quinta-feira, 10 de julho de 2014

Luiz Carlos Azedo: O colapso da Seleção

- Correio Braziliense

Ninguém imaginava o que aconteceu no Mineirão, nem há explicação satisfatória para o vexame da Seleção Brasileira na semifinal contra a Alemanha. A derrota deprimente por 7 x 1 será estudada nos mínimos detalhes por técnicos de futebol pelos próximos 50 anos, pelo menos aqui no Brasil, como já aconteceu com a derrota na Copa de 1950, para o Uruguai. A diferença é que não dependeu de uma jogada fortuita, como a de Ghiggia no Maracanazo, que virou o placar para 2 x 1 contra nós. Foi uma goleada definida em seis minutos mágicos de futebol, nos quais foram marcados quatro dos cinco gols alemães do primeiro tempo. O de honra do Brasil só saiu nos minutos finais, quando o placar já estava praticamente definido por mais dois gols alemães, num lampejo individual e isolado de Oscar.

O jogo ainda não havia terminado, porém, já circulava na internet uma piada infame: um gaiato dizia que nem na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) um povo sofrera tanto como os brasileiros, o que é uma rematada tolice, diante do morticínio que houve. Basta lembrar apenas os 6 milhões de judeus mortos no Holocausto, 10% do total. Mas essa comparação sem sentido vem a calhar porque o esquema tático armado pelo técnico Luiz Felipe Scolari — para substituir Neymar e Thiago Silva — parecia uma espécie de Linha Maginot, o sistema de fortificações construído pelos franceses para barrar a invasão alemã.

André Maginot, um ex-combatente da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), era o ministro da Guerra em 1927 e tinha certeza de que a Alemanha e a Itália, por causa do Tratado de Versalhes, entrariam em confronto com a França. Ele morreu de uma overdose de ostras estragadas, em 1932, sem ver seu plano executado. Ao preço de 5 bilhões de francos, porém, foi construída uma espécie de muralha da China subterrânea, entre 1930 e 1936, com 100km de extensão, paralela à fronteira franco-germânica. Com suprimentos próprios de energia, munição e alimentos, tinha 108 edificações principais (fortes), a 15km de distância umas das outras, mais construções menores e casamatas interligadas por ferrovia.

Virou um case militar de erro de conceito: os franceses se prepararam para uma "guerra de posições", nas quais a infantaria e a artilharia combateriam entrincheiradas, como na Primeira Guerra Mundial. Mas a invasão alemã, em 1940, apesar de previsível, surpreendeu o Exército francês porque as divisões blindadas contornaram as fortificações pela extremidade oeste, na fronteira com a Bélgica, que declarara neutralidade, e na região de Sedan, próxima a Luxemburgo, onde as fortificações não foram concluídas por falta de recursos. O Exército francês foi cortado ao meio e se rendeu. O mundo assistiu com espanto à queda de Paris e à dramática retirada de ingleses, belgas e franceses encurralados nas praias de Dunquerque.

Ataques-relâmpago
A comparação com o que aconteceu no Mineirão, porém, faz mais sentido por causa dos mortíferos ataques alemães no primeiro tempo, uma blitzkrieg na grande área brasileira, executada aos 10, aos 22, aos 23, aos 24 e aos 29 minutos de jogo. No conceito de "guerra de movimento", a palavra alemã significa guerra relâmpago, para evitar que as forças inimigas tenham tempo de organizar a defesa. Os elementos essenciais são o efeito surpresa, a rapidez das manobras e a brutalidade do ataque, com objetivo de desmoralizar o inimigo e desorganizar suas forças, paralisando os centros de controle. O criador dessa tática militar foi o marechal alemão Eric von Manstein, que foi condenado em Nuremberg por crimes de guerra, mas teve a pena reduzida durante a Guerra Fria e ajudou a Alemanha Ocidental a reorganizar o seu Exército.

Parece que Luiz Felipe Scolari adotou a tática da "guerra de posições", como os franceses. Escalou o time e disse onde cada jogador deveria jogar contra a seleção alemã, como se fosse possível, num jogo de Copa do Mundo, decidir na prancheta como impor o medíocre padrão de jogo da nossa Seleção. Faltou combinar com Müller, Klose (2), Kroos, Khedira e Schürrle (2), como diria Mané Garrincha. Felipão ficou perplexo diante da ofensiva alemã, sem entender o que estava acontecendo. A defesa brasileira, desorientada, perdeu qualquer capacidade de reação. Era o ponto forte do Brasil até a saída de Thiago Silva. O ataque brasileiro, que já era fraco, simplesmente havia deixado de existir, antes mesmo do jogo começar, com a saída de Neymar.

Ao explicar o que aconteceu, Luiz Felipe Scolari preferiu dar destaque ao fato de a Seleção ter chegado a uma semifinal de Mundial pela primeira vez desde 2002. Em 2006 e em 2010, fomos eliminados pela França e, depois, para a Holanda, respectivamente, nas quartas de final. Minimizou a derrota: "O normal era vitória nossa ou deles. São duas grandes equipes. Pelo resultado ser por esse número de gols, ficará para a história", disse. "Tivemos seis minutos em que deu pane geral. Isso não é o que imaginávamos. Vamos trabalhar para montar o time do jogo de sábado, que passa a ser importante e um outro sonho." Que venha a seleção da Holanda!

Cristian Klein: Presidencialismo, vexame e voto

• Marqueteiros terão que lidar com ambiguidade da Copa

- Valor Econômico

Os efeitos políticos do vexame histórico da derrota da seleção brasileira para a Alemanha serão desvendados em poucos dias, quando sair nova pesquisa eleitoral. O índice de intenção de votos da presidente Dilma Rousseff poderá cair, a preferência pela oposição subir, a taxa de em branco e nulos crescer, ou mesmo nada disso acontecer.

O mais provável - como demonstra a falta de correlação entre os resultados das últimas eleições presidenciais e o desempenho da seleção nas Copas - é que o impacto seja, no máximo, marginal. Mas levar uma goleada de 7 a 1, numa semifinal em casa, também não estava dentro de qualquer curva normal de probabilidade.

A humilhação mundial de quem se sente o país do futebol bateu fundo no orgulho dos brasileiros, que em três meses irão às urnas. Ontem, no "day after" do pesadelo, o estado de perplexidade deu lugar à busca de explicações e culpados. O humor não está nada bom. Mas é difícil imaginar que o cidadão comum, acostumado a outros reveses em Copas, seja levado a confundir as bolas. A política se mistura - ou se misturou - com o futebol quando o Brasil aceitou ser o anfitrião do Mundial. A política, neste caso, afeta e é afetada pelo que diz respeito à organização do evento.

Toda a energia das críticas em relação a esse aspecto parece ter se concentrado nos movimentos pré-Copa. Junho de 2013 foi a catarse de um país insatisfeito com os gastos excessivos, com a corrupção, com as intervenções urbanas autoritárias, em contraste com a qualidade ruim ou péssima de uma série de serviços públicos: do transporte de massa à educação, saúde e segurança.

Tudo seria ainda pior - e motivo para uma volta às ruas - se a organização da Copa do Mundo fosse um fracasso, o que não ocorreu. Pelo contrário. Aeroportos funcionaram a contento e o acesso aos estádios transcorreu sem problemas - ainda que tenha havido problemas pontuais, como roubos de ingressos e preços abusivos cobrados por setores do comércio. A euforia tomava conta do brasileiro e de artigos em publicações estrangeiras que justificavam o slogan dos marqueteiros de Dilma, pelo qual o país realizaria "a Copa das Copas".

Julho de 2014 tem outro significado. É uma nova catarse coletiva, de conversação social intensa, um enorme debate para desvendar porque o maior fiasco da seleção brasileira em cem anos se deu justa e novamente numa Copa organizada em casa. Isso, basicamente, tem a ver com o mundo do futebol, com sua própria lógica, líderes e instituições - e, vá lá, Freud.

Em primeiro lugar, o cidadão médio brasileiro conhece bastante o futebol para saber que a responsabilização por uma derrota da Seleção deve ser dirigida a boleiros. O vilão agora se chama Luiz Felipe Scolari, com culpas extensivas à comissão técnica e à CBF. A escolha dos jogadores, a falta de planejamento, de treinos, há inúmeras razões para se explicar o fracasso. Felipão hoje é o que foram Felipe Melo e Júlio César, em 2010; Roberto Carlos, em 2006; Alemão, Dunga e Lazaroni, em 1990; Zico, Sócrates e Júlio César, em 1986; Cerezo, em 1982; para não falar de Barbosa, cuja alma finalmente descansa em paz, com a substituição de um trauma por outro, maior.

Os 2 a 1 do "Maracanazo" de 1950 foram pouco perto do "Mineiratzen" de terça-feira. Vergonha supera tristeza. E isso leva à segunda reação à derrota.

