• Tem gente que se prepara para tomar a sigla de Lula
- Valor Econômico
Se não conseguir emplacar na urna a propaganda segundo a qual mudança só haverá com o PT, malabarismo retórico cuja eficácia será conhecida em outubro, o Partido dos Trabalhadores perderá a eleição presidencial de 2014. E, se perder, muitas consequências dramáticas têm sido cogitadas internamente. Entre as mais difíceis de engolir, por exemplo, estão ficar sem os 25 mil cargos DAS, o controle das estatais, fundos de pensão, bancos públicos e demais guichês que alimentam os diferentes caixas administrados pelo partido.
Porém, consequência das consequências, preveem analistas da legenda, é que "haverá um acerto de contas no PT". Tudo o que está ocorrendo na campanha petista, os exageros, insultos e infâmias, além das mentiras, que agridem eleitores informados e amedrontam os desinformados, teria o objetivo de evitar a possibilidade de ocorrer esse juízo final.
O PT faz, simplesmente, o que Lula acusou Leonel Brizola de fazer na eleição que disputaram juntos, cada um por seu partido: "E o Brizola? Esse pisa no pescoço da mãe para se eleger Presidente da República. E minha mãezinha já estava morta"... contou pela enésima vez o próprio Brizola, em discurso proferido há dez anos no encontro nacional do PDT, ao falar das relações de seu partido com o então iniciante governo Lula à época em que ambos disputaram a Presidência e perderam.
Lula conhece bem a metáfora, foi ele quem a inventou, e não são poucos os que atribuem a aprovação da campanha de reconhecida violência, preconceito, manipulação, a uma junção das maquinações de Lula com a índole de Dilma.
Ainda mais que parece não haver material para uma campanha limpa. Os programas de governo preparados especialmente para o horário eleitoral, como a entrega dos diplomas do Pronatec e a atuação de médicos cubanos do Mais Médicos, não têm tido força suficiente numa disputa de mudança que passou a ser conduzida pela emoção. Viraram encheção de linguiça para candidato de governo sem resultados da gestão com longo tempo de propaganda gratuita na TV e no Rádio. Quando não se tem o que vender, afirmam especialistas, é comum propagar-se o medo. "O medo é para fazer o eleitor votar errado com relação ao que votaria se não estivesse com medo", explica um especialista nesse tipo de campanha. É, contraditoriamente, uma campanha da não mudança, provando que só a opção para ficar tudo como está será capaz de mudar. Dessa forma mistificadora fecha-se o círculo, vicioso e viciado.
Por que resolveu o PT partir para o marketing do pescoço da mãe? Além de tudo das razões anteriores, para evitar a consequência que também tira sono do lulopetismo, o acerto de contas. Que consiste desde as providências mais drásticas às mais óbvias.
Já tem gente no partido pensando até tirar a sigla de Lula, requerer o controle da marca. Recuperá-la, sob o argumento de uso indevido da legenda que levou muitos petistas à frustração.
Numa divisão não por facções formais e nominadas oficialmente, mas por afinidades, há pelo menos um quinto do partido, cerca de 150 mil filiados, que no momento guardam providencial retraimento. Em silêncio, ou apoiam adversários, ou não apoiam ninguém, não saem em campanha, esperam para ver em que tudo isto vai dar.
Esse grupo não gosta do está vendo e ouvindo. Há petistas que ainda se veem como uma organização de esquerda pagando uma campanha fascista, em que não só eles, como a opinião pública que os acompanha, ficaram de fora.
O público modesto presente no ato, liderado por Lula, de suposta defesa da Petrobras com relação ao discurso da candidata adversária e não à avalanche de denúncias de corrupção na estatal, não é nem de longe o público de Lula em qualquer tempo. Há um imenso pé atrás no partido.
E em pelo menos dois discursos recentes Lula já começou a justificar suas escolhas de candidatos, como Dilma, Fernando Haddad, Alexandre Padilha, em lugar de petistas genuínos. Veem-se, nas suas, palavras para dentro. Uma explicação antecipada àquele temido momento da verdade. Sabido, o ex-presidente já teria começado a reorganizar seu discurso.
A propaganda, nesse modelo, reflete, também, um governo pífio. Nos quase três meses de campanha oficial o governo funcionou como uma loja de mágicas, dando a impressão de movimento e ação. Sob o comando de Aloizio Mercadante, ora um ministro ofereceu uma medida para constar do papel, ora outro escondeu dados científicos que poderiam ser positivos para adversários. Política econômica à parte - há três rodadas de anúncios de medidas pelo ministro Guido Mantega feitas com o claro objetivo de demonstrar que alguém está trabalhando - os Ministérios da Educação e da Saúde, verdadeiras plataformas de lançamento dos programas mais reprisados na temporada, estão ativos, mas na campanha eleitoral. A contribuição inestimável do MEC nesse período foi segurar, por determinação da Casa Civil, os dados do Ideb, o índice de qualidade do ensino básico, em que o adversário governo de Minas Gerais tinha se saído bem tanto nas séries iniciais como nas finais. Quanto ao da Saúde, área que não supera nunca sua triste sina, de vez em quando lhe determinam falar sobre alguma coisa para provar que respira. A última foi sobre o ebola.
Em que direção estão caminhando não tem a menor importância. Esperam distrair o público com a luta do dragão da maldade contra o santo guerreiro.
Decisões heterodoxas começam a aparecer no Supremo Tribunal Federal (STF), agora sob nova direção. Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que votaram o caso Arruda no TSE, impugnando sua candidatura ao governo do Distrito Federal, não poderiam relatar a mesma ação, em grau de recurso, no STF. O presidente Ricardo Lewandovsky designou a ministra Rosa Weber para a tarefa. Diante da lembrança de que ela votara no TSE, como outros três cujo impedimento ele aceitou, não deveria relatar o mesmo caso no Supremo. O presidente não quis conversa, determinou que pegasse o caso e ponto final. Ela pegou.
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