sábado, 18 de julho de 2015

Alberto Aggio - A 'questão grega' e o que pode seguir

Há quem imagine que já se possa falar na existência de uma "questão grega", que passaria a figurar como paradigma no combate ao capitalismo financista. A vitória alcançada no referendo pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, líder do Syriza, que recusou as condições impostas pela União Europeia (UE) para a renovação dos empréstimos ao país helênico, parece ser o grande marco desse paradigma. A estratégia de Tsipras tinha como objetivo mínimo a manutenção do governo de ultraesquerda e, como programa máximo, abrir uma contestação incisiva à dinâmica vigente na UE, objetivando a sua "reforma democrática". O primeiro objetivo foi alcançado e o governo sobreviveu. O segundo não é uma proposta apenas de Tsipras, mas sem dúvida toca no desafio mais profundo da UE.

A vitória do Syriza no referendo pôs em xeque o projeto europeu, uma vez que se poderiam estabelecer elementos disruptivos preocupantes, dentro e fora da Europa. Todos os atores envolvidos, mais a observação ativa dos EUA, levaram isso em conta quando se sentaram à mesa para negociar os termos do acordo proposto por Tsipras, depois de aprovado no Parlamento grego. O resultado das negociações foi um programa de austeridade que muitos consideram draconiano, mas que o líder do governo grego foi forçado a aceitar, mantendo a disposição de defendê-lo perante seus concidadãos. Afora as promessas de redução e alongamento da dívida, Tsipras ressaltou a importância da manutenção da soberania grega ante o controle dos processos de privatização e enfatizou o prazo de três anos bem como o montante de recursos que a Grécia irá receber para voltar a ter alguma estabilidade e retomar do crescimento. Aprovadas as primeiras medidas, o Parlamento grego deu um claro sinal aos credores da UE de que deverá seguir aprovando os demais itens do resgate, e o risco de uma ruptura da Grécia com a zona do euro estaria afastado, pelo menos dentro das condições acordadas até o momento.

O cenário ainda é intrincado e o governo grego segue navegando em águas tempestuosas. Está claro que o referendo serviu muito mais aos propósitos políticos do Syriza de se legitimar externamente do que às opções que constavam na confusa cédula eleitoral. Contudo, o referendo gerou ilusões e, como se viu, produziu pouca sustentação política e credibilidade ao governo grego diante de uma Alemanha que passou a radicalizar mais ainda suas posições em relação ao país helênico, defendendo inclusive sua exclusão temporária da UE. No contexto das tratativas, Merkel buscava transformar a derrota tática numa vitória estratégica, endurecendo os termos e as condições do acordo. Em nenhum momento reconheceu que evitar o referendo, antecipando um acordo mais razoável, como propôs o primeiro-ministro Matteo Renzi, seria a coisa mais acertada a fazer.

No pós-referendo, as divisões do Syriza já eram esperadas, visto sua composição ideológica. A recusa de apoio a Tsipras por alguns parlamentares do Syriza resultou na perda da maioria no Parlamento. Registre-se que houve renúncia de ministros adstritos ao partido e que a maioria do CC do Syriza se colocou contra a aprovação dos termos do ajuste. Explicável, portanto, que nesse contexto tivesse ressurgido o fantasma da traição, uma noção que esteve presente no repertório dos piores momentos da história da esquerda mundial. Uma fórmula reconhecidamente débil e instrumental.

Apesar de condutas muitas vezes paradoxais, Tsipras caminhou, em meio à turbulência, em direção a uma postura de "esquerda de governo", superando a fase de construção retórica e simbólica de seu partido-movimento. Uma atitude saudada, inclusive, pelo Podemos, desde a Espanha. Guardadas as diferenciações de época e de circunstância, se Tsipras conseguir se manter no governo por mais algum tempo (já se fala em eleições antecipadas em setembro), terá realizado uma operação à François Mitterrand, que, depois de ter vencido em aliança com os comunistas, rompeu essa aliança para superar a crise inicial do seu governo. Uma opção que nunca esteve disponível a Salvador Allende, no Chile, uma década antes.

É relevante pensar por que se estabeleceu uma idolatria da vitória do "não" no referendo grego. Mesmo diante de uma situação dramática e quase sem saídas para a Grécia, essa idolatria acabou produzindo uma sensação ilusória de assalto aos céus, alçando o país a um lugar paradigmático e simbólico. Alguns, como Alain Badiou, anteciparam a necessidade de criar "brigadas internacionais", como aquelas que se formaram na guerra civil espanhola, para apoiar o governo grego! Numa versão não tão pedestre, no interior da vertente intelectual que vê de maneira catastrófica a situação da esquerda europeia, cultivou-se a ideia de que um "país atrasado" (para os padrões europeus), com economia combalida e ferido de morte por décadas de parasitismo em relação ao Estado e aos recursos da UE, seria capaz de redirecionar, mesmo em estado quase terminal, a estratégia da esquerda mundial ao sinalizar o rumo para o enfrentamento ao capitalismo financeiro. Nessa fabulação extemporânea da teoria das "vantagens do atraso", o desastre grego foi tomado como uma vantagem para se estabelecer uma via plebiscitária de superação do capitalismo. São argumentos fundados num mimetismo ideológico flagrantemente anacrônico. A "questão grega" acabou reduzida, assim, à falácia da democracia direta, que pensa a democracia contemporânea a partir de puros atos plebiscitários.

A "questão grega" nada mais é do que uma releitura da "revolução", conduzida por uma esquerda ancilosada ou por aquela que vê tal emblema como um "drama da multidão em atos". Isso, somado à cultura nacionalista e corporativa da direita, apenas fará com que a desejada "reforma democrática" da União Europeia seja deslocada para as calendas gregas.

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*Alberto Aggio é professor titular de História da Unesp

Merval Pereira - A voz rouca das ruas

- O Globo

Em linguagem parlamentar chula, o tempo é de vaca não reconhecer bezerra, tal a confusão em Brasília. Como não há liderança política que se imponha para tentar controlar a crise, nem partidos de peso que possam se posicionar acima das dissidências, pois estão envolvidos em tenebrosas transações ou interesses próprios, ou não têm expressão para a mediação política necessária, o que definirá o rumo dos acontecimentos serão as manifestações populares.

Se a programada para 16 de agosto tiver a grandiosidade das primeiras, em 2013 e em março deste ano, o frágil equilíbrio do governo desmoronará rapidamente. O Congresso e os órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União e o Tribunal Superior Eleitoral, vão se mover segundo a voz rouca das ruas (na definição perfeita de Ulysses Guimarães), e nesse caso o espalhafatoso anúncio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de que está na oposição terá consequências drásticas enquanto ele tiver poder para tanto.

Claro que ter um atirador de elite como Cunha à solta por aí, com o único propósito de levar junto consigo o maior número de pessoas possível para o destino que parece inevitável, não é situação confortável nem mesmo para seus maiores inimigos.

Mas, dentro da confusão que está instalada, soou como música a ouvidos palacianos a denúncia do empresário Júlio Camargo contra Cunha. O presidente da Câmara, porém, vai fazer o estrago possível; ontem mesmo, já convocou a temida (pelo governo) CPI do BNDES e anunciou que convocará em agosto outra bomba, a CPI dos Fundos de Pensão.

Seu companheiro de infortúnios, o senador Renan Calheiros, já havia anunciado a formação das mesmas CPIs no Senado. Mesmo sem ser tão histriônico quanto Cunha, Renan Calheiros guarda na geladeira a vingança que usará contra seus adversários, enquanto tiver forças para lutar.

O mais provável, porém, é que ambos sejam obrigados a deixar as presidências das Casas que comandam, se não por questões morais que há muito superaram por um pragmatismo político desprezível, por força de decisão judicial. Mas, enquanto estiverem de posse de suas funções, farão tudo para atazanar a vida do Palácio do Planalto, que, estão convencidos, está por trás da "perseguição" do Ministério Público a eles.

Uma teoria conspiratória de péssima qualidade, pois, se o governo tivesse condições de controlar os controladores e os investigadores, não estaria na situação de penúria política em que se encontra. Mas também para Cunha e Calheiros é bom se convencerem dessa estapafúrdia versão, pois somente ela justifica o que está acontecendo com os dois.

A alternativa seria admitir que estiveram mesmo metidos em negociatas da Petrobras, o que não farão nem depois de presos, se for o caso.

Quem diz que sabe o que ocorrerá está mentindo. Tamanha confusão sem instância de mediação nunca se viu no país, a começar por governo tão fraco que não consegue nem manter maioria aparente no Congresso, quanto mais comandar um grupo político.

Cunha disse, com endereço certo, que existem vários "aloprados" no Planalto minando as negociações que Temer vem tentando. Há de fato informações de que tanto o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante - a quem Cunha certamente quis atingir com o epíteto "aloprado" -, quanto a presidente da Caixa, Miriam Belchior, não liberam as nomeações acertadas com a base.

