quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Favoritos escapam de perguntas polêmicas em debate da CNBB

• Aécio Neves protagonizou debate mais acalorado da noite com Luciana Genro, chamando candidata do PSOL de 'linha auxiliar do PT'

Iuri Pitta, José Maria Mayrink, Isadora Peron, Pedro Venceslau e Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Sorte para uns, providência divina para outros. Nem Dilma Rousseff (PT) nem Marina Silva (PSB) precisaram responder a perguntas sobre questões morais no debate promovido na terça-feira à noite pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida (SP). Entre as principais candidaturas, só Aécio Neves (PSDB) foi sorteado com uma das questões sobre aborto, família, união homoafetiva e Estado laico feitas por bispos e jornalistas da mídia de inspiração católica.

O tucano foi protagonista do embate mais quente do debate não com as adversárias de costume, mas com Luciana Genro (PSOL). Ao comentar as denúncias envolvendo a Petrobrás a pedido do candidato do PSC, Pastor Everaldo, Aécio provocou Dilma dizendo que o caso atual “fez com que o mensalão parecesse coisa pequena”.

“Quem não tem condições de administrar nossa maior empresa não tem condições de ser presidente”, disse.

Último sorteado no bloco de perguntas entre os presidenciáveis, o tucano em seguida foi obrigado a questiornar a candidata do PSOL sobre educação, mas ela preferiu dizer que o adversário e o PSDB tinham tantos problemas de corrupção quanto o PT e o atual governo.

“É o sujo falando do mal lavado”, afirmou Luciana. Na réplica, Aécio disse que a candidata do PSOL atuava como “linha auxiliar do PT”. “Com todo o respeito, linha auxiliar uma ova! Porque o PT aprendeu com o senhor e o seu partido”, rebateu Luciana, citando o mensalão mineiro e a construção do aeroporto de Cláudio (MG), próximo a uma fazenda da família de Aécio.

Tanto o tucano quanto Dilma obtiveram direito de resposta, os primeiros concedidos em debates desta campanha. A presidente disse ter “tolerância zero com a corrupção” e permitir que os escândalos venham à tona porque não nomeia “engavetador-geral da República”. “Fica claro que não é fácil desvendar um sistema daquele tamanho”, afirmou.

Na resposta às críticas da candidata do PSOL, Aécio chamou a adversária de “irrelevante”. “Política é isso. Aquele que se dispõe a ser presidente tem que ouvir impropérios e acusações levianas”, defendeu-se.

Credo. Desde o início do debate, a maioria dos candidatos citou quando possível os laços com a fé católica ou com a doutrina política cristã. Mais de uma vez, Aécio se disse “feliz por estar na casa de Nossa Senhora Aparecida”. Até Luciana Genro, que disse não ter religião ao ser questionada sobre laicidade, citou Plínio de Arruda Sampaio, que era católico. Eduardo Jorge (PV) fez uma saudação a d. Paulo Evaristo Arns.

Nas perguntas feitas por oito bispos, previamente gravadas, Marina foi a primeira sorteada e falou sobre políticas para a juventude. A candidata do PSB estava rouca e, sorteada duas vezes para dialogar com Eymael no quarto bloco, acabou tendo menos protagonismo que seus adversários mais diretos. Marina escolheu a reforma agrária como tema e criticou Dilma por ter feito menos assentamentos que Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.

Dilma foi sorteada para uma questão sobre desigualdade social e destacou números divulgados nesta terça-feira pela ONU. A presidente citou o Bolsa Família. O tucano falou sobre educação em resposta a d. Joaquim Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte.

No bloco de perguntas feitas ao vivo por jornalistas, Aécio afirmou ser contra “qualquer tipo de discriminação” ao ser questionado sobre o projeto de lei que criminaliza a homofobia. O tucano tentou se eximir, ao dizer que o poder do presidente no tema “é limitado”, mas disse não concordar com o texto em tramitação, também criticado por entidades religiosas.

Dilma, ao ser sorteada para falar de saúde, e Marina, de saneamento, escaparam de temas como aborto, dirigido a Eduardo Jorge, redução da maioridade penal, defendida pelo Pastor Everaldo, e descriminalização da maconha, rechaçada por Eymael.

Aécio cresce em meio ao embate entre Dilma e Marina

César Felício – Valor Econômico

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi o maior beneficiário da campanha negativa desencadeada pela presidente da República Dilma Rousseff (PT) contra a principal adversária à sua reeleição, Marina Silva (PSB), de acordo com a pesquisa Ibope divulgada pela Rede Globo na noite de ontem.

O tucano, que estava estagnado em 15% de intenção de voto, subiu quatro pontos percentuais. Dilma caiu três pontos percentuais, indo de 39% para 36% no intervalo de uma semana. Marina oscilou de 31% para 30%.

Na simulação de segundo turno, a pesquisa do Ibope também aponta recuperação de Aécio. Ao ser confrontado com Dilma, o senador mineiro cresceu de 33% para 37% e a presidente recuou de 48% para 44%. O cenário também melhorou para Marina Silva, que tinha uma vantagem de apenas um ponto percentual em relação à Dilma na rodada anterior do Ibope, quando obteve 43% e a petista, 42%. Agora, Marina manteve o percentual e Dilma caiu para 40%. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, com 3 mil entrevistas feitas entre 13 e 15 de setembro.

A pesquisa do Ibope permite avaliar o saldo da ofensiva feita pela presidente contra Marina no horário eleitoral gratuito, em que a candidata do PSB foi associada a uma eventual deterioração da renda da população e ao corte de investimentos sociais que seriam decorrentes da independência do Banco Central e de uma suposta posição contrária de Marina em relação ao desenvolvimento do pré-sal. A candidata do PSB adotou como estratégia vitimizar-se, chegando a dizer que "oferecia a outra face" aos seus críticos.

Aécio também fez campanha negativa em sua propaganda na TV, mas de forma difusa, atacando as duas candidatas. Foi relativamente poupado tanto pela presidente quanto pela sua adversária, em um possível movimento para não hostilizar o PSDB às vésperas de um segundo turno.

O desempenho do candidato tucano contrasta pelo descolamento entre o resultado da pesquisa presidencial e o da corrida eleitoral nos Estados. O tucano João Pimenta da Veiga (PSDB) candidato de Aécio em seu reduto eleitoral em Minas Gerais, arrisca-se a uma inédita derrota para um candidato governista nas eleições locais. De acordo com sondagem também do Ibope divulgada ontem, conta com apenas 23% de intenções de voto, quase a metade dos 43% obtidos pelo petista Fernando Pimentel. O candidato do PT está em ascensão, tendo subido oito pontos percentuais em relação à última pesquisa, de três semanas atrás, enquanto o tucano não alterou seu percentual.

O mesmo descolamento aparece na sondagem local para a eleição presidencial. Segundo o Ibope, Aécio está com 29% de intenção de voto em Minas Gerais, quatro pontos percentuais atrás de Dilma, conforme divulgou o portal de notícias G1. Marina Silva apareceu com 22%. Na sondagem anterior, divulgada no dia 27, Aécio tinha 34%, Dilma 31% e Marina 20%.

A pesquisa do Ibope mostra ainda que se interrompeu o processo de recuperação da imagem da administração presidencial, em alta desde o início da propaganda em rádio e televisão. A soma dos eleitores que marcam "bom" ou "ótimo" para avaliar Dilma oscilou de 38% para 37%. O total que assinala "ruim" ou "péssimo" permaneceu em 28%.

FHC diz que Aécio deveria centrar ataques em Dilma

• Ex-presidente defende que PSDB explore mais denúncias envolvendo a Petrobras

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz ser "natural" que o candidato de seu partido ao Planalto, Aécio Neves (PSDB), faça críticas a Marina Silva (PSB) no horário eleitoral, mas avalia que o foco dos tucanos deve ser a presidente Dilma Rousseff (PT).

Citado por aliados da pessebista como um dos defensores do fim das críticas a Marina na propaganda do PSDB, FHC nega ter feito reparo à estratégia de Aécio até aqui.

Na última semana, pessoas ligadas à campanha da ex-senadora procuraram os tucanos para dizer que, ao criticar Marina, Aécio ajuda Dilma. À imprensa, alguns desses aliados afirmaram que FHC endossaria a tese. À Folha o ex-presidente disse nunca ter feito "qualquer comentário" sobre as críticas do tucano a Marina: "Não fiz qualquer comentário sobre as críticas do Aécio com quem quer que fosse. Acho natural que ele, que está no fogo, dê uma ou outra cutucada na Marina".

Para o ex-presidente, no entanto, é o governo Dilma que deve estar no centro dos ataques de Aécio. "O chumbo grosso deve se concentrar no PT e, portanto, na Dilma."

Para FHC está claro o flanco a ser explorado: ele diz que as suspeitas de que dinheiro desviado da Petrobras servia para financiar políticos da base aliada são de "enojar".

FHC foi o principal fiador da candidatura de Aécio --que hoje tem distribuído suas críticas entre Dilma e Marina.

Em sua propaganda, Aécio tem trabalhado para vincular a ex-senadora ao PT, partido no qual ela militou, para recuperar votos dos "antipetistas" que migraram para ela.

