quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cristiano Romero - A grande recessão

- Valor Econômico

• Nas crises anteriores, exportação acelerou retomada do PIB

A recessão que o Brasil enfrenta neste momento pode vir ser a mais longa já experimentada pelo país. Isto equivale a dizer que o processo de recuperação será o mais demorado. Com crise fiscal, instabilidade política, governo fraco, confiança de empresários e consumidores nos menores níveis da história e diante de um mundo nada animador, a economia brasileira entrou definitivamente numa tempestade mais que perfeita.

O país cresceu, em média, 4,5% ao ano entre 1960 e 2014 e 3% entre 1997 e 2014. No último boletim Focus, elaborado pelo Banco Central (BC), a mediana das opiniões do mercado projetou contração de 1,76% neste ano e alta de apenas 0,2% em 2016. O curioso é que essas projeções já são vistas por muitas casas bancárias como otimistas.

O Credit Suisse (CS) costuma acertar com grande antecipação e precisão suas estimativas. O banco está prevendo crescimento negativo de 2,4% em 2015, a maior contração desde 1990, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do país diminuiu 4,4%. Para 2016, a previsão é de uma queda de 0,5%. Se isso de fato ocorrer, a retração trimestral (em relação ao trimestre anterior) no triênio 2014-2016 será, em média, de 0,2%, desempenho que só ocorreu duas vezes desde 1960.

Nilson Teixeira, economista-chefe do CS, e sua equipe analisaram, já com base na nova metodologia de cálculo das Contas Nacionais do IBGE, os seis períodos recessivos ocorridos desde 1996. Considerando o horizonte de suas projeções, que vão até 2016, eles estudaram o comportamento do PIB nos 11 trimestres seguintes ao trimestre anterior ao do início das recessões. Em seguida, compararam com as projeções que estão fazendo para o período atual, cujo marco inicial é o primeiro trimestre de 2014.

As conclusões são aterradoras. "Nossa avaliação é que o processo de retomada da atividade atual será o mais prolongado da série histórica. A retomada da atividade tinha ocorrido rapidamente nas recessões anteriores, com o nível da atividade retornando ao patamar do trimestre anterior ao do início do declínio do PIB em, no máximo, seis trimestres. Em três ocasiões, a retomada da economia para o nível pré recessão ocorreu em três trimestres", diz Teixeira. "Esperamos que o PIB na atual recessão permaneça abaixo do patamar do primeiro trimestre de 2014 por pelo menos 11 trimestres consecutivos."

Nos períodos recessivos anteriores, a reversão foi proporcionada pelo bom desempenho do setor externo. Este é um aspecto já abordado em algumas análises. Uma comparação rápida da crise atual com a vivida pelo Brasil em 1999, quando o mercado derrubou o câmbio quase-fixo, e em 2003, quando houve grave crise de confiança graças à ascensão do PT ao poder, revela que, naqueles momentos, o governo se preocupou menos com a taxa de câmbio num primeiro momento e mais com a inflação.

Aquelas estratégias permitiram à indústria compensar os efeitos negativos do ajuste sobre a atividade, acelerando exportações e ganhando competitividade para enfrentar as importações. No caso da notável crise de 2003, quando o país estava à beira de mais um calote na dívida externa, o PIB voltou a crescer no terceiro trimestre daquele ano. Agora, as mesmas condições não estão dadas, inclusive, porque o BC decidiu manter por tempo demasiado o programa de swaps cambiais, retardando o processo de correção da taxa de câmbio.

Teixeira e sua equipe analisaram de forma minuciosa todos os casos e concluíram que, em quatro das seis recessões, a retomada da economia se deu, em grande medida, graças à aceleração das exportações líquidas. Nos quatro períodos, a retomada dos investimentos das empresas e do consumo das famílias ocorreu de forma lenta.

A crise de 2008/2009 foi uma exceção. O que explicou a saída rápida da turbulência foram os fatores domésticos. Pela primeira vez, o Brasil enfrentou uma crise externa com a casa em ordem. A situação fiscal era favorável e isso permitiu ao governo adotar medidas anticíclicas tanto no front monetário quanto fiscal. Por causa disso, os investimentos e o consumo das famílias aceleraram, enquanto as exportações demoraram para reagir.

"Uma forte retomada da economia é pouco provável sem a participação do setor externo", diz Teixeira, admitindo as dificuldades em estimular o setor externo. Para piorar, os outros elementos que poderiam ajudar estão na seguinte situação:

1) a necessidade de equilibrar as contas públicas e reduzir a inflação impede a utilização das políticas fiscal e monetária para estimular a atividade. O atual endividamento das famílias e o nível de confiança muito baixo dificultam o estímulo via mercado de crédito;

2) a aprovação de reformas estruturais, para resolver o problema fiscal, aumentar a produtividade e acelerar o crescimento, é pouco provável. "As recentes dificuldades do governo federal em aprovar as medidas de ajuste fiscal no Congresso sugerem uma baixa probabilidade de avanços importantes nos temas da pauta econômica", lembra o economista-chefe do CS;

3) os esforços para elevar o crescimento potencial nos próximos anos terão pouco impacto sobre a dinâmica de curto prazo da atividade. Os investimentos em infraestrutura do Programa de Investimentos em Logística (PIL), de R$ 198,4 bilhões nos próximos anos, dificilmente impulsionarão a retomada da atividade. Parte expressiva do programa de concessões (R$ 129,2 bilhões) está programada apenas para depois de 2019. "Mesmo assumindo execução de 100% dos projetos programados no PIL, o impacto direto sobre o crescimento tende a ser reduzido (de apenas 0,3 ponto percentual ao ano entre 2016 e 2018)".

A aceleração das exportações, para compensar a ausência de outros vetores que impulsionem a economia durante o ajuste, demandaria maior desvalorização do real - desde o terceiro trimestre de 2012, a depreciação cambial foi de 22,1%, face à média de 29,4% ocorrida nos outros períodos de recuperação - ou mais deterioração do mercado de trabalho - a contração média dos salários reais nas recessões anteriores (excetuada a de 2008/2009) foi de 11,4%, face aos 3,9% já verificados agora.

Em outras palavras: para sair da encrenca em que se encontra, o Brasil precisaria, antes, ficar mais pobre e ter um maior número de desempregados. Este é o preço a se pagar pelos equívocos cometidos nos últimos quatro anos, quando se decidiu substituir uma política econômica razoavelmente exitosa por uma aventura cujos resultados se mostram trágicos.

Míriam Leitão - Lente bifocal

- O Globo

Há elogios na má notícia enviada ontem pela Standard & Poor"s . Segundo a agência de risco, o Brasil tem um quadro institucional melhor do que o de outros países emergentes, e isso tem ajudado a manter o grau de investimento. Os analistas da agência também acham que as instituições do país demonstram ter compromisso com políticas que mantêm a estabilidade econômica.

