• As expectativas do PT sobre a agenda de Lula nas eleições
- Valor Econômico
O comitê eleitoral de Dilma Rousseff decidiu concentrar a campanha à reeleição nos maiores colégios eleitorais do país, onde a presidente vem perdendo terreno nas pesquisas. Na lista das prioridades estão, pela ordem, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul e Pernambuco. A perda de densidade eleitoral de Dilma na grande maioria desses Estados, segundo avalia a campanha presidencial, pode comprometer a vantagem de votos que o PT espera tirar na região Nordeste, esteio da eleição da presidente em 2010.
A agenda de Dilma deve dar prioridade a esses Estados, sem muito alarde para não provocar contrariedade nos demais Estados e regiões. A expectativa, nos bastidores da campanha, é sobre a agenda a ser cumprida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT e o comitê de Dilma querem fechar logo uma agenda robusta, muito embora seja possível encontrar, na coordenação da campanha e no Palácio do Planalto, quem diga que a presidente tem hoje condições de se eleger sozinha, a partir do tempo de televisão de que disporá no horário gratuito de propaganda eleitoral, quase o dobro dos demais candidatos, quando poderá então prestar contas de seu governo e discorrer sobre o que pretende fazer, se ganhar mais quatro anos da mandato.
Lula tem reiterado vontade de ajudar e diz que está à disposição do partido. Na prática, o que se vê até agora está distante do enunciado triunfalista de antes de a campanha começar, segundo o qual o ex-presidente estaria no Sul, quando Dilma estivesse no Norte, um no Oiapoque e outro no Chui, numa dança frenética e letal para os adversários do projeto de poder do PT. Lula tem comparecido a eventos de candidatos próximos a ele, como Delcídio Amaral, que disputa o governo de Mato Grosso do Sul, ou o empresário Josué Gomes da Silva, filho de seu amigo e vice José Alencar, candidato a uma cadeira no Senado pelo PMDB de Minas. Também faz força para tirar do chão a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo de São Paulo.
Outras áreas da campanha têm exigido a atenção de Lula. Uma delas é a de arrecadação de recursos, um problema que não estava no horizonte de alguns meses atrás. Institucionalmente, o tesoureiro da campanha de Dilma é Edinho Silva, deputado do PT em São Paulo, sem nenhuma experiência nessa área. Na prática, a coleta está a cargo do secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto. Nos bastidores, o tesoureiro já não esconde que a arrecadação está bem abaixo do que era previsto para esse período da campanha, no total orçada em R$ 298 milhões. Poderia ser pior, se Lula não estivesse empenhado em desfazer o mau humor de boa parte do empresariado com a presidente.
A movimentação do ex-presidente sugere, também, que ele perdeu alguns pruridos em relação a suas crias no governo. Até dias atrás, Lula reclamava intramuros a interlocutores que cuidavam de passar adiante o que dizia o líder. O ex-presidente também tomava cuidados para não transformar o "Volta, Lula", ainda sussurrado aqui e alí, num movimento irrefreável. Agora, passou a agir. Dois exemplos, um federal e outro municipal. Em Brasília, o ex-presidente atuou para manter no Palácio do Planalto o secretário-geral, Gilberto Carvalho, seus olhos e ouvidos no governo, que Dilma pretendia exilar no comitê eleitoral. Em São Paulo, convocou secretários do prefeito Fernando Haddad para uma reunião. Não chamou Haddad. O prefeito foi conferir. Lula respondeu que não o chamara porque prefeito era uma pessoa muito ocupada, não queria retirá-lo de seus afazeres, e também porque pretendia que os secretários falassem livremente.
Haddad insistiu em ir, foi e os secretários falaram livremente. No final foram combinadas ações para tentar tirar a popularidade do prefeito da lama - a criticada gestão de Fernando Haddad à frente da Prefeitura de São Paulo está no topo do ranking de motivos classificados no PT para o mau momento por que passa a candidatura de Dilma no maior Estado brasileiro. Lula ficou de cobrar as providências.
É bem verdade que o ex-presidente tem dificuldade para cumprir certas agendas. No Rio de Janeiro, por exemplo, Lula não vai fazer quatro campanhas. Dilma tem a obrigação porque ela é a candidata de uma coligação nacional que, no plano estadual, se divide em quatro candidatos: Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lindbergh Farias (PT), Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivela (PRB). Partidariamente, Lula faria agenda com o Lindbergh. Mas o ex-presidente deve acompanhar a evolução dos acontecimentos, para só então se decidir por este ou aquele palanque.
Se Garotinho, Crivela e Pezão forem 100% Dilma, Lula deve ponderar bastante sobre o que fará no Rio de Janeiro. Talvez tenha que se dedicar mais no segundo turno. Se houver "evasão" ou "traição", o que parece inevitável, pois as campanhas são mistas, o ex-presidente poder dizer "já que a única campanha pura da Dilma é a do Lindbergh, eu vou lá". Pura, é bom que se diga, em termos, pois associado a Lindbergh está o deputado Romário, do PSB, partido do candidato a presidente Eduardo Campos.
A chave no Rio pode ser resumida numa frase de Garotinho: "Eu não quero exclusividade, eu quero reciprocidade". Referia-se à participação da presidente Dilma em sua campanha. Reciprocidade é uma palavra que já está no dicionário de Dilma. Deve ser chave também para definir a participação de Lula em campanhas aliadas.
Quando é questionado sobre a presença de Lula nos palanques da campanha, o comitê de Dilma à reeleição costuma responder que o ex-presidente tem muita disposição para viajar, mas também precisa de tempo para gravar mensagens de rádio e de televisão para os candidatos aliados. E a demanda é grande. Lula também deve participar do programa de televisão de Dilma, mas não será âncora, como chegou a ser divulgado. Pode ser que tudo mude depois do dia 19 de agosto, mas a duas semanas do começo da propaganda partidária não dá como dizer que Lula teve, até agora, o protagonismo antes prometido pelo PT.
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