Aécio prometeu nesta terça entregar até o fim do 1º turno um programa de governo "feito a caneta", numa provocação a Marina, que recuou de algumas propostas.

Governo e base aliada agem para evitar danos em CPI mista da Petrobrás

• Depoimento de ex-diretor da Petrobrás mobiliza Planalto; aposta é que ele se cale

Ricardo Brito e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo montou nesta terça-feira, 16, uma operação de “contenção de danos” com vistas a minimizar possíveis estragos causados pelo depoimento que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa deve prestar na tarde desta quarta, 17, à CPI mista (CPMI) da estatal instalada no Senado em decorrência da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

O Palácio do Planalto teme que, se o ex-diretor resolver falar sobre o esquema de corrupção que tem delatado à Justiça Federal do Paraná, a presidente Dilma Rousseff pode sair extremamente desgastada a 19 dias do primeiro turno das eleições.

A aposta inicial dos governistas é de que o ex-diretor permaneça em silêncio durante o depoimento, que ocorrerá sobre forte esquema de segurança.

Desde o dia 29 de agosto, Costa tem prestado depoimentos à Justiça no qual vem revelando a participação de políticos, inclusive filiados ao PT e ao PMDB, num esquema de recebimento de propina em contratos sob a diretoria que comandou nos governos Lula e Dilma (2004 a 2012). A avaliação é de que o ex-diretor poderia perder o direito à redução da pena prevista no acordo de delação caso fale aos deputados e senadores.

Dilma afirmou ontem que “não tem a menor preocupação” com a ida do ex-diretor para depor no Congresso. Apesar das declarações da presidente, o governo está acompanhando o tema de perto e o ministro- chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, foi escalado para atuar junto ao Congresso. Berzoini se reuniu na manhã desta terça-feira, no Planalto, com o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), para debater a estratégia de condução dos trabalhos durante o depoimento.

Enquanto o assunto Petrobrás estiver em ebulição na CPMI, o afastamento do ministro Ricardo Berzoini do governo está adiado. A ideia inicial consistia em que ele, a exemplo dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), que tirou férias, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que deixou temporariamente o cargo para reforçar a campanha, também se afastasse do Planalto para colaborar nas eleições.

Mas, agora, diante das denúncias de corrupção na estatal, o plano foi adiado. Berzoini, no entanto, já participa das reuniões de coordenação da campanha petista no Alvorada.

Manobra. Em sintonia fina com o Planalto, caso Costa queira falar à CPI, parlamentares da base vão defender que o depoimento do ex-diretor seja realizado em sessão fechada. Embora justifiquem publicamente que desta forma o ex-diretor vai se sentir mais à vontade para falar, os governistas avaliam que um depoimento feito sem a presença da imprensa terá um efeito político - e, naturalmente, eleitoral - reduzido.

Outro ponto que os governistas pretendem explorar, caso o ex-diretor resolva falar, é sobre a ascensão de Costa na Petrobrás durante o governo Fernando Henrique Cardoso. A estratégia da base é mostrar que, se o ex-diretor atuou mesmo no esquema de corrupção da Petrobrás, o início se deu ainda nos governos tucanos.

O ex-diretor, que entrou para a estatal em 1977 por concurso público, ocupou importantes funções na companhia durante a gestão FHC. Um grupo de 10 assessores da base fez um pente-fino na atuação de Costa a fim de encontrar indícios de atuação irregular dele desde o governo do PSDB (1995-2002).

Apesar da apreensão nos bastidores, o presidente da CPMI afirmou que não está preocupado com as eventuais repercussões que as revelações do ex-diretor possam trazer para seu partido. “(O PMDB) não (teme o depoimento), eu acho que todos nós torcemos para que ele possa falar e confirmar as notícias vazadas por vocês”, respondeu Vital do Rêgo.

O relator da comissão, deputado Marco Maia (PT-RS), disse esperar que Costa confirme as declarações.

“Provavelmente esta sessão será fechada e nós deveremos dar esta oportunidade ao depoente para que ele possa falar mais. Nós queremos ouvi-lo, obter informações dele durante o processo de investigação”, disse. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), também concorda com o relator. “Se formos realizar a sessão secreta, vamos preservar a condição do delator”, afirmou.

Depoimento de Costa pode esquentar eleição

Edla Lula – Brasil Econômico

A sombra de Paulo Roberto Costa rondou a campanha da candidata Dilma Rousseff ontem. O ex-diretor da Petrobras falará hoje na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a estatal. Apesar da utilização da divulgação de nomes de políticos da base aliada supostamente ligados ao esquema de propina por parte dos candidatos da oposição, a estratégia adotada ontem foi não transparecer temor. "Nós não temos menor preocupação com isso", disse a presidenta ao ser indagada por jornalistas sobre o depoimento. Ao mesmo tempo em que Dilma procurava expressar tranquilidade, o presidente da CPMI, senador Vital do Rego (PMDB-PR) saía de uma reunião com o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, jurando não ter tratado do assunto.

"Conversei com Berzoini sobre a minha campanha. O PT nos apoia no Paraíba", justificou o parlamentar, candidato ao governo do estado. Uma fonte do Planalto comentou, no entanto, que há o temor de que informações dadas por Costa repercutam no eleitorado. "Mesmo que as informações sejam inverídicas e que não haja prova, a oposição tentará usar isso na campanha", comentou esta fonte. Ainda que o depoimento seja em sessão secreta, com a presença apenas dos membros da comissão, a avaliação é de que uma declaração comprometedora feita em uma CPMI em período eleitoral certamente vazará. "Se vazou o depoimento dado ao Ministério Público, maiores são as chances de vazar em um ambiente de CPI com parlamentares da oposição trabalhando por seus interesses eleitoreiros", disse.

A oposição pressiona para que o depoimento seja a portas fechadas, o que deixaria o depoente mais seguro para falar, já que passa pelo processo de delação premiada, que tem no sigilo de informações a condição para ser beneficiado coma redução da pena. "Devemos resguardar ao depoente o direito de preservar o sigilo, para não prejudicar seu acordo de delação premiada", opinou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), para quem o presidente da comissão deverá determinar, sem a necessidade de colocar em votação, a sessão fechada. Vital, por sua vez, informou que abrirá a reunião publicamente, inclusive com transmissão pela TV Senado, e só decidirá pelo contrário em última instância, se o depoente exercer o direito de não responder.

José Serra sinaliza para um apoio do PSDB à ex-ministra

• Candidato tucano ao Senado diz que é a favor de "qualquer solução que não seja o PT"

- Brasil Econômico

O candidato ao Senado pelo PSDB de São Paulo, José Serra, deu indícios de que seu partido poderá apoiar Marina Silva, presidenciável do PSB, em uma eventual disputa entre ela e a presidenta Dilma Rousseff no segundo turno. Ontem, num almoço com empresários do setor de entretenimento, Serra se mostrou empenhado em derrotar o PT nas urnas. "Acho que é fundamental trocar o sistema de poder, de partidos. Estou com o Aécio (Neves, presidenciável do PSDB), mas tema Marina, que está despontando. Prefiro o Aécio, mas qualquer solução que não seja o PT continuar é importante, até para que o novo governo tenha um crédito de confiança para fazer as coisas", disse.

A afirmação do ex-governador de São Paulo vai contra a declaração de Aécio Neves, dada ao portal iG na última sexta-feira."Ou ganhamos as eleições e vamos governar o Brasil, ou perdermos as eleições. Se essa for a decisão dos brasileiros, e espero que não seja, vamos para a oposição e quem decide um papel de um partido político é o povo", disse Aécio, na ocasião.O encontro com os empresários, que contou com a participação de Serra, aconteceu à beira da piscina de um hotel luxuoso na região do Brooklin, Zona Sul de São Paulo. Geraldo Alckmin, candidato à reeleição ao governo do Estado, era esperado, mas não compareceu. Segundo o instituto Datafolha, Serra e Eduardo Suplicy (PT) estão tecnicamente empatados na disputa ao Senado. iG

Aécio ganha com ataques de Dilma a Marina, diz cientista

Stefânia Akel – O Estado de S. Paulo

A pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira, 16, mostrou que existe um limite para a estratégia da presidente Dilma Rousseff de criticar Marina Silva (PSB) e quem ganhou com isso foi Aécio Neves (PSDB), que subiu quatro pontos porcentuais, na avaliação de Carlos Pereira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas. Segundo ele, o crescimento do tucano também pode ser atribuído ao escândalo de desvio de dinheiro da Petrobras, que agora parece ter repercutido entre o eleitorado. "Marina mostrou resistência, Dilma mostrou fragilidade e Aécio mostrou sobrevida", resume.

"Essa estratégia da Dilma pode ter chegado a um limite, porque a pesquisa mostra claramente que Marina não foi mais afetada pela campanha negativa, quem caiu foi a Dilma", diz Pereira. O analista destaca ainda que a queda da petista foi praticamente toda absorvida por Aécio. "Ele conseguiu roubar votos da Dilma. Os votos em branco e nulos não caíram, o que significa que possivelmente esse crescimento do Aécio pode ser atribuído à Petrobras." Para o analista, o eleitor começou a perceber que esse escândalos e assemelha ao mensalão.