A S&P registra que houve uma mudança para melhor na política econômica neste segundo mandato. Mesmo assim, desde ontem o Brasil está na antessala do rebaixamento da qualificação do risco de crédito. A primeira agência a elevar o Brasil, em 2008, é a que está mais próxima de tirar do país o grau de investimento. A notícia é ruim , mas a bolsa subiu levemente , puxada pelas ações que mais sofreram nos últimos meses, como Petrobras, Braskem e Vale . O dólar , que estava subindo , cedeu um pouco . Mais uma vez, uma das explicações é que o mercado cai na expectativa da má notícia e sobe quando ela se confirma.

Álvaro Bandeira, do Banco Modal, conta que a bolsa caiu 6,5% este mês e14% em 12 meses, pondo no preço exatamente o que está acontecendo . O pregão caiu sete dias seguidos , antes da pequena alta de ontem . O próximo movimento também já está no preço , na visão de Bandeira, que é o rebaixamento pela Moody" s. Daí para diante , dependerá da execução da política fiscal. O país conseguiu em 2008 esse selo de bom pagador , mas foi o final de um trabalho de ordenamento das contas públicas que havia começado bem antes , quando renegociou a dívida externa, estabilizou a economia e aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Foi a colheita, após anos lavrando o campo.

Quando a agência coloca em perspectiva negativa, é uma espécie de aviso prévio de que qualquer movimento que fizer será para baixo. O que ficou claro ontem é que o Brasil está a um passo de perder o selo tão duramente conquistado. Os analistas da S&P alertam que desde que avaliaram o Brasil em março — época em que mantiveram a perspectiva neutra — houve uma piora na capacidade de executar a política fiscal, segundo eles. Quem vai contestar? O Congresso aprovou uma série de políticas que representam aumento de gastos a curto e médio prazos, e o governo acaba de anunciar uma redução da meta .

Em março, foi a capacidade de persuasão da equipe econômica que impediu o rebaixamento . Foi prometido que o governo perseguiria o ajuste fiscal. As medidas acabaram sendo alteradas no Congresso . Um integrante da equipe econômica fez uma lista dos esforços do governo para pôr as contas em dia: a TJLP subiu, reduzindo o subsídio financeiro dos empréstimos do BNDES, foi encerrada a transferência de recursos do Tesouro para o BNDES, foram elevados os juros do Plano Safra e Pronaf, acabaram os aportes do Tesouro na Conta de Desenvolvimento Energético, a Cide voltou a ser cobrada, foram reduzidos gastos com Minha Casa, Minha Vida e Fies.

Nada disso melhorou o clima em relação à economia brasileira porque, segundo a agência, os riscos no Brasil estão tanto no front político quanto econômico. As investigações estão gerando , segundo a S&P , aumento da incerteza . Ao mesmo tempo , essas investigações feitas de forma independente são "o testem unho da estrutura institucional brasileira, que se contrasta com aquelas de muitos outros mercados emergentes ". Temos o mais importante: instituições fortes e independentes, de acordo com essa análise, mas há uma série de más notícias.

Piorou muito rapidamente a perspectiva do país, em apenas cinco meses. A previsão da agência é de queda maior do PIB este ano, de 2%, nenhum crescimento no ano que vem, e alta do PIB apenas em 2017. E esse ritmo menor está afetando o quadro fiscal do Brasil. Eles acham que a dívida líquida do Brasil vai crescer de 47% para 53% este ano e 58% do PIB no ano que vem. Excluem da dívida bruta apenas os ativos líquidos, ou seja, as reservas. O governo brasileiro faz uma conta diferente porque abate também os empréstimos de quase R$ 500 bilhões concedidos ao BNDES.

A dívida bruta, que não desconta nem as reservas, está em 64% do PIB. A notícia é ruim, mas veio com o elogio às instituições democráticas brasileiras. E isso é constatação, e não prêmio de consolação.

Celso Ming - Morro abaixo

- O Estado de S. Paulo

Estava nas telas dos radares e agora ficou muito próximo de acontecer. Já é quase inevitável o rebaixamento dos títulos de dívida do Brasil para o grau de especulação. É fator que, se não houver pronta reação do governo, tem tudo para produzir reações negativas em cadeia.

Nesta terça-feira, uma das três principais agências globais de avaliação de risco, a Standard & Poor"s (S&P), colocou os títulos de dívida do Brasil "em perspectiva negativa".

Primeiramente, as preliminares. Tudo começa porque ficou impossível para qualquer credor ter noção adequada do risco de suas aplicações. A economia global está sujeita a enormes flutuações e o mercado se agigantou. Como se viu no início da crise, títulos considerados sólidos, de um dia para outro viraram "lixo tóxico". Quem adormeceu julgando que seu futuro estava amparado por sólido patrimônio acordou com enorme prejuízo a realizar. Foi por isso que certas instituições estão encarregadas de avaliar a capacidade que os devedores têm de honrar suas dívidas. As três mais importantes são a S&P, a Moody"s e a Fitch.

O que a S&P disse nesta terça-feira é que os títulos do Tesouro do Brasil continuam provisoriamente com grau de investimento. No entanto, como agora estão "em perspectiva negativa", dentro de mais alguns meses correm alto risco de serem rebaixados a grau de especulação.

Essa diferença de conceitos é importante porque um grande número de fundos de pensão, fundos de investimento e de carteiras de aplicação, por lei ou regulamentação específica, só pode aplicar em títulos seguros, que levam certificado de grau de investimento.

O agora bem mais provável rebaixamento dos títulos do Brasil a fundos de lixo (junk funds), como são chamados, implica forte redução de procura por eles, movimento que costuma ser antecipado pelos mercados. Não só os grandes aplicadores passarão a desovar os títulos do Brasil, como, também, derrubarão sua procura. A redução do preço do título implica alta dos juros. Ou seja, o Tesouro terá de pagar mais pela sua dívida.

As causas desse rebaixamento iminente são conhecidas: forte desarrumação das contas públicas, em consequência do aumento excessivo da despesa e queda da arrecadação; crescimento econômico negativo; e crise política. São fatores que reduzem a capacidade de sustentação da dívida.

Quando em 2008 a S&P puxou os títulos do Brasil a grau de investimento, o então presidente Lula festejou o acontecimento com alentado foguetório verbal. O governo Dilma, no entanto, não deu lá muita importância aos avisos de que a dívida brasileira poderia ser rebaixada. Pareceu dar ouvidos a algumas antas do seu partido para os quais as avaliações de risco são coisa dos banqueiros e das elites neoliberais. Como os indicadores da economia brasileira deslizam morro abaixo, ficará cada vez mais difícil de conter os efeitos negativos, se algo mais drástico e mais sério não se fizer para reverter a crise. E algo mais sério significa tomar decisões duras, especialmente no Congresso, para implantar as reformas estruturais que a realidade exige.

