Folha de S. Paulo
A direita vive um paradoxo, porque onde impera
o radicalismo não é possível prosperar a moderação
Enterrada a fantasia de que Jair
Bolsonaro (PL) possa pela arte do
impossível vir a ser candidato à Presidência da República em 2026 ou enquanto
estiver submetido à pena de quase três décadas imposta pelo Supremo Tribunal
Federal, a direita terá de falar sério sobre a próxima
eleição.
A realidade impõe o desafio de herdar os votos dos radicais e, ao mesmo tempo, conquistar o apoio dos moderados. Tarefa difícil, dado o paradoxo. Onde reina o radicalismo, por óbvio não viceja a moderação.
É a corda bamba em que se encontra o
governador de São Paulo.
No domingo (7), Tarcísio de
Freitas (Republicanos) falou em "tirania" do
tribunal; na quinta-feira (11), conteve-se ao considerar "injusta" a
condenação do padrinho; e, nesta segunda (15), cancelou ida a Brasília, de onde
seguiria a ofensiva.
A esperança numa anistia por
ora se configura vã. Não há votos para aprová-la no modelo posto pelos
bolsonaristas e, ainda que passe versão desidratada com inclusão de emenda
casuística, haverá o veto presidencial que, se derrubado, encontrará barreira
no STF.
Portanto, o esforço se mostra tão inútil para
a liberdade do ex-presidente quanto o voto divergente do ministro Luiz Fux.
Ambas as situações fornecem discurso, mas não alteram a circunstância da prisão
iminente e, com ela, a necessidade da revisão de expectativas e estratégias
para articulação de candidaturas viáveis.
Se a ideia da oposição ao presidente Lula (PT)
for mesmo derrotá-lo, o tempo não só urge, como conspira contra os adversários.
Tarcísio, o nome mais bem posicionado nas
pesquisas, tem apenas seis meses para decidir se vale a pena trocar o quase
certo pelo duvidoso. Os outros governadores postulantes não chegam a dois
dígitos nas projeções, e a família Bolsonaro carrega o fardo da rejeição no
decisivo centro.
Sinuca de vários bicos para a direita que, se
busca repetir Lula em 2018, deve se lembrar da derrota decorrente do atraso de
produzir alternativa em tempo hábil.

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