Mas, e se fazem assim com a anuência da própria Dilma, que nos bastidores já se queixou de não se sentir confortável com este presidencialismo de coalizão que troca cargos por votos?

O que resta a Dilma a esta altura é querer se diferenciar dos que à sua volta estão envolvidos nos escândalos de corrupção. Já disse que não vai pagar a conta pelo que outros fizeram -referência indireta ao PT e, sobretudo, a Lula - e que não encontrarão nenhum proveito pessoal dela nesses desvios.

Uma tentativa de bloquear suas próprias culpas, como ter sido presidente do Conselho de Administração da Petrobras e não saber o que estava se passando sob seu nariz na companhia. Ou "fazer o diabo" para se eleger, fechar os olhos e aceitar dinheiro sujo para financiar sua campanha.

Uma atitude psicológica natural essa de procurar se proteger quando o mar de lama se aproxima. Quanto mais não seja para justificar depois uma atitude mais dramática, como a renúncia à Presidência.

Igor Gielow - Infernos

- Folha de S. Paulo

Brasília vive a progressiva inserção no quadro que representa o inferno no esplêndido tríptico "O Jardim das Delícias Terrenas", de Bosch. Tudo está escuro e pesado, matizado apenas por lampejos oriundos do lume de regiões inferiores.

É nessas nesgas de luz trevosa que se encontram as pistas do que espera o mundo político. O rompimento de Eduardo Cunha com o governo, de fato, já que de direito o é desde sempre, abre para o Planalto um portal infernal imprevisível.

Até aqui, Cunha manobrava entre estocadas e concessões ao governo, em oposição ao comportamento agressivo do seu companheiro na chefia do Senado, Renan Calheiros. Agora, Dilma tem dois dos três próceres do PMDB contra si; o terceiro, seu vice Michel Temer, está constitucionalmente ao seu lado, por ora.

Note-se que não trato aqui de culpas. Politicamente, Cunha sofreu um baque com a acusação de propina na Lava Jato, que o colocou na defensiva. Até agora, está falando virtualmente sozinho, mas não contem com isso de forma indeterminada.

Fosse outro governo, cairia com relativa facilidade –lembrem de Severino Cavalcanti e seu "mensalinho", Renan e seus rolos anteriores.

Mas falamos de Cunha, cuja sagacidade garantirá tom épico a qualquer embate. E, principalmente, da gestão natimorta de Dilma 2, que se arrasta tal e qual zumbi de cinema.

Soa prematura a comemoração palaciana das agruras do deputado, como se um ano e meio de infortúnios sobre PT e governo, fora TCU, TSE e Lula sob inédita investigação, fossem apagados do nada. Cunha ainda tem muito capital político para queimar, ao contrário de Dilma.

O enredo é complexo, e tem na Procuradoria-Geral da República ator central para determinar a velocidade da crise daqui em diante.

Institucionalmente, claro, é tudo uma tragédia sem fim e de uma opacidade desalentadora. O cenário não inspira esperança para o país.

Míriam Leitão - Crise institucional

- O Globo

A crise piorou nos últimos dias. Ela se desdobra em ramificações que se cruzam, elevando o grau de tensão. A presidente da República vai se transformando em uma figura simbólica, sem qualquer capacidade de comandar a agenda. Os poderes se acusam. A economia se afunda em recessão, inflação alta e dívida crescente. Economistas estão revendo para 2% a 2,5% o encolhimento do PIB de 2015.

Quando a presidente Dilma fala, a gente nota que o silêncio lhe cai bem. Quando nada diz, pode-se ter esperança de que ela esteja entendendo o grau de confusão no qual o país está. Ao falar, Dilma confunde confissões extraídas sob tortura na ditadura com delações previstas em lei, feitas por criminosos à Justiça, em pleno Estado de Direito. Nas reuniões que faz para avaliar a crise, a presidente mistura governo com partido ou tem encontros que, do ponto de vista institucional, não deveria ter para tratar deste tema, como o que manteve com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

Há uma crise política derivada da perda de apoio popular à presidente. Pela lógica do modelo do presidencialismo de coalizão, a desaprovação dos eleitores acaba desidratando a força política do chefe do executivo. Nos ciclos do modelo brasileiro, o poder atrai, a perda do poder afugenta. Os políticos da base governista se afastam do chefe do executivo quando ele perde aprovação popular. Momentos assim exigem da Presidência grande habilidade para comandar a agenda política e voltar a ser um polo de atração. Esse atributo parece não ser o forte da atual presidente.

Há uma crise política por uma situação peculiar do momento, em que os comandantes das duas Casas do Congresso estão sob investigação e sendo citados como beneficiários de propina. A reação deles é acusar o Executivo de estar por trás das ações da Polícia Federal, Ministério Público e Justiça. Por elementar, se pode afastar essa visão persecutória. Se tivesse capacidade de manipular o órgão policial e as instituições do Ministério Público e Justiça, o governo o faria em seu próprio benefício. Não tem conseguido no MP nem na Justiça de primeira instância.

A reação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é uma tentativa de se desvincular de um escândalo que o pega de frente. Na sua declaração se vê a tentativa inútil de camuflar algo que está visível. "Essa lama, eu não vou aceitar estar junto dela." Cunha rompeu com o governo, mas não pode se separar da Operação Lava-Jato, a menos que se prove que a acusação feita pelo delator Júlio Camargo, de que deu a ele US$ 5 milhões, não é verdadeira.

Esse ambiente indica que o segundo semestre será pior do que o primeiro na política. Cunha tem grande poder sobre a pauta do Congresso, como se viu, e sabe exercê-lo. O governo é inoperante e inábil. Isso faz com que qualquer proposta que vá para o legislativo, mesmo que seja excelente do ponto de vista fiscal, pode se transformar em um projeto bomba. Eles fizeram isso no primeiro semestre, ao pendurar sobre uma MP que reduzia o custo com as viúvas jovens o projeto mais desestabilizador das contas previdenciárias.

Na economia, as perspectivas pioraram nos últimos dias. Esta semana, foram vários os especialistas de bancos e de consultorias que revisaram para pior as projeções da recessão. Economistas como Marcelo Carvalho, do BNP Paribas; Silvia Matos, do Ibre/FGV; ou Luiz Carlos Prado, da UFRJ, não tiveram dúvidas em dizer que houve uma piora no quadro econômico recente. Silvia disse que a Fundação tem colhido uma deterioração cada vez maior nas sondagens de confiança dos setores empresariais e dos consumidores. Marcelo Carvalho disse que o país vai viver a pior recessão em uma geração. A última queda do PIB significativa foi a de 1990, do governo Collor.

Essa mistura é explosiva: uma crise econômica com desemprego, inflação, recessão e piora fiscal; uma crise política que desfaz a coalizão de governo; um processo de investigação criminal que avança sobre algumas das principais lideranças do país. Não pelo que Cunha falou ontem, mas por tudo o que aconteceu este ano, já se pode dizer que o país não está apenas com dificuldades na governabilidade. O país está entrando numa crise institucional.

Arreganhos autoritários – Editorial / O Estado de S. Paulo

Fisiologismo é a prática política voltada para interesses e proveito pessoal, mediante atos de lassidão moral, prevaricação, corrupção ou afins. É a prática que o lulopetismo impôs, como nunca antes na história deste país, à gestão da coisa pública. A delação que inclui o deputado Eduardo Cunha na lista dos políticos investigados pela Operação Lava Jato – e provocou seu rompimento pessoal com o governo – é um passo importante, pela notoriedade do investigado, no combate aos efeitos do fisiologismo. É igualmente auspiciosa a notícia de que a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu uma investigação formal para apurar a suspeita de tráfico de influência nas relações do ex-presidente Lula com a empreiteira Odebrecht. Assim, as atenções da Justiça voltam-se também para o principal responsável pela praga hoje disseminada na vida pública brasileira. Lula e seu PT não inventaram a corrupção. Mas aprimoram a prática e a institucionalizaram, em benefício próprio e de um projeto de poder hoje falido, a ponto de mal sustentar ereto o "poste" que colocou no Palácio do Planalto.

A exposição de uma faceta que Lula sempre dissimulou poderá completar a desmistificação de um líder populista cuja reputação foi construída sobre pés de barro, como hoje se revela aos olhos de uma nação perplexa. E a denúncia de que o presidente da Câmara cobrou propina milionária relativa a contratos com a Petrobrás explodiu como uma bomba no noticiário, não pela informação em si, que não deve ter surpreendido muita gente, mas pela destemperada reação de Eduardo Cunha. Não é de hoje que o parlamentar fluminense, eleito para o comando da Câmara dos Deputados contra a vontade e o empenho do Planalto, acusa Dilma Rousseff e seus ministros de tentarem envolvê-lo na Lava Jato. E essa é uma das razões pelas quais Cunha se tem esmerado em manipular a pauta de votações e o comportamento de seus pares de modo a retaliar o Planalto, chantageá-lo e impor-lhe sucessivas e humilhantes derrotas em plenário. Disso tudo sobrou de positivo o reerguimento da importância política e institucional do Congresso.