Equipe econômica não jogou a toalha; mudou a estratégia – Editorial / Valor Econômico

O longo prazo chegou. Na semana passada, os dois principais titulares da equipe econômica, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, e Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, anunciaram uma redução da meta fiscal deste ano para um superávit de 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) e reduziram também os objetivos de superávit para 2016 e 2017. Ontem, em debate na sede do Valor, quatro economistas do comitê de acompanhamento macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), desenharam aquele dia como um divisor de águas. Na avaliação mais ou menos consensual de Luiz Fernando Figueiredo (sócio-diretor da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central), Carlos Kawall (economista-chefe do banco Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional), Fernando Honorato Barbosa (economista-chefe da Bradesco Asset Management) e Marcelo Carvalho (economista-chefe do BNP Paribas e coordenador do comitê macro da Anbima), a equipe econômica do governo não jogou a toalha, mas mudou de estratégia.

A estratégia passa por uma dose bem maior de realismo. A reprogramação fiscal de 2015 surpreendeu pela magnitude, enquanto a extensão de um ajuste fiscal mais brando para 2016 e 2017 não estava no script. O anúncio dessas medidas provocou uma imediata revisão para baixo das projeções do PIB de 2015 e de 2016 e fez quase todo mercado financeiro esperar uma nova alta de 0,50 ponto básico na taxa Selic, deixando em minoria quem espera 0,25 ponto de alta. Na Anbima, entre o início de junho e a semana passada, as projeções para o PIB de 2015 passaram de -1,3% para -1,9%.

Para esse grupo de economistas, na quarta-feira passada a equipe econômica trocou um cenário no qual ainda seria possível o Banco Central reduzir o ritmo do aperto monetário e no qual o PIB podia ser positivo em 2016 por um cenário de dois anos de recessão com contração mais profunda. "Eles tinham a opção de fazer [o ajuste] com mais impostos, mas decidiram não fazê-lo. Eles resolveram escancarar o problema", resumiu o economista-chefe da Bram. Para Kawall, do Safra, o "problema" é a rigidez do gasto público. Sem que o governo crie nenhuma nova despesa, a cada ano o gasto obrigatório aumenta 0,5 ponto percentual do PIB.

Levy e Barbosa deixaram claro que os gastos públicos não cabem mais no PIB. Na própria quarta-feira, o ministro da Fazenda já indicou que um ajuste fiscal mais expressivo dependia da aprovação de medidas no Legislativo. Desde então, ele reforçou essa mensagem, deixando mais explícita a avaliação de que o Congresso reflete escolhas da sociedade.

Diversas medidas aprovadas na Câmara dos Deputados e referendadas no Senado Federal foram na direção contrária ao do ajuste, pois elevavam estruturalmente os gastos do setor público. Duas dessas medidas (fator previdenciário e aumento dos servidores do Judiciário) foram vetadas pela presidente Dilma Rousseff, mas os vetos ainda podem ser derrubados. Não fazê-lo na volta do recesso parlamentar é um bom passo no sentido correto do equilíbrio das contas públicas.

Mas é pouco. O momento em que o crescimento do país ficaria inviabilizado pela falta de reformas e pelo excesso de gasto público chegou. Ele não faz mais parte de um futuro distante. Nesse sentido, estão certos os ministros da Fazenda e do Planejamento em chamar a sociedade para esse debate e ao deixar claro que a escolha não é só do governo. O que falta, contudo, é o governo ter a coragem de liderar esse debate e propor ajustes que passam por rever benefícios por ele concedidos no passado bem recente. Também falta maior responsabilidade fiscal no Legislativo.

O problema é que o futuro corre rápido. Ontem, a Standard & Poor's marcou como negativa a perspectiva para os ratings da dívida em moeda estrangeira do Brasil. Ao explicar a decisão, a agência alertou para a complexidade da crise. "Revisamos nossa perspectiva sobre os ratings [...] para refletir o que acreditamos que seja uma probabilidade maior que um em três de que a correção da política venha a enfrentar desvios adicionais considerando a dinâmica política e que o retorno a uma trajetória de crescimento mais firme vai levar mais tempo do que esperávamos", apontou, na nota.

Igual alerta tem sido feito internamente por economistas e lideranças menos insensatas, e foi repetido no debate da Anbima. O momento, porém, pede mais que alertas, ou a ausência de reformas estruturais inviabilizará o ajuste.

Quanto pior, pior – Editorial / Folha de S. Paulo

• Mudança de perspectiva da nota de crédito do país aumenta importância de consenso político capaz de reerguer economia nacional

Marcado para esta quinta-feira (30), o encontro da presidente Dilma Rousseff (PT) com os governadores de todos os Estados adquiriu importância ainda maior com a decisão tomada terça-feira (28) pela agência de classificação de risco Standard &Poor's.

A companhia norte-americana alterou a perspectiva da nota de crédito do Brasil para negativa, aumentando as chances de o país perder o grau de investimento. Apenas um andar abaixo está a categoria especulativa, em que, aos olhos dos credores, é alta a possibilidade de calotes.

Nem mesmo os oposicionistas mais aguerridos deveriam desejar essa cereja podre no bolo estragado que se tornou a economia no governo Dilma. Agências como a S&P ficaram desacreditadas depois de 2008, pois não anteviram a crise que se desenhava nos EUA, mas suas avaliações não deixaram de interessar a quem procura porto seguro para o próprio dinheiro.

A expectativa crescente de que o Brasil venha a perder o atestado de bom pagador já produz efeitos: investidores exigem juros cada vez maiores para compensar os riscos e o dólar bate recordes de alta.

Tanto pior, já se considera que outras duas companhias, a Moody's e a Fitch, podem fazer análise semelhante à da S&P, rebaixando a nota brasileira até o fim do ano.

Combater esse cenário sombrio deveria ser um objetivo de todos os que se importam com o futuro nacional, mesmo que não deem a mínima para o destino de Dilma.

Ao expor suas razões, a S&;P reconhece mudanças neste segundo mandato da petista, mas afirma que aumentaram as incertezas na política e na economia. Diminuí-las, portanto, é um imperativo.

Tudo se resume, no fundo, à instabilidade da relação entre o Executivo e o Legislativo, agravada pelos desdobramentos da Operação Lava Jato e traduzida no comportamento pernicioso do Congresso.

Notoriamente incapaz de mobilizar deputados e senadores em torno de uma agenda positiva, a presidente Dilma Rousseff resolveu pedir ajuda aos governadores. Espera que eles convençam suas bancadas a rejeitar projetos que tornem ainda mais penoso o necessário ajuste das contas públicas.