Pereira classificou o avanço de Aécio como "surpreendente" e explicou que Dilma tem um voto consolidado de pouco mais de 30%, mas estava dez pontos porcentuais acima desse patamar nas últimas pesquisas. "Ela estava tendo muito mais votos do que o consolidado e essa gordura é um voto mais volátil, que foi para Aécio", aponta.

Segundo ele, o tucano "não está morto". "Ele cresceu quatro pontos porcentuais, o que representa 6 milhões de votos. Isso é substancial", argumenta, destacando que Aécio cresceu consideravelmente também nas simulações de segundo turno.

O cientista político também chama a atenção para a resistência de Marina diante dos ataques, uma vez que sua queda de um ponto porcentual no levantamento foi dentro da margem de erro. "Esse resultado é surpreendente porque mostra resiliência e consolidação de Marina, que tem resistido a ataques principalmente da Dilma, mas também do Aécio, consolidando-se para o segundo turno", diz.

Mudança de tom
Pereira acredita que a campanha do PT vai mudar o tom em reação à pesquisa e aponta que "pegou muito mal" a propaganda do partido na televisão mostrando uma mesa vazia diante da proposta de Marina de independência do Banco Central. "Isso não é crível. Os eleitores da Dilma podem ter percebido isso e a vitimização da Marina talvez tenha surtido efeito. Mesmo com pouco tempo, ela conseguiu segurar a onda", avalia. "A literatura americana sobre campanha negativa afirma isso. Ela tem um impacto no curto prazo, mas não consegue se sustentar ao longo do tempo."

O analista destacou ainda o grau de competitividade das eleições, com alta incerteza, o que, para ele, é evidência da consolidação da democracia brasileira. "Todo mundo faz críticas ao sistema brasileiro, mas um dos critérios fundamentais da qualidade da democracia é a incerteza no processo eleitoral. Quando se tem um vencedor antes que o jogo acabe, o sistema é fraco", frisa.

Lucia Hippolito: PMDB estará em um governo de Marina

Gabriel Garcia – Blog do Noblat

Ninguém governa sem o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). É o que diz a cientista política e historiadora, Lucia Hippolito, que prevê uma aliança da candidata à presidência da República, a ex-ministra Marina Silva (PSB), com o partido.

Para Lucia, Marina, se eleita, precisará conversar com a legenda, que se compôs com os governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Lucia considera criminosa a adoção de mentiras, como o boato sobre o fim do Bolsa Família caso Marina vença, disseminado pela campanha da candidata à reeleição, Dilma.

Especialista em eleições, ela acredita que o candidato Aécio Neves (PSDB) se pôs a serviço do PT ao focar suas críticas em Marina. Mas acha promissor o futuro do senador. Em entrevista ao blog, apontou semelhanças entre Lula e Marina.

Acostumada com os burburinhos da política, Lucia saiu de cena há dois anos, quando em abril de 2012 se preparava para voltar ao Brasil após uma temporada em Paris com o marido, Edgar Flexa Ribeiro.

Ao tentar se levantar da cama, notou que as pernas não se mexiam. Descobriria o motivo no dia seguinte: foi diagnosticada com uma doença autoimune que leva à perda da habilidade de grupos musculares, a síndrome de Guillain-Barré.

O que você destacaria de diferente na eleição presidencial deste ano?

O trauma da morte do Eduardo Campos, o que não é comum. Embora não seja raro na história brasileira acidente com candidatos, nunca tivemos um caso de candidato a presidente da República que morresse em plena campanha. Isso é quadro completamente diferente.

A Dilma comparou a independência do Banco Central, proposta de Marina, à falta de comida. Tal medida tem influência no eleitorado?

Tem influência, sim. Boato é uma coisa muito forte. A mentira repetida muitas vezes acaba pegando. Para as pessoas que dependem do Bolsa Família, você falar que alguém vai acabar com o Bolsa Família, evidente que cola. É criminoso. É a implantação da mentira para derrotar o adversário.

O PMDB aparece com chance de governar metade dos estados. Isso não faz com que Marina seja obrigada a se aliar ao partido, apesar de prometer levá-lo para a oposição se eleita?

Ninguém governa o Brasil sem o PMDB. O partido está fazendo o que sabe fazer de melhor: voltar para o interior, onde ele retira sua força. Os dois maiores partidos brasileiros têm lógica diferente. O PMDB nasce do interior para a capital. O PT é o único partido que é organizado nacionalmente. A direção dá uma ordem e o partido cumpre no país inteiro. Temos raríssimas dissidências, como no caso do Rio de Janeiro, onde o candidato ao governo, Lindbergh Faria, se aliou com o deputado Romário (PSB), que disputa o Senado.

O que Marina precisa fazer para construir uma base consistente no Congresso?

Ela vai ter que se aliar. Essa história de que vai escolher os melhores não existe. Você governa com o que tem. Ela vai ter que fazer aliança, vai ter que se aliar. Não será tão simples, não.

Considerado um político promissor, o senador Aécio Neves praticamente sepulta as chances de concorrer novamente às eleições presidenciais em 2018?

O Aécio comprou a pauta do PT. Ele se colocou abaixo do PT para responder ao PT. O PSDB é um partido que tem quadros, mas com pouca militância. O Aécio tem uma carreira política consolidada. Ele pode ser candidato em 2018 ou 2022. Ele tem idade, perspectiva e realizações. Tem futuro.

Já que você falou de futuro, o que será do PSDB caso perca a quarta eleição seguida para presidente?

O partido precisa rever seus fundamentos, sua militância e sua forma de fazer política. Os tucanos têm uma forma de fazer política muito curiosa. Eles tentam convencer com argumentos. Se você não concorda, eles repetem porque acham que não foram escutados. Eles estão certos de que os argumentos deles são bons. Não se preocupam em buscar outros.

Há semelhança entre a campanha de Marina e a de Lula quando foi eleito? Quais?

Tem muita semelhança. Tem semelhança na trajetória. Eles são dois vitoriosos, conseguiram vencer as adversidades. A Marina foi alfabetizada aos 16 anos. O Lula foi líder sindical muito cedo. Ambos têm trajetória muito parecida.

Qual impacto das denúncias de corrupção que tomaram conta do governo nas eleições?

Depende muito se elas descem até a população. Às vezes, as denúncias de corrupção ficam muito na nuvem, ficam muito na espuma. Se as denúncias chegarem ao eleitor, seguramente terão efeito na candidatura de Dilma.

Como você vê a mudança de opinião da Marina em relação ao agronegócio, muito demonizado por ela durante anos?

As pessoas vão mudando de opinião conforme o vento vai tocando. É preciso se curvar à realidade. O agronegócio brasileiro é quem está salvando o país da crise, é quem sustenta o país. Não adianta ficar contra. Devemos sempre ficar contra a depredação, a devastação. Mas temos que aplaudir o agronegócio sério. E a Marina também.

Roberto Freire: O PT não chora, mas ri da cara dos brasileiros

- Portal do PPS

O Partido dos Trabalhadores, fundado no dia 10 de fevereiro de 1980, já chorou muito, e por causas justas. Hoje, no jogo sujo e rasteiro da campanha eleitoral, envolvido em centenas de escândalos de corrupção, não chora mais. Ri, e gargalha alto, da cara dos brasileiros. Sem o mínimo de escrúpulo e orientado por marqueteiros milionários sempre envolvidos em escândalos, manipula dados, ataca sem pudor e atua, sorrateiro, para solapar a verdade.

Que democracia é essa, em que o poder do dinheiro, os recursos desviados por meio de uma corrupção desenfreada, financiam campanhas milionárias de difamação?

É Banco do Brasil no mensalão, Petrobras com doleiro e uma esplanada de irregularidades. A presidente Dilma, gerente de todo o esquema, diz que se a pessoa não quer ser pressionada não pode ser presidente da República. O problema é que a senhora cedeu às pressões. Foi, no mínimo, conivente com a corrupção instalada no seio da administração federal. Não chora, ri, e gargalha alto, da cara dos brasileiros.

As mentiras têm, no fundo, interesses do próprio PT. Sabem por que eles não querem um Banco Central independente? Não é para proteger os brasileiros dos banqueiros, coisa que nunca fizeram. É para aparelhar setores de fiscalização do banco, como o Coaf, órgão responsável por fiscalizar operações bancárias duvidosas. Com um Coaf funcionando, seria possível esconder o caixa 2 “normal” de Lula e do PT?

A população brasileira clama por mudanças. Não acha isso normal. Sabe que aqueles que cederam às pressões de Renan Calheiros, Fernando Collor de Mello, José Sarney, entre tantos outros, já perderam, há muito, qualquer tipo de lágrima.

Marina chora, nas vitórias e sofrimentos de vida, assim como qualquer brasileiro. Mas não ri e não debocha daqueles que sonham com um país melhor.