Mas pode ser que esse benefício não dure muito. Pois o presidente da Câmara perdeu totalmente a compostura e ultrapassou os limites éticos e protocolares que um chefe de Poder deve manter com a Presidência da República. Não se limitou a refutar as declarações do delator Júlio Camargo. Falando aos jornalistas logo após a divulgação dos termos da delação colhida em Curitiba pelo juiz Sergio Moro, Cunha acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ter obrigado o depoente a mentir: "É muito estranho, às vésperas da eleição do procurador-geral da República e de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo procurador, ou seja, obrigar o delator a mentir". E acrescentou, tentando transformar todo o Parlamento em vítima de uma armação do Planalto: "É tudo vingança do governo. Parece que o Executivo quer jogar sua crise no Congresso".

A estratégia de defesa de Eduardo Cunha é clara. Tenta politizar a questão de seu envolvimento com a Lava Jato e desacreditar as investigações, atribuindo-as ao interesse do Planalto de afastá-lo do comando da Câmara dos Deputados. Essa estratégia, contudo, parece destinada ao malogro por estar na contramão do esforço nacional para o fortalecimento das instituições. Afinal, é justamente no contexto do saneamento moral e político da República que se encaixa a Operação Lava Jato, agora também no âmbito da Suprema Corte, responsável pela apuração dos fatos em que estão envolvidos políticos que têm direito a foro privilegiado.

A Operação Politeia, primeiro passo das investigações sob o controle do STF, é uma demonstração clara de que o Executivo, como tem argumentado o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não tem como intervir diretamente no desenvolvimento das apurações: os 53 mandados cumpridos pela Polícia Federal que resultaram, por exemplo, na apreensão da coleção de carros de luxo do senador Fernando Collor foram assinados por três ministros da Suprema Corte.

Tudo indica, portanto, que Eduardo Cunha terá de se conformar com o curso da Lava Jato e com seu desfecho. É assim que a coisa funciona quando as instituições democráticas são mais fortes do que os arreganhos autoritários de maus políticos.

Instituições estão acima de Lula e Cunha ou quem for – Editorial / O Globo

Ainda faltam duas semanas para agosto, mês temido pelos políticos supersticiosos, e a crise entre Congresso e Executivo ganha volume e densidade. Começou na madrugada de terça, quando policiais federais, com mandados de busca e apreensão assinados por ministros do Supremo, vasculharam residências e escritórios de, entre outros, três senadores e um deputado - senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL); Ciro Nogueira (PP-PI); senador e ex-ministro Fernando Bezerra (PSB-PE) e o deputado Eduardo Fonte (PP-PE).

A operação decorria de informações que vêm sendo colhidas a partir da Lava-Jato. A ação foi bastante criticada também pelo presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), já mencionado em delações como beneficiário do petrolão.

Outro citado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ganharia destaque a partir da tarde de quinta, ao entrar no ar no site do GLOBO vídeo do depoimento à força-tarefa da Lava-Jato do consultor Júlio Camargo, intermediário de propinas, uma delas, segundo disse, para Cunha. Seriam US$ 5 milhões, cobrados pelo deputado para deixar em paz as empresas Samsung e Mitsui, fornecedoras da Petrobras. Elas estavam sendo acossadas por requerimentos de informações aprovados na Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara por deputados do grupo do presidente da Casa.

Mais agressivo que Renan, Cunha declarou guerra: rompeu formalmente com o governo e acusou o Planalto e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de tramarem contra ele, bem como o juiz Sérgio Moro. Ora, é difícil imaginar essa aliança. Se existisse, por que o Planalto não livrou da prisão o tesoureiro do PT, João Vaccari, e outros próximos ao partido?

O PMDB teve o cuidado de, em nota oficial, qualificar de "posição pessoal" a atitude de Cunha. Que começou a retaliação: aprovou a formação de duas CPIs indigestas para o Planalto, sobre o BNDES e fundos de pensão de estatais. O mesmo fizera Renan no Senado, no dia anterior.

Por coincidência, soube-se, também na quinta-feira, que o ex-presidente Lula passou a ser investigado pelo MP do Distrito Federal, sob suspeita de que teria praticado tráfico de influência para ajudar a Odebrecht em obras no exterior, inclusive facilitando a obtenção de empréstimos no BNDES. Lula tem, agora, oportunidade de provar que não atuou como lobista. Pelo menos influência na máquina pública, mesmo depois de sair do Planalto, ele manteve. Afinal, o PT executou com competência a subordinação do aparato do Estado aos interesses do partido, e, vê-se agora, com a Lava-Jato, a desejos pessoais de líderes estrelados.

Embora esta não esteja sendo uma semana qualquer na política, tudo transcorre dentro dos marcos institucionais. Lula e Eduardo Cunha, quem for, não estão livres de ser investigados, denunciados e punidos, como estabelece a legislação, sempre com amplas garantias de defesa.

Rosiska Darcy de Oliveira - A nudez crua da verdade

- O Globo

• A sociedade brasileira sairá mais sólida desse purgatório em que desconstrói os seus mitos e enfrenta o cara a cara consigo mesma

Desalento e desesperança estão no ar. Ambos são tóxicos e maus conselheiros. Conduzem à paralisia ou ao cinismo do salve-se quem puder.

Sem minimizar o peso que a corrupção da política e os desastres da economia têm no cotidiano de cada um é bom lembrar que, por maiores que sejam os desgostos que provocam, o Brasil não se esgota na Praça do Três Poderes. A vida é feita de luzes e sombras e se só enxergarmos as sombras estaremos pecando por omissão. Há uma leitura possível dos fatos que é produtora de sentido e renovadora de esperança.

Saint Exupéry conhecia o poder constituinte da esperança. "Quem quiser construir um barco, não comece por juntar as madeiras, cortar as tábuas e distribuir o trabalho, e sim por despertar nos homens o desejo do mar aberto e infinito".

É esse desejo de um novo horizonte, a dimensão da esperança, que já não conseguimos experimentar. Colados à temporalidade vertiginosa da notícia, a vista vai ficando míope. Sabemos tudo e imediatamente sobre a cotação das bolsas e os escândalos do dia. Telas divididas em quatro informam sobre quatro continentes, mil amigos na internet filmam o que acontece em cada esquina. A enxurrada de informações transborda da capacidade de processamento e nos deixa órfãos de sentido.

Essa subversão contínua do imediato por outro imediato, essa aceleração patológica não dá chance ao pensamento de amadurecer. Vão ficando à margem questões essenciais. Em que tipo de sociedade queremos viver? É possível escapar à violência de todos contra todos? Que novos atores estão influindo no destino do país? Questões que pedem maturação quando os velhos arcabouços ideológicos estão caindo de podres.

O cenário político é degradante, com dois ex-presidentes da República e os presidentes da Câmara e do Senado sob investigação da Justiça. Em compensação temos um Poder Judiciário que funciona. A coragem de juízes e procuradores que conduzem a operação Lava-Jato redime o país das bandalheiras que a operação vai revelando. O país que eles desvelaram não teria existido se o Judiciário tivesse sempre atuado como está atuando agora. Daqui para frente será bem mais difícil debochar da lei e transformar o Congresso em esconderijo.

Os brasileiros em sua esmagadora maioria ganham suas vidas com trabalho honesto e mal visualizam as cifras delirantes envolvidas na roubalheira de que ouvem falar. A indignação dessa população cresce a cada dia, alheia às querelas intramuros de partidos decadentes. É dela e, sobretudo, da juventude, que não se reconhece no Brasil que estertora, corrupto e carcomido, que virá a invenção de contextos originais de participação e a renovação de lideranças para governar o pais.

A execração pública de políticos que sempre foram de moralidade duvidosa, até aqui blindados em suas imunidades, o desmascaramento dos falsos heróis populares que, enfim, começa a romper a blindagem até mesmo dos que se julgavam invulneráveis, é uma purga necessária. Razão de otimismo.

Se dos porões do obscurantismo ressurgem atitudes e ideias que imaginávamos superadas e que se traduzem em tentativas de, via Congresso Nacional, balizar a sociedade brasileira com dogmas religiosos, esse açodamento tem a natureza aterrorizada de um exorcismo. O pavor de ver triunfar a ética libertária na maneira de viver e fazer escolhas morais.

Esse reacionarismo - e aqui essa palavra tão ultrapassada se justifica - é o reconhecimento por falsos moralistas de que a sociedade mudou. Improvisam-se, então, às pressas, projetos de lei estapafúrdios para tentar deter o curso do mundo contemporâneo. O destino desses projetos de lei que, na contramão da experiência vivida pela maioria da população, visam a cortejar o eleitorado mais conservador é virar letra morta. Mais uma razão de otimismo.

