• Com presença de Lula e Stédile, evento organizado por PT e sindicatos serviu para atacar candidata do PSB
Cássio Bruno e Leticia Fernandes – O Globo
A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, foi alvo principal de ato organizado ontem por centrais sindicais ligadas ao PT, no Rio, que contou com a presença do ex-presidente Lula e do coordenador do MST, João Pedro Stédile. Cerca de mil de servidores de estaleiros fluminenses e militantes petistas andaram da Cinelândia, no Centro da cidade, à sede da Petrobras, para defender a empresa e a exploração de petróleo em camadas profundas.
Marina foi o alvo principal de Lula no discurso. O ex-presidente acusou a antiga companheira de partido e ministra do Meio Ambiente de seu governo de estar "terceirizando" o cargo de presidente.
- Se tem uma coisa que você não pode terceirizar é o cargo de presidente da República. Ou você assume ou não assume. Esse negócio de pedir para cada um falar um pedacinho das coisas que estão acontecendo neste país não dá certo. Afinal, este país não é uma colcha de retalhos que pode ser subdividida. Eu, se fosse a candidata que faz oposição a Dilma, proibiria seus economistas de falar, porque cada um fala mais bobagem que o outro. E o que pode acontecer é que o programa de governo pode ser feito a 500 mãos, menos as dela (de Marina) - afirmou Lula.
"Clube de amigos"
No momento mais duro da fala do petista contra a candidata, ele disse que escolheu Dilma como sua sucessora, e não um quadro petista historicamente ligado a ele, porque Presidência da República não é um "clube de amigos":
- Alguns devem pensar: mas por que o Lula foi escolher exatamente a Dilma e não alguém ligado a ele historicamente? Porque eu não via a Presidência da República como um clube de amigos, eu via como uma coisa muito séria. Para governar este país é preciso que a gente tenha pulso.
A ofensiva do PT contra Marina ocorreu depois que a ex-senadora apareceu como a maior rival de Dilma na disputa pela Presidência. Os petistas aproveitaram as declarações de Marina de que o petróleo é um "mal necessário" e de que daria mais importância, caso eleita, ao uso de fontes alternativas de energia.
O ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, que discursou antes de Lula, criticou a abordagem do programa de governo de Marina. Dutra evitou, no entanto, fazer ataques pessoais à ex-senadora:
- Fui colega por oito anos da senadora Marina Silva e nunca vou atacá-la pessoalmente, mas, em 242 páginas do programa de governo da candidata, o petróleo é tratado como um mal necessário, e não é citado nem uma vez o pré-sal.
MST ameaça protestos diários
Outros discursos do ato fizeram menções negativas a Marina, que foi atacada até em um adesivo distribuído no local, com os dizeres "Fora Marina e Leva o Itaú Junto", em referência à presença de Neca Setúbal, herdeira do banco, no comando da campanha da candidata do PSB. Membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile disse que a ex-senadora do PSB "não tem direito de julgar o pré-sal".
- Viemos aqui dizer para dona Marina que ela não tem direito nenhum de julgar o pré-sal, porque o pré-sal é do povo. E ela que invente de botar a mão na Petrobras que nós voltaremos aqui todos os dias.
O protagonismo do petróleo na eleição não é à toa. Levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) estima que, só no estado, 60% de todos os investimentos previstos até 2016 virão da receita do pré-sal. No total, serão R$ 143 bilhões. Esse montante engloba investimentos em toda a cadeia produtiva, como construções de navios e plataformas, máquinas e equipamentos e serviços especializados, com grande potencial de geração de empregos.
Para Marcus Dezemone, professor de História da Uerj, o debate acalorado em torno da estatal pode ser explicado porque a empresa sempre teve ativismo da população:
- A centralidade do debate estar na Petrobras já demonstra a importância da empresa. É uma estatal que teve a presença da população durante o seu desenvolvimento, desde sua criação, passando por episódios como a campanha do "Petróleo é nosso". O entendimento de que o pré-sal é uma riqueza que pode mudar o Brasil atrai diferentes segmentos sociais e está sendo usado por isso.
Dualidade política
Doutora em Ciência Política pela UnB, Maria Souto constata uma dualidade no uso político da estatal:
- Positivamente ou prejudicialmente, a Petrobras é usada em campanhas políticas. Ao mesmo tempo em que o governo sofre críticas por um suposto esquema de corrupção na estatal, ele a utiliza para enaltecer os benefícios que a empresa pode trazer. O pré-sal é a forma de o governo expressar que sua gestão é sólida frente ao que considera ser um risco.
Lula, vestindo um jaleco laranja semelhante ao da Petrobras, disse não ter vergonha de usar a camisa da estatal:
- Este ato é para comemorar o aniversário da Petrobras, que, no dia 3 de outubro, completará 63 anos. Estamos aqui em defesa da companhia que vem sofrendo diversos ataques.
Lula defendeu a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, e disse que quem errou tem que pagar.
- Os milhares de trabalhadores dessa empresa não podem ser confundidos com alguém que possa ter cometido um erro. Se alguém praticou erro, se roubou, tem mais é que ser investigado. Se for culpado, tem que ir para a cadeia. (Colaborou Raphael Kapa)
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