Ainda faltam duas semanas para agosto, mês temido pelos políticos supersticiosos, e a crise entre Congresso e Executivo ganha volume e densidade. Começou na madrugada de terça, quando policiais federais, com mandados de busca e apreensão assinados por ministros do Supremo, vasculharam residências e escritórios de, entre outros, três senadores e um deputado - senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL); Ciro Nogueira (PP-PI); senador e ex-ministro Fernando Bezerra (PSB-PE) e o deputado Eduardo Fonte (PP-PE).
A operação decorria de informações que vêm sendo colhidas a partir da Lava-Jato. A ação foi bastante criticada também pelo presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), já mencionado em delações como beneficiário do petrolão.
Outro citado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ganharia destaque a partir da tarde de quinta, ao entrar no ar no site do GLOBO vídeo do depoimento à força-tarefa da Lava-Jato do consultor Júlio Camargo, intermediário de propinas, uma delas, segundo disse, para Cunha. Seriam US$ 5 milhões, cobrados pelo deputado para deixar em paz as empresas Samsung e Mitsui, fornecedoras da Petrobras. Elas estavam sendo acossadas por requerimentos de informações aprovados na Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara por deputados do grupo do presidente da Casa.
Mais agressivo que Renan, Cunha declarou guerra: rompeu formalmente com o governo e acusou o Planalto e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de tramarem contra ele, bem como o juiz Sérgio Moro. Ora, é difícil imaginar essa aliança. Se existisse, por que o Planalto não livrou da prisão o tesoureiro do PT, João Vaccari, e outros próximos ao partido?
O PMDB teve o cuidado de, em nota oficial, qualificar de "posição pessoal" a atitude de Cunha. Que começou a retaliação: aprovou a formação de duas CPIs indigestas para o Planalto, sobre o BNDES e fundos de pensão de estatais. O mesmo fizera Renan no Senado, no dia anterior.
Por coincidência, soube-se, também na quinta-feira, que o ex-presidente Lula passou a ser investigado pelo MP do Distrito Federal, sob suspeita de que teria praticado tráfico de influência para ajudar a Odebrecht em obras no exterior, inclusive facilitando a obtenção de empréstimos no BNDES. Lula tem, agora, oportunidade de provar que não atuou como lobista. Pelo menos influência na máquina pública, mesmo depois de sair do Planalto, ele manteve. Afinal, o PT executou com competência a subordinação do aparato do Estado aos interesses do partido, e, vê-se agora, com a Lava-Jato, a desejos pessoais de líderes estrelados.
Embora esta não esteja sendo uma semana qualquer na política, tudo transcorre dentro dos marcos institucionais. Lula e Eduardo Cunha, quem for, não estão livres de ser investigados, denunciados e punidos, como estabelece a legislação, sempre com amplas garantias de defesa.
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