No divã em que se transformaram as conversas pelo país, há espaço até para se questionar o papel que o futebol tem na formação da identidade nacional. Trata-se apenas de um jogo - argumentam os mais conformados na tentativa de minimizar a sensação de humilhação - mas a derrota de 7 a 1 pode ter implicações para além do futebol - ou da política. Põe em questão o jeito do brasileiro de encarar situações-limite, de estar preparado para momentos de decisão. Competições esportivas são fartas de exemplos. Menos lembrados, os fracassos de brasileiros em Olimpíadas guardam semelhança ao apagão - mais psicológico do que técnico ou tático - que levou a Seleção a tomar cinco gols em menos de meia hora (aos 11, 23, 24, 26 e 29 minutos). Favorito no hipismo nos Jogos de Sidney, em 2000, Rodrigo Pessoa viu seu cavalo Baloubet du Rouet refugar, num fiasco surpreendente. Quatro anos depois, Daiane dos Santos, à época melhor ginasta do mundo no solo, errou tanto em Atenas que também ficou fora do pódio.

Casos como esses reforçam a tese de que o atleta brasileiro parece carregar a expectativa, o fardo de não apenas representar uma nação mas de ser o redentor das mazelas do país. A declaração do zagueiro David Luiz após a derrota contra a Alemanha reflete essa ligação simbólica entre o esporte e os problemas socioeconômicos. "Eu só queria poder dar uma alegria ao meu povo, minha gente que sofre tanto já com inúmeras coisas", lamentou, aos prantos.

O que importa na dura meritocracia do esporte de alto rendimento, no entanto, não é ser um campeão de sensibilidade social. O próprio Brasil é prova de que esse peso não atrapalha quando se atua num nível de excelência. O vôlei, sob o comando do técnico Bernardinho, conquistou uma hegemonia com a filosofia de que sua equipe deve treinar tão arduamente a ponto de a partida se tornar a parte fácil - ou menos difícil - do trabalho.

Nada tão distante do que foi o improviso da seleção de Scolari e o apelo motivacional exagerado.

Mas assim como a população não aderiu ao movimento #não vai ter Copa e torceu pela seleção - separando política e futebol - o mais provável é que não os misturem.

Candidatos à Presidência que porventura quiserem se aproveitar dos resultados da Copa - positivos ou negativos - podem ser vistos como manipuladores da opinião pública. Será um desafio para os marqueteiros de Dilma, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) tocarem no assunto, em seus programas eleitorais, sem enfrentar o legado ou a memória dupla e ambígua que o Mundial provocará nos eleitores. Por enquanto, a sensação de fracasso tende a dar armas à oposição. Mas responsabilizar Dilma pelo resultado do futebol pode abrir espaço ao contra-ataque governista e a possível injeção de ânimo para se recuperar a autoimagem do brasileiro.

Brasília-DF - Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

As emendas na marcação
Os levantamentos do Planalto indicam que os parlamentares não têm muito do que reclamar em termos de liberação de emendas ao Orçamento deste ano. Até a data-limite, 30 de junho, foram empenhados 74% das emendas individuais de deputados e senadores à Lei Orçamentária. O que ficou de fora foram aqueles com problemas técnicos, falta de documentação das prefeituras. A maior dúvida, entretanto, é, se feitos os empenhos, ou seja, separado o dinheiro, o pagamento pode ser efetuado ao longo do período eleitoral. Pelo sim, pelo não, a área econômica deu uma segurada nesses pagamentos. E é aí que mora hoje a principal reclamação da base.

Divórcio da bola I
Desde o jogo Brasil x Chile, o governo tratava de separar a imagem da presidente (e do PAC da Copa) do sucesso ou do insucesso da Seleção dos gramados, conforme publicado nesta coluna no último sábado na nota "preparar para descolar". Agora, a entrega da taça ao capitão de outra seleção, seja Philipp Lahm, da Alemanha; ou Lionel Messi, da Argentina, será, na avaliação dos governistas, a consagração desse discurso de que tudo funcionou direitinho, exceto o futebol brasileiro.

Divórcio da bola II
Entre os principais aliados da presidente Dilma Rousseff, houve quem citasse as constantes desavenças entre ela e o número um da CBF, José Maria Marin. Eles fizeram as pazes no ano passado, quando começaram as inaugurações das arenas pelo Brasil afora.

Jogada perigosa
A avaliação da maioria dos políticos é a de que quem tentar tirar algum proveito político da derrota do Brasil corre risco de amargar a limonada do próprio copo. Da parte do PSB, a ordem ontem era "muita calma nessa hora". O PSDB, por exemplo, apesar da nota do Instituto Teotônio Vilela (ITV) vinculando o resultado à política, quer ver a discussão da eleição na plataforma econômica e em temas como o "apagão de gestão" do setor elétrico.

Ponteiros petistas
O ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, se reuniu ontem com o presidente do PT, Rui Falcão. Tudo para pegar o mapa dos estados mais complicados e mirar onde o governo precisará tomar cuidado na hora de nomear relatores de projetos importantes.

Cozinhando o PR
No que se refere ao novo diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a presidente Dilma Rousseff continua em suspense. Nada mudou. E o Partido da República, diante dos prazos, não teve saída. Registrou a ata da convenção como integrante da campanha de Dilma à reeleição e aguarda o Dnit. O general Jorge Fraxe, está fora, mas, por enquanto, é apenas licença-médica. E não vai ser agora, nesse estressante fim de Copa do Mundo, que a presidente mexerá no time.

Sessão fantasma/ O presidente da Comissão Mista de Orçamento, Devanir Ribeiro (foto), passou o início da tarde no telefone em busca dos integrantes do colegiado para tentar votar o parecer preliminar da LDO. Em meio à ressaca, os que boicotaram a sessão propositalmente terminaram misturados àqueles que preferiram as campanhas ou simplesmente ficaram enlutados. "Como você não vem?!!! Precisamos de quórum!!!", reclamava com um colega ao telefone.

Promessa de político/ Em sua meteórica passagem por Brasília, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), brincou com os parlamentares russos que foram visitar a Casa ontem: "irei à Copa da Rússia esperando um resultado melhor para nossas seleções", disse ele. Em tempo: Henrique dificilmente cumprirá essa promessa. Afinal, se for governador do Rio Grande do Norte (ele é candidato) ou mesmo parlamentar, vai ficar muito feio largar o serviço aqui para assistir à Copa do Mundo na Rússia.

Quarta de cinzas/ Diante do pior resultado da Seleção Brasileira na terça de lágrimas, até os candidatos evitaram "oba-oba" ontem. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), por exemplo, cancelou a agenda de rua e passou o dia no Congresso.

Enquanto isso, na casa da Coca-Cola.../ Antes da agenda da presidente Dilma, o turco Muhtar Kent, presidente mundial da Coca-Cola Company, aproveitou a estada em Brasília para degustar um menu inspirado num país que saiu bem cedo do Mundial, a Itália. Ravioli Sorrento, com queijo meia cura, ao molho de tomate e muçarela de búfala. Depois, um filé à Chateaubriand, pimenta verde e risoto de funghi porcini. Mas, para beber, nada de cola-cola. Diante das iguarias do chef napolitano Rosario, só mesmo legítimos vinhos da Toscana e do Piemonte.

Painel - Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Bola murcha
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), negou pedido do deputado Romário (PSB-RJ) para afastar a chamada bancada da bola de votações que envolvem interesses da CBF. O ex-craque queria anular os votos de sete colegas que, em maio, livraram a entidade de ter que prestar contas de seus gastos e reservar 5% da receita para a formação de novos atletas. Alves arquivou o recurso do tetracampeão na segunda-feira, um dia antes de o Brasil ser eliminado da Copa.

A regra é clara O regimento interno da Câmara afirma que o deputado deve se declarar impedido de participar de qualquer votação "tratando-se de causa própria ou de assunto em que tenha interesse individual".

O apito do juiz Na resposta ao Baixinho, Alves disse que o congressista só pode ficar impedido por "decisão pessoal". Para ele, exigir afastamentos significaria "violação a uma das mais importantes prerrogativas do mandato, o voto parlamentar".

7 a 1 Romário batizou de "deputados alemães" os sete colegas que votaram a favor da CBF: Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Guilherme Campos (PSD-SP), José Rocha (PR-BA), Jovair Arantes (PTB-GO), Rodrigo Maia (DEM -RJ), Valdivino de Oliveira (PSDB-GO) e Vicente Cândido (PT-SP).

Cartola FC Além de dirigentes de clubes, a lista inclui dois vice-presidentes regionais da Federação Paulista de Futebol: Campos e Cândido. Ambos são amigos do peito de Marco Polo Del Nero, presidente eleito da CBF.

Vai começar O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) iniciará a coleta de assinaturas para instalar uma CPI da Fifa e da CBF. O deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) quer votar projeto que endurece regras para os clubes.

Apareceu Ricardo Teixeira, o ex-presidente da CBF, andava sumido da Copa. Não anda mais: seu nome ressurgiu nas páginas policiais, em reportagens sobre o desvio de ingressos para cambistas.

Sumiu O ex-presidente Lula, que não perde uma chance para falar de futebol, ainda não deu uma palavra sobre o fiasco do Brasil. Antes do jogo, divulgou foto segurando a camisa da seleção.