Se mantido estritamente nesses termos, o encontro pode resultar em algo proveitoso. Muitas das medidas que ampliam os gastos têm impacto direto nos cofres estaduais.

Que fique claro: cobrar responsabilidade dos congressistas não significa aceitar conchavos ou dividir a culpa pelo descalabro atual. Esta cabe só ao governo Dilma, e a oposição decerto teria muito a perder se fosse vista como sócia da crise.

O país, contudo, terá ainda mais a perder se não houver renovados esforços na busca por soluções. Já se sabe quão venenosa pode ser uma oposição que aposta no lema "quanto pior, melhor". Como atestam as agências de classificação de risco, quanto pior, pior.

Levy e a herança de erros – Editorial / O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff terá de renegar 12 anos de política econômica petista, se quiser consertar as contas de governo, tirar o País do sufoco e reencontrar o caminho do crescimento. Com ou sem intenção, foi essa a principal mensagem transmitida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na entrevista publicada terça-feira no Estado.

Diplomático tanto ao falar do Congresso quanto ao citar as práticas de governo, ele foi muito claro, no entanto, ao destacar o caráter estrutural dos principais problemas e ao mostrar como se acumularam. “O aumento de receita dos anos 2000 foi em larga parte consumido pelo aumento das despesas obrigatórias, que continuam crescendo”, disse o ministro. Um dos maiores entraves à boa gestão das finanças públicas brasileiras, a rigidez orçamentária, aumentou sensivelmente, portanto, nesse período – e, é bom realçar o detalhe, continua aumentando.

“Temos de melhorar a qualidade da despesa”, acrescentou o ministro”, repetindo uma promessa feita pela presidente Dilma Rousseff, ao assumir o governo pela primeira vez, e em pouco tempo esquecida.

No meio de uma longa entrevista, essas poucas palavras sintetizaram a pauta de qualquer programa razoavelmente ambicioso de reforma fiscal. Não basta cortar esta ou aquela despesa, até porque, a curto prazo, os itens mais fáceis de podar são os investimentos. Cortes desse tipo têm servido, de tempos em tempos, para conter ou limitar a deterioração das finanças públicas, mas apenas do ponto de vista contábil. Uma gestão minimamente correta envolve mais que isso.

Além do equilíbrio fiscal, indispensável aos objetivos de longo prazo, é preciso buscar o uso eficiente do dinheiro público. O governo petista aumentou seguidamente a folha de salários, agravando a rigidez orçamentária, sem cuidar da qualidade da mão de obra. Sua prioridade foi empregar companheiros e aliados, loteando e aparelhando a administração.

Temas como planejamento e política industrial apareceram de tempos em tempos na retórica oficial. Resultados práticos: protecionismo comercial, distribuição de favores, deterioração da infraestrutura, emperramento da indústria, menor exportação de manufaturados e, enfim, uma combinação devastadora de inflação, recessão e crise fiscal.

Não se pode atribuir a recessão, disse o ministro, à busca de um superávit primário nas contas fiscais. É verdade. A recessão é consequência dos erros acumulados durante anos, pelo menos desde o segundo mandato do presidente Lula. Alguns, como lembrou o ministro, vêm sendo corrigidos. Ele mencionou o ajuste dos preços relativos (de combustíveis e de eletricidade, por exemplo) e o esforço para eliminar subsídios e as transferências do Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Nem tudo tem dado certo. A eliminação de subsídios e renúncias fiscais, segundo ele, poderia resultar num alívio de R$ 25 bilhões. Seria mais 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ajuste fiscal. Mas para isso o Executivo precisará de apoio político. Esse apoio, poderia ter dito o ministro, nem os companheiros da presidente Dilma Rousseff têm garantido. Tudo ficará mais fácil, afirmou, quando “os entendimentos se alinharem”, isto é, quando o Executivo conseguir mobilizar suporte suficiente.

Mas o ajuste efetivo, isto é, necessário aos objetivos de longo prazo, é o estrutural. O ministro usou várias vezes essa palavra. Isso envolve uma alteração profunda nos critérios. “A taxa interna de retorno das concessões, que foi anunciada, teve receptividade perfeita no mercado”. Traduzindo: o investidor privado precisa de condições atrativas para aplicar seu capital em infraestrutura. Houve, aparentemente, um avanço nessa área, mas é preciso ir muito além.
Não há fortes motivos para otimismo, por enquanto. A presidente Dilma Rousseff ainda defende, por exemplo, a regra de conteúdo nacional nas compras da Petrobrás – um convite à ineficiência e à corrupção. O aprendizado pode ser muito lento. Pior para o País.

Dilma se equivoca com relação à Lava-Jato – Editorial / O Globo

• A recessão econômica começou a ser contratada antes mesmo do início da operação de combate à corrupção. Não pode, portanto, ser responsabilizada pela crise

Autoridades têm óbvias conveniências e limitações que condicionam seus pronunciamentos. Ministros da Fazenda, por exemplo, são sempre otimistas com os rumos da economia. E presidentes, com o próprio país. Entende-se, mas a questão é saber se acreditam no que dizem. Dilma não é a primeira pessoa a despachar no gabinete presidencial, no Planalto, que responsabiliza o exterior por toda maior dificuldade brasileira. Mesmo quando a economia americana se recupera há meses seguidos, como acontece agora.

O arrefecimento da China é ruim para exportadores de commodities, o Brasil entre eles. Mas não chega a explicar toda a amplitude dos problemas nacionais: inflação na fronteira dos dois dígitos, recessão e todas as suas consequências malévolas — desemprego, perda de renda, agravamento das desigualdades, e assim por diante.

A última pesquisa Focus, feita pelo Banco Central semanalmente junto a analistas das principais instituições financeiras, ampliou a previsão de retração do PIB, este ano, para 1,76%. E há quem já projete 2%, uma recessão de razoáveis dimensões para a economia brasileira.

Em reunião com políticos da base do governo, na segunda-feira, a presidente Dilma disse que a Operação Lava-Jato “provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro”. Não informou como chegou ao número.

Mas se trata de uma estimativa inverossímil. Tanto quanto relacionar a crise brasileira ao exterior. A Lava-Jato, é fato, tem repercussões nas maiores empreiteiras do país e na Petrobras, maior empresa brasileira, porque, no circuito entre elas, deu-se o maior caso de corrupção da República. E é provável que no Império também não tenha ocorrido algo igual. Trata-se de crime que não pode ficar impune. A perda de ritmo de investimento da Petrobras, porém, é parte pequena no cenário da crise. Que, em 2013, já sinalizava que viria. No ano seguinte, a economia rateou, e o PIB terminou praticamente estável, com um crescimento ínfimo de 0,1%.

