terça-feira, 16 de setembro de 2025

Traição light. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O mundo real se impõe e faz acelerar. O julgamento dos golpistas acuou o bolsonarismo puro-sangue, decretou o fim de 2025 e projetou no porvir a perspectiva de um novo esquema de poder. A rapaziada saliva ante a chance de partilhar a esplanada – de controlar a corda e a caçamba – com Jair encostado, seja preso ou indultado. A perspectiva de trair com respeito.

Estamos no pós-Bolsonaro, em função do que todos os agentes políticos e econômicos se orientam; até os Bolsonaro, ora empurrados à condição de reagentes. (Condição sine qua non para o exercício do imponderável, da qual poderá ascender uma dissidência desafiante como a encarnada por Pablo Marçal.)

O que está em desenvolvimento agora – até onde se pode controlar – é a forma da superação eleitoral a Jair Bolsonaro; o modo como a traição light se manifestará-materializará; a maneira com que o bolsonarismo de oportunidades e resultados representado por Tarcísio de Freitas bailará o isolamento carcerário do expresidente para o objetivo de isolá-lo politicamente.

A conta da campanha por anistia – mesmo pela “anistia light” – é cara e não fecha, senão sob teatro. A farsa está em cena, no ato das condolências; do tango pós-condenação – de irrestrito mesmo, no mundo real, somente o compromisso pela inelegibilidade ampla e geral do líder golpista. A turma – os sócios do governador de São Paulo no projeto de superação bolsonarista de Bolsonaro sem os Bolsonaro – domina a matemática. (A superação bolsonarista de Bolsonaro com os Bolsonaro é tocada por Eduardo.)

Essa galera – Ciro Nogueira, Marcos Pereira, Antônio Rueda, Gilberto Kassab e até Valdemar Costa Neto – calcula. A reabilitação de Bolsonaro – uma anistia que lhe reconstituísse a elegibilidade – serviria ao projeto político de pouquíssimos e viria com arestas supremas tremendas. É agenda custosa, de mobilização desgastante, em defesa de parceiro imprevisível; que, na hipótese improvável em que alcançada, daria – devolveria – poder a grupo pequeno e fechado.

À grei e a não muitos de fora da empresa familiar que o mito constituiu dentro do Estado, universo a ser mais restrito que aquele aquinhoado entre 2019 e 22, dado o grau corrente de desconfiança que alimenta a mentalidade conspirativa do bolsonarismo eduardista. Seria bom para tipos como Sóstenes Cavalcante e outros zuccos do baixo parlamento bolsonarista, que tendem à irrelevância sem que a direita se organize em função dos Bolsonaro.

As migalhas conflituosas que sobrariam aos donos dos grandes partidos não valem o investimento; e eles sabem que a maioria dos deputados e senadores bolsonaristas não tardaria a embarcar na nau da objetividade. Chama-se instinto de sobrevivência. Para os patronos de Tarcísio de Freitas, os senhores do chamado Centrão, o futuro parece muito promissor – estável e mais lucrativo – sem Jair e os Bolsonaro.

 

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