Ponha-se na rua Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) anunciará hoje que 35.653 pessoas foram removidas de suas casas nas 12 cidades-sede da Copa. Cerca de 70% das famílias teriam renda de até três salários mínimos.

Outro lado O governo diz que a maior parte dos atingidos já foi realocada ou recebeu indenização. ONGs que acompanharam as obras contestam os números e estimam em 250 mil o número de pessoas removidas.

Chá de cadeira Lula fez o aliado Eduardo Suplicy (PT-SP) esperar mais de um ano pela foto de segunda-feira. O senador pedia o encontro desde maio de 2013.

Sai pra lá Eduardo Campos (PSB) não gostou de ser listado como testemunha por Paulo Roberto Costa, preso pela PF: "Não recebi qualquer notificação oficial, mas acredito que quem está mais capacitado para falar da atuação dele na Petrobras são as pessoas que o nomearam e o mantiveram no cargo".

Veja bem A cúpula da Convenção Geral das Assembleias de Deus diz que Aécio Neves (PSDB) é bem-vindo em seus templos. "Conhecemos e aprovamos sua capacidade e seriedade. É um candidato visto com bons olhos pela igreja", afirma, em nota.

Bola pra frente E como escreveu o poeta Sérgio Vaz: o maior vexame da história do Brasil foi a escravidão.

Tiroteio
"A eliminação da Copa era uma tragédia anunciada. Não podemos mais deixar nosso futebol nas mãos de um zumbi da ditadura"
DO SENADOR RANDOLFE RODRIGUES (PSOL-AP), sobre o presidente da CBF, José Maria Marin, que governou São Paulo por dez meses no regime militar.

Contraponto

Clandestino e cabeludo

De volta ao Brasil na clandestinidade, quase um ano depois do golpe de 1964, o líder estudantil José Serra improvisou um disfarce para não ser reconhecido pela repressão. Cultivou um "vasto bigode" e armou um topete.

--Por mais que hoje pareça implausível, eu tinha cabelo. O conjunto me dava uma aparência um tanto estranha --conta, no novo livro "Cinquenta Anos Esta Noite".

A cara nova espantou um casal de amigos a quem ele fez uma visita surpresa. Serra se deu por vencido:

--Na mesma noite, desisti do disfarce. Raspei o bigode, penteei o cabelo para trás e voltei a ser eu mesmo.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Brics: Brasília terá megaesquema de segurança
O megaesquema de segurança da Copa do Mundo será mantido e até ampliado, em Brasília, para receber quarta-feira (16) o encerramento do encontro de chefes de Estado e de governo dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que começa na terça em Fortaleza. Na capital, estarão também os presidentes dos doze países da Unasul, a União de Nações Sul-Americanas. Participarão dessa reunião presidentes como o russo Vladmir Putin e o chinês Xi Jinping.

• Aparato à la EUA
Putin vai trazer ao Brasil uma comitiva de 170 integrantes, além de tudo o que vai usar, incluindo água, comida, carros e helicópteros.

• Aproveita
O russo Vladmir Putin e o chinês Xi Jinping chegam ao Brasil no dia 13, para assistir a partida final da Copa do Mundo, no Maracanã.

• Rússia 2018
Ao final do jogo e após a premiação, será realizada a solenidade de transmissão de sede da Copa para a Rússia, a anfitriã de 2018.

• Capital bilionário
Os Brics se reunirão no Brasil para assinar a criação de um banco de fomento das economias dos membros, com capital de US$ 50 bilhões.

• Cardozo trabalha para virar ministro do Supremo
Como sempre ocorre em indicações para ministro do Supremo Tribunal Federal, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) terá o papel de conversar com os candidatos à vaga de Joaquim Barbosa, para depois aconselhar a presidenta Dilma na escolha. O problema é que Cardozo é um dos candidatos ao STF e tenta convencer Dilma a desistir de fazer a indicação até setembro, antes das eleições, como ela já decidiu.

• Ela tem pressa
Dilma sabe que, se não for reeleita, terá dificuldades de aprovar o indigitado no Congresso, por isso quer resolver o assunto logo.

• O ‘eleitorado’
O ministro da Justiça tem apoios importantes para o STF, como José Dirceu e Aloizio Mercadante (Casa Civil), mas ele é detestado por Lula.

• Rigor malvisto
Lula detesta Cardozo porque ele agiu com imparcialidade, na comissão que investigou corrupção do PT em prefeituras petistas, nos anos 1980.

• Amarelou
O candidato a presidente Eduardo Campos (PSB) cancelou a agenda de ontem para não enfrentar o mau humor do eleitorado nas ruas, após o vexame da Seleção. Bem diferente de Dilma, que vai encarar o Maracanã lotado, domingo, para entregar a taça aos campeões.

• Vitimização
O PSDB do presidenciável Aécio Neves (MG) orientou correligionários a não apoiar xingamentos à presidenta Dilma na entrega da taça, no Maracanã. Não por solidariedade a ela, mas para não vitimizá-la.

• Murro em ponta de faca
A estratégia do ex-governador José Roberto Arruda de processar juiz que o condena não parece ajudá-lo muito – como mostrou a decisão do Tribunal de Justiça do DF, ontem, confirmando sua condenação.

• Manobra
Convidado como testemunha ontem no Conselho de Ética, o chefe de gabinete de Luiz Argôlo, Vanilton Bezerra, alegou que está no interior da Bahia e só virá à Brasília a partir de 30 de julho, justo no recesso.

Contra a censura
Alexandre Jobim, Nascimento Silva e Ronaldo Lemos, do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, recomendaram a rejeição de propostas que violentam a liberdade de expressão neste período, inclusive a proibição de divulgar pesquisas 15 dias antes da eleição.

• Prioridade
O PSDB e o DEM chegaram ao consenso de que o candidato Aécio Neves deve priorizar a campanha em Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, em virtude da expressão do eleitorado.

• Sombra
Coordenador-geral da campanha de Aécio Neves (MG) à Presidência, o senador José Agripino (DEM-RN) acompanhará o tucano no Rio e no Espírito Santo, nesta quinta-feira, onde subirá em palanques do PMDB.

• Paz e amor
De olho em negociar apoio num segundo turno, o candidato pelo PMDB ao governo gaúcho, José Ivo Sartori, decidiu, por ora, evitar críticas ao governador petista Tarso Genro e à adversária Ana Amélia (PP).

• Pensando bem
…se arrependimento matasse, Dilma já estaria mortinha da Silva, por ter dito, dias atrás, que seu governo é “padrão Felipão”.

Panorama Político – Ilimar Franco

- O Globo

O Brasil e a Copa
O senador Álvaro Dias (PSDB) quer uma CPI sobre a Copa. O ministro Paulo Bernardo diz que foi uma vitória do Brasil, mesmo com a derrota da seleção. Explica que ela promoveu o Brasil como destino turístico e apresentou um país hospitaleiro, com segurança e organização. Para um socialista, política à parte, a Copa gerou uma mídia favorável no mundo que nenhum esforço de relações públicas ou de publicidade alcançaria.

E não houve nenhum desastre
A Secretaria de Aviação Civil apresenta balanço, amanhã, da movimentação dos aeroportos na Copa. Até terça-feira, 14,2 milhões de passageiros passaram pelos 21 aeroportos que servem as cidades-sede. Nas Fans Zones, áreas criadas para entreter os passageiros, transitaram 230 mil pessoas. O dia com maior movimentação de aeronaves foi anteontem, véspera da semifinal entre Argentina e Holanda, no aeroporto de Guarulhos. O número chegou a 821, o que dá uma média de um pouso ou decolagem a cada 1,7 minuto. A pontualidade dos voos passou no crivo. Na Copa, o índice de atrasos foi de 7,6%. Em 2013, na União Europeia, a taxa de atrasos foi de 8,4%.
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“Aquilo que o Brasil passou para o mundo foi maravilhoso”
Luiz Felipe Scolari
Técnico da seleção brasileira, ontem na entrevista coletiva sobre a eliminação do Brasil da Copa do Mundo, comentando os efeitos extracampo da realização no país da principal competição do futebol mundial
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Tiro ao alvo
Políticos de vários partidos foram céticos em relação à realização da Copa no Brasil temendo seus efeitos eleitorais. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, deve passar pela mesma experiência. Em 2016, tem Olimpíadas e sucessão municipal.

Polivalente?
Candidato ao Senado em aliança com o PSDB, o deputado estadual Paulo Bornhausen (PSB) esteve no lançamento da chapa Eduardo Campos-Marina Silva em abril, em Brasília. Ontem, no Rio, posou para fotos ao lado do tucano Aécio Neves e do ex-presidente Fernando Henrique, em reunião sobre a campanha do PSDB em Santa Catarina.

O drama dos refugiados
O Brasil tem dificuldades para lidar com os refugiados do Haiti, mesmo assim o chanceler do Líbano, Gebran Bassil, irá hoje ao vice Michel Temer. O libanês quer ajuda do Brasil sobre como lidar com os refugiados sírios naquele país.