Se tanta violência eclode entre nós, sobretudo na internet onde as facadas virtuais são impunes, é porque este continente selvagem tem muito do mundo inconsciente. Sem lei, sem tabu, sem superego, o comportamento dessa população incorpórea assusta. Não somos as doces criaturas que pensávamos ser. A evidência de nossa violência envergonha e está sendo reconhecida e condenada. Instrumentos de vigilância e de regulação já tentam civilizar o continente selvagem.

A sociedade brasileira sairá mais sólida desse purgatório em que desconstrói os seus mitos e enfrenta o cara a cara consigo mesma.

Não há razão para desalento. O Brasil está vivendo um dos momentos mais fascinantes de sua história. O fim da impostura, a hora da nudez crua da verdade.
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Rosiska Darcy de Oliveira é escritora

Maria Cristina Fernandes - O cronômetro de um presidente

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

• Em “O impeachment de Fernando Collor”, o sociólogo Brasilio Sallum Jr. Faz a anatomia do momento que levou a derrubada do primeiro presidente eleito pelo voto direto em 30 anos

São Paulo - O que derruba um presidente - corrupção, voluntarismo, crise econômica, perda de sustentação política ou erosão do apoio social? "O Impeachment de Fernando Collor - Sociologia de Uma Crise" (Editora 34, 2015, 421 pags.) tem uma tese, a de que as relações entre o Executivo e o Legislativo se trincaram num momento de superação do que Brasilio Sallum Jr. chamou de Estado varguista. Mas o autor vai além do subtítulo. Numa minuciosa reconstituição dos fatos, o chefe do Departamento de Sociologia da USP conduz o leitor à conclusão resumida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na orelha do livro: os dias de Collor só entraram em contagem regressiva no momento em que os partidos perceberam o que ganhariam com sua derrubada.

Sallum oferece evidências tanto a quem busca semelhanças com a crise que hoje cerca a presidente Dilma Rousseff quanto a quem se ocupa em distingui-la da de Collor. O livro, no entanto, não se presta a compará-las. É a anatomia, sem a dramaticidade de relatos jornalísticos, dos acontecimentos que levaram à queda do primeiro presidente eleito pelo voto direto em 30 anos. "Sallum ressalta algo que pode parecer banal, mas é essencial na vida política: o momento", diz FHC, protagonista daquele de 23 anos atrás e do atual.

A eleição de Collor se propunha a ser o marco divisório daquela que o autor chama de "crise de hegemonia" da transição: o impulso da democratização política trazido pela Constituinte de 1988 que cede à liberalização econômica.

A economia brasileira vivia um momento muito mais dramático que o de hoje. Collor tomou posse em março de 1990 sob inflação mensal de 82%. Para estabilizar a moeda, nomeou a economista da equipe de Dilson Funaro, Zélia Cardoso de Mello, mas declarava a quem quisesse ouvir que a Fazenda era ele.

O Plano Collor foi o primeiro carimbo do seu voluntarismo. Desde a posse, anunciara que não estava disposto a conter a inflação, mas a "liquidá-la". O núcleo do plano, o confisco de 80% dos ativos financeiros, foi acrescido de um ajuste fiscal que elevou tarifas, cortou subsídios, demitiu funcionários, extinguiu órgãos públicos e deu início a privatizações. O calhamaço das medidas provisórias foi entregue ao Congresso depois de cinematográfica caminhada do presidente e seus 12 ministros pela praça dos Três Poderes.

O cesarismo foi aceito pela maioria. Seis em cada dez brasileiros aprovaram as medidas. O plano teve a chancela do Supremo, contra o voto do relator da ação de inconstitucionalidade, Paulo Brossard: "A apropriação indébita de bens é furto".

O apoio não duraria. Ainda que desidratado ao longo de sua tramitação no Congresso, o plano levaria o país a perder 4% de sua riqueza no primeiro ano do governo Collor.

A primeira derrota veio do bloco sindical. Começava ali o precoce desmonte da única barricada de Collor no movimento social, o sindicalismo de resultados. A erosão desse apoio deixaria lições ao líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, que, 15 anos depois, recorreria aos seus exércitos sindicais contra o mensalão. O temor do contágio sindical também inspiraria sua queda de braço, nos bastidores do governo Dilma, pela adoção das medidas de proteção ao emprego.

A resistência se espraiaria por um conjunto de entidades reunidas pelo Movimento pela Ética na Política. A adesão das igrejas foi capitaneada pelos bispos católicos, num ativismo muito distante da cruzada moral que hoje une o pentecostalismo sob o beneplácito de Eduardo Cunha. À época, o atual presidente da Câmara, havia sido recompensado com a Telerj pelo trabalho de montagem do PRN.

O fracasso das primeiras medidas levaria à decretação do Plano Collor II em 1991, mas, a essa altura, o presidencialismo plebiscitário já tinha perdido parte de seu apelo. Um Congresso renovado, além de 27 governadores, havia tomado posse reivindicando uma fatia da legitimidade que parecia exclusiva do presidente. O descasamento dos mandatos teria fim a partir das eleições seguintes, mas ameaça voltar na reforma ora em curso no Congresso.

Para reconquistar a confiança do empresariado o presidente substituiu Zélia pelo embaixador nos EUA e ex-diretor do Unibanco Marcílio Marques Moreira. O novo ministro exigiria novos esforços fiscais para recompor relações com credores internacionais, aumentando as tensões federativas. Mas, a despeito de Collor depender de sua âncora mais do que Dilma depende do ministro Joaquim Levy, Marques Moreira não seria capaz de blindar Collor junto ao PIB até o fim.

Três meses antes do impeachment, Jorge Gerdau seria porta-voz de uma comitiva de empresários que hipotecaria apoio a Collor: "O senhor pode contar conosco [...] Seu programa de modernização tem todo nosso apoio". No apagar das luzes, a agenda liberalizante do governo ainda seria capaz de aprovar a regulamentação da concessão de serviços públicos.

O avanço do cerco sobre o presidente, no entanto, lhe tiraria o colchão empresarial. Ao transmitir seu cargo na Fiesp, Mario Amato divulgaria nota que pedia "absoluta necessidade de exemplar punição dos responsáveis e o restabelecimento da moralidade da administração pública". Àquela altura, sob o impulso da corrupção, a rua já estava contaminada pelo impeachment.

Sucessivas denúncias iniciadas pela entrevista do seu irmão, Pedro Collor, chegariam ao ápice com o testemunho do motorista Eriberto França e exporiam a condição do tesoureiro da campanha presidencial, Paulo César Farias, como operador dos negócios do presidente da República.

A exposição pessoal de Collor chegou ao limite com a descoberta de que retirara recursos de suas contas bancárias às vésperas do confisco, uma corrosão moral da qual a presidente hoje parece blindada. "O que elas [as denúncias] punham em questão já não era o desempenho de Fernando Collor de Mello na Presidência; era se ele dispunha, ou não, dos requisitos morais implícitos naquela investidura", escreveu Sallum.

Acuado, Collor redobrou as demonstrações de vigor físico. Também passeava de bicicleta, mas preferia as corridas matinais. O derradeiro canal foi a agressividade. O ódio que hoje se volta contra o PT e Dilma, era, em 1992, a estampa do presidente.

A mesma imprensa que ajudara a projetar o salvador da pátria passou a fazer campanha por sua saída, em editoriais com ponto de exclamação e na divulgação dos horários e locais de atos pró-impeachment. Humoristas como Jô Soares, que hoje são acusados de defender Dilma, transformaram seus programas de televisão em palco para a devastadora crônica de um governo que se desmanchava.

Com o circo armado na rua, os partidos de esquerda, capitaneados pelo PT, viram crescer as adesões à coalizão que viabilizou, institucionalmente, o desfecho daquela crise. A Comissão Parlamentar de Inquérito, montada para acuar o presidente, transformou-se no purgatório do impeachment. As lideranças dos principais partidos, em entendimentos com o vice, Itamar Franco, o Judiciário e os militares, começaram a dirimir as incertezas geradas por aquele momento, montando as bases do que seria a coalizão do novo governo.

Com o impeachment, o PT, liderado no Congresso pelo então deputado José Dirceu, por um lado, deixaria clara a opção do partido pelas saídas institucionais, isolando as alas mais radicais, e, por outro, vetaria a participação de seus integrantes no futuro governo para se manter como galvanizador da oposição.

O PMDB mantinha suas divisões. O partido tinha mais prefeitos e parlamentares que hoje, mas não ocupava os três cargos na linha sucessória da República. O senador Orestes Quércia foi entusiasta de primeira hora do impeachment, levando até mesmo o governador Luiz Antônio Fleury Filho a oferecer almoço a manifestantes no Palácio dos Bandeirantes. Com sua candidatura à Presidência já na praça, conseguiu evitar que o partido aderisse oficialmente ao governo Itamar.

