeto de poder do PT. Lula tem comparecido a eventos de candidatos próximos a ele, como Delcídio Amaral, que disputa o governo de Mato Grosso do Sul, ou o empresário Josué Gomes da Silva, filho de seu amigo e vice José Alencar, candidato a uma cadeira no Senado pelo PMDB de Minas. Também faz força para tirar do chão a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo de São Paulo.

Outras áreas da campanha têm exigido a atenção de Lula. Uma delas é a de arrecadação de recursos, um problema que não estava no horizonte de alguns meses atrás. Institucionalmente, o tesoureiro da campanha de Dilma é Edinho Silva, deputado do PT em São Paulo, sem nenhuma experiência nessa área. Na prática, a coleta está a cargo do secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto. Nos bastidores, o tesoureiro já não esconde que a arrecadação está bem abaixo do que era previsto para esse período da campanha, no total orçada em R$ 298 milhões. Poderia ser pior, se Lula não estivesse empenhado em desfazer o mau humor de boa parte do empresariado com a presidente.

A movimentação do ex-presidente sugere, também, que ele perdeu alguns pruridos em relação a suas crias no governo. Até dias atrás, Lula reclamava intramuros a interlocutores que cuidavam de passar adiante o que dizia o líder. O ex-presidente também tomava cuidados para não transformar o "Volta, Lula", ainda sussurrado aqui e alí, num movimento irrefreável. Agora, passou a agir. Dois exemplos, um federal e outro municipal. Em Brasília, o ex-presidente atuou para manter no Palácio do Planalto o secretário-geral, Gilberto Carvalho, seus olhos e ouvidos no governo, que Dilma pretendia exilar no comitê eleitoral. Em São Paulo, convocou secretários do prefeito Fernando Haddad para uma reunião. Não chamou Haddad. O prefeito foi conferir. Lula respondeu que não o chamara porque prefeito era uma pessoa muito ocupada, não queria retirá-lo de seus afazeres, e também porque pretendia que os secretários falassem livremente.

Haddad insistiu em ir, foi e os secretários falaram livremente. No final foram combinadas ações para tentar tirar a popularidade do prefeito da lama - a criticada gestão de Fernando Haddad à frente da Prefeitura de São Paulo está no topo do ranking de motivos classificados no PT para o mau momento por que passa a candidatura de Dilma no maior Estado brasileiro. Lula ficou de cobrar as providências.

É bem verdade que o ex-presidente tem dificuldade para cumprir certas agendas. No Rio de Janeiro, por exemplo, Lula não vai fazer quatro campanhas. Dilma tem a obrigação porque ela é a candidata de uma coligação nacional que, no plano estadual, se divide em quatro candidatos: Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lindbergh Farias (PT), Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivela (PRB). Partidariamente, Lula faria agenda com o Lindbergh. Mas o ex-presidente deve acompanhar a evolução dos acontecimentos, para só então se decidir por este ou aquele palanque.

Se Garotinho, Crivela e Pezão forem 100% Dilma, Lula deve ponderar bastante sobre o que fará no Rio de Janeiro. Talvez tenha que se dedicar mais no segundo turno. Se houver "evasão" ou "traição", o que parece inevitável, pois as campanhas são mistas, o ex-presidente poder dizer "já que a única campanha pura da Dilma é a do Lindbergh, eu vou lá". Pura, é bom que se diga, em termos, pois associado a Lindbergh está o deputado Romário, do PSB, partido do candidato a presidente Eduardo Campos.

A chave no Rio pode ser resumida numa frase de Garotinho: "Eu não quero exclusividade, eu quero reciprocidade". Referia-se à participação da presidente Dilma em sua campanha. Reciprocidade é uma palavra que já está no dicionário de Dilma. Deve ser chave também para definir a participação de Lula em campanhas aliadas.