Ele já desacelerava, não devido à Operação Lava-Jato —lançada em março e que passou a ampliar espaço no noticiário apenas no fim do ano —, mas porque foram cometidos erros crassos com a adoção do tal “novo marco macroeconômico”, cujos resultados são o forte crescimento da dívida pública, mais inflação e recessão.

Assim, sabia-se que algum ajuste teria de ser feito em 2015. E ele veio. Responsabilizar a Lava-Jato pela perda de um ponto percentual de PIB é tentar jogar fumaça nos olhos da opinião pública. Compreenda-se o escorregão da presidente pela contingência do momento e do cargo. Pois é inconcebível achar que o Brasil estaria melhor sem a devassa anticorrupção.

É o oposto. Punir exemplarmente corruptos e corruptores, neste circuito de grandes obras no setor público, melhorará a segurança jurídica dos investimentos. Será um forte fator de atração dos investidores.

Caetano Veloso - Sonhos

Fernando Pessoa - Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa,
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
Às normas reais ou sentimentais da vida, -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento de justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser , enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso sempre.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-me com a Humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma razão para isso supor.

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo mais é estúpido como um Dostoiévski ou um Gorki.
Tudo mais é ter fome ou não ter que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado da vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele
Pobre que não era pobre, que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei, Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Opinião do dia - Almir Pazzianotto Pinto

Não faltaram advertências. A crise em que estamos envolvidos foi antecipada por vozes previdentes ao longo de mais de dez anos.

Anestesiada pelo discurso lulopetista, a Nação rola ladeira abaixo, embalada por mentiras que a levaram a se convencer da força mágica das palavras.

Para se desenvolver, enriquecer, subir de condição de vida, avançar escala social, bastaria, segundo o Partido dos Trabalhadores (PT), adotar o endividamento como estilo de vida. A economia subdesenvolvida ganharia corpo e solidez sem necessidade de trabalho persistente, mas à força de esbanjamento de dinheiro público, criação de ministérios inúteis, multiplicação de partidos e sindicatos, eleições de picaretas, propinas e trambiques, culminando com a exaltação da ignorância e do ridículo.

Os resultados estão aí, e será impossível revertê-los dentro do atual cenário político.

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Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho. 'Recessão, crise, impeachment'. O Estado de S. Paulo, 27 de julho de 2015

Aécio diz que Dilma constrange governadores ao tentar encontro

• Tucano convocou indignados para protesto e disse que só quer ser presidente pelo voto

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse nesta segunda-feira que a única responsável se, por alguma decisão institucional não conseguir concluir o mandato, é a própria presidente Dilma Rousseff, e não a oposição. Ao retornar a Brasília, ele criticou a tentativa do PT e da presidente de “dividir sua crise” com os governadores, ao constrangê-los a participar de uma "reunião desnecessária", na próxima quinta-feira, para discutir o projeto de reforma do ICMS.

Na próxima semana o PSDB começa a veicular inserções de 30 segundos convocando “os indignados” com a crise, a participar da manifestação nacional marcada pelos movimentos de rua, para o dia 16 de agosto.

O tucano negou que haja divisão no PSDB sobre o destino da presidente, se deveria ser afastada por impeachment, cassação do diploma da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou se ela deve cumprir seu mandato até o fim. Aécio disse, entretanto, que o PSDB não pode desconhecer a realidade das ruas e a indignação da sociedade.

Segundo Aécio, apesar de se aproximar dos movimentos de rua para a manifestação que se anuncia gigantesca, o PT e o governo erram o alvo ao culpar a oposição por um eventual impedimento da presidente Dilma.

— O que vai acontecer depende mais do governo e do PT do que dos partidos de oposição. O que queremos é que as instituições funcionem e façam o seu trabalho. Eu digo uma coisa: se um dia eu tiver a oportunidade de ser presidente da República, será unicamente pelo caminho do voto, não por outra saída qualquer. Mesmo porque ninguém conseguirá enfrentar a profunda crise que atravessamos se não for legitimado pelo voto. Para nós o calendário de 2018 sempre foi o mais adequado, mas a presidente Dilma só agrava a situação a cada dia, o que deixa a incerteza de cumprir seu mandato até o final — disse Aécio.

Julgamento de contas no TCU
Ele criticou a condução dada ao processo das contas da presidente que serão julgadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) pelo advogado geral da União, Luís Inácio Adams, pela presidente e seus ministros. Chamou de “patética” a entrevista de Adams dizendo que o julgamento tem de ser técnico, mas afirmou que “por debaixo dos panos” estão constrangendo os ministros e os governadores para agirem politicamente para impedir a reprovação das contas.

— O constrangimento chega ao inimaginável de ameaças veladas e de trazer a Brasília os governadores para dar apoio a presidente Dilma para tirar uma fotografia e simular apoio por uma coisa com a qual não tem nada a ver. Essa reunião é uma busca de socorro de alguém que quer que lhe joguem uma boia salva-vidas. O que a presidente tem é de fazer um mea-culpa para ver se recupera um pouco da credibilidade que ainda lhe resta — criticou Aécio.

O presidente do PSDB diz que é natural que governadores se reúnam com a presidente para discutir problemas administrativos. Mas nesse caso, a reunião de quinta-feira não passa de uma tentativa de “cooptar” apoios de setores da oposição, o que seria uma clara demonstração de fragilidade do governo.

'FH deu o tom certo'
Sobre os recados dados pelo Planalto de busca de um pacto pela governabilidade com as oposições, Aécio disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu o tom certo: não se dá socorro para salvar o que não deve ser salvo. Ironizando, Aécio disse que o PT trava uma disputa desleal com o PSDB, porque faz mais oposição ao governo Dilma do que todos os partidos de oposição juntos.

— Fernando Henrique deu o tom certo: quem pariu Mateus que o embale. Não nos culpem . A instabilidade que atravessam é obra desse governo. Isso não é mais um governo. É um arremedo de governo e o desfecho da presidente Dilma é responsabilidade exclusiva dela, não das oposições — disse Aécio, completando.

— Não se conversa com quem não se confia. E nós não confiamos no PT.

Com um levantamento das pedaladas fiscais, Aécio mostrou que entre setembro, antes das eleições, e dezembro, depois de reeleita, a presidente Dilma e a equipe econômica esconderam um buraco de R$100 bilhões nas contas do governo.

— Isso é fraude. A presidente Dilma não deu a população brasileira a oportunidade de fazer sua escolha com base na realidade que eles esconderam — disse Aécio, comparando as pedaladas e maquiagem fiscal aos crimes de colarinho branco.

— Se o presidente de um banco pega o dinheiro dos correntistas para pagar suas contas ele vai preso. Isso é muito fácil de ser compreendido. Se eles não forem responsabilizados por isso vamos voltar ao tempo das republiquetas — disse.