Roberto Freire é presidente nacional do PPS

Alberto Aggio: A democracia e suas crises

- O Estado de S. Paulo

"Vocês não me representam!" Dentre todas as frases consagradas pelas ruas nas já históricas jornadas de junho de 2013, essa talvez tenha sido a que mais ficou registrada na memória coletiva como expressão do rechaço ao sistema político e aos seus representantes. Em meio à multidão, a frase sintetizava a crise de representação que, dentre outras coisas, atualizava mais uma vez o Brasil em relação ao mundo, em simultaneidade com eventos similares que marcavam ruas e praças na Europa e nos Estados Unidos. Crise substancial, mas de delicado equacionamento fora dos ditames do realismo político, aquele brado foi perdendo impacto e, como um eco, permaneceu latente até o atual processo eleitoral. Aqueles que não se sentiam representados ainda continuaram a emitir sinais no sentido de encontrar seus representantes ou, então, uma nova forma de representação, codificada pela noção de democracia direta e concebida invariavelmente em substituição à democracia representativa.

As multidões que ocuparam as ruas naquele junho pareciam buscar uma via de passagem para um "represamento", já então angustiante. A ira e o ódio contra os políticos e seus partidos explodiram do fundo da alma. Contudo, em meio ao turbilhão, as multidões não invocaram o desejo nem imprimiram uma prática que visasse a pôr abaixo a democracia fundada na Carta de 1988. Essa manteria sua legitimidade intocada, revelando que a ameaça que pairava sobre a ordem constitucional estava sendo urdida bem longe das ruas. Como "um grito parado no ar", a frase não apontava nem mesmo insinuava um caminho para mudanças que depois viriam a ser objeto das mais extravagantes proposições.

Nas manifestações, um tanto ingenuamente, e, de maneira ardilosa, nas respostas sugeridas desde as alturas do poder, pareceu haver a expectativa de que se pudesse solucionar nossa manifesta crise de representação a partir de um lance acrobático, decretando-se institucionalmente a criação de "espaços" de participação que dali em diante cumpririam o papel de "verdadeiros representantes" do povo que foi à rua, cindindo o conjunto da cidadania brasileira. Combinada com a proposição de uma "Constituinte específica", cuja intenção declarada seria a realização da reforma política, a pulverização de "conselhos" representativos dos movimentos sociais em todos os órgãos da administração pública deu o tom de nonsense às respostas governamentais que viram ou quiseram ver as jornadas de junho e sua plural vocalização de descontentamento como um acontecimento unidimensional. À impropriedade adicionaram-se a impressão de oportunismo político-eleitoral e uma inquietante preocupação com propósitos obscuros que poderiam emergir num futuro relativamente breve. Tudo isso redundou em perda de confiança da opinião pública em relação às duas proposições e em distanciamento até mesmo daqueles que haviam abraçado o movimento espontâneo e difuso que havia brotado do chão das ruas.

Se por crise se deve entender a perda de critério que orienta a normatividade de nossas condutas, a que emerge atualmente nas democracias contemporâneas, inclusive na brasileira, é uma crise específica, e não uma crise orgânica ou histórica que estaria a demandar a construção de um novo Estado, como nos ensinou Gramsci. As jornadas de junho e o que se seguiu expressaram uma crise específica de legitimação dos mecanismos do sistema político, uma crise na democracia, e não uma crise da democracia. Guardada a particularidade das experiências históricas, a democracia brasileira pode ser considerada "tão democrática" quanto as outras democracias hodiernamente em vigência.

Formalmente, a consigna "democratização da democracia", evocada de maneira mais organizada pelos manifestantes, expressaria um diagnóstico similar. Outro significado guardaria a mobilização da noção de democracia direta, que se fundamenta numa hipersimplificação do político, um ilusionismo que visa a traduzir o ato de governo como algo simples e direto, sem delegação, no qual o envolvimento dos cidadãos com a coisa pública seria contínuo e permanente.

Argumenta-se a total compatibilidade da democracia direta com a revolução digital em curso. Esquece-se, contudo, que a fórmula da representação na política foi criada, com sucesso, para superar a dicotomia entre a democracia dos antigos (de ênfase pública) e a dos modernos (na qual se introduzem dimensões do mundo privado). Esquece-se também que, hoje, a democracia não se exaure nas eleições e se tornou uma realidade política complexa, composta de arenas participativas e de novos fluxos comunicacionais que ampliam, condicionam e estabelecem a vigilância entre representados e representantes. Não há mais, por assim dizer, uma democracia liberal tout court, apartada das tensões e crises próprias à de um laboratório conceitual e prático do presente em que se transformou a experiência democrática contemporânea.

Tateando, o Brasil também construiu essa democracia dos contemporâneos. Entretanto, os últimos anos de "presidencialismo de coalizão" acumularam práticas paralisantes que bloquearam uma relação livre e produtiva entre o Estado e movimentos autônomos nascidos da sociedade. O resultado tem sido o pouco enriquecimento da cultura cívica entre nós e, com ele, a diminuição de nossa capacidade, como sociedade, de nos envolvermos seriamente nas questões atinentes à engenharia das instituições e à renovação da relação povo-poder.

Depois das jornadas de junho de 2013, o desafio da representação ainda está colocado e todos os atores políticos estão convocados a encontrar, com realismo, os termos de uma reforma do sistema político que supere a crise e consiga recompor a confiança do País em continuar vivenciando e ampliando a política da democracia.

*Alberto Aggio é historiador e professor titular da Unesp-Franca

Merval Pereira: Rodada ruim para Dilma

- O Globo

A nova pesquisa do Ibope divulgada ontem pelo "Jornal Nacional" e pelo "Estado de S. Paulo" só trouxe notícias ruins para a presidente Dilma Rousseff, e notícias boas para Marina e Aécio Neves, mais para ela do que para ele. A estratégia de atacar Marina sem dó nem piedade parece que passou do ponto, e reverteu contra a própria candidata à reeleição, que caiu além da margem de erro.

Não é à toa, portanto, que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu parecer favorável à retirada da propaganda eleitoral do filmete do PT que faz uma ligação completamente mentirosa entre o Banco Central autônomo e a falta de comida na casa dos brasileiros. E também o Tribunal Superior Eleitoral retirou do ar o site comandado pelo ex-ministro Franklin Martins. O tucano Aécio Neves subiu quatro pontos percentuais, reflexo da melhoria de pontuação em Minas Gerais, seu território, e, de maneira geral, em todas as regiões do país, com exceção do Nordeste. Como sua campanha é mais propositiva, embora bastante crítica em relação à capacidade de Marina governar e representar realmente uma mudança de rumos, Aécio cresceu em cima de Marina e Dilma especialmente em Minas, o segundo colégio eleitoral do país.

Aécio ainda reduziu sua diferença para Dilma no segundo turno, com a presidente em queda. Paradoxalmente, o candidato do PSDB para o governo de Minas, Pimenta da Veiga, caiu em relação a seu concorrente Fernando Pimentel, do PT, e corre o risco de perder no primeiro turno. Para reverter os 20 pontos que os separam, Aécio terá que passar a presidente Dilma em Minas e carregar consigo seu candidato a governador, num esforço final que pode lhe acrescentar pontos preciosos. Marina Silva, apesar de toda campanha agressiva contra ela, principalmente pelo PT, mas em boa medida também pelo candidato do PSDB, caiu apenas 1 ponto, mas viu sua vantagem em relação a Aécio Neves diminuir de 16 para 11 pontos.

Ainda no plano das boas notícias, Marina viu confirmar-se fora da margem de erro sua vantagem sobre a presidente Dilma no segundo turno, que passou a ser de 3 pontos (43% contra 40%). Segundo o Ibope, Aécio chegou a um empate técnico com Marina no Sul, com 23% contra 26% da candidata do PSB. Dilma continua tendo o Nordeste como seu grande bastião eleitoral, onde lidera isolada com 48%. Na região, o candidato do PSDB tem sua pior atuação, com 9%, enquanto Marina consegue barrar um pouco o avanço de Dilma, com 29% dos votos nordestinos. Na eleição de 2010, Dilma teve nada menos que 70% dos votos do Nordeste.

Ela lidera também no Sul, com 34%, e, nas demais regiões, aparece empatada tecnicamente com Marina: no Sudeste, onde se concentram cerca de 44% dos eleitores, a candidata do PSB tem 31%, e a do PT , 30%. No Norte/Centro-Oeste, Dilma tem 35%, e Marina, 32%. O desempenho da incumbente Dilma Rousseff é melhor nas cidades menores, com até 50 mil habitantes, onde ela alcança 42%. Nas cidades com mais de 500 mil habitantes, sua votação cai 10 pontos percentuais. Nelas, quem lidera é Marina Silva, que tem também o maior eleitorado entre os eleitores de curso superior . Dilma tem seu melhor desempenho entre eleitores menos escolarizados (até a 4ª série: 51%) e no eleitorado mais pobre, com renda de até um salário mínimo, em que fica com 46% das preferências.