Quando é questionado sobre a presença de Lula nos palanques da campanha, o comitê de Dilma à reeleição costuma responder que o ex-presidente tem muita disposição para viajar, mas também precisa de tempo para gravar mensagens de rádio e de televisão para os candidatos aliados. E a demanda é grande. Lula também deve participar do programa de televisão de Dilma, mas não será âncora, como chegou a ser divulgado. Pode ser que tudo mude depois do dia 19 de agosto, mas a duas semanas do começo da propaganda partidária não dá como dizer que Lula teve, até agora, o protagonismo antes prometido pelo PT.

Para ocultar a podridão: O Estado de S. Paulo - Editorial

Só pode ter uma causa a farsa armada pelo governo, o PT e a Petrobrás na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o escândalo da compra da Refinaria de Pasadena, em curso no Senado - a seleção sob medida e o repasse antecipado das questões a cair nas sabatinas a que se submeteriam figurões da estatal, como revelou a revista Veja -: a ânsia de calafetar até a mais microscópica das frestas do caso para que permaneçam nas sombras as dimensões do pântano profundo que recobre os subterrâneos da transação.

Segundo o transcrito de uma conversa de 20 minutos filmada a que a publicação teve acesso, o chefe do escritório da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, comentou com o advogado da empresa, Bruno Ferreira, e um terceiro interlocutor não identificado que o assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Paulo Argenta; o assessor da liderança do governo no Senado, Marco Rogério de Souza; e o assessor da liderança do PT na Casa, Carlos Hetzel, foram os autores das perguntas previamente encaminhadas à presidente da petroleira, Graça Foster, ao seu antecessor Sérgio Gabrielli e ao ex-diretor Nestor Cerveró, para que combinassem as respostas a fim de não cair em contradição. Eles depuseram na CPI entre os dias 20 e 27 de maio.

Dos 13 membros do colegiado, que tem 180 dias de prazo para apurar o negócio de Pasadena e as ligações de funcionários da Petrobrás com o doleiro Alberto Youssef, 10 são governistas. Maioria na Casa, as lideranças do PMDB, PT e de outras siglas da base do Planalto haviam se apropriado, numa operação a que não esteve alheia a presidente Dilma Rousseff, de uma iniciativa da oposição, quando ficou claro que não seria possível bloqueá-la. Lesados, os oposicionistas conseguiram emplacar outra CPI, dessa vez mista, e ignoraram a contrafação montada no Senado, tendo como presidente o peemedebista Vital do Rêgo e como relator o petista José Pimentel. Nem essa confortável situação era o bastante, agora se sabe. "Risco zero" foi a palavra de ordem.

Isso não pode ser atribuído a um velho cacoete petista nem, apenas, ao cuidado para que nada, absolutamente nada, possa respingar no projeto da reeleição de Dilma - que, em 2006, chefiando o Conselho de Administração da Petrobrás, autorizou a compra de metade da refinaria, por 8,5 vezes mais do que a sua proprietária, o grupo belga Astra Oil, havia pago pelo empreendimento inteiro, apenas um ano antes. A estatal acabaria enterrando na tenebrosa transação US$ 1,245 bilhão, com um prejuízo de US$ 792 milhões, segundo o Tribunal de Contas da União. Em decisão recente, que se seguiu a intenso trabalho de lobby, o órgão isentou a presidente de qualquer responsabilidade pelo maior rombo na história da empresa e resolveu abrir outra ação contra 11 dos seus diretores ou ex-diretores.

Por que então os operadores do Planalto, com a presumível cumplicidade do relator José Pimentel, prepararam e entregaram a "cola" da prova aos sabatinados? Repita-se: o único motivo que faz sentido era impedir que, por descuido, um deles desse uma pista das enormidades que possam estar por trás do escândalo de Pasadena. Não que inexistam indícios veementes disso. Basta citar um exemplo pontual, uma ponta de iceberg: um relatório da própria Petrobrás, obtido em abril pelo jornal O Globo, descobriu que, em fevereiro de 2010, US$ 10 milhões foram retirados da conta da refinaria mediante mera autorização verbal - não se sabe de quem, para quem e para quê. E Pasadena muito provavelmente não foi um raio em céu azul.