Inserções do PSDB na TV vão estimular participação em marcha

• Propagandas também serão usadas para mostrar unidade do partido

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, disse nesta segunda-feira que está discutindo com os líderes dos movimentos de rua como participar da manifestação nacional do dia 16 de agosto. Na próxima semana, o PSDB vai veicular inserções no rádio e TV estimulando “os cidadãos indignados” com a crise política e econômica a irem para as ruas externar sua indignação. Ele disse que, desta vez, pode participar como cidadão, não como presidente do PSDB, o que deve ser feito também por lideranças de todos os partidos de oposição. As inserções também serão usadas para mostrar a unidade do partido, com falas do governador Geraldo Alckmin, Fernando Henrique, José Serra e outros tucanos.

Segundo Aécio, as inserções vão ser usadas para mostrar que o PSDB não busca alianças com o PT, mas sim com a sociedade, que a aliança do partido será com movimentos populares representativos da sociedade.

— O PSDB não vai ser o protagonista dessa manifestação do dia 16, mas vai participar como um segmento da sociedade. Nas inserções, vamos dizer que os que estiverem indignados ou arrependidos ao voto do passado, aos que cansaram da mentira e da incompetência que nos trouxeram para o isolamento no qual nos encontramos, que devem participar da marcha do dia 16. Vamos estimular a participação dos nossos companheiros. Se decidir, vou como cidadão — disse Aécio.

O tucano disse que nas primeiras manifestações houve uma resistência à participação de políticos, mas que de, lá para cá, as coisas evoluíram e ele está se aproximando das lideranças dos movimentos que preparam a nova marcha.

— Há movimentos distintos. Uns pedem impeachment, outros até intervenção militar. Nosso apoio a marcha e aos movimentos busca uma saída dentro da ordem democrática. Tenho conversado com os líderes dos movimentos. Se desconsideramos que existe essa realidade da indignação da sociedade, vamos ficar a margem. As cobranças são enormes — disse Aécio.

Ele disse que a tentativa de lideranças do PT de se aproximar das oposições só serviu para mostrar que precisam se aproximar mais ainda de setores da sociedade, do qual o PSDB é hoje o maior porta-voz.

— Em torno do quê o ex-presidente Lula discutiria com o ex-presidente Fernando Henrique? Só se for para ele fazer um mea-culpa e assumir a responsabilidade por tudo que aí está. Ou então querem é criar um pano de fundo para mostrar que somos todos iguais. Mas nós não somos iguais ao PT. Nossa aliança é com o povo — disse Aécio.

O presidente do PSDB admitiu que os parlamentares tucanos se aliaram ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na votação de pautas que interessavam ao partido e ao país. Mas negou que o PSDB tenha apoiado a eleição do peemedebista, pois apoiou a candidatura do deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

— O fato concreto é que houve uma convergência de interesses na pauta da oposição . Mas o presidente Eduardo Cunha vai ter que se explicar — disse Aécio.

PSDB usará inserções na TV em apoio a protestos contra Dilma

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

• Esta será a primeira vez que o PSDB se manifesta de uma maneira mais ostensiva a favor da realização dos protestos; nos outros dois atos que aconteceram este ano - 15 de março e 12 de abril -, o partido e suas lideranças deram um apoio mais tímido

BRASÍLIA - O PSDB vai usar as inserções a que tem direito na TV para chamar a população a ir às ruas contra o governo nos protestos marcados para o dia 16 de agosto. Uma das bandeiras dos manifestantes é o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Segundo o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), o conteúdo das propagandas de 30 segundos que irão ao ar na próxima semana atende a uma cobrança dos eleitores do PSDB, que pedem uma aproximação maior da legenda aos movimentos que organizam os atos.

"Se nós simplesmente desconsiderarmos que elas (as manifestações) existem, estaremos fugindo da realidade. Nós vamos estar com inserções a dez dias de uma movimentação que mobiliza a sociedade. A cobrança dos nossos eleitores é enorme pela vinculação cada vez maior do partido", disse Aécio.

Esta será a primeira vez que o PSDB se manifesta de uma maneira mais ostensiva a favor da realização dos protestos. Nos outros dois atos que aconteceram este ano - 15 de março e 12 de abril -, o partido e suas lideranças deram um apoio mais tímido aos atos.

Até o próprio Aécio, que não participou das outras edições, cogita ir à próxima. "Estou avaliando, desta vez, com mais possibilidade. As lideranças do PSDB não se furtarão a estar presentes em uma manifestação que ganha corpo", disse.

O tucano foi muito criticado por grupos, como o Movimento Brasil Livre (MBL), que pedem o impeachment da presidente, por não levantar essa bandeira. Desde o início do ano, o PSDB tem adotado uma postura de cautela ao tratar do assunto. Com o agravamento da crise, porém, diversas lideranças da sigla voltaram a defender a tese do impedimento abertamente.

"Amigos, no dia 16 de agosto vamos voltar às ruas não mais para protestar. Agora vamos pedir o impeachment de Dilma, responsável maior por um governo corrupto, mentiroso e incompetente", postou no Facebook o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), líder do PSDB na Câmara.
Nesta semana, a sigla vai usar as inserções na TV para mostrar a união entre as principais lideranças tucanas, um tema sempre controverso dentro do ninho tucano. "Temos que demonstrar que somos um conjunto de pessoas, que podem divergir em determinas questões, mas que estão absolutamente sintonizadas com o sentimento das ruas, com as mudanças que têm de ocorrer", disse Aécio.

Além de Aécio, serão protagonistas das peças os principais nomes do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador José Serra (SP).

PSDB convocará para manifestações contra o governo, diz Aécio

Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou nesta segunda-feira (27) que o PSDB fará inserções de rádio e televisão para convocar as pessoas a participarem das manifestações contra o governo marcadas para 16 de agosto. Apesar de afirmar que o partido não deve ser protagonista dos protestos, o tucano diz que a legenda também não pode se omitir neste momento.

Segundo o senador, as propagandas do partido apelarão para a indignação dos cidadãos em relação às ações do governo. "Aqueles que estiverem indignados ou até mesmo arrependidos mas, principalmente, cansados, devem sim se movimentar, ir às ruas", disse.

As inserções começarão a ser veiculadas nesta semana. Na primeira fase, o PSDB mostrará suas principais lideranças, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e o senador José Serra (SP). Mesmo com a movimentação interna de integrantes da legenda em torno de possíveis candidaturas à Presidência, Aécio afirmou que a estratégia inicial será mostrar um partido unido.

"Nosso esforço nessa relargada será mostrar uma grande sintonia entre as principais lideranças do PSDB. Temos que estar sintonizados com as ruas e com a população cada vez mais indignada com o que está acontecendo", disse.