E tem mais Copa
Integrante do Comitê Executivo da FIFA, Lydia Nsekera vai hoje de manhã ao Centro de Mídia do Maracanã. Ela terá a companhia da craque Marta e do ministro Aldo Rebelo (Esportes). E vai dar informações sobre a Copa do Mundo de futebol feminino. Ela será realizada no Canadá, de 5 a 24 de agosto do próximo ano.

Sentou na cadeira
O general Jorge Fraxe ainda comanda o Dnit, mas seu secretário-executivo, Tarcísio Gomes, indicado para substitui-lo, já está se comportando como se mandasse no órgão. Ele recebe deputados para tratar de obras nos estados.

Alinhamento
Sobre o palanque do PMDB em São Paulo, seu candidato ao governo, Paulo Skaf, diz que “tem as melhores relações de amizade e de lealdade com o vice Michel Temer” e que “ele estará no palanque da chapa presidencial Dilma-Temer”.
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OS CANDIDATOS DO PMDB que almejam presidir a Assembleia estão irritados com a candidatura a deputado do presidente do partido, Jorge Picciani.

Coisinha do Pai - Vou Festejar (Jorge Aragão & Beth Carvalho )

Carlos Drummond de Andrade: No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Opinião do dia: Marco Antonio Villa

Paradoxalmente foi durante o regime militar — especialmente no período ditatorial, entre os anos 1968-1978 — que os valores democráticos ganharam enorme importância. A resistência ao arbítrio foi edificando um conjunto de valores essenciais para termos uma cultura política democrática. E foram estes que conduziram ao fim do regime e à eleição de Tancredo Neves, em janeiro de 1985.

Marco Antonio Villa, historiador, Os desiludidos da República, O Globo, 8 de julho de 2014.

Mineirazo



Vexame pode reforçar votos nulos

Cristian Klein – Valor Econômico

SÃO PAULO- A derrota humilhante de 7 a 1 da Seleção brasileira para a Alemanha deve ter impacto na eleição deste ano, com aumento de votos em branco e nulos, mas provavelmente não beneficiará nenhum dos candidatos à Presidência. É o que prevê o filósofo político Marcos Nobre, do Cebrap e da Unicamp, autor do livro "Choque de democracia - Razões da revolta", sobre a eclosão das manifestações de rua no ano passado.

Para Nobre, a Seleção "sem meio de campo" é a metáfora perfeita para o governo Dilma Rousseff - "que não consegue se comunicar com os empresários, com os sindicatos, que se isola". Mas a presidente não deverá ser responsabilizada pelo fracasso do futebol brasileiro, na segunda Copa do Mundo sediada pelo país.

Em sua opinião, os dois principais candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), não terão condições de culpar Dilma, já que se aproveitar do mau resultado do futebol pode ser um risco. "A oposição não pode capitalizar. É como comemorar a morte do inimigo no velório dele", afirma Nobre, para quem o Brasil passa a viver um luto, que deve ser reconhecido por Dilma Rousseff.

A vantagem da presidente, ressalta o filósofo político, é que Dilma procurou se identificar com o craque Neymar Jr. - que ficou fora da semifinal - mas não com o técnico Luiz Felipe Scolari, sobre quem deve recair a maioria das críticas. Na segunda-feira, Dilma imitou o gesto de Neymar com os braços em forma de T para reproduzir nas redes sociais o bordão "É Toiss!", pelo qual o jogador costuma cumprimentar os companheiros. Foi uma homenagem ao atleta depois que uma pancada na região lombar o tirou da Copa, durante a partida contra a Colômbia, nas semifinais.

Para Marcos Nobre, o marketing da campanha à reeleição de Dilma pode até se beneficiar ou pelo menos neutralizar possíveis efeitos da derrota com a estratégia de "salvar a imagem do país", "sair do luto", ao argumentar que o Brasil conseguiu fazer a "Copa das Copas", sem os transtornos de organização previstos. Seria a "parte boa" para se guardar do Mundial. E nisso Dilma poderia reivindicar os créditos pela realização do evento.

"Mas essa estratégia tem que ser muito sutil, pois o luto vai ser muito pesado", diz. Para Nobre, a única saída de Dilma é dizer: "Nós fomos bons anfitriões. Estamos de luto. Mas somos bons perdedores". O filósofo político crê que a presidente possivelmente será vaiada na entrega da taça, no domingo, no Maracanã, mas não xingada, como na abertura da Copa, pois o comportamento destes torcedores "pegou muito mal".

Para Marcos Nobre, a realização de protestos de rua por causa do vexame da Seleção é improvável, ao menos na proporção dos já observados neste e, principalmente, no ano passado. É preciso separar, destaca o professor, a existência de três instâncias: o futebol (a Seleção), a Fifa e os governos (nos diversos níveis: federal, estadual e municipal).

"O movimento #Não vai ter Copa não tinha a ver com futebol. Os manifestantes não podem dizer: 'A gente avisou'. Pois as críticas eram dirigidas à Fifa e aos governos, não ao futebol. Foi o futebol que fracassou. E ele é a imagem da sociedade. A sociedade fracassou. Não adianta buscar um culpado. Foi o Felipão? Foi o zagueiro da Colômbia que tirou o Neymar da Copa? O Thiago Silva? O Dante, que estava mal posicionado no primeiro gol? É um luto absoluto e não tem a quem culpar", diz.

O desânimo da sociedade, no entanto, pode reforçar uma tendência já detectada em pesquisas eleitorais desde os protestos de junho de 2013: o aumento dos votos em branco e nulo. "O grande risco dessa eleição, que vem do terremoto de junho, é o de os eleitores não encontrarem nenhuma esperança institucional, o de haver um aumento da descrença. A Seleção ser humilhada contribui para esse sentimento", afirma.

A falta de correlação entre resultados da Copa e o das eleições à Presidência, lembra Marcos Nobre, já está estabelecido no debate político brasileiro.

Por outro lado, o que é "muito frustrante", qualifica, é o grau de humilhação da derrota depois de um momento de alívio, em que o país e o mundo faziam o balanço de que a organização da Copa no Brasil deu certo. "Não só tudo deu certo, como fizemos o que nenhum país fez, que foi combater o comércio ilegal de ingressos. Não deu vexame e quando nos concentramos no futebol, aí acontece esse desastre", afirma. Na segunda-feira, Raymond Whelan, CEO da Match, empresa que detém direitos exclusivos de venda de pacotes e camarotes da Fifa, foi preso pela polícia, no hotel Copacabana Palace, no Rio.

Oposição evita associar derrota às eleições

Murillo Camarotto - Valor Econômico

RECIFE e SÃO PAULO - Os dois principais opositores da presidente Dilma Rousseff na disputa presidencial deste ano, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), evitaram ontem associar a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo às eleições. Nas redes sociais, Aécio afirmou que o resultado do jogo, de 7 x 1 para a Alemanha, é "difícil de entender", mas ponderou que "não apaga o brilho" do futebol brasileiro. Já Campos disse que em 2018 a seleção voltará "mais forte".

Em texto divulgado no Facebook, Aécio afirmou que "como torcedor e brasileiro" compartilha a frustração que o povo está sentindo. "Uma derrota sofrida, difícil de entender, mas que não apaga o brilho do futebol brasileiro e muito menos do nosso povo. Apesar do resultado, envio o meu abraço aos nossos jogadores, à comissão técnica e a todos que lutaram para colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio. Dessa vez não deu, mas vamos em frente! Outras vitórias virão!", escreveu o candidato tucano. Aécio assistiu ao jogo em Belo Horizonte, mas sua assessoria de imprensa não confirmou se o tucano foi ao estádio.

Em sua página em uma rede social, Campos lamentou a derrota da seleção brasileira e a publicação do governador provocou uma série de críticas à presidente Dilma Rousseff.

"Lamento, como todos os brasileiros, o resultado do Brasil e Alemanha hoje. O povo brasileiro fez uma festa linda durante toda a Copa, mas o sonho do hexa foi, por hora, adiado", afirmou Campos na internet. "Tenho certeza que voltaremos mais fortes em 2018", disse. O candidato do PSB e ex-governador de Pernambuco assistiu ao jogo em sua casa no Recife.

A publicação gerou rapidamente uma série de reações críticas ao governo federal. Muitos dos seguidores de Campos culparam Dilma pela derrota ou manifestaram que suas principais preocupações são os rumos do país. "Sinto mais pela saúde, a educação e a segurança do povo brasileiro, que vem perdendo há anos", disse um dos seguidores da página de Campos.

Antes da Copa, o ex-governador de Pernambuco foi questionado se o desempenho da seleção brasileira dentro do campo poderia influenciar a corrida presidencial deste ano. O pessebista sempre foi categórico em negar essa possibilidade.

Poucos minutos após o fim da partida, foram registradas depredações a pontos de ônibus na zona norte capital pernambucana.