O PT no poder, ao aparelhar a Petrobrás, "criou um monstro", como disse certa vez o general Golbery do Couto e Silva da sua criatura, o Serviço Nacional de Informações (SNI). E se há uma personagem central nesse processo, que permitiu o inadmissível na estatal, é a então ministra de Minas e Energia, depois titular do Gabinete Civil e, enfim, chefe do governo. Ninguém, ao longo desses anos, nem mesmo o ex-presidente Lula, há de ter tido influência comparável na estatal. É dela, portanto, a responsabilidade objetiva - não por uma ou outra decisão desastrosa ou falcatrua, mas pelo conjunto da obra.

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

"CTRL C, CTRL V"
Diante da denúncia de jogadas para lá de ensaiadas na CPI da Petrobras no Senado, o PSDB decidiu investigar se o mesmo havia ocorrido na CPI Mista, relatada pelo deputado Marco Maia (PT-RS). Bingo! As perguntas feitas por Marco Maia à presidente da Petrobras, Graça Foster, na sessão da CPMI de 11 de junho são, em muitos casos, idênticas àquelas feitas por José Pimentel (PT-RS) na CPI do Senado, inclusive as vírgulas. Hoje, na sessão do Senado, a intenção é dizer que a CPI Mista também está contaminada, uma vez o relator praticamente copiou o mesmo esquema montado na CPI do Senado.
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A assessoria de Maia já começou a preparar a defesa do deputado e da CPMI. Há quem diga que ele realmente usou parte das questões feitas por Pimentel, uma vez que ainda não havia documentos ou apurações capazes de embasar a audiência com fatos novos.

Aposta dos políticos
A partir de agora, começará um tal de "eu não sabia" em relação à denúncia envolvendo a CPI. Se sobrar para alguém, será para os assessores.

Expectativas
Peemedebistas se preparam para acompanhar de perto o depoimento de Jorge Zelada na CPI da Petrobras essa semana. Afinal, Zelada chegou ao cargo de diretor internacional indicado pelo partido. A estratégia é defendê-lo, uma vez que ele assumiu depois de Nestor Cerveró, autor do parecer técnico que levou à compra de Pasadena.

A hora dos temas agrícolas I
O debate dos presidenciáveis na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) promete jogar luz sobre a guerra envolvendo veterinários, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal, pecuaristas e frigoríficos em torno do vermífugos de longa duração — avermectinas. O produto foi proibido por Instrução Normativa do Ministério da Agricultura há quase dois meses, e o assunto foi parar na Justiça. Circula nessa área a notícia de que a proibição se deu sem embasamento técnico. A ordem teria partido da Casa Civil, atendendo a um pedido do grupo JBS/Friboi. Tanto a Casa Civil quanto o grupo JBS negam participação no episódio.

A hora dos temas agrícolas II
Entre os políticos, a aposta é a de que Eduardo Campos é quem terá mais dificuldades em lidar com os produtores rurais por causa da sua candidata a vice, Marina Silva. O desafio do socialista será fazer um discurso que não melindre a parceira de chapa e ainda conquiste votos no setor. Até aqui, Marina afugentou os ruralistas da campanha de Eduardo.

Olha a fila!/ Os deputados que vierem a Brasília hoje devem se preparar para uma longa espera em caso de votação nominal no plenário improvisado no auditório Nereu Ramos. Há apenas 18 postos de votação para 500. Outros quatro postos são para as pessoas com necessidades especiais.

Boca fechada.../ Enquanto o senador José Agripino (foto) discursava ontem no plenário do Senado, não apareceu sequer um governista para defender a Petrobras, a presidente da empresa, Graça Foster, ou o governo. Nem mesmo quando ele citou que a presidente Dilma Rousseff deveria responder pelos atos da empresa, como corresponsável, uma vez que era presidente do conselho deliberativo.