"Somos hoje porta-vozes do sentimento de indignação, do sentimento de frustração da sociedade brasileira e até de decepção de eleitores do próprio PT. Nossa aliança tem que ser com a sociedade", completou.

A partir da próxima semana o partido começará a fazer as convocações nas propagandas. Apesar do envolvimento direto nos atos, Aécio diz que a sigla não quer ser protagonista. No entanto, diferentemente das primeiras manifestações contra o governo, diz que agora há uma convergência entre a sociedade e os políticos.

"O PSDB deve participar como uma parcela da sociedade, jamais como protagonista dessas manifestações. Até porque, quanto mais da sociedade elas forem, mais legítimas e representativas elas serão. Mas o PSDB não se furtará, as lideranças individualmente, a estar presente na manifestação que ganha corpo", disse.

"As coisas avançaram e acho que hoje já começa a ter um encontro entre as representações políticas, institucionalizadas, com os movimentos das ruas e isso é bom, é positivo. Vamos estar na dosagem certa", completou. Segundo Aécio, outros partidos de oposição também deverão fazer convocações.

Criticado por não ter participado de outras manifestações anti-governo, Aécio afirmou que ainda não decidiu se irá na próxima. "Meu cuidado maior é que, a partir do momento em que eu disser que eu vou, isso dá uma impressão de que é um movimento de partido e não é. Se eu decidir ir, vou como cidadão", afirmou. "Se simplesmente desconsiderarmos que elas existem, acho que estamos fugindo da realidade. A cobrança dos nossos eleitores é enorme. O que estou tendo é cuidado para manter o equilíbrio", completou.

Crise de confiança
Aécio afirmou ainda que o governo passa por uma "grave crise de confiança" e que Dilma precisa admitir que mentiu durante a campanha eleitoral de 2014 e que errou na condução da política macroeconômica do país para reconquistar a credibilidade do seu governo.

O tucano criticou também a estratégia de reunir os governadores do país com a presidente para discutir pautas federativas como uma tentativa de Dilma de demonstrar que tem apoio. Para ele, o encontro soa como um "pedido de socorro".

"O encontro de governadores com o presidente da República é natural em qualquer democracia. É absolutamente republicano. Mas tentar cooptar setores da oposição, na verdade, é uma demonstração muito clara da fragilidade do governo e será absolutamente inócua", disse.

A intenção do governo era convidar também governadores da oposição para participarem de uma reunião que estava sendo articulada para acontecer na próxima quinta-feira (30), em Brasília. O encontro seria uma tentativa de selar uma espécie de "pacto pela governabilidade".

A petista já avalia, no entanto, dividir o encontro em viagens pelo país. Segundo o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), a dinâmica pode tornar o diálogo entre os Estados e o governo federal mais eficaz, já que cada região tem seus interesses e demandas específicas.

Não vou recomendar que os governadores deixem de aceitar um convite da presidente. Os governadores terão toda a liberdade para ir. O que o PSDB não está disposto é ajudar a salvar, e vou repetir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, aquilo que não deve ser salvo", disse. Para Aécio, Dilma constrange os governadores com o convite e diz que a reunião é desnecessária.

Pedaladas
O tucano criticou também a condução que o governo tem dado em relação àanálise das contas de 2014 que será feita pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Ele afirma que o Planalto exige uma decisão técnica mas faz gestões políticas junto à Corte.

Na semana passada, a equipe de Dilma entregou ao TCU a defesa do governoem relação às contas de 2014, inclusive no que diz respeito às chamadas "pedaladas fiscais". Por meio das manobras, o governo usou bancos públicos, como a Caixa, para pagar benefícios sociais como Bolsa Família e seguro-desemprego em momentos de falta de recursos no Tesouro Nacional.

"Uma coisa são atrasos eventuais nos pagamentos. Mas ter como estratégia planejada transferir as responsabilidades do Tesouro para as instituições financeiras, você registrar isso como créditos a receber do governo, e isso ficar lá permanente, isso é lesar o artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal", disse.

Para Aécio, a defesa do governo em relação às pedaladas fiscais se assemelha aos argumentos usados pelos petistas na defesa da Petrobras. "Eles dizem que, se outros já roubaram antes, então nós também podemos roubar. E aí institucionalizam a corrupção", afirmou.

Após a decisão do TCU, seja ela pela aprovação ou rejeição, as contas serão analisadas pelo Congresso. No entanto, desde 1983, os congressistas não analisam contas do governo. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já organizou as contas pendentes e promete colocar algumas em votação na primeira semana de agosto, quando acaba o recesso parlamentar.

Há, no entanto, uma possibilidade de que as contas de 2014 sejam votadas antes das demais. Regimentalmente, os partidos podem pedir a inversão da pauta de votação para votá-la antes das demais. Especula-se que, se isso acontecer, as demais contas podem continuar esquecidas.

Para Aécio, a inversão da pauta não representará nenhum problema mas defendeu que o ideal é que o Congresso vote todas as contas pendentes. "Não vejo que há polêmica nas contas passadas", disse.

Caso haja a rejeição do balanço contábil de 2014, setores contrários ao governo poderão usar a decisão para pedir o impeachment de Dilma. Aécio, no entanto, afirmou que não acredita neste caminho e espera chegar ao comando do país "pelas urnas". "O que vai acontecer com a presidente depende mais dela do que da oposição. [...] Quando eu tiver a oportunidade de ser presidente, isso acontecerá pelo voto. Para nós, o calendário de 2018 sempre foi o calendário normal", disse.

PSDB vai usar horário de TV para apoiar manifestações anti-Dilma

Raquel Ulhôa - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em uma mudança de postura, o PSDB vai convidar a população a participar das manifestações de rua contra a presidente Dilma Rousseff. A convocação será realizada na semana anterior aos protestos, por meio das inserções comerciais do partido na televisão, que começam nesta terça-feira. A primeira etapa dos comerciais será utilizada para mostrar unidade das principais lideranças do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin (SP), o senador José Serra (SP) e o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG).

"Nosso esforço nessa relargada no segundo semestre é mostrar uma grande sintonia entre as principais lideranças do PSDB. Mostrar que somos um conjunto de pessoas que podem divergir em determinada estratégia, mas absolutamente sintonizados com o sentimento das ruas", disse Aécio nesta segunda-feira em Brasília.

O presidente do PSDB disse ainda não ter decidido se participará das manifestações por temer passar a impressão de tratar-se de um movimento partidário.

Mas afirmou que o PSDB vai estimular a participação de suas lideranças e das pessoas "indignadas" ou "arrependidas" do voto em 2014. "Estamos fazendo isso acessoriamente. Não assumindo a paternidade ou o protagonismo das manifestações. Mas, se nós desconsiderarmos que elas existem, estaremos fugindo da realidade. Estaremos com inserções a dez dias das manifestações. A cobrança de eleitores ligados a nós é enorme", disse.