FT questiona efeitos eleitorais de derrota na Copa

Olívia Bulla - Agência Estado

É difícil pensar em uma humilhação maior na história desportiva do que o placar de 7 a 1 da Alemanha contra Brasil, ontem. Em reportagem publicada hoje, o jornal britânico Financial Times lembra que muitos times de futebol perderam por 7 a 1, "mas nunca o autoproclamado ''país do futebol'', vencedor de cinco Copas do Mundo, anfitrião e favorito para o torneio, jogando em uma semifinal".

Para o estatístico norte-americano Nate Silver, citado pelo jornal, esse era o placar mais inesperado na história da Copa do Mundo, com base em classificações pré-jogo das equipes.

Simbolicamente, na visão do FT, foi um final apropriado para os longos anos de boom econômico do Brasil. Mas, em termos desportivos, foi algo mais específico: o fim da tradição do futebol do Brasil. A frase "joga bonito" agora pode ser abandonada junto com clichês sobre "futebol e samba", afirma.

Segundo o período britânico, os brasileiros pararam de oferecer fintas, dribles e belos gols há muito tempo. Eles devem agora certamente perceber que o País precisa, mais rápido do que pensa, adotar um novo um estilo "mais europeu, mais alemão", diz o FT. O futebol brasileiro precisa começar de novo também, idealmente, liderada por treinadores alemães, emenda o jornal.

Para o FT, depois de os jogadores brasileiros choraram em campo, a presidente Dilma Rousseff deve se sentir perturbada também, antes das eleições de outubro. "Ela expressou sua tristeza pela derrota no Twitter", lembra o jornal. "Não vamos nos deixar alquebrar (enfraquecer). Brasil, ''levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima''", escreveu ela, citando a letra do conhecido samba "Volta por cima", de Paulo Vanzolini.

No entanto, historicamente, não há correlação entre o desempenho do Brasil em Copas do Mundo e o desempenho nas eleições no mesmo ano. "Muitos têm mantido Dilma responsável pelo desperdício, gastos excessivos, mas organização relativamente boa do torneio", afirma o FT. "A responsabilidade pelo 7 a 1 reside, em primeiro lugar, nos jogadores infelizes da Seleção e seu treinador sem imaginação Luiz Felipe Scolari, mas, de forma mais ampla, no futebol tradicional desatualizado do país".

Goleada em campo não vai influenciar eleição, diz Planalto

• Depois de Alemanha fazer quinto gol, torcida do Mineirão repete xingamentos da abertura da Copa; Aécio também foi alvo de ofensas

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a derrota acachapante do Brasil para a Alemanha um dia depois de a presidente Dilma Rousseff divulgar foto fazendo pose de Neymar e confirmar que vai entregar a taça da Copa do Mundo ao campeão no domingo, o Palácio do Planalto apressou-se em minimizar, logo após o jogo, os eventuais efeitos negativos da eliminação na eleição.

Na tentativa de impedir a associação de Dilma com o fracasso do time de Luiz Felipe Scolari, o Planalto adotou o discurso de que o Brasil organizou uma Copa de primeiro mundo.

"Assim como todos os brasileiros estou muito, muito triste com a derrota", escreveu Dilma no Twitter, minutos após encerrado o jogo pela semifinal do Mundial. "Sinto imensamente por todos nós, torcedores, e pelos nossos jogadores. Mas não vamos nos deixar alquebrar. Brasil, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima."

Os torcedores presentes no Mineirão voltaram a xingar Dilma no intervalo da partida, quando a Alemanha já vencia por 5 a 0 - a exemplo do que ocorreu na abertura da Copa, com a presidente presente no estádio Itaquerão.

O Planalto teme que novas hostilidades venham a ocorrer no domingo, no Maracanã. Anteontem, num bate-papo com internautas numa rede social, Dilma ironizou críticos do torneio e afirmou que as vaias "são ossos do ofício". Ontem, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, procurou neutralizar o mal-estar com o que chamou de "balde de água fria" nas expectativas da população. Para Carvalho, quando começar a propaganda política na TV, em 19 agosto, ninguém se lembrará mais do "vexame" brasileiro na Copa do Mundo.

Avaliação. "Eu sempre disse que quem quisesse tirar proveito eleitoral da Copa ia quebrar a cara", afirmou Carvalho. "A Copa é a Copa. Em agosto o clima será outro. Agora é um momento de purgação e de sofrimento, mas em agosto a página estará virada. Enquanto governo demos conta de fornecer tudo e a infraestrutura funcionou perfeitamente. Eleição é outro capítulo", disse o ministro.

Embora o caos previsto pela oposição na organização da Copa não tenha ocorrido, o Planalto teme que o trauma da população com o fracasso do Brasil afete a autoestima dos brasileiros e provoque, sim, impacto eleitoral.

O senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB), os dois principais candidatos de oposição à Presidência, solidarizaram-se com a torcida brasileira pela derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1. Campos lamentou a derrota do Brasil, lembrando que é possível voltar mais forte. Aécio assistiu ao jogo no estádio e foi alvo de xingamentos, nos mesmos termos em que Dilma também foi hostilizada: "Ei, Aécio, vai tomar no c...", gritou parte da torcida em um momento (mais informações ao lado).

Tanto o candidato tucano quanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmaram, nos últimos dias, que Dilma tenta se aproveitar politicamente da Copa do Mundo.

"O povo brasileiro fez uma festa linda durante toda Copa, mas o sonho do hexa foi, por ora, adiado. Tenho certeza de que voltaremos mais fortes em 2018", afirmou Eduardo Campos pelo Facebook.

O candidato a vice-presidente na chapa do tucano, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), seguiu à risca a orientação de separar futebol e eleição. "Acho que a notícia mais preocupante do dia foi o índice do IPCA que aponta alta da inflação. Os 6,5% de inflação são mais preocupantes que o 7 a 1, isso sim é um golpe na autoestima dos brasileiros. Mas não acredito que isso vá influenciar no resultado das eleições", afirmou.

O ex-governador Alberto Goldman, coordenador de campanha de Aécio em São Paulo, foi na mesma linha: "Isso não muda nada nas eleições. Nunca acreditei que a vitória do Brasil ajudasse o governo".

Efeito eleitoral

• Derrota do Brasil no Mundial faz governo mudar estratégia para evitar prejuízos

• Dilma traça estratégia para evitar prejuízos com derrota brasileira; candidatos lamentam

• Ideia é explorar imagem da presidente vinculada somente à organização do evento

Fernanda Krakovics, Maria Lima e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA — A humilhante derrota do Brasil na Copa do Mundo, fora de qualquer prognóstico, acendeu, no Palácio do Planalto, o alerta sobre o efeito político do 7 a 1 na campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Se até o momento Dilma estava explorando politicamente as vitórias da seleção brasileira, a estratégia agora é tentar colar sua imagem apenas à organização do evento, considerada um sucesso pelo governo.

Logo após a derrota, a presidente tentou se colocar como uma torcedora comum, afirmando por meio de sua conta no Twitter que estava “muito, muito triste” com a derrota da seleção brasileira, e tentou passar uma mensagem de motivação para a população.

“Sinto imensamente por todos nós, torcedores, e pelos nossos jogadores. Mas, não vamos nos deixar alquebrar. Brasil, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, escreveu a presidente.
O perfil institucional do Palácio do Planalto no Facebook adotou imediatamente a linha de defender a organização do evento: “Valeu Brasil! Vamos continuar mostrando ao mundo que, mesmo sem nossa seleção na final, batemos um bolão fora de campo”.

O perfil da presidente Dilma no Facebook, que é administrado pelo PT, foi ainda mais explícito: “Perdemos a taça, mas a #copadascopas é nossa”, afirmou, repetindo o bordão adotado pelo governo para referir ao Mundial.

Preocupação com o pessimismo
A presidente não foi poupada nas redes sociais. Assim que tuitou lamentando a derrota do Brasil, os internautas partiram para cima, respondendo desaforos, na maioria. Alguns, mais leves, como: “Auto-ajuda não, presidente!”, “Foco nas vagas de medicina que a senhora prometeu”, “Vamo (sic) construir hospital agora que perdemos?” e até brincadeiras, como “Faz outra Copa aí pro Brasil vencer”, e “Cancela a Copa”. Mas os palavrões dominaram a timeline.

O discurso no entorno da presidente é que ela foi uma das maiores torcedoras e incentivadoras da seleção, mas que não estava em campo:

—A Copa deu certo e ela foi a maior torcedora (da seleção) — disse um auxiliar da presidente.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, garantiu que a presidente irá à final entregar a taça ao capitão do time campeão da Copa:

— O jogo foi um desastre, como nunca tinha acontecido. Ninguém pode dizer que o governo ou Dilma tenha responsabilidade sobre isso — disse Bernardo.

A presidente Dilma assistiu ao jogo no Palácio da Alvorada e, como os seus principais adversários na disputa pelo Planalto, não divulgou nenhuma foto durante a partida — ao contrário do que faziam nos jogos anteriores. O candidato do PSB a presidente, Eduardo Campos, como em todos os jogos, assistiu em casa, com a família. O único que foi ao estádio do Mineirão foi o candidato do PSDB, Aécio Neves. Ele foi discretamente, sem anúncio, segundo a assessoria, como um torcedor comum. O presidenciável tucano considerou a derrota sofrida, mas afirmou que o brilho do futebol brasileiro continua.