Quem ocupou esse espaço foi o PSDB, partido ainda incipiente, com um único governador (Ciro Gomes), que viu na coalizão formada em torno de Itamar a chance de reforçar seu capital político. Graças a essa adesão, costurada nos bastidores do impeachment, os tucanos capitaneariam o plano de estabilização que, dois anos depois, lhe daria as chaves do Palácio do Planalto.

Adriana Calcanhotto - E o mundo nao se acabou

Joaquim Cardozo - Menina

Os teus olhos de água,
Olhos frios e longos,
Esta noite penetraram.
Esta noite me envolveram.

Bem querida madrugada...

Olhos de sombra, olhos de tarde
Trazem miragens de meninas...
Bundas que parecem rosas.

Sob o caminho de muitas luas
O teu corpo floresceu.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Opinião do dia - Jürgen Habermas

Temo que o governo alemão, incluindo a facção social-democrata, tenha jogado fora, em uma noite, todo o capital político que uma Alemanha melhor acumulou em meio século.
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Jürgen Habermas, filósofo alemão, em entrevista no jornal britânico The Guardian. O Globo 17 de julho de 2015

Lula é formalmente investigado no DF por tráfico de influência

Investigação sobre Lula avança no MP

• Ex-presidente se diz alvo de "grave violação de conduta" de Procuradoria

André de Souza – O Globo

BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) formalizou, no último dia 8 de julho, a abertura de uma investigação sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Procuradoria apura se ele praticou tráfico de influência internacional junto a agentes públicos estrangeiros para beneficiar a construtora Odebrecht. Também investiga se Lula influenciou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a financiar obras da empreiteira no exterior.

A procuradora da República Mirella Aguiar, responsável pelo caso, já tinha aberto um procedimento preliminar. O prazo para esse tipo de investigação estava perto do fim e havia duas possibilidades: arquivar o caso ou convertê-lo em procedimento investigatório criminal (PIC). A Procuradoria optou pela investigação. Ainda não há ação na Justiça. Com a instauração do PIC, é possível recorrer a procedimentos comuns numa investigação, como a quebra de sigilo. A PR-DF também solicitou o compartilhamento de informações da Operação Lava-Jato, que apura principalmente irregularidades em contratos da Petrobras com empreiteiras, entre elas a Odebrecht.

Viagem paga por construtora
A procuradora instaurou a apuração preliminar depois que o GLOBO revelou, em abril, que o então diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um périplo por Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, em janeiro de 2013. A viagem foi paga pela construtora e, oficialmente, não tinha relação com atividades da empresa nesses países. Investigado na Lava-Jato, Alexandrino foi preso em 19 de junho, por determinação do juiz federal Sérgio Moro. Ele é acusado por três delatores de operar o pagamento de propinas para a empresa no exterior. A relação oficial de passageiros do voo, obtida pelo GLOBO em abril, mostra que ele era o único que não fazia parte do círculo de convivência de Lula.

A PR-DF já tinha pedido informações ao Instituto Lula, à Odebrecht, ao BNDES, ao Itamaraty e a outros órgãos. Em resposta enviada em 15 de maio, advogados de Lula chegaram a pedir a extinção do procedimento, alegando a ausência de elementos que fundamentassem a suspeita. Vários órgãos pediram mais prazo para dar as respostas.

Ontem, o Instituto Lula informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que recebeu com surpresa a informação sobre a abertura do inquérito porque entregou, na semana passada, as informações solicitadas pela procuradora Mirella Aguiar. O instituto considera que houve pouco tempo para a procuradora analisar o material repassado, considerado bem "extenso e detalhado". A entidade afirma ainda entender fazer parte das atribuições do Ministério Público investigar denúncias e diz que irá comprovar a legalidade e a lisura de todas as suas atividades. O instituto diz que Lula é "alvo de grave violação de conduta" por parte do procurador que iniciou o processo. Também argumenta que O GLOBO "criminalizou um episódio corriqueiro", uma das 78 viagens que Lula fez ao exterior desde que deixou a Presidência, em 2011, para dar palestras, receber homenagens ou participar de debates.

Em nota, a Odebrecht informou que mantém com Lula uma relação institucional de forma "transparente e condizente com a posição e importância de seu papel como ex-governante". Segundo a empresa, ele foi convidado apenas para fazer palestras "em eventos voltados a defender as potencialidades do Brasil e de suas empresas". A Odebrecht sustenta que presidentes e ex-presidentes estrangeiros fazem a mesma coisa para promover seus países e diz que os financiamentos feitos pelo BNDES são regulares e não foram obtidos por meio da interferência de terceiros.

Questionado sobre o caso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu Lula:

- Não tenho como comentar. Apenas digo que tenho o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos grandes líderes do país, uma pessoa idônea. No mais, evidentemente, o Ministério Público exerce sua atribuição no campo da sua competência constitucional. (Colaborou Sérgio Roxo)

MP investiga Lula por tráfico de influência

• Ministério Público Federal do DF investiga suspeita de tráfico de influência do ex-presidente em favor da construtora Odebrecht

Talita Fernandes – O Estado de S. Paulo

A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu um procedimento de investigação criminal para apurar se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticou tráfico internacional de influência em favor da construtora Norberto Odebrecht. A procuradoria suspeita de fatos que tenham ocorrido entre 2011 e 2014 – quando Lula já havia deixado a Presidência. O documento diz que a suspeita é de que Lula teria obtido "vantagens econômicas da empreiteira Odebrecht, a pretexto de influir em atos praticados por agentes públicos estrangeiros, notadamente dos governos da República Dominicana e de Cuba (neste caso, em relação a obras financiadas pelo BNDES) e por agentes públicos federais brasileiros". Já havia na Procuradoria uma "notícia de fato", um procedimento preliminar ao inquérito referente à suspeita.

A decisão de transformar a ação preliminar em uma investigação formal ocorreu no último dia 8 devido ao esgotamento do prazo para que fossem apurados os fatos de suspeita iniciais, que era de 90 dias. No despacho, assinado pelo procurador Valtan Timbó Martins Mendes Furtade, foi encaminhado ofício informando da abertura o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o coordenador da força-tarefa, o procurador Deltan Dallagnol, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato no Paraná. A Dallagnol é pedido que sejam encaminhados recibos, correspondências e outros materiais apreendidos que envolvam o BNDES, o Instituto Lula, o próprio ex-presidente e a empresa LILS Palestras Eventos e Publicidade, que pertence ao petista. Uma das suspeitas é de que a Odebrecht teria pago despesas de viagem do ex-presidente, mesmo não sendo viagens de trabalho para a empreiteira.

Com isso, a construtora conseguiria vantagens no exterior. Junto aos documentos de investigações encaminhados pela Polícia Federal a pedido da Procuradoria estão listadas 38 saídas do ex-presidente do território nacional, entre fevereiro de 2011 e dezembro de 2014, ou seja, depois de ter deixado o cargo de Presidente da República. A empreiteira é uma das investigadas na Lava Jato, que já prendeu o ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht e outros executivos, como Alexandrino Alencar, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht. Segundo a Procuradoria, agora poderão ser usados todos os instrumentos investigatórios – incluindo ações de busca e apreensão e quebra de sigilo.

A investigação é conduzida pela procuradora Mirela Aguiar. Como não há participação da Polícia Federal e do Judiciário, o procedimento não é chamado formalmente de inquérito pela procuradoria. "Relevância". Em documentos encaminhados à Procuradoria, a defesa do ex-presidente pediu a exclusão do processo investigatório ao afirmar a "relevância" do petista. "É político e notório, é fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), ex-Deputado Constituinte e ex-Presidente da República, pessoa pública e respeitada e admirada tanto no Brasil como no exterior."

A defesa listou ainda conquistas do governo Lula na política exterior, como negócios firmados com outros países, e disse que ele foi presidente da República por dois mandados e deixou o posto com "recorde de avaliação positiva". Além disso, a documentação traz uma lista de premiações internacionais recebidas pelo ex-presidente.

Ex-presidente afirma ser alvo de ‘arbitrariedade’
Em nota, o Instituto Lula disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "é alvo de um conjunto de manipulações e arbitrariedades com o propósito evidente de criar constrangimentos e manchar, sob falsos pretextos, a imagem do maior líder popular deste País no Brasil e no exterior". "Trata-se de procedimento absolutamente irregular, intempestivo e injustificado, razão pela qual serão tomadas as medidas cabíveis para corrigir essa arbitrariedade no âmbito do próprio Ministério Público", afirmou. O instituto criticou o procurador da República no Distrito Federal Valtan Timbó Mendes Furtado, autor do procedimento aberto no dia 8, e o procurador Anselmo Lopes, "que deu início a este processo e por isso está respondendo à Corregedoria Nacional do Ministério Público".