... E corpos em evidência/ A ordem no governo é tentar isolar a manipulação da CPI no âmbito do Congresso. O problema é que Paulo Argenta é assessor do governo. E José Eduardo Dutra, diretor da Petrobras e ex-senador, esteve em 26 de maio no Congresso, véspera do depoimento de Graça à CPI do Senado. Ele foi até o gabinete do presidente da Comissão, Vital do Rêgo Filho, acompanhado do relator José Pimentel. Ficou lá 40 minutos, conforme publicado à época com exclusividade por esta coluna.

A festa dos suplentes/ Com tantos senadores que renunciaram ao mandato (foram oito), a maioria porque se elegeu para governador, e outros de licença, o plenário virou a casa dos "subs". Ontem, por exemplo, início de semana, à exceção dos oposicionistas sempre presentes (Agripino, Álvaro Dias, Aloysio Nunes Ferreira), foi a vez dos segundos suplentes no exercício do mandato, Fleury (DEM-GO), Rubens Fiqueiró (PSDB-MS) e Antonio Aureliano (PSDB-MG).

Painel :: Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Razões da degola
No relatório em que pedirá a cassação de André Vargas, Júlio Delgado (PSB-MG) sustenta que o ex-petista quebrou o decoro ao intermediar interesses de um grupo criminoso com o governo. Segundo integrantes do Conselho de Ética da Câmara, o texto descreve como vantagens indevidas os favores que ele recebeu de Alberto Youssef, preso no Paraná. O documento, que deve ser apresentado hoje, trata o deputado como sócio informal do doleiro na empresa farmacêutica Labogen.

Não, obrigado Uma secretária do Conselho de Ética deu plantão na porta do escritório do advogado que defende Vargas. Sua missão era entregar um último convite e convencer o ex-petista a prestar depoimento hoje. A servidora não foi atendida.

Te conheço? O recurso de Vargas para tentar afastar Delgado da relatoria do caso já teve mais chance de prosperar. O paranaense se desgastou por ter feito críticas ao PT depois de ser pressionado a se desfiliar do partido. Hoje restam menos colegas dispostos a ajudá-lo.

Fé no palanque Eduardo Campos e Marina Silva (PSB) farão amanhã, em Brasília, a segunda reunião com líderes evangélicos em três dias. Serão acompanhados por Rodrigo Rollemberg, candidato a governador.

Eu vi primeiro A dupla quer aproveitar a força de Marina no segmento religioso para estreitar os laços com pastores e evitar que o azarão Pastor Everaldo (PSC) amplie as alianças com igrejas.

Povos da floresta Campos e Marina reuniram aliados por cerca de uma hora para afinar o discurso que ele fará amanhã em sabatina na CNA, a entidade que representa o agronegócio. O presidenciável pediu ajuda para defender as propostas ecologicamente corretas da vice.

Motosserra Antes de se aliar a Marina, Campos flertava abertamente com a ala mais radical do ruralismo, representada pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Vira-casaca O PSDB de Minas Gerais calcula que 22 prefeitos do PT apoiarão Pimenta da Veiga, o candidato tucano ao governo do Estado. O grupo deve abandonar o petista Fernando Pimentel.

Sessão da Tarde João Santana, o marqueteiro de Dilma Rousseff, começou a filmar a campanha com uma Arri Alexa XT. A supercâmera foi lançada em 2013 e usada em filmes como "Capitão América" e "RoboCop". Custa cerca de R$ 180 mil nos EUA, sem contar as lentes.

Cine retrô Assim como na disputa de 2012, as equipes de campanha tentam convencer as emissoras a exibir a propaganda eleitoral em alta definição. Como não há consenso, o material deve ir ao ar em formato analógico.

Auxílio luxuoso Político em campanha esbanja simpatia até com jornalista. Ontem Dilma recolheu gravadores de repórteres e os posicionou um a um no púlpito em que deu entrevista em Guarulhos (SP). "Vou virar receptadora de gravador!", brincou.

