Gabriel Garcia – Blog do Noblat
Ninguém governa sem o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). É o que diz a cientista política e historiadora, Lucia Hippolito, que prevê uma aliança da candidata à presidência da República, a ex-ministra Marina Silva (PSB), com o partido.
Para Lucia, Marina, se eleita, precisará conversar com a legenda, que se compôs com os governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Lucia considera criminosa a adoção de mentiras, como o boato sobre o fim do Bolsa Família caso Marina vença, disseminado pela campanha da candidata à reeleição, Dilma.
Especialista em eleições, ela acredita que o candidato Aécio Neves (PSDB) se pôs a serviço do PT ao focar suas críticas em Marina. Mas acha promissor o futuro do senador. Em entrevista ao blog, apontou semelhanças entre Lula e Marina.
Acostumada com os burburinhos da política, Lucia saiu de cena há dois anos, quando em abril de 2012 se preparava para voltar ao Brasil após uma temporada em Paris com o marido, Edgar Flexa Ribeiro.
Ao tentar se levantar da cama, notou que as pernas não se mexiam. Descobriria o motivo no dia seguinte: foi diagnosticada com uma doença autoimune que leva à perda da habilidade de grupos musculares, a síndrome de Guillain-Barré.
O que você destacaria de diferente na eleição presidencial deste ano?
O trauma da morte do Eduardo Campos, o que não é comum. Embora não seja raro na história brasileira acidente com candidatos, nunca tivemos um caso de candidato a presidente da República que morresse em plena campanha. Isso é quadro completamente diferente.
A Dilma comparou a independência do Banco Central, proposta de Marina, à falta de comida. Tal medida tem influência no eleitorado?
Tem influência, sim. Boato é uma coisa muito forte. A mentira repetida muitas vezes acaba pegando. Para as pessoas que dependem do Bolsa Família, você falar que alguém vai acabar com o Bolsa Família, evidente que cola. É criminoso. É a implantação da mentira para derrotar o adversário.
O PMDB aparece com chance de governar metade dos estados. Isso não faz com que Marina seja obrigada a se aliar ao partido, apesar de prometer levá-lo para a oposição se eleita?
Ninguém governa o Brasil sem o PMDB. O partido está fazendo o que sabe fazer de melhor: voltar para o interior, onde ele retira sua força. Os dois maiores partidos brasileiros têm lógica diferente. O PMDB nasce do interior para a capital. O PT é o único partido que é organizado nacionalmente. A direção dá uma ordem e o partido cumpre no país inteiro. Temos raríssimas dissidências, como no caso do Rio de Janeiro, onde o candidato ao governo, Lindbergh Faria, se aliou com o deputado Romário (PSB), que disputa o Senado.
O que Marina precisa fazer para construir uma base consistente no Congresso?
Ela vai ter que se aliar. Essa história de que vai escolher os melhores não existe. Você governa com o que tem. Ela vai ter que fazer aliança, vai ter que se aliar. Não será tão simples, não.
Considerado um político promissor, o senador Aécio Neves praticamente sepulta as chances de concorrer novamente às eleições presidenciais em 2018?
O Aécio comprou a pauta do PT. Ele se colocou abaixo do PT para responder ao PT. O PSDB é um partido que tem quadros, mas com pouca militância. O Aécio tem uma carreira política consolidada. Ele pode ser candidato em 2018 ou 2022. Ele tem idade, perspectiva e realizações. Tem futuro.
Já que você falou de futuro, o que será do PSDB caso perca a quarta eleição seguida para presidente?
O partido precisa rever seus fundamentos, sua militância e sua forma de fazer política. Os tucanos têm uma forma de fazer política muito curiosa. Eles tentam convencer com argumentos. Se você não concorda, eles repetem porque acham que não foram escutados. Eles estão certos de que os argumentos deles são bons. Não se preocupam em buscar outros.
Há semelhança entre a campanha de Marina e a de Lula quando foi eleito? Quais?
Tem muita semelhança. Tem semelhança na trajetória. Eles são dois vitoriosos, conseguiram vencer as adversidades. A Marina foi alfabetizada aos 16 anos. O Lula foi líder sindical muito cedo. Ambos têm trajetória muito parecida.
Qual impacto das denúncias de corrupção que tomaram conta do governo nas eleições?
Depende muito se elas descem até a população. Às vezes, as denúncias de corrupção ficam muito na nuvem, ficam muito na espuma. Se as denúncias chegarem ao eleitor, seguramente terão efeito na candidatura de Dilma.
Como você vê a mudança de opinião da Marina em relação ao agronegócio, muito demonizado por ela durante anos?
As pessoas vão mudando de opinião conforme o vento vai tocando. É preciso se curvar à realidade. O agronegócio brasileiro é quem está salvando o país da crise, é quem sustenta o país. Não adianta ficar contra. Devemos sempre ficar contra a depredação, a devastação. Mas temos que aplaudir o agronegócio sério. E a Marina também.
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