Lopes assinou o despacho que originou o procedimento chamado "notícia de fato", no qual a procuradora Mirella Aguiar apura eventual tráfico de influência por parte de Lula em favor da Odebrecht em contratos fora do Brasil. O instituto alega que Mirella ainda tem prazo para decidir se há elementos para abrir investigação formal contra Lula e que, no dia 9, prestou as informações solicitadas pela procuradora. "O Instituto Lula e o ex-presidente Lula desconhecem as razões pelas quais o procurador Valtan Timbó Mendes Furtado interferiu, de maneira indevida e arbitrária, no procedimento que vinha sendo conduzido pela procuradora titular", afirmou o texto. A Odebrecht disse manter "relação institucional" com Lula e que ele fez "o que têm feito presidentes e ex-presidentes estrangeiros quando promovem negócios de seus respectivos países na busca de uma maior participação no comércio global".

Procuradoria abre investigação contra Lula

• Objetivo é apurar se houve tráfico de influência do petista em favor da Odebrecht em obras financiadas pelo BNDES

• Instituto Lula afirmou que recebeu com 'surpresa' a decisão e que tudo foi feito dentro legalidade

Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu uma investigação criminal formal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista será investigado por suspeita de tráfico de influência em favor da Odebrecht, no Brasil e no exterior, em obras financiadas pelo BNDES.

O caso já era analisado em caráter preliminar pela Procuradoria. Agora, Lula é investigado oficialmente. O Ministério Público Federal passa a ter prerrogativa de pedir quebras de sigilo e busca e apreensão relacionadas ao caso.

A Procuradoria também decidiu pedir à força-tarefa que investiga o esquema de corrupção da Petrobras o compartilhamento de provas da Operação Lava Jato que tenham relação com a construtora e, eventualmente, com o ex-presidente.

A expectativa é de que um dos próximos passos seja a tomada do depoimento do petista. A suspeita é de que Lula tenha exercido influência para que o BNDES financiasse obras de Odebrecht, principalmente em países da África e da América Latina.

A empreiteira bancou diversas viagens de Lula ao exterior depois que ele deixou a Presidência. O petista nega qualquer irregularidade.

Na fase inicial da apuração, o Ministério Público determinou que o Instituto Lula entregasse a agenda de viagens do ex-presidente para a América Latina e a África entre 2011 e 2014, que a Odebrecht informasse se pagou viagens internacionais ao petista e se elas tinham alguma relação com investimentos da construtora no mercado externo.

Ao Itamaraty foi requisitado cópias de telegramas diplomáticos e despachos sobre viagens de Lula ao exterior, relacionadas ou não com a Odebrecht. Os principais alvos são visitas a Cuba, Panamá, Venezuela, República Dominicana e Angola.

A partir do cruzamento inicial do material, a Procuradoria decidiu que há elementos para aprofundar as apurações. Na avaliação dos procuradores, as relações de Lula com a construtora, o banco e os chefes de Estado podem ser enquadradas, "a princípio", em artigos do Código Penal que tratam do tráfico de influência.

O Código Penal fixa como tráfico de influência "solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função", prevendo pena de dois a cinco anos de reclusão.

Um relatório enviado pela Polícia Federal ao Ministério Público registrou 38 saídas de Lula do país entre fevereiro de 2011 e dezembro de 2014. Uma das empresas de táxi aéreo usadas pela Odebrecht para transportar o ex-presidente informou custo de deslocamentos entre R$ 215 mil e R$ 435 mil.

A empresa mostrou ainda que em uma viagem para Cuba Lula foi acompanhado do ex-executivo da empreiteira Alexandrino Alencar, que foi preso em uma das fases da operação Lava Jato.

A defesa de Lula chegou a enviar à Procuradoria um pedido de arquivamento do procedimento preliminar, argumentando que é equivocada a tese de que Lula teria relação próxima com a empresa.

Lula também é alvo de outras duas investigações na Procuradoria do DF relativas a acusações do empresário Marcos Valério no caso do mensalão. De acordo com a assessoria do órgão, ambas ainda estão em tramitação.

Cunha acusado de receber propina e intimidar doleiro

Delator: Cunha ganhou propina

• Júlio Camargo diz ter pago us$ 5 milhões ao presidente da Câmara; Youssef afirma estar sendo intimidado

Renato Onofre e Thais Skodowski – O Globo

SÃO PAULO e CURITIBA - O consultor Júlio Camargo, delator da Operação Lava-Jato, colocou ontem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no centro do escândalo da Petrobras. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, ele disse que foi pressionado por Cunha a pagar US$ 10 milhões em propinas referentes à contratação de navios-sonda pela Petrobras. Segundo o delator, US$ 5 milhões foram pedidos por Cunha pessoalmente e pagos através de Fernando Baiano, operador do PMDB na estatal. O delator contou que o dinheiro foi efetivamente entregue ao presidente da Câmara. O conteúdo do depoimento foi revelado ontem pelo site do GLOBO.

Eduardo Cunha negou a acusação e afirmou que o delator é um "mentiroso". Desafiou Camargo a provar as acusações e disse, ainda, que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, obrigou o delator a mentir.

Na audiência de ontem, Camargo afirmou que já havia dado declarações sobre o envolvimento de Cunha no esquema à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, em duas oportunidades nos últimos meses. Assim como outros políticos citados na Operação Lava-Jato, Cunha tem foro privilegiado, o que faz com que o processo corra no Supremo Tribunal Federal (STF).

Camargo foi consultor das empreiteiras Toyo e Camargo Corrêa. Ontem, contou à Justiça como foi o processo de contratação dos navios-sonda Vitória 10.000 e Petrobras 10.000, produzidos pela Samsung Heavy Industries na Coreia, entre 2006 e 2007. Os contratos valiam US$ 1,2 bilhão. Para intermediar o negócio, Camargo receberia US$ 53 milhões, dos quais US$ 40 milhões seriam repassados a agentes políticos.

Em função de atrasos na propina, o delator relatou que, em 2011, foi surpreendido por dois requerimentos na Comissão de Fiscalização da Câmara para investigar a atuação da Samsung nos contratos. Camargo conta que, por intermédio do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, teve um encontro com o então ministro de Minas e Energia Edison Lobão no aeroporto Santos Dumont:

- Lobão viu o documento e falou: "Isso é coisa do Eduardo (Cunha)". Ele pegou seu celular e ligou para o deputado Eduardo Cunha na minha frente. Ele disse: "Eduardo, estou aqui com o Júlio Camargo. Você está louco?" - disse.

"Deputado pau-mandado"
Camargo afirmou que seu débito com Fernando Baiano era de US$ 10 milhões. Em depoimento anterior, Camargo havia mencionado "aproximadamente US$ 8 milhões". No novo relato, o consultor disse que parte desse dinheiro iria para Cunha.

- (Fernando) disse: "Estou sendo pressionado violentamente, inclusive pelo deputado Eduardo Cunha". Eu falei: "Estou à disposição para falar com o deputado, explicar a ele o que está acontecendo". Mas o Fernando me disse. "Júlio, ele não quer falar com você. Ele quer receber".

Camargo afirmou que, algum tempo depois, conseguiu finalmente marcar um encontro com Cunha em um edifício comercial no Leblon:

- (Cunha disse) que havia um débito meu com o Fernando no qual ele (Cunha) era merecedor de U$ 5 milhões e que isso estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha, (...) e eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo, e ele não tinha condições de aguardar.

Para quitar a dívida, Camargo recorreu também aos serviços do doleiro Alberto Youssef. Ele afirma ter feito operações financeiras com a GDF e a RFY (empresas ligadas a Youssef), além de transferências a empresas de Fernando Baiano.

- Ele (Cunha) me disse: "Você pode até pagar o Fernando mais dilatado, o meu eu preciso mais rapidamente. Mas eu faço questão de você incluir no acordo o que ainda falta você pagar ao Fernando - afirma Camargo.

O GLOBO localizou nos autos da Lava-Jato comprovantes dos pagamentos do delator às empresas de Soares e Youssef, mencionadas por Camargo. Um dos advogados presentes no depoimento perguntou a Camargo quem foram os beneficiários dessa propina:

- Eu não sabia que ele (Fernando Soares) tinha um sócio oculto, que era o deputado Eduardo Cunha, que também ganhou.

Ontem mesmo, Moro ouviu Youssef sobre a negociação dos navios-sonda. Ao final, o advogado Antônio Figueiredo Basto perguntou ao doleiro se ele está sendo intimidado:

- Sim, venho sofrendo intimidação pelas minhas filhas, minha ex-esposa, pela CPI. E eu acho um absurdo. Eu, como réu colaborador, quero deixar claro que estou sendo intimidado pela CPI da Petrobras, por um deputado pau-mandado do deputado Eduardo Cunha.

Camargo alegou que não fez as acusações anteriormente por temer retaliações de Cunha.

- O maior receio é com a família. Quem age dessa maneira perfeitamente pode agir contra terceiros. (Colaboraram Germano Oliveira, Julianna Granjeia, Mariana Sanches, Sérgio Roxo, Silvia Amorim, Thiago Herdy e Tiago Dantas) .