Chapa branca Não é a primeira vez que a Petrobras se mobiliza para controlar uma CPI que a investiga. Na comissão de 2009, a estatal chegou a contratar uma assessoria para orientar parlamentares a protegê-la.

Poste sem luz O PSB diz ter pesquisa mostrando que 40% dos pernambucanos acham que Eduardo Campos apoia o rival Armando Monteiro (PTB), e não o afilhado Paulo Câmara (PSB), na corrida ao governo estadual.

Boa notícia Após quase um ano em tratamento de saúde, a repórter Catia Seabra está de volta à ativa.
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Tiroteio
"Alckmin mostra de novo ser o governador do Ctrl C + Ctrl V". Mas, como de costume, a cópia dele é pior que nossa proposta original."
DE ALEXANDRE PADILHA, candidato do PT ao governo de SP, sobre promessa do tucano de integrar os ônibus intermunicipais ao transporte sobre trilhos.
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Contraponto
A metralhadora do Millôr

Millôr Fernandes (1923-2012) levava a sério a própria máxima: "Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados". Implacável com políticos à esquerda e à direita, sabia encontrar o ponto exato para bater em cada um --e sem jamais perder a irreverência.

--Fernando Henrique Cardoso acha que essas são as três palavras mais bonitas do mundo --disparou, em 2001, sobre a conhecida vaidade de FHC.

Dois anos depois, começaria a era Lula. Irritado sobre o presidente que falava sobre tudo, Millôr sentenciou:

--A ignorância subiu-lhe à cabeça!

Panorama Político :: Ilimar Franco

- O Globo

O modismo e a realidade
As redes sociais viraram moda na política. As campanhas têm equipes para ocupar essas redes com propaganda positiva e negativa. Mas não há comprovação de sua eficiência eleitoral. Especialistas que não estão a serviço de candidatos avaliam que a maioria desses usuários já tem posições sobre os fatos e os personagens. E que essas redes não atingem um volume significativo de eleitores.

A audiência nas redes sociais
Ao reduzir o peso das redes sociais na política, os especialistas explicam que a esmagadora maioria das pessoas procura e "compartilha" informações sobre: filmes e televisão; boa forma e esportes; comidas e bebidas; viagens e música. Além disso, não há dados confiáveis para medir o peso das redes na política brasileira. As redes não são representativas no universo dos eleitores. Os meios tradicionais de informação — como TVs, jornais, rádios e portais jornalísticos na internet — têm maior capacidade de influir nos eleitores. Mesmo esses setores, amplamente difundidos no país, também têm um problema de audiência devido à renda e ao tempo livre dos usuários.
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"Os que ficarem fazendo campanhas nos estados não vão perder muita coisa... talvez nem prestígio por falta de assiduidade!"
Chico Alencar Deputado Federal (PSOL -RJ) e candidato à reeleição, sobre o esforço concentrado do Congresso nesta semana
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À procura de candidato
Políticos e eleitores de esquerda se movimentam, em São Paulo e no Rio, para votar em José Serra (PSDB-SP) e Cesar Maia (DEM-RJ) para o Senado. Eles dizem que não dá para votar nos candidatos Eduardo Suplicy (PT-SP) e Romário (PSB-RJ).

Na trilha da história
Nas suas férias, depois da Copa, o ministro Aldo Rebelo (Esportes) viajou de carro, com o irmão Apolinário. Ele está percorrendo o Paraguai e o norte da Argentina visitando cidades e locais de batalhas, atrás de histórias da guerra do Paraguai. Há anos, ele fez o mesmo visitando os Sete Povos das Missões em terras gaúchas.

A "Marininha" vem aí
Coordenadores da campanha de Aécio Neves (PSDB), mesmo que Eduardo Campos (PSB) não decole, apostam no Pastor Everaldo (PSC) para garantir o segundo turno. Dizem que ele pode ser uma "Marininha" , referindo-se à vice de Eduardo.