“Uma derrota sofrida, difícil de entender, mas que não apaga o brilho do futebol brasileiro e muito menos do nosso povo. Apesar do resultado, envio o meu abraço aos nossos jogadores, à comissão técnica e a todos que lutaram para colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio”, disse no Facebook.

O primeiro a lamentar a derrota, nas redes sociais, foi Eduardo Campos. E mandou um recado, para a próxima Copa. “O povo brasileiro fez uma festa linda durante toda Copa, mas o sonho do hexa foi, por ora, adiado. Tenho certeza de que voltaremos mais fortes em 2018”, afirmou, pelo Facebook.

Integrantes do governo afirmaram após a derrota da Seleção que uma coisa é futebol e, outra, é política. Mas reconheciam que o resultado do campo deve ser usado para atacar a presidente Dilma durante a campanha eleitoral. Um ministro afirmou que o governo e a campanha petista devem se preparar para a enxurrada de críticas e cobranças, ao menos, até a final da Copa do Mundo. O ministro do Turismo, Vinicius Lages, defendeu a realização da Copa no Brasil, dizendo que foi a mais intensa realizada até hoje:

— O sucesso da Copa até aqui não dependia da Seleção. Fomos gigantes na hospitalidade, no carinho com os turistas, marcamos pele e corações. A derrota em campo, por mais absoluta, não deve afetar nossa capacidade de reconhecermos o que somos hoje, um dos melhores países do mundo — disse o ministro do Turismo.

O ministro da Secretaria da Aviação Civil, Moreira Franco, disse que a função do governo era de garantir condições para realização da Copa no Brasil:

— Futebol é esporte. Eleição é política.

O candidato do PT ao governo de São Paulo, o ex-ministro Alexandre Padilha, verbalizou no Twitter a defesa que deverá ser repisada pelo comando também da campanha da presidente Dilma. “Brasil e os brasileiros estão de parabéns. Garantimos a estrutura, a hospitalidade, saímos um país mais forte p/ nossos desafios. Faltou futebol”, escreveu Padilha.

Há mais de uma semana havia dúvidas no PT quanto à estratégia de Dilma de avocar para si a defesa da realização do evento no Brasil — com a repetição como um mantra de que os “pessimistas” foram derrotados — e de tentar capitalizar o desempenho da seleção.

O discurso de que “Dilma não estava em campo” já vinha sendo preparado como antídoto bem antes da derrota acachapante do time brasileiro. O coordenador da campanha à reeleição e presidente do PT, Rui Falcão, já tinha dado a deixa depois do zero a zero com o México.

— A única coisa que não depende do governo federal é o Brasil ganhar a Copa. Nós queremos que ganhe, mas aí a Dilma não está em campo. Se ganhar melhor, tem tudo para ganhar.

Às vésperas do início do Mundial, o governo e o comando da campanha estavam tensos com a perspectiva de haver novamente grandes manifestações, nos moldes das que ocuparam as ruas em junho do ano passado. Também temiam alguma falha grave nos novos estádios. Desse ponto de vista, ficaram todos aliviados.

A atuação da presidente na Copa foi dividida em dois momentos. Primeiro, ela estava preocupada com o mau humor da população em relação aos gastos públicos para sediar o evento e pretendia acompanhar de longe os jogos. Mas depois que o Palácio do Planalto captou que as agressões sofridas na abertura da Copa repercutiram mal e poderiam ser revertidas a favor de Dilma, a presidente passou a tentar capitalizar politicamente a atuação da seleção brasileira.

Especialistas veem pouco impacto nas eleições

• Vexame da seleção pode afetar humor no curto prazo, mas efeito seria passageiro

Thiago Herdy, Germano Oliveira e Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA — O mau desempenho da seleção brasileira em campo, ontem, poderá interferir no humor nacional a curto prazo, mas não no resultado da campanha eleitoral que se inicia, na avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO.

— A Copa tirou o foco nos problemas econômicos e políticos do país. O governo ficou um mês em estado de graça e isso criou um clima de otimismo — disse o cientista político da UFSCar, Fernando Antônio Farias de Azevedo, lembrando a leve recuperação de Dilma na última pesquisa Datafolha.

No entanto, em sua avaliação, para o bem ou para o mal, tratava-se de um “efeito passageiro”. Ele lembra da memória das últimas cinco eleições, que provaria não haver “qualquer conexão” entre o resultado do Brasil na Copa e o das urnas.

Para o cientista político Roberto Romano, da Unicamp, a continuidade do sentimento de otimismo poderia ter beneficiado Dilma.

— Ela vai perder um pouco. Quando o Lula trouxe a Copa, imaginou que seria um passeio, com uma grande vitória brasileira, o que ajudaria o PT a vencer as eleições de 2014. Como isso não aconteceu, algum prejuízo ela terá e isso será usado por seus adversários na campanha, que tudo indica será bastante violenta — disse Romano.

O especialista lembra, no entanto, que problemas reais como a crise econômica e o retorno dos índices de inflação independem do resultado da Copa. E estes, sim, poderiam interferir no debate eleitoral.

— O que salva Dilma de efeitos mais negativos será a ação dos marqueteiros. A sorte é que ela tem o João Santana, que é um mágico e poderá fazer refluir, durante a campanha eleitoral, o pessimismo que permanecerá durante certo tempo — diz Romano.

O sociólogo Luiz Werneck Vianna acredita que o fracasso no futebol tem potencial para dar novo impulso ao desejo de mudança que atinge patamares elevados na população desde o ano passado. Para ele, entretanto, é “irresponsável e oportunista" qualquer análise sobre o impacto disso nas próximas eleições.

— O sentimento de mudança agora em relação à seleção vai se espalhar para outras dimensões e poderá ser um impulso novo para aquele desejo de mudança na população, que apareceu forte nas últimas pesquisas — afirmou Vianna.

Para Fernando Azevedo, “o jogo das eleições é diferente" e “se dá em outro campo":
— Se a seleção fosse campeã, isso não ajudaria a Dilma, assim como a derrota do Brasil não favorece a oposição. O eleitor ficou mais maduro, não mistura os canais. Eleição está de um lado, o esporte, do outro — acredita Azevedo.

O meio de campo dos presidenciáveis

• Candidatos ao Palácio do Planalto escalam interlocutores de campanha para se aproximarem de setores estratégicos da corrida eleitoral

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Iniciada a fase do pé no chão da campanha eleitoral, mais do que nunca os presidenciáveis precisarão de interlocutores com os diversos setores da sociedade para ouvir queixas, demandas e levar a eles as propostas de cada uma das campanhas. Os times não estão completos, alguns porta-vozes ainda dividem o tempo entre os atuais afazeres e as missões futuras. Estruturas ainda seguem sendo montadas. Mas a necessidade de diálogo aumenta a cada dia e se intensificará quando a campanha esquentar de fato, após o término da Copa do Mundo.

Candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG) tem dois importantes porta-vozes para reforçar o discurso econômico que tem impregnado a candidatura tucana nos últimos meses. Ao escolher o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como seu escudeiro fiel, atraiu para si a simpatia do setor financeiro nacional. "Eduardo estava bem à vontade nessa área. Quando Aécio trouxe Fraga (que é dono da Gávea Investimentos) oficialmente para seu lado, os investidores vieram como um imã", confirmou um investidor.

Dentro da campanha, Fraga é visto como um importante avalista. Mas é outro nome que atrai os olhos do empresariado: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ministro da Fazenda responsável pela criação do Plano Real, eleito e reeleito presidente na esteira da estabilidade econômica, FHC dá o peso institucional na relação com o setor produtivo nacional. "A presença de Fernando Henrique na nossa campanha transmite a imagem de seriedade, de competência e de uma pessoa que sabe montar uma equipe qualificada a serviço do país", justificou Aécio, em conversa recente com o Correio.

Na área sindical, Aécio escolheu o presidente do Solidariedade e ex-presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. O deputado federal tentou emplacar Miguel Torres, atual presidente da Força, como vice de Aécio, mas o mineiro optou pelo colega de Senado Aloysio Nunes Ferreira. Há duas semanas, o presidenciável tucano anunciou que Júnior, da ONG Afrorreggae, faria a ponte com os movimentos sociais. Integrantes da campanha afirmam que outros nomes serão agregados ao longo do processo, principalmente nessa área. "Da mesma forma que precisamos intensificar as pontes com a área social, os petistas buscam aliados no setor econômico", constatou um estrategista de Aécio.

O PT, aos poucos, vai montando seu staff. Mas o estilo Dilma Rousseff de governar fez com que a presidente se afastasse do setor produtivo, que a considera centralizadora. Presidente da Câmara de Gestão e Competitividade, o empresário Jorge Gerdau chegou a participar de encontros com a presença de Aécio Neves e outros empresários. Mas os tucanos não acreditam que ele fará campanha para o PSDB. "A relação dele com Lula e Dilma é forte. Uma vitória do Aécio não seria lamentada por ele. Mas, daí a se engajar em nosso time, há uma distância enorme", disse um aliado do tucano.

