Mercadante é o único com vaga garantida no Dilma II
- Valor Econômico
Como favorita, por estar no cargo e ter já uma equipe forjada em quatro anos de administração, na execução de um programa de governo em andamento e um projeto político pendular vacilante entre a continuidade e a mudança, a presidente Dilma Rousseff deveria ser, dos candidatos a presidente nas eleições de outubro, a mais bem resolvida. Tanto para saber o que vai fazer no futuro próximo de um segundo mandato, caso venha a ser reeleita, como com quem vai à luta, quem é seu time.
No entanto, enquanto seus adversários apresentam os principais colaboradores, notadamente entre eles aquele que deve comandar a economia, definidos para um futuro governo, dando nitidez às suas candidaturas, Dilma faz questão de informar que não tem nomes e só dará as linhas mestras de seu projeto após a eleição. Noutras palavras, quem quiser votar em Dilma que o faça no escuro, no máximo com base na permanência da equipe atual. O que apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral como programa de sua candidatura foi um plano fantasia, para cumprir tabela legal. O eleitor que crie a expectativa que quiser sobre o que vem aí, prenúncio de que boa coisa não é, senão o governo propagaria.
Serve como garantia, e dá segurança ao eleitorado, o conhecimento de que em qualquer rumo que ingresse o candidato Aécio Neves, o fato de ter Armínio Fraga como líder da formulação do projeto dessa candidatura para a economia clareia um pouco o futuro; bem como serve como atestado de que não se cometerão desatinos ou repetições dos erros atuais a escalação de Eduardo Giannetti para a economia no time do candidato Eduardo Campos.
Não há um ministro entre os mais próximos de Dilma que se sinta à vontade para ao menos especular sobre os nomes disponíveis a convites para trabalhar em um segundo governo Dilma.
Duas informações que circulam, porém, criam mais ansiedade que solução para os graves problemas de credibilidade da equipe econômica do atual governo. Uma, é que a presidente, não abrindo agora seus planos e equipe que poderia testar, consolida a desconfiança de que pode até mesmo manter o atual comando da economia, de baixo conceito. Arno Augustin e Guido Mantega continuariam nos cargos, uma vez ela reeleita presidente.
Outra é que só há um ministro de hoje com lugar garantido no governo Dilma II, exatamente o homem do confronto, atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Ainda assim, não necessariamente no mesmo cargo, o que abre brechas aos temores de que, finalmente, o ex-senador por São Paulo pode, finalmente, colocar em prática suas teorias econômicas.
Certo é que Mercadante seria um ministro, na aposta de colegas, o único até o momento, a transpor os períodos I e II, por enquanto. Deve ter cargo, também, Fernando Pimentel, entre outros mais chegados, mas aqui entram dezenas de condicionantes, a primeira, no seu caso, é a eleição para governador de Minas Gerais.
Outra certeza é que o ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, continuará sendo seu principal, senão único, conselheiro, alguém que a presidente realmente ouve e leva em consideração. Assim, se estiver havendo busca por empresários ou juristas de renome, pessoas fora de partidos políticos da aliança que possam integrar o segundo governo Dilma, é ali, no Rio Grande do Sul, onde ele mora, que esta roda gira.
Muito pouca definição, ou sinal ao eleitorado, para a favorita na disputa que pede um segundo mandato. Enquanto a presidente segue sendo uma esfinge, é da conversa com os executivos da campanha da reeleição que começam a surgir os sinais de que esse vácuo já está sendo ocupado. Por ele mesmo, o ex-presidente Lula.
Uma reportagem esclarecedora publicada pelo Valor na segunda-feira mostra que o movimento Volta, Lula adquiriu outro tônus, mas trata das mesmas perspectivas: se Dilma perder a eleição, o ex-presidente fará campanha, na oposição, no dia seguinte à derrota, mas não é para isso que se prepara. Reeleita Dilma, o ex-presidente Lula já decidiu assumir um protagonismo que se assemelha mesmo ao comando de um governo paralelo.
Os repórteres Raymundo Costa e Andrea Jubé contaram que nas hostes de Lula e Dilma formula-se um modelo em que fica evidente o papel de Chefe de Estado para a presidente Dilma e chefe de governo para o ex-presidente Lula.
Os mais próximos a Lula, que o representam no comando da campanha da reeleição, avisam que o ex-presidente terá uma atuação "proativa". Um jargão diplomático para uma ação que se pode imaginar muito pouco diplomática.
Informam, por exemplo, que a movimentação de Lula após as eleições- em direção a partidos aliados, ao Congresso, aos movimentos sociais, aos empresários, aos sindicatos - forçará Dilma também a conversar mais, a incorporar o diálogo ao processo político.
Devagar se chega ao ponto: Lula, assinalam, deverá liderar o debate sobre propostas de que Dilma eventualmente não queira tomar a frente. Ou seja, fará o ex o que a atual não quiser fazer no governo para o qual foi eleita. Parece algo estapafúrdio mas é o que prometem e preveem. Nesse caso está o exemplo do projeto de controle da mídia, agora já aprovado por Lula e ainda sub-judice nas intenções de Dilma em um segundo tempo.
Lula poderia, ainda, noutro exemplo, ter posição diferente de Dilma sobre assuntos econômicos, como a política de desonerações, admitem os assessores de campanha. Daí para impor um nome para comandar a economia - Lula já queria trocar Guido Mantega e Arno Augustin há muito tempo, optando por uma solução de mercado -, seria um pulo.
Sem ter uma segunda reeleição pela qual resistir às interferências, Dilma seria forçada a ter seu governo com um pé em cada canoa e veria o impaciente ex-presidente, que não quis desbancá-la da candidatura à reeleição, fazer sua volta em 2014 mesmo deslocando o centro do poder precocemente.
Acenando com a perspectiva da glória formal logo ali, em 2018, para onde marcharia em campanha incessante a partir da reeleição da atual presidente. É Lula 2018 na travessia de 2014. Com Dilma no cargo.
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