Tecendo a Rede
Com sua agenda paralela, a vice Marina Silva pretende promover seus candidatos a deputado federal. Um de seus objetivos, além de pedir votos para Eduardo Campos (PSB) ao Planalto, é aproveitar para organizar seu futuro partido, a Rede. O que se diz entre os verdes é que a Rede pode eleger bancada de seis a dez deputados.

Banho de fábrica
O deputado federal Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP), da Força Sindical, vai com o candidato Aécio Neves (PSDB) a uma porta de fábrica na quinta-feira. Para evitar confusão, com a CUT e a CTB, a empresa é mantida sob reserva.

Reescrevendo a História
Líder nas pesquisas para o governo de Brasília, José Roberto Arruda (PR) criou o blog "O golpe de 2009" . Ele tenta desqualificar a Operação Caixa de Pandora da PF , quanto ele era governador , e que recebeu o apelido de mensalão do DEM.
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A MINISTRA MIRIAM BELCHIOR esteve em Goiás no fim de semana e criticou o candidato ao Senado Ronaldo Caiado (DEM) por conta do Mais Médicos.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

-Jornal do Commercio (PE)

• Combinar perguntas é fraude habitual em CPIs
É habitual, no Congresso, depoentes ligados à maioria governista receberem previamente as perguntas que lhes serão formuladas, nas comissões parlamentares de inquérito. A prática é também parcial quando parlamentares, inclusive de oposição, combinam com depoentes o que lhes será perguntado. A diferença, agora, na denúncia contra a CPI da Petrobras, é que a farsa foi gravada em vídeo, documentada.

• O que eles temem?
Apesar das ameaças de representação, a reação da oposição à fraude na CPI foi considerada no mínimo cautelosa. Para não dizer medrosa.

• Tudo dominado
Em pleno ano eleitoral, os políticos (inclusive de oposição) não querem desagradar, na CPI da Petrobras, grandes empreiteiras que os financiam.

• O céu é o limite
“Pool” de empreiteiras contratou criminalistas famosos, parlamentares e lobistas para blindar seus dirigentes de depoimento na CPI da Petrobras.

• Batom na cueca
A Petrobras tem o dever de explicar por que proporcionou a um ex-diretor sob suspeita, Nestor Cerveró, “mídia training” para enfrentar a CPI.

• Vexame: Brasil deve tomar novo processo na OMC
A União Europeia e países como o Japão vão anunciar a abertura de um painel contra o Brasil, na Organização Mundial do Comércio (OMC), em reação a medidas protecionistas como o programa Inovar-Auto e regimes especiais de tributação, criando privilégios para fabricantes que incluem em seus produtos conteúdo local. O objetivo do governo é conferir vantagens à indústria nacional em relação aos similares importados.

• Sempre carroças
O programa “Inovar-Auto” não fez a indústria automobilística “nacional” inovar em nada. Deveria terminar em 2012, mas foi postergado até 2017.

• Não deu certo
O governo impôs 30 pontos percentuais a mais no IPI de importados. Foi inútil: o consumidor prefere pagar mais por veículos de melhor qualidade.

• E as leis do mercado?
O setor automobilístico não reduz preços para enfrentar a queda drástica nas vendas. Afinal, o governo amigo sempre abre mão dos impostos.

• Olho na malandragem
A Câmara dos Deputados não toma jeito. O Tribunal de Contas da União publicou acórdão endossando atos de aposentadoria de cinco servidores, mas, sabendo com quem trata, determinou que a Câmara respeite as leis que aprova, como a que fixou o teto para o pagamento de proventos.

• Falta Agnelo
Até agora, só o PT não confirmou se Agnelo Queiroz vai ao debate que a Band promoverá entre candidatos ao governo do Distrito Federal, quinta (14). Cabe aos partidos a confirmação. Todos os rivais já toparam.