Para tentar reaproximar Dilma dos empresários, os encontros promovidos por Lula em seu Instituto, em São Paulo, têm sido essenciais. Nas campanhas anteriores do PT, Antonio Palocci e Henrique Meirelles exerciam com desenvoltura esse papel. Mas, hoje, Palocci está mais preocupado com as consultorias privadas do que em envolver-se diretamente na política. E Meirelles afastou-se da presidente. Além de Lula, outros representantes do setor produtivo que estão buscando essa ponte entre Dilma e os empresários são Abílio Diniz e Josué Gomes — curiosamente, ambos recusaram o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Movimentos sociais
O comando de campanha do PT anunciou ontem como um dos coordenadores o secretário Nacional da CUT, Jacy Afonso. Ele será o responsável pela ligação com o movimento sindical, área que os petistas dominam há muito tempo, embora tenham visto a defecção da Força Sindical para o PSDB e de outras centrais, como a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) para o PSB. Na área social, além da facilidade de ter pastas ministeriais com esse canal de diálogo, a campanha de Dilma poderá contar com Gilberto Carvalho, que ainda não se licenciou, mas é aguardado com ansiedade por estrategistas dilmistas.

Gilberto, inclusive, foi o responsável pela inflexão no discurso em relação às vaias e aos xingamentos direcionados a Dilma na abertura da Copa. Discurso endossado pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. "Um partido de esquerda que conseguiu mudar tanta coisa como nós mudamos no país, para melhor, não pode sentar sobre essas mudanças e dizer que está tudo resolvido. Não podemos ter ilusão de que vivemos em uma situação de social-democracia europeia", declarou o ministro.

O PSB anunciará, ainda este mês, um Conselho de Política e Cidadania incluindo nomes da sociedade civil e políticos de peso, como Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos. Os grandes responsáveis pela ponte com os movimentos sociais são Milton Coelho e Pedro Ivo. Na área sindical, o nome é Jailson Cardoso, secretário-geral da CTB. "Com os empresários, o principal interlocutor é o próprio Eduardo Campos. Ele transita com desenvoltura no setor produtivo brasileiro", elogiou o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. "Os parceiros nessa tarefa são escolhidos diretamente por ele", completou o socialista.

Colaboraram André Shalders e Grasielle Castro

Merval Pereira: O Mineirazo e Dilma

- O Globo

Assim como Dilma não faz gol, nem defende pênalti, também não escala o time. Por isso, nada tem a ver com o vexame protagonizado pela seleção brasileira na tarde de ontem no Mineirão. Mais uma vez, porém, foi xingada por parte da torcida presente ao estádio, em igualdade de condições com Felipão e Fred.

Nada mais equivocado do que essa repetição de comportamento, mas, mais uma vez, a equipe de marketing que assessora a candidata à reeleição errou na dose ao imaginar que a campanha da seleção poderia reverter em seu benefício, que não tem nada a ver com o sucesso do campeonato.

Até mesmo a derrota desmoralizante é mais um ingrediente para tornar esta a Copa das Copas, por razões alheias à atuação do governo. Dentro dos estádios, a Copa pode ser considerada a melhor de todos os tempos, e provavelmente a goleada de 7 a 1 sofrida pelo Brasil vai consolidar o recorde de gols marcados nesta edição.

Ficou claro, à medida que a seleção brasileira chegava aos trancos e barrancos à semifinal, que o Palácio do Planalto arvorou-se o responsável pelo sucesso da Copa, e tudo estava sendo preparado para que a presidente Dilma revertesse a situação da abertura, quando, mesmo não discursando por temor das vaias, foi xingada em uníssono no Itaquerão.

Com a seleção se classificando para as semifinais, Dilma confirmou que entregaria a taça ao campeão e classificou as vaias como “ossos do ofício”, na afoita esperança de que, entregando a Copa do Mundo ao capitão brasileiro Thiago Silva, tudo lhe seria perdoado.

Fez de tudo para associar sua imagem à da seleção pretensamente vitoriosa, fazendo até o “é tois” do Neymar para exibir-se nas redes sociais.

Mais grave, fez uma ligação direta — mais desastrada do que os passes longos da defesa brasileira para o ataque inexistente — entre o sucesso da Copa e as previsões pessimistas para a economia brasileira este ano. Como seus críticos supostamente erraram nas previsões catastróficas sobre a realização da Copa do Mundo, Dilma achou-se no direito de dizer que as previsões catastróficas para o crescimento de nossa economia também não se realizarão.

Se a seleção em campo não justificava um otimismo tão grande assim, mas ia seguindo em frente, na economia nada indica que uma previsão otimista tenha base na realidade.

Nos últimos 30 dias, vivemos em um país, pelo menos nas 12 capitais que sediam a Copa, que um dia poderá ser, mas ainda não é.

Mesmo o desabamento do viaduto em Belo Horizonte, que sinaliza a decadência de nossas obras públicas e o açodamento com que o PAC da mobilidade está sendo tocado, não provocou grandes reações, pois estávamos todos anestesiados pelo encantamento do futebol.

A fantasia da Copa do Mundo, que fez o país sair de sua realidade para criar uma bolha de felicidade e segurança nos últimos 30 dias, neutralizou por efêmeros momentos as conseqüências de uma política econômica que produz resultados desastrosos.

Mas eles estão aí, vigendo enquanto a bola rola nos estádios padrão Fifa e, assim como voltariam a ditar a vida dos brasileiros na próxima segunda-feira, na hipótese de uma vitória da seleção brasileira numa final que não acontecerá, retornaram ontem mesmo diante da tragédia do Mineirazo. A inflação superando o limite máximo aceitável é uma demonstração de que os efeitos perversos da política econômica são inexoráveis
mesmo no país do futebol.

Já tivemos a tragédia do Maracanazo, quando perdemos a final da Copa de 1950 para o Uruguai em pleno Maracanã. Tivemos a tragédia do Sarriá, quando a notável seleção de 1982 perdeu para a Itália por 3 a 2 quando dependíamos apenas de um empate. Mas nunca uma seleção perdeu de 7 em uma semifinal, onde os jogos são equilibrados geralmente, nem nunca uma seleção brasileira perdeu de 7.

Nada disso teria a ver com a presidente Dilma se ela não tivesse tentado afoitamente se aproveitar da Copa em benefício de sua candidatura. Tendo feito isso de caso pensado, a tragédia de ontem volta-se também contra ela. 

Dora Kramer: Ilusão à toa

- O Estado de S. Paulo

A vitória da técnica sobre o improviso no vexame planetário de ontem na partida entre Brasil e Alemanha pareceu corroborar a escrita: não se pode fazer tudo errado esperando que no fim dê tudo certo.

A despeito disso, em um ponto situação e oposição estão de acordo: o Brasil tem sido anfitrião de uma Copa do Mundo inesquecível. Ainda que não tenha saído tudo certíssimo conforme o figurino ideal, saiu tudo na medida do agradabilíssimo.

É a Copa de um país de sorte. Ou melhor, um país onde ocasionalmente dá tudo certo apesar de todos os pesares. Nada para se orgulhar. Ao contrário, é para fazer pensar.

Se no improviso, na base da simpatia é quase amor, na reversão da expectativa que de tão negativa faz dos erros meros detalhes nos safando do desastre, é de se imaginar o que faríamos com planejamento correto, cumprimento de prazos, gastos dentro da previsão, respeito ao cidadão local.

Seríamos coletivamente mais felizes. Ou, por outra, teríamos mais razões objetivas para sermos essas pessoas cuja amabilidade tanto tem impressionado os estrangeiros. Novidade nenhuma, uma vez que o Brasil aparece em pesquisas como um dos países cuja população tem alto grau de satisfação pessoal.

Um pouco dessa capacidade de organizar e produzir se expressa no sambódromo do Rio de Janeiro naquele espetáculo de sincronização algo incompreensível para quem já participou de um desfile e pôde testemunhar o grau de improvisação na concentração em contraposição ao profissionalismo do resultado na passarela.

Assim foi também na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, quando por aqui esteve o papa Francisco e provavelmente será na Olimpíada de 2016. Mas não se pode viver assim na base do remendo, na ilusão de que no limite a presumida nacionalidade do Divino dá seu jeito.

Trata-se de uma falsa competência. Realiza o sucesso ocasional, mas é incompetente para proporcionar ao povo de maneira permanente condições mínimas de conforto e bem-estar.

Daqui a menos de cinco dias tudo volta ao normal. E por "normal" entenda-se o que é absolutamente anormal: insegurança nas ruas, trânsito caótico, sistema de transportes deficiente, contas a pagar das obras superfaturadas, economia devagar quase parando, preços subindo, serviços públicos de quinta, uma realidade muito distante do Brasil maravilha disponível à diversão geral.

Nada do que se viu nesses dias era de verdade em relação ao cotidiano. Todo o empenho dos governos federal e estaduais esteve voltado para atender às exigências do Mundial. Concentraram-se esforços e o resultado foi positivo.