Aécio tem mais eleitores entre os mais ricos (renda familiar superior a 5 salários : 28%). A presidente tem uma liderança incômoda no quesito rejeição: 32% afirmam que não votariam nela de jeito nenhum. A presidente Dilma aparentemente superou o índice mínimo de avaliação para ser competitiva na reeleição: hoje, 37% dos eleitores classificam seu governo como ótimo e bom, um pouco acima da taxa de 35% considerada básica para se apresentar à re eleição. Esse índice, porém, também limita sua votação geral, que fica aquém da votação dos candidatos do PT nas últimas eleições.

Dora Kramer: Demolição de valores

- O Estado de S. Paulo

Mantido o rumo pelo qual enveredou a campanha à Presidência da República o que se pode esperar dos próximos 18 dias até o primeiro turno e depois mais 20 antes da etapa final não é um clima emocionante típico das eleições bem disputadas, como pareceu quando Marina Silva entrou na competição.

Disputas pressupõem confrontações de argumentos, embates travados mediante a observância de determinadas regras. Pois o que temos no cenário desde que o governo decidiu mandar às favas os escrúpulos e fazer o diabo para tentar vencer as eleições não guarda a menor relação com troca de argumentos e muito menos com obediência a qualquer tipo de regra.

Por ora há uma perplexidade. Um pouco pela falta de cerimônia no uso de mentiras tão deslavadamente mentirosas, um pouco pelo fato de ainda haver um contingente disposto a acreditar nelas.

Daqui a pouco poderá haver um cansaço com a atuação de uma gente que mente e reiteradamente se desmente sem a preocupação de preservar a própria biografia ou respeitar a liturgia do cargo.

Além de candidata, Dilma Rousseff é presidente da República. Ao mesmo tempo em que ter certas prerrogativas que lhe dão vantagens inerentes ao posto, tem deveres decorrentes da função que a diferenciam dos demais concorrentes.

O grau irrepreensível "no que se refere" à compostura é um deles. O comedimento, a austeridade sempre invocada como uma de suas qualidades não autoriza sua chancela no uso de mentiras. Muito menos que se faça pessoalmente porta-voz delas. Embora não condiga com seu discurso de correção é o que vem fazendo.

A presidente está dizendo ao povo que governa que os adversários vão acabar com esse ou aquele benefício social, que vão tirar verbas da saúde e da educação, que empresários e banqueiros se regozijam com a fome do brasileiro, que o governo do PT combate como ninguém a corrupção.

Ainda que os adversários quisessem mesmo acabar com os benefícios, vender a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, reduzir os investimentos em saúde e educação. De onde a presidente tirou isso se nunca disseram nada parecido? Da cabeça de seus conselheiros que a mandaram repetir tudo isso.

E o combate à corrupção? Tema evitado a todo custo pelo governo. Se fosse tão espetacular como se diz agora no horário eleitoral, o assunto já estaria muito antes entre os "grandes feitos" e não deixado para ser incluído quando começa a se fechar o cerco a respeito dos esquemas na Petrobrás.

Isso dito quando se viram tantos escândalos serem abafados. Sem contar o fato de a antiga cúpula do partido estar quase toda na cadeia por força de um julgamento tido pelo PT como produto de um "tribunal de exceção".

Nessa nova fase até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que andava meio arisco se animou a aparecer exercendo seu conhecido dom de iludir - quem quer ser iludido, bem entendido. No ato público desta segunda-feira, no Rio, onde se pretendia "abraçar" a Petrobrás, mas que o público presente não foi suficiente para um aperto de mão, Lula voltou a atacar o financiamento privado de campanhas. Disse que deveria ser crime inafiançável.

No mesmo dia circulava um e-mail do PT a empresários apresentando, em nome de Dilma, "a oportunidade de contribuir financeiramente para a campanha da reeleição da presidenta da República", no que a correspondência qualificava como uma "ação empresarial cidadã".

É de se imaginar que o governo queime pontes confiando que, reeleito, poderá reconstruí-las pelo poder que a vitória tem de curar feridas. Agora pensa exclusivamente nas eleições. Por dever de responsabilidade conviria pensar que além de uma eleição há um País a ser governado e que não merece assistir a tão completa e definitiva escalada de demolição de valores.

Fernando Rodrigues: Haja Prozac

- Folha de S. Paulo

Ouvi uma frase sobre a corrida presidencial que me pareceu perfeita: "Em 2002, achei que o PT estava despreparado para assumir o governo. Mas eu não sabia que o PT estaria agora tão despreparado para deixar o governo".

É uma avaliação tão cruel quanto verdadeira. Revela também o grau de subdesenvolvimento institucional do país. É claro que não há risco de disrupção, mas parece um pouco incompatível com a regra democrática que um partido entre em desespero frenético apenas porque existe a possibilidade de sair do poder a partir de 1º de janeiro de 2015.

A aparição do ex-presidente Lula, suado e descabelado, fazendo uma manifestação em frente à Petrobras é a síntese do clima atual no PT. E nem está claro que Dilma Rousseff perderá a disputa contra Marina Silva (aliás, a presidente está à frente nas pesquisas). Mas em Brasília é possível respirar um certo pânico no ar.

Só na capital da República há mais de 20 mil cargos de confiança, todos ocupados pelo petismo e adjacências. Uma derrota de Dilma Rousseff obrigará essas pessoas e suas famílias a deixarem a cidade. Por baixo, serão de 40 a 50 mil desamparados. Voltarão a seus Estados para pedir trabalho na iniciativa privada ou em algum governo, prefeitura ou sindicato sob o comando do PT.

Serão milhares de dramas pessoais. Em Harvard, nos EUA, a universidade oferece um serviço gratuito de atendimento psicológico a estudantes estrangeiros que passam um tempo por lá e depois têm de retornar para seus países. Dilma poderia pensar no assunto. Uma "bolsa psicólogo" ajudaria a manter mais calmas as pessoas ao seu lado.

Como o problema é estrutural, uma vitória dilmista só atrasará a crise existencial dos petistas. Até porque, em 2018, 2022 ou em outro momento, o partido sairá do poder. Quando esse dia chegar, as farmácias de Brasília terão de reforçar os estoques de Prozac em suas prateleiras.

Luiz Carlos Azedo: A broacadabra

• O estoque de medidas do governo para agradar à população de baixa renda se esgotou, e as possibilidades que teria para acenar em direção à classe média foram descartadas

- Correio Braziliense

O saudoso ator Rafael de Carvalho (1919-1981) — O Bem amado, Gabriela e Saramadaia, nas telenovelas; Macunaíma, Fogo morto, Eles não usam black-tie e O homem que virou suco, no cinema — era um artista multimídia à frente do seu tempo, que escrevia folhetins (Quadra, quadrinha; Quadrilha, não!) e produzia seus próprios shows. Com a atriz e cantora Mary Brasil, sua companheira de estrada, fazia sucesso no circuito universitário nos anos 1970 por causa dos “causos” e das canções de protesto contra o regime militar. Ele era um menestrel da liberdade.

A lembrança do artista nordestino quase esquecido vem ao caso devido a seu embornal mágico de sertanejo, carinhosamente chamado de “broacadabra”, do qual surgiam toda sorte de objetos que pudessem surpreender o público e mudar o rumo do espetáculo. Com perdão para a comparação com o velho artista da pequena Caiçara, nome inusitado para uma pequena vila na caatinga da Paraíba, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem uma espécie de broacadabra para a economia, da qual surgem propostas sob medida para atender necessidades imediatas do governo em momentos de apuros.

Foi assim, no fim do governo Lula, com o Minha Casa, Minha Vida, menina dos olhos da estratégia anticíclica que garantiu a eleição de Dilma Rousseff em 2010 e, em consequência, sua própria permanência à frente do Ministério da Fazenda. A menos de 20 dias das eleições, Mantega tenta reaproximar a presidente Dilma Rousseff do setor industrial, um dos mais prejudicados pela atual política econômica, e salvar o próprio pescoço, pois sua demissão já foi anunciada.

A diferença agora é que o estoque de medidas para agradar à população de baixa renda se esgotou, e as possibilidades que teria para acenar em direção à classe média foram descartadas, como o fim do fator previdenciário; a redução das alíquotas de imposto de renda para quem ganha 3.572,44 até 4.463,81 (22,5%) e acima disso (27,5%); e a inclusão dos profissionais liberais — médicos e dentistas, por exemplo — no novo Simples, entre outras medidas.

Mantega anunciou que a redução da alíquota do IR no exterior, de 34% para 25%, passará a valer para toda a indústria, pois apenas construção, serviços e alimentos e bebidas tinham esse benefício. A alíquota do programa Reintegra, que concede crédito sobre o faturamento das exportações, será de 3% em 2015. Essas medidas foram anunciadas após reunião com grandes empresários, na sede da CNI, em São Paulo, na segunda-feira.

No caso da redução do IR para empresas que têm operação no exterior, o ministro disse que, após um estudo do governo, foi concluído que era possível ampliá-la para todas as companhias manufatureiras. Em maio, o governo irritara os empresários ao anunciar o benefício para apenas alguns setores. A redução no tributo começa a valer no mês que vem, na forma de crédito tributário de nove pontos percentuais, a serem descontados do IR de 34%.