Planalto teme dias ainda piores em sua relação com a Câmara

• Governo avalia que, sentindo-se acuado, Cunha deverá retaliar

Isabel Braga, Fernanda Krakovics, Evandro Éboli, Geralda Doca e Patrícia Gagni – O Globo

BRASÍLIA - A acusação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), feita pelo consultor Júlio Camargo à Justiça preocupou o governo Dilma Rousseff e pôs em alerta aliados do deputado. Após um semestre de derrotas na Câmara, o Palácio do Planalto prevê um cenário ainda pior a partir de agosto, com possíveis retaliações. No caso dos aliados de Cunha, a delação de Camargo e os rumores de que poderão surgir mais fatos contra Cunha os obrigam a repensar sua ação - o mesmo desafio de partidos de oposição, como PSDB e DEM, que se uniram a Cunha para derrotar o PT e Dilma na Casa.

Apesar de Cunha ser um dos principais algozes do governo, o Planalto não comemorou o revés sofrido por ele. Para um ministro do núcleo político, o impacto será "ruim" para Dilma.

- O governo precisa de paz - disse esse ministro.

O próprio Cunha, em café da manhã com jornalistas, antes da delação de Camargo se tornar pública, sinalizara que o governo viverá dias difíceis , após o fim do recesso parlamentar:

- Os deputados vão ficar duas semanas com o povo nas bases nos ouvidos deles, ouvindo reclamações sobre desemprego, então tendem a voltar ainda mais duros em relação ao governo.

Ele também admitiu analisar o pedido de impeachment de Dilma, entregue pelo Movimento Brasil Livre:

- Pedi pareceres de outros juristas fora da Casa para formar meu convencimento.

Aliados de Cunha afirmam que a tendência será que ele parta para cima da presidente. Em conversas reservadas, ele diz que não "cairá sozinho". Desde que foi incluído pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na lista de investigados da Lava-Jato, Cunha acusa o governo de trabalhar para enfraquecê-lo.

Beneficiários da condução de Cunha na Câmara, integrantes da oposição dizem que agirão com responsabilidade.

- Reconhecemos a delação premiada como melhor instrumento, pois, sem ela, não estaríamos no nível de apuração que estamos. Mas, assim como aconteceu com as delações que citam a presidente Dilma, a oposição não entrou com pedido de impeachment. O mesmo cuidado e responsabilidade teremos com outras autoridades - disse o vice-líder do PSDB, Nilson Leitão (MS).

Com a Câmara entrando em recesso parlamentar, sem sessões plenárias, o único a falar ontem sobre a crise, em sessão esvaziada no plenário, foi Ivan Valente (PSOL-SP). Ele pedirá, em agosto, na volta dos trabalhos, que Cunha deponha na CPI da Petrobras. O PSOL, porém, aguardará a evolução dos fatos para acionar a Corregedoria e o Conselho de Ética da Câmara.

No fim da manhã, antes de O GLOBO publicar a informação sobre a delação de Camargo, um grupo de parlamentares, exibindo cartazes no Salão Verde, atacaram a gestão de Cunha. Deputados de PSB, PSOL, PPS e PT criticaram, em sua visão, a forma autoritária na condução das votações. Cunha ironizou o protesto, dizendo se tratar de "choro de perdedor".

Acusado de pedir propina de US$ 5 mi, Cunha culpa Janot

Acusado de cobrar US$ 5 milhões de propina, Cunha culpa Janot e Planalto

• Lava Jato. Conforme lobista Julio Camargo, presidente da Câmara elos Deputados, investigado pelo STF, exigiu dinheiro durante um encontro em 2011; parlamentar nega acusação e sugere articulação comandada pelo procurador-geral e pelo Executivo para incriminá-lo

Ricardo Brand, Fausto Macedo, Julia Affonso, Valmor Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

O lobista Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, declarou ontem em depoimento à Justiça Federal que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), exigiu dele US$ 5 milhões de propina em dois contratos da Petrobrás para a compra de navios-sonda. Foi a primeira vez que Camargo citou Cunha como destinatário de propina.

Segundo o delator, a cobrança foi feita pessoalmente por Cunha em encontro em 2011, no Rio. Camargo afirmou ainda que Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado corno operador do PMDB no esquema de corrupção na estatal, lhe disse que estava sendo pressionado pelo deputado a pagar US$ 10 milhões "atrasados" de um total de US$ 30 milhões de propina - dos quais US$ 5 milhões seriam para o peemedebista.

As denúncias também foram feitas em deleção à Procuradoria-Geral da República, comanda por Rodrigo Janot. "Fui bastante apreensivo (ao encontro do parlamentar). O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de 5 milhões de dólares", afirmou Camargo, que depôs em Curitiba na condição de testemunha de defesa de Fernando Baiano em uma das ações penais em curso na 1ª. instância da Justiça Federal no Paraná.

Ele disse que por "medo" e "receio" cedeu à pressão do presidente da Câmara a pagar em 2011 um total de US$ 10 milhões em propinas no âmbito de dois contratos na Petrobrás. Cunha é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. No depoimento ao juiz Sérgio Moro, Camargo afirmou ainda que já havia detalhado em delação à Procuradoria-Geral da República como foram pagos os US$ 10 milhões. Ele apontou aos investigadores o endereço onde esteve pessoalmente reunido com o presidente da Câmara para tratar dos pagamentos - um prédio comercial no Rio.

Planalto. Cunha reagiu ao depoimento afirmando que o "delator foi obrigado a mentir" e que "há um objetivo claro de constranger o Poder Legislativo", o que "pode ter por trás" o Executivo em articulação com o procurador-geral Rodrigo Janot. O peemedebista foi eleito para presidência da Câmara em fevereiro e desde então fustiga o governo da presidente Dilma Rousseff imprimindo uma série de derrotas ao Executivo no Congresso. O depoimento de Camargo ocorreu na véspera de um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV programado por Cunha para esta noite.

Ontem, o delator disse também que se reuniu pessoalmente com o então ministro Edison Lobão (Minas e Energia) na Base Aérea Santos Dumont, no Rio. Ele disse que exibiu a Lobão cópia de um requerimento de informações da Câmara, subscrito por uma deputada aliada de Cunha - o documento pedia informações sobre contratos da Petrobrás com a Mitsui, da qual Camargo se dizia representante - a empresa nega. Outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef já havia afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos "destinatários finais" de propina.

Em maio de 2015, o doleiro declarou que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. "Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares, através do deputado Eduardo Cunha, havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio Camargo, através de outros deputados", relatou na ocasião Youssef.

Opositores veem "retrocesso" na gestão da Casa
Em resposta ao balanço do semestre apresentado ontem pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputados opositores a ele ligados a PT, PSOL e PSB fizeram uma outra avaliação e disseram que o peemedebista conduziu um processo de "retrocesso" na Casa. Fechamento das galerias a manifestantes, blindagem de depoentes que supostamente o comprometeriam na CPI da Petrobrás, manobras regimentais e intenção de construir o "Parlashopping" estão entre os pontos negativos.

Com peemedebista ‘incontrolável’, Planalto prevê disputa tensa

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura – O Estado de S. Paulo

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), avisou o vice-presidente Michel Temer que o governo declarou guerra contra ele e pode se preparar para o troco. Na noite de anteontem, antes mesmo de o delator Julio Camargo dizer ao juiz Sérgio Moro que Cunha pediu a ele US$ 5 milhões em propina, o homem que comanda a Câmara já antevia o que podia ocorrer e culpava o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, por todos os "vazamentos seletivos". Ao tomar sopa no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, Cunha avisou que, no segundo semestre, ia atormentar muito mais o Planalto, em votações na Câmara. Prometeu, ainda, articular a convocação de Mercadante e do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, para dar "explicações" sobre denúncias do delator Ricardo Pessoa, dono da UTC, que os acusou de receber doações de campanha com dinheiro desviado da Petrobrás.

O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB), estava presente no jantar com Temer e Cunha. Circularam rumores em Brasília de que o presidente da Câmara esboçou ali como deveria ser o roteiro para o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas ele próprio tratou de pôr fim aos boatos. "Isso não existiu", afirmou. De qualquer forma, o governo avalia que Cunha está "incontrolável" e prevê um cenário ainda mais difícil pela frente, na volta do recesso. Na semana passada, Dilma achava que as férias de deputados e senadores poderiam esfriar a crise. Foi alertada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por Temer de que a tensão está se agravando."O fundo do poço é agora.

O governo precisa do PMDB", disse um ministro ao Estado. Para piorar o quadro, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu investigação contra Lula sob a alegação de que ele usou sua influência para facilitar negócios da empreiteira Odebrecht com governos estrangeiros, sempre com financiamento do BNDES, principalmente em países da África e da América Latina. Temer vai viajar no domingo para Nova York, onde fará palestras para empresários. Mas foi incumbido por Dilma de minimizar os danos políticos provocados pela Lava Jato antes de se ausentar do País.