Se isso é possível ocasionalmente para efeito externo, seria também possível permanentemente para efeito interno.

O grande legado da Copa não são aeroportos modernos nem "arenas" ao molde de elefantes brancos. É, sim, a percepção de que nossos governantes podem, mas não fazem o melhor porque tratam o Brasil como uma nação de vira-latas.

Olho vivo. No ano passado Eduardo Campos comentava assim as especulações de que poderia aceitar a proposta de desistir em troca do apoio do PT a uma candidatura em 2018: "Tem gente que ainda espera o cumprimento de compromissos firmados em 1989".

Sinalizava que não seria ele a acreditar em acordo futuro lastreado em palavras não cumpridas no passado.

Sou você. O ex-presidente Lula está se movimentando (e falando) de modo a dar às suas plateias - principalmente aquelas formadas por empresários e políticos - a impressão de que um segundo mandato de Dilma Rousseff seria um ensaio geral para o retorno dele de fato e de direito em 2018.

Com isso, ele promete nos próximos quatro anos um ambiente mais Lula e menos Dilma.

Fernando Rodrigues: Agora, a ressaca

- Folha de S. Paulo

Ganhar ou perder faz parte da vida. Mas a derrota com certa dose de humilhação da seleção brasileira para a da Alemanha por 7 a 1 produz uma sensação um pouco mais desoladora.

Passaram-se 64 anos desde a decepção de 1950. O imaginário local sobre ganhar "em casa" provocou um estado de transe coletivo. A nação escancarou todo o seu atraso civilizatório resumido na dicotomia reducionista e infantil do "é tóis" (o Brasil) contra "eles" (o restante do mundo), como se uma disputa esportiva fosse vital para o país conseguir sanar seus problemas.

Protofascistas pediram na internet o assassinato do colombiano que causou a contusão em Neymar. O principal telejornal do país dedicou quase 90% do seu tempo diário ao futebol. O paroxismo da patriotada.

Agora, a ressaca. Talvez seja necessário esperar algumas décadas para ter outra Copa do Mundo no Brasil. O sonho de ganhar a atual se dissipou com os sete gols alemães de ontem (8). E ainda há o "jogo mais triste de todos", com os derrotados das semifinais disputando no sábado o 3º lugar.

O mundo não acabou, mas o bom humor das últimas semanas vai se evanescer um pouco. O país voltará a se enxergar como de fato é.

Haverá efeito político relevante? Não creio. O jogador Ronaldo teve um apagão durante a Copa de 1998. A seleção brasileira perdeu de maneira contundente. Mas o tucano Fernando Henrique Cardoso, com a economia no buraco, conseguiu se reeleger presidente. Em 2006, o petista Lula foi reeleito ainda sob os eflúvios do mensalão e de uma derrota do Brasil na Copa da Alemanha.

É claro que a vitória da seleção prolongaria o estado de torpor quase geral. Ajudaria quem já está no poder, a presidente e os governadores. O despertar do sonho --ou do pesadelo-- acelera a percepção da realidade. Não é ruim. O Brasil ainda é uma nação a ser construída, e tem pressa.

Rosângela Bittar: Armação ilimitada

Mercadante é o único com vaga garantida no Dilma II

- Valor Econômico

Como favorita, por estar no cargo e ter já uma equipe forjada em quatro anos de administração, na execução de um programa de governo em andamento e um projeto político pendular vacilante entre a continuidade e a mudança, a presidente Dilma Rousseff deveria ser, dos candidatos a presidente nas eleições de outubro, a mais bem resolvida. Tanto para saber o que vai fazer no futuro próximo de um segundo mandato, caso venha a ser reeleita, como com quem vai à luta, quem é seu time.

No entanto, enquanto seus adversários apresentam os principais colaboradores, notadamente entre eles aquele que deve comandar a economia, definidos para um futuro governo, dando nitidez às suas candidaturas, Dilma faz questão de informar que não tem nomes e só dará as linhas mestras de seu projeto após a eleição. Noutras palavras, quem quiser votar em Dilma que o faça no escuro, no máximo com base na permanência da equipe atual. O que apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral como programa de sua candidatura foi um plano fantasia, para cumprir tabela legal. O eleitor que crie a expectativa que quiser sobre o que vem aí, prenúncio de que boa coisa não é, senão o governo propagaria.

Serve como garantia, e dá segurança ao eleitorado, o conhecimento de que em qualquer rumo que ingresse o candidato Aécio Neves, o fato de ter Armínio Fraga como líder da formulação do projeto dessa candidatura para a economia clareia um pouco o futuro; bem como serve como atestado de que não se cometerão desatinos ou repetições dos erros atuais a escalação de Eduardo Giannetti para a economia no time do candidato Eduardo Campos.

Não há um ministro entre os mais próximos de Dilma que se sinta à vontade para ao menos especular sobre os nomes disponíveis a convites para trabalhar em um segundo governo Dilma.

Duas informações que circulam, porém, criam mais ansiedade que solução para os graves problemas de credibilidade da equipe econômica do atual governo. Uma, é que a presidente, não abrindo agora seus planos e equipe que poderia testar, consolida a desconfiança de que pode até mesmo manter o atual comando da economia, de baixo conceito. Arno Augustin e Guido Mantega continuariam nos cargos, uma vez ela reeleita presidente.

Outra é que só há um ministro de hoje com lugar garantido no governo Dilma II, exatamente o homem do confronto, atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Ainda assim, não necessariamente no mesmo cargo, o que abre brechas aos temores de que, finalmente, o ex-senador por São Paulo pode, finalmente, colocar em prática suas teorias econômicas.

Certo é que Mercadante seria um ministro, na aposta de colegas, o único até o momento, a transpor os períodos I e II, por enquanto. Deve ter cargo, também, Fernando Pimentel, entre outros mais chegados, mas aqui entram dezenas de condicionantes, a primeira, no seu caso, é a eleição para governador de Minas Gerais.

Outra certeza é que o ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, continuará sendo seu principal, senão único, conselheiro, alguém que a presidente realmente ouve e leva em consideração. Assim, se estiver havendo busca por empresários ou juristas de renome, pessoas fora de partidos políticos da aliança que possam integrar o segundo governo Dilma, é ali, no Rio Grande do Sul, onde ele mora, que esta roda gira.

Muito pouca definição, ou sinal ao eleitorado, para a favorita na disputa que pede um segundo mandato. Enquanto a presidente segue sendo uma esfinge, é da conversa com os executivos da campanha da reeleição que começam a surgir os sinais de que esse vácuo já está sendo ocupado. Por ele mesmo, o ex-presidente Lula.

Uma reportagem esclarecedora publicada pelo Valor na segunda-feira mostra que o movimento Volta, Lula adquiriu outro tônus, mas trata das mesmas perspectivas: se Dilma perder a eleição, o ex-presidente fará campanha, na oposição, no dia seguinte à derrota, mas não é para isso que se prepara. Reeleita Dilma, o ex-presidente Lula já decidiu assumir um protagonismo que se assemelha mesmo ao comando de um governo paralelo.

Os repórteres Raymundo Costa e Andrea Jubé contaram que nas hostes de Lula e Dilma formula-se um modelo em que fica evidente o papel de Chefe de Estado para a presidente Dilma e chefe de governo para o ex-presidente Lula.

Os mais próximos a Lula, que o representam no comando da campanha da reeleição, avisam que o ex-presidente terá uma atuação "proativa". Um jargão diplomático para uma ação que se pode imaginar muito pouco diplomática.

Informam, por exemplo, que a movimentação de Lula após as eleições- em direção a partidos aliados, ao Congresso, aos movimentos sociais, aos empresários, aos sindicatos - forçará Dilma também a conversar mais, a incorporar o diálogo ao processo político.

Devagar se chega ao ponto: Lula, assinalam, deverá liderar o debate sobre propostas de que Dilma eventualmente não queira tomar a frente. Ou seja, fará o ex o que a atual não quiser fazer no governo para o qual foi eleita. Parece algo estapafúrdio mas é o que prometem e preveem. Nesse caso está o exemplo do projeto de controle da mídia, agora já aprovado por Lula e ainda sub-judice nas intenções de Dilma em um segundo tempo.

Lula poderia, ainda, noutro exemplo, ter posição diferente de Dilma sobre assuntos econômicos, como a política de desonerações, admitem os assessores de campanha. Daí para impor um nome para comandar a economia - Lula já queria trocar Guido Mantega e Arno Augustin há muito tempo, optando por uma solução de mercado -, seria um pulo.

Sem ter uma segunda reeleição pela qual resistir às interferências, Dilma seria forçada a ter seu governo com um pé em cada canoa e veria o impaciente ex-presidente, que não quis desbancá-la da candidatura à reeleição, fazer sua volta em 2014 mesmo deslocando o centro do poder precocemente.

Acenando com a perspectiva da glória formal logo ali, em 2018, para onde marcharia em campanha incessante a partir da reeleição da atual presidente. É Lula 2018 na travessia de 2014. Com Dilma no cargo.