• Vergonhoso
Primeiro, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) tentou se descolar de Nestor Cerveró, que indicou para a diretoria da Petrobras, atribuindo a nomeação do amigo a Renan Calheiros (PMDB-AL). Depois, à sombra, segundo Veja, “ajudou” a tornar mais amena a vida de Cerveró na CPI.

• Triunfo da irrelevância
Quase um mês após a final da Copa do Mundo, a Comissão do Esporte da Câmara se reúne amanhã para votar projeto obrigando a Fifa a checar a identidade estudantil de quem comprou entradas da categoria.

• Estilo ‘Aeroneves’
Agora é o governador Zé Filho (PMDB-PI) – candidato à reeleição – o acusado de construir pista de pouso em sua fazenda de Buriti dos Lopes, com 1,2 mil metros, a 30 quilômetros do aeroporto de Parnaíba.

• Mais saúde
De olho no voto dos médicos, que não engolem Dilma após implantação do programa Mais Médicos, o tucano Aécio Neves (MG) se reúne hoje (5) com presidente da Associação Médica Brasileira, Florentino Cardoso.

• A caminho do bi
Autor de projetos de lei como o fim do foro privilegiado e a proibição de o governo contratar empresas de parlamentares, o deputado distrital Chico Leite (PT) deve repetir 2010, quando foi o campeão de votos.

• Farsa da CPI
Líder do PPS, o deputado Rubens Bueno (PR) garante que a oposição vai brigar para convocar os envolvidos na Petrobras e no governo na fraude de submeter aos depoentes as perguntas na CPI da Petrobras.

• Pensando bem…
…de nada adiantou o teatrinho da CPI da Petrobras: os depoentes não convenceram a ninguém porque afinal se revelaram péssimos atores.

Arnaldo Jabor: Revolução das periguetes

• No Brasil das celebridades, o feminismo foi um mal-entendido, muitas vezes rima com galinhagem ou até com uma forma velada de prostituição

- O Globo

Chega de política. Vou falar de sexo. Antes, havia a “sexpol”, bandeira da política sexual dos anos 60. Hoje, temos no máximo a “polsex”, ou seja, como as ideologias dançaram, só a sexualidade explica os rumos do mundo e, claro, do Brasil, nosso grande motel das ilusões perdidas. Sexo: nossos sentimentos estão canalizados para um mesmo buraco. Ando pela rua e todos os outdoors são de mulher nua — outro dia, quase bati o carro na Avenida Paulista, por causa da lourinha nua da “Playboy”. Todas as capas de revista são uma grande feira de mulheres gostosas e homens raspadinhos. Tudo parece liberdade, mas a coisa é outra. Nos anos 60 (oh... os recentes anos remotos) o sexo era uma novidade política, depois dos caretíssimos anos 50, quando o sexo tinha algo de crime, algo de secreto que perfumava nossas vidas com o estímulo da culpa. Não havia motéis, nem as pílulas que, depois, fizeram mais pela liberdade sexual que mil livros feministas. Nunca vi tanta publicidade movida a sexo. A propaganda nos promete uma suruba transcendental. Em nenhum lugar do mundo vemos o apelo sexual nas ruas, nas roupas de meninas — nosso feminismo resultou na revolução das “periguetes”. No Brasil das celebridades, o feminismo foi um mal-entendido. Muitas vezes rima com galinhagem ou até com uma forma velada de prostituição. É uma mistura de liberdade com submissão a uma salada de frutas: mulher melancia, mulher melão, mulher jaca.

Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade expectante, e são obrigadas ao sexo ativo e masculino. A “supergostosa” é homem; ou melhor, é produto do desejo masculino. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens.

Já expuseram o corpo todo, seios, vagina, mucosas, ânus. O que falta? Os órgãos internos? Seu ideal é serem desejadas como bons produtos. Felicidade é serem consumidas. Felizes como coisas: Uma salsicha é feliz? Uma bela lata de caviar? Mas como amar um eletrodoméstico? A grande moda do momento são mulheres penduradas em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pelos pubianos nos salões de beleza. Ficam balançando em paus de arara e, depois, saem felizes com um jardinzinho estreito e não mais a floresta peluda onde mora a temível “vagina dentata”. Parecem uns bigodinhos verticais que me fazem pensar em Hitler.

Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém mais quer ser “real” hoje em dia.


Nos anos 60, sexo era revolução política. Tudo era político. O sexo utópico dos anos 60 era o prelúdio para outras conquistas sociais. O orgasmo para Reich era uma vitória contra a burguesia. Eu me lembro de ter dito para uma mulher amada: “Querida, nosso amor é uma forma de luta contra o imperialismo norte-americano”. O sexo dos 60 era um comício; queria acabar com a culpa, com o limite, com o proibido. Todas as sacanagens foram testadas, mas chegou-se ao outro lado com uma vaga insatisfação. O que faltava? Faltava o pecado. Sem o pecado ficávamos insuportavelmente livres. Em meio a tanta liberdade, nunca fomos tão solitários. Tudo era referido ao sexo, para substituir frustrações políticas e sociais.

Com a recaretização do mundo, a liberdade aparente conquistada andou para trás. A liberdade deu lugar à “dessublimação repressiva,” como nomeou Marcuse, uma “liberdade” tão ostensiva e grossa que é um louvor à proibição. Os sonhos viraram produto. Todas as conquistas viraram fetiches de consumo: revolta, igualdade, utopias, até o desespero e a angústia passaram a vender roupas e costumes.

O prazer é obrigatório no mercado. A partir dessa época, sob a aparência de grandes euforias narcisistas de gestos e risos de prazer, há um regressismo oculto no mundo de bundas e coxas lipoaspiradas, seios siliconados, bofes comedores. A anatomia virou uma das poucas portas de fuga da classe baixa, como uma saída para a miséria. Nuas, todas as mulheres são iguais: a democracia da bunda. A bunda é a esperança de milhares de Cinderelas. A mídia e a propaganda compraram a liberdade, que não é mais “uma calça velha e desbotada,” mas é a superação do pudor, da intimidade. Se alguma mulher ficar famosa, tem de tirar a roupa. O striptease é a “antiburka” — igual pelo avesso. A pessoa não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele. O corpo e a pessoa são duas coisas diferentes; a menina mostra sua bunda como se fosse uma irmã siamesa. Tanta oferta sexual angustia-nos, dá-nos a certeza de que nosso desejo é programado por indústrias masturbatórias, provocando tesão para vender satisfação.

A verdade é que o prazer anda de cabeça baixa, deprimido, apesar do eufórico exibicionismo em revistas de celebridades. Todos podem confessar tudo: “Sim, eu gosto de atacar nos mictórios das rodoviárias e me orgulho de minha tara!” — diz o perverso sorrindo na TV. A permissividade total esvai a tesão. O prazer precisa da proibição. Aliás, o vício solitário é bem seguro. A punheta é metafísica. A masturbação a dois existe até no grande amor romântico, onde dois narcisismos se tocam, se beijam, se arranham, mas não se comunicam.

Ninguém mais quer ser “sujeito”, apesar de afirmar o contrário. Todos querem ser “inconformistas como todo mundo”. O corpo tem de dar lucro. Todo mundo quer ser coisa.

Vi um anúncio de uma boneca inflável que sintetizava o desejo secreto do homem de mercado: ter mulheres digitais que não vivam. O anúncio tinha o slogan embaixo: “She needs no food nor stupid conversation” (“Não precisa de comida nem de conversa fiada”). A liberdade de mercado produziu um estranho “mercado da liberdade”.

Noturna [Guinga & Paulo César Pinheiro]

Pablo Neruda: Ode ao gato

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento ao rato vivo,
da noite até seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma só coisa
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de um navio.
Seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite.

Oh pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
seguramente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso,
talvez todos o acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos
do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço ao gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
o seu olho tem números de puro.