Ainda ontem, o vice conversou com Renan Calheiros (PMDB-AL). O presidente do Senado ameaça trabalhar pela criação da CPI do BNDES e dos Fundos de Pensão na volta do recesso, em agosto. Investigadores da Polícia Federal dizem que, além de Cunha, Renan também deve ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na outra frente de batalha para acalmar os ânimos está o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que ontem se reuniu com Janot e com o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.

Criticado até pelo governo por não "controlar" a PF, Cardozo agora está batendo na tecla de que "não se deve execrar" uma pessoa antes das provas porque delatores também podem mentir. Foi um aceno, por ordem de Dilma, na tentativa de juntar os cacos da base aliada. Cunha tem irritado o Planalto, ainda, por exigir cada vez mais cargos estratégicos no governo. Além de querer pôr um afilhado seu na vice-presidência da Caixa que cuidada gestão de um fundo de investimento do FGTS (FI-FGTS), ele está brigando com o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) pelo controle das Docas do Pará.

Jader chegou a chamar Cunha de "ditador" e disse que o correligionário fazia "negociatas". Cunha nega que esteja reivindicando mais espaço no governo. "O PMDB não está no governo. Quem está são os ministros. Nós ficamos com o ônus e o PT, com o bônus", insistiu. E provocou: "Será que sou um ditador com o qual a maioria dos deputados concorda?"

Lobista afirma que pagou US$ 5 mi a Eduardo Cunha

• Delator da Lava Jato diz que presidente da Câmara cobrou propina em 2011

• Julio Camargo diz que não falou antes sobre o assunto por temer represálias; deputado afirma que ele mente

Graciliano Rocha, Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O lobista Julio Camargo afirmou em depoimento à Justiça Federal nesta quinta-feira (16) que foi chantageado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e pagou a ele US$ 5 milhões em propina em 2011 para garantir a continuidade de um contrato bilionário com a Petrobras.

Camargo fez acordo para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato em outubro do ano passado e prestou vários depoimentos desde então, mas esta é a primeira vez em que menciona Cunha, que atualmente preside a Câmara dos Deputados.

Questionado pelo juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato no Paraná, Camargo disse que não falou antes sobre o assunto por temer represálias à sua família e às empresas que representa.

Nos depoimentos aos procuradores do Paraná, o lobista disse, no ano passado, que pagou cerca de R$ 137 milhões em propina a dirigentes da Petrobras e operadores do PT e PMDB, mas negou ter pagado suborno a Cunha.

Nas últimas semanas, ele prestou novos depoimentos em Brasília, agora à Procuradoria-Geral da República, que investiga Cunha e outros políticos suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras.

Para convencê-lo a falar, os procuradores disseram a Camargo que ele pode perder os benefícios do acordo de delação premiada, como a redução de sua pena no futuro, se não contar tudo o que sabe.

Cunha disse que Camargo mentiu em seus depoimentos e negou ter qualquer participação no esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

"Ele quer receber"
Camargo representava a coreana Samsung em dois contratos assinados com a Petrobras para construção e afretamento de navios de exploração de petróleo, no valor de US$ 1,2 bilhão.

Ele disse que foi chantageado por Cunha depois que a empresa se recusou a pagar US$ 10 milhões da propina cobrada pelo PMDB.

Segundo Camargo, o lobista Fernando Baiano, apontado como principal operador do PMDB no esquema, disse que estava sendo pressionado por Cunha. Camargo diz que pediu para conversar com o deputado e ouviu de Baiano: "Ele não quer conversar com você. Ele quer receber".

Camargo contou que se reuniu com Cunha e Baiano num prédio comercial do Leblon, bairro nobre do Rio, para tentar resolver o impasse.

"Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões", disse Camargo.

O lobista reconstituiu assim o que teria ouvido do deputado: "Não aceito que pague só a minha parte. Pode até pagar o Fernando mais dilatado, mas o meu eu preciso rapidamente". O juiz Moro interrompeu o delator lembrando que Cunha só pode ser investigado com autorização do Supremo Tribunal Federal, onde já é alvo de inquérito.

Segundo Camargo, sua dívida com o PMDB foi liquidada com a ajuda do doleiro Alberto Youssef, outro dos operadores do esquema de corrupção. O lobista disse ter feito depósitos numa conta do doleiro no exterior, que depois teria entregue reais no Brasil. O delator afirmou que Fernando Baiano fez o dinheiro chegar a Cunha. No total, Camargo disse ter entregue entre US$ 8 milhões e 10 milhões ao operador do PMDB.

Requerimentos
Camargo disse também que foi chantageado por dois requerimentos apresentados na Câmara pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), aliada de Cunha que pediu explicações à empresa japonesa Mitsui, parceira da Samsung nos navios.

Youssef já havia apontado antes os requerimentos como um instrumento de chantagem. Como a Folha revelou, Cunha aparece nos registros eletrônicos da Câmara como autor dos dois requerimentos, o que o deputado nega.

Camargo contou que, antes de falar com Cunha, teve uma conversa com o então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). "Isso é coisa do Eduardo", teria reagido Lobão ao ver os requerimentos, disse o delator.

A citação a Cunha no depoimento elevou a temperatura na audiência desta quinta. Aos gritos, o advogado de Fernando Baiano, Nélio Machado, acusou Camargo de fazer delação a conta-gotas e de ter mudado de versão.

Cunha diz que delator mente e promete romper com o governo

• Presidente da Câmara afirma que "é tudo vingança" do Planalto e planeja um pacote de retaliações

- Folha de S. Paulo

Atribuindo ao Palácio do Planalto uma articulação para envolvê-lo na Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que anunciará nesta sexta (17) o seu rompimento com o governo. A decisão ocorre após ele ser acusado pelo lobista Julio Camargo de receber US$ 5 milhões de propina.

"É tudo vingança do governo. Parece que o Executivo quer jogar a sua crise no Congresso", disse Cunha à Folha.

Após a divulgação da notícia, ele conversou com o vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer (PMDB-SP), e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan disse que o país vive uma crise institucional. Cunha comunicou que iria defender o rompimento com o governo.

Em nota logo depois que a denúncia veio à tona, ele chamou o lobista de "mentiroso": "Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las", afirmou.

"É muito estranho, às vésperas da eleição do procurador-geral da República [Rodrigo Janot tenta a recondução] e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional [ele fará um balanço legislativo nesta sexta], que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo procurador, ou seja, obrigar o delator a mentir."

Cunha chegou à presidência da Câmara em fevereiro, derrotando o governo. Desde então, vive uma relação tensa com o Planalto e repete que as suspeitas levantadas contra ele são fruto de perseguição patrocinada por Janot, com estímulo do governo.

Desde o começo da semana, diz a aliados que aguarda uma denúncia da Procuradoria contra ele por conta das investigações da Lava Jato.

Cunha já sabia que Camargo, que até então o mantivera fora do rol de acusados, resolvera fazer acusações contra ele em seus depoimentos.

O peemedebista atribui a mudança a uma pressão exercida pelos investigadores, a mando do Planalto. A Lava Jato investiga políticos de vários partidos, incluindo o PT.

Para peemedebistas, haverá agora uma tentativa do governo Dilma de envolver Temer no escândalo para inviabilizar uma eventual sucessão da presidente pelo vice em caso de impeachment.

Retaliações
Segundo a Folha apurou, Cunha chegou a dizer que ele pode se "ferrar", mas o governo vai junto. "Guerra é guerra", ameaça, nos bastidores.

Sua retaliação deve começar com a instalação de CPIs incômodas ao governo, como a do BNDES e a dos fundos de pensão.

O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também será convocado para depor na CPI da Petrobras. O objetivo é desgastar a presidente.

O peemedebista não descarta dar prosseguimento a um processo de impeachment contra Dilma no segundo semestre, após as manifestações de rua marcadas para o dia 16 de agosto.

Para o governo, as revelações contra Cunha vão enfraquecer seu ímpeto revanchista na Câmara. Desde o começo do ano ele tem imposto seguidas derrotas ao Palácio do Planalto.

Em entrevista coletiva na Câmara, o peemedebista disse que não se deixará ser "constrangido" e "fragilizado" pelo depoimento do delator, e afirmou que não irá alterar ou cancelar o pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que fará na noite desta sexta.

"Não vou fazer isso [cancelar] porque eu estou me pronunciando como presidente da Câmara sobre atividades da Câmara. Não estou me pronunciando para fazer alusão ou defesa de fatos pessoais."

Questionado se teria vontade de fazer uma acareação com Júlio Camargo para falar "olho no olho", Cunha afirmou que fala "com quem quer que for".

"Eu não tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja. Ele está mentindo e o delator tem que provar sua mentira. O ônus da prova é de quem acusa."