Não deixa de ser uma ironia, pois as empresas passarão a pagar 25% de Imposto de Renda e exportar empregos, enquanto a classe média paga 27% e perde postos de trabalho, além de não ter sequer a tabela corrigida de acordo com a inflação. As medidas vão compor, assim, um mosaico de decisões erráticas do governo, que contribuíram para desorganizar a economia, como os subsídios à energia e aos combustíveis, às tarifas de pedágio e outros preços administrados pelo Executivo.

Crescimento zero
Mantega tenta recuperar a desgastada confiança no governo antes das eleições. O discurso da campanha de Dilma foi adotado pelo ministro, que faz terrorismo eleitoral ao anunciar que a oposição adotará medidas que prejudicarão o agronegócio e a indústria: “Temo uma redução do Plano Safra e um desmonte no BNDES, o que seria trágico”, disse ele. Para arrematar, acrescentou que “o resultado de uma política de choque seria jogar o país numa recessão e no desemprego”.

Enquanto o ministro da Fazenda faz mágicas com a sua broacadabra, o PIB zero é cada vez mais inevitável: segundo a OCDE, que reúne os países desenvolvidos, reduziu a previsão do PIB do Brasil para 0,3% em 2014, um dos piores desempenhos entre os maiores mercados do mundo. Mesmo saindo da recessão, o Brasil terá um ano de 2015 com um crescimento medíocre e apenas em 2016 é que haverá retomada. Já o Boletim Focus, do Banco Central, jogou mais uma vez para baixo as projeções de crescimento de 2014 e 2015. A taxa prevista para este ano, em uma semana, recuou de 0,48% para 0 33%%. Foi a 16ª semana consecutiva de redução.

Rosângela Bittar: O marketing do pescoço da mãe

• Tem gente que se prepara para tomar a sigla de Lula

- Valor Econômico

Se não conseguir emplacar na urna a propaganda segundo a qual mudança só haverá com o PT, malabarismo retórico cuja eficácia será conhecida em outubro, o Partido dos Trabalhadores perderá a eleição presidencial de 2014. E, se perder, muitas consequências dramáticas têm sido cogitadas internamente. Entre as mais difíceis de engolir, por exemplo, estão ficar sem os 25 mil cargos DAS, o controle das estatais, fundos de pensão, bancos públicos e demais guichês que alimentam os diferentes caixas administrados pelo partido.

Porém, consequência das consequências, preveem analistas da legenda, é que "haverá um acerto de contas no PT". Tudo o que está ocorrendo na campanha petista, os exageros, insultos e infâmias, além das mentiras, que agridem eleitores informados e amedrontam os desinformados, teria o objetivo de evitar a possibilidade de ocorrer esse juízo final.

O PT faz, simplesmente, o que Lula acusou Leonel Brizola de fazer na eleição que disputaram juntos, cada um por seu partido: "E o Brizola? Esse pisa no pescoço da mãe para se eleger Presidente da República. E minha mãezinha já estava morta"... contou pela enésima vez o próprio Brizola, em discurso proferido há dez anos no encontro nacional do PDT, ao falar das relações de seu partido com o então iniciante governo Lula à época em que ambos disputaram a Presidência e perderam.

Lula conhece bem a metáfora, foi ele quem a inventou, e não são poucos os que atribuem a aprovação da campanha de reconhecida violência, preconceito, manipulação, a uma junção das maquinações de Lula com a índole de Dilma.

Ainda mais que parece não haver material para uma campanha limpa. Os programas de governo preparados especialmente para o horário eleitoral, como a entrega dos diplomas do Pronatec e a atuação de médicos cubanos do Mais Médicos, não têm tido força suficiente numa disputa de mudança que passou a ser conduzida pela emoção. Viraram encheção de linguiça para candidato de governo sem resultados da gestão com longo tempo de propaganda gratuita na TV e no Rádio. Quando não se tem o que vender, afirmam especialistas, é comum propagar-se o medo. "O medo é para fazer o eleitor votar errado com relação ao que votaria se não estivesse com medo", explica um especialista nesse tipo de campanha. É, contraditoriamente, uma campanha da não mudança, provando que só a opção para ficar tudo como está será capaz de mudar. Dessa forma mistificadora fecha-se o círculo, vicioso e viciado.

Por que resolveu o PT partir para o marketing do pescoço da mãe? Além de tudo das razões anteriores, para evitar a consequência que também tira sono do lulopetismo, o acerto de contas. Que consiste desde as providências mais drásticas às mais óbvias.

Já tem gente no partido pensando até tirar a sigla de Lula, requerer o controle da marca. Recuperá-la, sob o argumento de uso indevido da legenda que levou muitos petistas à frustração.

Numa divisão não por facções formais e nominadas oficialmente, mas por afinidades, há pelo menos um quinto do partido, cerca de 150 mil filiados, que no momento guardam providencial retraimento. Em silêncio, ou apoiam adversários, ou não apoiam ninguém, não saem em campanha, esperam para ver em que tudo isto vai dar.

Esse grupo não gosta do está vendo e ouvindo. Há petistas que ainda se veem como uma organização de esquerda pagando uma campanha fascista, em que não só eles, como a opinião pública que os acompanha, ficaram de fora.

O público modesto presente no ato, liderado por Lula, de suposta defesa da Petrobras com relação ao discurso da candidata adversária e não à avalanche de denúncias de corrupção na estatal, não é nem de longe o público de Lula em qualquer tempo. Há um imenso pé atrás no partido.

E em pelo menos dois discursos recentes Lula já começou a justificar suas escolhas de candidatos, como Dilma, Fernando Haddad, Alexandre Padilha, em lugar de petistas genuínos. Veem-se, nas suas, palavras para dentro. Uma explicação antecipada àquele temido momento da verdade. Sabido, o ex-presidente já teria começado a reorganizar seu discurso.

A propaganda, nesse modelo, reflete, também, um governo pífio. Nos quase três meses de campanha oficial o governo funcionou como uma loja de mágicas, dando a impressão de movimento e ação. Sob o comando de Aloizio Mercadante, ora um ministro ofereceu uma medida para constar do papel, ora outro escondeu dados científicos que poderiam ser positivos para adversários. Política econômica à parte - há três rodadas de anúncios de medidas pelo ministro Guido Mantega feitas com o claro objetivo de demonstrar que alguém está trabalhando - os Ministérios da Educação e da Saúde, verdadeiras plataformas de lançamento dos programas mais reprisados na temporada, estão ativos, mas na campanha eleitoral. A contribuição inestimável do MEC nesse período foi segurar, por determinação da Casa Civil, os dados do Ideb, o índice de qualidade do ensino básico, em que o adversário governo de Minas Gerais tinha se saído bem tanto nas séries iniciais como nas finais. Quanto ao da Saúde, área que não supera nunca sua triste sina, de vez em quando lhe determinam falar sobre alguma coisa para provar que respira. A última foi sobre o ebola.

Em que direção estão caminhando não tem a menor importância. Esperam distrair o público com a luta do dragão da maldade contra o santo guerreiro.

Decisões heterodoxas começam a aparecer no Supremo Tribunal Federal (STF), agora sob nova direção. Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que votaram o caso Arruda no TSE, impugnando sua candidatura ao governo do Distrito Federal, não poderiam relatar a mesma ação, em grau de recurso, no STF. O presidente Ricardo Lewandovsky designou a ministra Rosa Weber para a tarefa. Diante da lembrança de que ela votara no TSE, como outros três cujo impedimento ele aceitou, não deveria relatar o mesmo caso no Supremo. O presidente não quis conversa, determinou que pegasse o caso e ponto final. Ela pegou.

Elio Gaspari: Lula requenta o truque de 2006

• Nosso Guia quer confundir a Petrobras com a gestão docomissariado petista com que aparelhou a empresa

- O Globo

Lula fez uma involuntária defesa do voto útil, aquele que vai para qualquer lugar, desde que o PT vá embora. Foi para a frente do prédio da Petrobras e disse o seguinte:

"Já houve três pedidos de CPI só na Petrobras. Eu tenho a impressão de que essas pessoas pedem CPI para, depois, os empresários correrem atrás delas e achacarem esses empresários para ganhar dinheiro. (...) Se alguém roubou, esse alguém tem mais é que ser investigado, ser julgado. Se for culpado, tem que ir para a cadeia."

A Petrobras petista apareceu em várias CPIs. A primeira, de 2005, foi a do mensalão. Duas outras foram específicas e, com a ajuda do comissariado, deram em nada. Se Nosso Guia acha (e tem motivos para isso) que, incentivando-as, há "pessoas" achacando empresários que correm "atrás delas", não se conhece uma só fala de petista denunciando achacados ou achacadores. O relator da comissão que está funcionando é o petista Marco Maia.

O primeiro comissário apanhado em malfeitorias relacionadas com a Petrobras foi o secretário-geral do PT, Silvio Pereira. "Silvinho" fez um acordo com Ministério Público e trocou o risco de uma condenação por 750 horas de trabalho comunitário. Ele ganhara um reles Land Rover de um fornecedor da Petrobras. Nem Lula nem o PT condenaram-no publicamente. Se o tivessem feito, teriam emitido um sinal. Afinal, dissera o seguinte: "Há cem Marcos Valérios por trás do Marcos Valério." Ele está na cadeia. Salvo a bancada da Papuda, os demais estão soltos.

