Acusado de cobrar US$ 5 milhões de propina, Cunha culpa Janot e Planalto
• Lava Jato. Conforme lobista Julio Camargo, presidente da Câmara elos Deputados, investigado pelo STF, exigiu dinheiro durante um encontro em 2011; parlamentar nega acusação e sugere articulação comandada pelo procurador-geral e pelo Executivo para incriminá-lo
Ricardo Brand, Fausto Macedo, Julia Affonso, Valmor Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo
O lobista Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, declarou ontem em depoimento à Justiça Federal que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), exigiu dele US$ 5 milhões de propina em dois contratos da Petrobrás para a compra de navios-sonda. Foi a primeira vez que Camargo citou Cunha como destinatário de propina.
Segundo o delator, a cobrança foi feita pessoalmente por Cunha em encontro em 2011, no Rio. Camargo afirmou ainda que Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado corno operador do PMDB no esquema de corrupção na estatal, lhe disse que estava sendo pressionado pelo deputado a pagar US$ 10 milhões "atrasados" de um total de US$ 30 milhões de propina - dos quais US$ 5 milhões seriam para o peemedebista.
As denúncias também foram feitas em deleção à Procuradoria-Geral da República, comanda por Rodrigo Janot. "Fui bastante apreensivo (ao encontro do parlamentar). O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de 5 milhões de dólares", afirmou Camargo, que depôs em Curitiba na condição de testemunha de defesa de Fernando Baiano em uma das ações penais em curso na 1ª. instância da Justiça Federal no Paraná.
Ele disse que por "medo" e "receio" cedeu à pressão do presidente da Câmara a pagar em 2011 um total de US$ 10 milhões em propinas no âmbito de dois contratos na Petrobrás. Cunha é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. No depoimento ao juiz Sérgio Moro, Camargo afirmou ainda que já havia detalhado em delação à Procuradoria-Geral da República como foram pagos os US$ 10 milhões. Ele apontou aos investigadores o endereço onde esteve pessoalmente reunido com o presidente da Câmara para tratar dos pagamentos - um prédio comercial no Rio.
Planalto. Cunha reagiu ao depoimento afirmando que o "delator foi obrigado a mentir" e que "há um objetivo claro de constranger o Poder Legislativo", o que "pode ter por trás" o Executivo em articulação com o procurador-geral Rodrigo Janot. O peemedebista foi eleito para presidência da Câmara em fevereiro e desde então fustiga o governo da presidente Dilma Rousseff imprimindo uma série de derrotas ao Executivo no Congresso. O depoimento de Camargo ocorreu na véspera de um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV programado por Cunha para esta noite.
Ontem, o delator disse também que se reuniu pessoalmente com o então ministro Edison Lobão (Minas e Energia) na Base Aérea Santos Dumont, no Rio. Ele disse que exibiu a Lobão cópia de um requerimento de informações da Câmara, subscrito por uma deputada aliada de Cunha - o documento pedia informações sobre contratos da Petrobrás com a Mitsui, da qual Camargo se dizia representante - a empresa nega. Outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef já havia afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos "destinatários finais" de propina.
Em maio de 2015, o doleiro declarou que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. "Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares, através do deputado Eduardo Cunha, havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio Camargo, através de outros deputados", relatou na ocasião Youssef.
Opositores veem "retrocesso" na gestão da Casa
Em resposta ao balanço do semestre apresentado ontem pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputados opositores a ele ligados a PT, PSOL e PSB fizeram uma outra avaliação e disseram que o peemedebista conduziu um processo de "retrocesso" na Casa. Fechamento das galerias a manifestantes, blindagem de depoentes que supostamente o comprometeriam na CPI da Petrobrás, manobras regimentais e intenção de construir o "Parlashopping" estão entre os pontos negativos.
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