Em 2009, quando foi instalada a primeira CPI para tratar exclusivamente da Petrobras, o comissariado disse que a iniciativa tentava tisnar a imagem da empresa. Resultou que ela tisnou a imagem do instituto da CPI e os petrocomissários continuaram nos seus afazeres. Paulo Roberto Costa estava na diretoria da Petrobras desde 2004. Em oito anos, amealhou pelo menos US$ 23 milhões.

A CPI de hoje é abrilhantada também pelos petistas Humberto Costa, José Pimentel e Sibá Machado. Nenhum deles, nem Marco Maia, deve vestir a carapuça da fala de Lula, mas jamais apontaram um achacador. "Paulinho" foi preso em abril pela Polícia Federal e em seu escritório foram recolhidas abundantes provas de seus malfeitos. Ele prestou um depoimento à CPI em junho e o senador Humberto Costa considerou-o "satisfatório". "Paulinho" disse o seguinte: "A Petrobras não é uma empresa bandida nem tem bandidos em seus quadros." Tinha pelo menos um, hoje confesso: ele próprio.

Nessa comissão, como na anterior, a bancada governista não se deu conta do risco que corria. Descobriu-o há poucas semanas, quando "Paulinho" começou a colaborar com a Viúva. De saída, devolverá os US$ 23 milhões guardados em sua conta suíça, revelação ocorrida no dia seguinte ao seu depoimento. Nessa faxina não houve a colaboração do PT.

Durante a campanha eleitoral de 2006, o comissariado encurralou o tucanato, acusando-o de ter tentado privatizar a Petrobras. Era mentira, mas deu certo. Passados oito anos, Lula requentou o truque, mas há uma diferença: uma pessoa de boa-fé podia acreditar que os tucanos quisessem privatizar a Petrobras, mas fica-lhe difícil achar que falar em petrorroubalheiras possa prejudicar a empresa.

Elio Gaspari é jornalista

O atirador da presidente: O Estado de S. Paulo - Editorial

Causando estragos a torto e a direito na campanha presidencial, a entrada em cena de Marina Silva como candidata do PSB e a sua imediata disparada nas pesquisas de intenção de voto reduziram as chances do tucano Aécio Neves de ser o contendor da presidente Dilma Rousseff no segundo turno e fizeram descarrilar a estratégia petista de campanha. Tendo se preparado, antes da tragédia que matou o pernambucano Eduardo Campos, para soltar os cachorros em cima do senador mineiro - tornando a enveredar pelo caminho seguido pelo partido em 2006 contra Geraldo Alckmin e em 2010 contra José Serra -, o comando da operação Dilma+4 trabalhava, não obstante, com a hipótese realista de que, na segunda volta, ele aglutinaria com força total o sentimento de rejeição à herdeira de Lula, agravado pela convicção de que, ao cabo de 12 anos, o PT no poder já deu o que tinha para dar.

Com o quadro eleitoral de ponta-cabeça, os condutores da campanha dilmista parecem ter chegado à conclusão de que só lhes restava uma alternativa para enfrentar a reviravolta - transformar desde logo a disputa em um segundo turno. A nova tática solaparia os ganhos obtidos por Marina, a ponto de fazê-la perder a parada de 5 de outubro, com o que ela começaria debilitada o embate para o verdadeiro tira-teima de três semanas adiante, depois de lhe terem servido o pão que o diabo amassou. Na prática, a mudança significaria duas coisas - ou duas faces de uma coisa só: antecipar tanto o início da "campanha negativa", a temporada de agressões à rival, como a subida aos palanques, dia sim, o outro também, do ex-presidente patrono de Dilma. Com a esperteza adicional de que ele e não mais a sua afilhada é quem apertaria o gatilho para "desconstruir" a imagem de Marina.

Uma segunda novidade reforçaria o plano de não deixar para amanhã as baixarias que podem ser cometidas hoje. Trata-se das revelações atribuídas ao ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, nos depoimentos que tinha se oferecido a dar ao Ministério Público e à Polícia Federal (PF) para ver reduzidas ou anuladas as penas a que está sujeito pelos crimes cometidos na estatal, em conexão com o tráfico de divisas do cambista seu parceiro Alberto Youssef. A sociedade foi desbaratada pela Operação Lava Jato, da PF. Na sequência de suas "delações premiadas", Costa teria citado mais de 30 beneficiários do esquema, entre eles o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, o do Senado, Renan Calheiros, e pencas de outros políticos também alinhados com Dilma. Ela sentiu o golpe e perdeu o prumo. Tentando abrigar-se da tormenta, alegou, em um assomo de cinismo, que "não tinha a menor ideia de que isso ocorria dentro da empresa".

Mais uma missão para Lula. Secar o escândalo torrencial, fazendo um cavalo de batalha com o fato de o programa de Marina citar somente uma vez o pré-sal, enquanto valoriza outras fontes de energia. (Nas imagens da propaganda dilmista, a posição da adversária literalmente tira a comida da mesa dos brasileiros.) E eis que anteontem o ex-presidente, enfiado em um macacão laranja da Petrobrás, comandou um ato de campanha travestido de manifestação sindicalista de solidariedade à empresa, diante da sua sede no centro do Rio. O palanqueiro se desdobrou. Ora equiparou as denúncias de corrupção na estatal a um "erro qualquer", ora disse que a CPI da Petrobrás serve para "achacar empresários", ora ainda se pôs a dar lições a Marina. Ela deveria proibir os seus economistas de falar, porque "um fala mais bobagem que o outro", e deveria saber que "se tem cargo que você não pode terceirizar é o de presidente da República".

A tarefa de fazer terrorismo eleitoral ele terceirizou para um veterano da violência, o líder do MST, João Pedro Stédile, de quem Dilma mantém prudente distância. O ferrabrás ameaçou infernizar um eventual governo da ex-ministra que amalgamava a causa ecológica com a dos sem-terra. "A dona Marina que invente de colocar a mão na Petrobrás", trovejou, "que voltaremos aqui todos os dias." Resta ver se a ideia de pôr Lula a bater já agora na candidata não se voltará contra Dilma quando ela mais precisará de eleitores.

Difícil tentativa de agradar o empresariado: O Globo - Editorial

• Baixo crescimento, inflação, desequilíbrio externo e nas contas públicas são problemas os quais empresários não confiam que possam ser resolvidos por Dilma

O governo acaba de tomar mais uma decisão tópica na tentativa de amenizar as dificuldades do setor produtivo, pressionado por aumento de custos salariais, uma taxa de câmbio programada para combater a inflação — portanto, valorizada — e as dores de cabeça de sempre com a infraestrutura e a burocracia. Apenas para citar algumas agruras do empresariado.

De aviso prévio em contagem regressiva, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a redução do Imposto de Renda, de 34% para 25%, sobre o lucro de subsidiárias de grupos nacionais no exterior. Visa a mitigar uma das grandes dificuldades enfrentadas por pessoas jurídicas e físicas, a carga tributária.

Na realidade, o objetivo da candidata à reeleição é, a menos de um mês do primeiro turno das eleições, dar um aceno aos empresários, já há algum tempo descrentes da capacidade de o governo Dilma Rousseff corrigir os erros cometidos na política econômica. Daí sua cautela, expressa na baixa taxa de investimento na economia — 17% do PIB, aproximadamente, quando são necessários cerca de 25% para o país crescer numa velocidade de cruzeiro de 4% a 4,5% ao ano, o ideal.

O aceno amistoso é inútil, mais ainda neste momento em que fica cada vez mais evidente que o PT deverá enfrentar a eleição presidencial mais difícil desde 1998, quando Lula foi derrotado pela segunda vez consecutiva por Fernando Henrique (PSDB).

Já era tempo de o Planalto ter percebido que ações dirigistas, tópicas, são inócuas. Ao ampliar a desoneração da folha de pagamentos, parecia que o governo havia se curvado ao bom senso. Mas não.

A história deste governo Dilma é a história do desdobramento de uma política econômica "desenvolvimentista", cujas fundações começaram a ser lançadas na fase final do primeiro governo Lula, quando, em 2005, José Dirceu deixou a Casa Civil, devido ao mensalão, sendo substituído por Dilma. O afastamento da Fazenda de Antonio Palocci, no ano seguinte, colocou neste ministério Guido Mantega, o executor disciplinado de ideias da economista Dilma.

Eleita presidente, ela teve espaço livre para arriscar o tal "novo marco macroeconômico", o suprassumo do intervencionismo: juros no chão, câmbio desvalorizado e pé no acelerador dos gastos. Tudo na base do voluntarismo, nos atos de vontade de quem manda.

O poder, no entanto, não é suficiente para mudar a realidade, mostra de maneira copiosa a História. Foi assim que o país chegou à incômoda mistura de virtual estagnação com inflação elevada e resistente, além de contas externas no vermelho e as internas caminhando na mesma direção, tanto que piruetas contábeis são realizadas para maquiar a preocupante realidade. Não será um alívio tributário isolado que retocará este cenário.

Mariana Aydar - Teu amor é falso

Pablo Neruda: Thiago y Santiago

Thiago, A Santiago, como un vago mago,
has encantado en canto y poesía.
Sin San, has hecho de Santiago, Thiago,
un volantin de tu pajarería.

Al Este y al Oeste de Santiago
diste el Norte y el sur de tu alegría.
Muchos dones nos diste, un solo estrago:
llevaste el corazón de Anamaría.

Te perdonamos porque com tu bella,
de rosa en rosa y de estrella en estrella,
te llamará el Brasil a su desfile.

Te irás, hermano, com la que elegistes.
Tendrás razón, pero estaremos tristes,
que hará Santiago sin Thiago de Chile.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Esse discurso de que o Estado melhorou a sua vida é uma grande enganação. Ninguém acha que foi o governo que melhorou a sua vida. A gente escuta muito um discurso de "olha, nós melhoramos a sua vida, nós tiramos milhões de brasileiros dessa situação para aquela". Nada disso, quem melhora a vida de cada um é quem acorda cedo, rala, chacoalha no transporte público, estuda e trabalha. Essa é a minha visão, muito diferente de um modelo que está aí governando o Brasil.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República. O Globo, 15 de setembro de 2014.

Dilma diz que proposta de reduzir ministérios é 'um escândalo'

• No Rio, presidente afirma que só fará reforma política com plebiscito

Juliana Castro – O Globo

Em discurso ontem na Central Única das Favelas (Cufa), na Zona Norte do Rio, a presidente Dilma Rousseff ironizou a proposta de seus principais adversários, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), de reduzir o número de ministérios - atualmente são 39. Na entrevista coletiva, após o evento, a presidente disse ser um escândalo querer acabar com algumas pastas:

-Acho um verdadeiro escândalo querer acabar. Criei dois ministérios: o da Aviação Civil criei pela consciência absoluta de que havia uma verdadeira revolução no transporte por aviões no Brasil. Para se ter uma ideia, em 2003 eram 33 milhões de passageiros por ano e, agora, são 111 milhões de passageiros por ano. A ampliação de aeroporto no Brasil é uma exigência desse processo de inclusão social - disse.

No discurso para uma plateia de convidados da Cufa, para o lançamento do livro "Um país chamado favela", de Renato Meirelles e Celso Athayde, e composta em maioria por jovens, a presidente já havia falado sobre a questão:

- Tem gente, inclusive, querendo reduzir ministérios. Um deles é o da Igualdade Racial, o outro é o que luta em defesa da mulher. O outro é de Direitos Humanos. E tem um ministério que eu criei e eles estão querendo acabar, que é o da Micro e Pequena Empresa .

Sem citar Marina, a presidente usou na entrevista uma expressão da candidata do PSB para criticá-la:

- Não acredito no governo dos bons. Acredito num governo com legitimidade do voto popular.

Dilma criticou Marina em outro momento da entrevista, ao comentar a declaração de Marina, de que o PT colocou o ex-diretor Paulo Roberto Costa para assaltar os cofres da Petrobras:

- Aquilo é uma fala que não é de muito alto nível. Lamento aquela fala. Em qualquer empresa você pode ter pessoas que fazem malfeitos. O que você tem que fazer é investigar.

Ao falar sobre reforma política, Dilma afirmou que só a fará com uma consulta popular:

- Não faremos reforma política sem plebiscito. Eu vi o Lula tentar três vezes, fiz um grande movimento depois das manifestações, conversei com STF e o Congresso, não consegui passar a reforma.

Acompanhada do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), a presidente visitou as instalações da Cufa, assistiu a uma apresentação de capoeira e dançou o "passinho". A assessoria de Dilma, informou que essa era uma agenda mista, em que ela participou como presidente, mas, ao final, deu entrevista como candidata. Apesar disso, cabos eleitorais balançavam bandeiras de Dilma e Pezão do lado de fora.

Marina é alvo em ato de apoio ao pré-sal

• Com presença de Lula e Stédile, evento organizado por PT e sindicatos serviu para atacar candidata do PSB

Cássio Bruno e Leticia Fernandes – O Globo

A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, foi alvo principal de ato organizado ontem por centrais sindicais ligadas ao PT, no Rio, que contou com a presença do ex-presidente Lula e do coordenador do MST, João Pedro Stédile. Cerca de mil de servidores de estaleiros fluminenses e militantes petistas andaram da Cinelândia, no Centro da cidade, à sede da Petrobras, para defender a empresa e a exploração de petróleo em camadas profundas.

Marina foi o alvo principal de Lula no discurso. O ex-presidente acusou a antiga companheira de partido e ministra do Meio Ambiente de seu governo de estar "terceirizando" o cargo de presidente.

- Se tem uma coisa que você não pode terceirizar é o cargo de presidente da República. Ou você assume ou não assume. Esse negócio de pedir para cada um falar um pedacinho das coisas que estão acontecendo neste país não dá certo. Afinal, este país não é uma colcha de retalhos que pode ser subdividida. Eu, se fosse a candidata que faz oposição a Dilma, proibiria seus economistas de falar, porque cada um fala mais bobagem que o outro. E o que pode acontecer é que o programa de governo pode ser feito a 500 mãos, menos as dela (de Marina) - afirmou Lula.

"Clube de amigos"
No momento mais duro da fala do petista contra a candidata, ele disse que escolheu Dilma como sua sucessora, e não um quadro petista historicamente ligado a ele, porque Presidência da República não é um "clube de amigos":

- Alguns devem pensar: mas por que o Lula foi escolher exatamente a Dilma e não alguém ligado a ele historicamente? Porque eu não via a Presidência da República como um clube de amigos, eu via como uma coisa muito séria. Para governar este país é preciso que a gente tenha pulso.

A ofensiva do PT contra Marina ocorreu depois que a ex-senadora apareceu como a maior rival de Dilma na disputa pela Presidência. Os petistas aproveitaram as declarações de Marina de que o petróleo é um "mal necessário" e de que daria mais importância, caso eleita, ao uso de fontes alternativas de energia.

O ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, que discursou antes de Lula, criticou a abordagem do programa de governo de Marina. Dutra evitou, no entanto, fazer ataques pessoais à ex-senadora:

- Fui colega por oito anos da senadora Marina Silva e nunca vou atacá-la pessoalmente, mas, em 242 páginas do programa de governo da candidata, o petróleo é tratado como um mal necessário, e não é citado nem uma vez o pré-sal.

MST ameaça protestos diários
Outros discursos do ato fizeram menções negativas a Marina, que foi atacada até em um adesivo distribuído no local, com os dizeres "Fora Marina e Leva o Itaú Junto", em referência à presença de Neca Setúbal, herdeira do banco, no comando da campanha da candidata do PSB. Membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile disse que a ex-senadora do PSB "não tem direito de julgar o pré-sal".

- Viemos aqui dizer para dona Marina que ela não tem direito nenhum de julgar o pré-sal, porque o pré-sal é do povo. E ela que invente de botar a mão na Petrobras que nós voltaremos aqui todos os dias.

O protagonismo do petróleo na eleição não é à toa. Levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) estima que, só no estado, 60% de todos os investimentos previstos até 2016 virão da receita do pré-sal. No total, serão R$ 143 bilhões. Esse montante engloba investimentos em toda a cadeia produtiva, como construções de navios e plataformas, máquinas e equipamentos e serviços especializados, com grande potencial de geração de empregos.

Para Marcus Dezemone, professor de História da Uerj, o debate acalorado em torno da estatal pode ser explicado porque a empresa sempre teve ativismo da população:

- A centralidade do debate estar na Petrobras já demonstra a importância da empresa. É uma estatal que teve a presença da população durante o seu desenvolvimento, desde sua criação, passando por episódios como a campanha do "Petróleo é nosso". O entendimento de que o pré-sal é uma riqueza que pode mudar o Brasil atrai diferentes segmentos sociais e está sendo usado por isso.

Dualidade política
Doutora em Ciência Política pela UnB, Maria Souto constata uma dualidade no uso político da estatal:

- Positivamente ou prejudicialmente, a Petrobras é usada em campanhas políticas. Ao mesmo tempo em que o governo sofre críticas por um suposto esquema de corrupção na estatal, ele a utiliza para enaltecer os benefícios que a empresa pode trazer. O pré-sal é a forma de o governo expressar que sua gestão é sólida frente ao que considera ser um risco.

Lula, vestindo um jaleco laranja semelhante ao da Petrobras, disse não ter vergonha de usar a camisa da estatal:

- Este ato é para comemorar o aniversário da Petrobras, que, no dia 3 de outubro, completará 63 anos. Estamos aqui em defesa da companhia que vem sofrendo diversos ataques.

Lula defendeu a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, e disse que quem errou tem que pagar.

- Os milhares de trabalhadores dessa empresa não podem ser confundidos com alguém que possa ter cometido um erro. Se alguém praticou erro, se roubou, tem mais é que ser investigado. Se for culpado, tem que ir para a cadeia. (Colaborou Raphael Kapa)