Presidência
O tucano voltou a dizer que o debate sobre o impeachment depende das ações do governo e que "o que vai acontecer em relação à presidente Dilma dependerá mais dela e do governo do que das oposições".

Aécio aproveitou para dizer, pela primeira vez, que só considera legítimo um presidente eleito pelo voto popular. "Eu, pela primeira vez, digo que, se um dia tiver oportunidade de ser presidente da República, será pelo voto. Não será por outro caminho."

Cunha
Com relação ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador definiu como "aproximação de pautas e de interesse" o que existe entre o PSDB e o deputado, citado por um delator como envolvido no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Polícia Federal na operação Lava-Jato.

Para Cunha, PT deveria discutir afastamento de Dilma antes do dele

Gustavo Uribe, Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em mais uma crítica direta ao PT, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta segunda-feira (27) que o partido deveria discutir o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) antes de sair em defesa de sua saída temporária da presidência da Casa Legislativa.

Em entrevista coletiva após almoço com empresários em São Paulo, o peemedebista rebateu discurso pregado por lideranças petistas em seminário estadual do partido promovido neste final de semana em Minas Gerais, que teve a presença do presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Em uma provocação, o presidente da Casa Legislativa sugeriu ao partido que inclusive adote a tese do impeachment da petista.

"Os mesmos princípios que eles têm para mim, eles devem ter para todos os os quadros deles que são por ventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa em relação a mim, deviam começar pedindo o afastamento de ministros e talvez discutindo o da própria presidente. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment", recomendou.

Segundo o deputado federal, a defesa de seu afastamento por dirigentes petista o deixa satisfeito, uma vez que considera a legenda sua inimiga.

"O PT é meu adversário, todos já sabem. Se ele tem pedido a minha destituição, só me dá alegria. Se o PT defendesse minha permanência, talvez eu pudesse estar errado", afirmou.

O peemedebista disse que não pretende se afastar do comando da Casa Legislativa e ressaltou não estar preocupado com a hipótese de perder apoio na Câmara dos Deputados em decorrência de depoimento do lobista Júlio Camargo de que teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

Volume morto
Mais cedo, durante o encontro com empresários, Cunha já havia criticado o governo e a presidente. Segundo ele, o PT, "para a sociedade, já baixou do volume morto" e tem impopularidade maior do que a da mandatária do Planalto.

A análise é uma referência a declarações feitas em privado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reveladas, no início deste mês, pelo jornal "O Globo". Na ocasião, ao falar sobre a crise política que o partido atravessa, Lula disse que ele e Dilma estavam "no volume morto".

"A impopularidade do PT consegue ser maior que a impopularidade de Dilma Rousseff hoje", disse Cunha. "Talvez, o PT tenha até arrastado a impopularidade dela mais para baixo do que poderia ser", concluiu.

O encontro foi organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais). Antes da chegada de Cunha, dez jovens protestaram contra ele em frente ao hotel onde aconteceria o evento.

O presidente da Câmara, que recentemente declarou ser, pessoalmente,oposição ao governo, voltou a atribuir ao poder Executivo a aparição de seu nome na investigação da Operação Lava Jato.

Temor
Cunha se definiu como vítima de um ataque "com as digitais bem definidas". "Quis ser independente de um poder Executivo que todo mundo sabe que não me engole, todo mundo sabe que não quis que eu fosse presidente, que não se conformou com aquilo que foi feito e que, de certa forma, teme a continuidade do nosso trabalho", afirmou.

Questionado sobre um possível processo de impeachment da presidente, o peemedebista fez questão de afirmar que terá uma posição equilibrada e que o assunto é complexo e com reflexos penosos para o país.

"Vou tratar a todos [os pedidos de impeachment de forma técnica, sob a ótica jurídica", disse.

O presidente da Câmara, no entanto, voltou a criticar o ajuste fiscal proposto pelo governo –nas palavras dele, "pífio"– e apostou que o as metas de economia para pagamento da dívida pública não serão cumpridas.

Para Cunha, haverá um agravamento do cenário e as propostas do governo até agora são insuficientes. Ele vê risco de rebaixamento das notas de crédito do Brasil e afirma que o cenário é de insegurança para o empresariado.

Covardia
Logo no início de sua fala, Cunha tratou sobre as especulações de que poderia se recolher diante das acusações de envolvimento na Lava Jato. "Eu não costumo reagir colocando a cabeça debaixo do buraco", afirmou. "A história não reserva espaço para os covardes. Eles não vão impedir o meu livre exercício da liderança parlamentar", concluiu.

Apesar de ressaltar que seu rompimento com o governo é "pessoal", ele disse acreditar que hoje, no PMDB, os favoráveis à saída do partido da aliança que sustenta a gestão Dilma Rousseff são maioria na cúpula da sigla. O PMDB tem o vice-presidente da República, Michel Temer.

Pedidos de impeachment com fundamento terão acolhimento, diz Cunha

José Roberto Castro e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Em almoço com empresários em São Paulo, presidente da Câmara afirmou que solicitações serão analisadas sob a ótica jurídica

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira, 27, que os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff que tiverem fundamento terão acolhimento.

"Os (pedidos de impeachment) que sanearem serão analisados sob a ótica jurídica. Os que tiverem fundamento terão acolhimento", afirmou peemedebista durante um almoço promovido por empresários do Lide, em São Paulo. Cunha disse ainda que o impeachment é "um processo complexo" e que tem de haver base para um pedido.

Ele afirmou também que sua posição sobre a abertura de impeachment da presidente Dilma Rousseff "não mudou uma vírgula" e que todos os pedidos serão analisados de maneira técnica.
"Impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral. Recurso eleitoral porque você não se satisfez não é a melhor maneira", afirmou peemedebista durante um almoço promovido por empresários do Lide, em São Paulo.

Rejeitada em abril por Cunha, a proposta de pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso deve voltar para agenda do Legislativo após o recesso. Depois de romper oficialmente com o governo no dia 17, o peemedebista decidiu tirar os pedidos da gaveta e pediu que seus autores ajustassem os documentos dentro das exigências regimentais. O procedimento é incomum. Quando as petições não se enquadram no formato, elas normalmente são remetidas direto ao arquivo. A iniciativa foi a senha para que os grupos de oposição à presidente Dilma Rousseff selassem um pacto informal de não agressão com o presidente da Câmara.

Cunha disse ainda que o impeachment é "um processo complexo" e que tem de haver base para um pedido. Ele disse que pediu que fosse feito um saneamento de premissas nos requerimentos recebidos. "Os que sanearem serão analisados sob a ótica jurídica. Os que tiverem fundamento terão acolhimento", disse Cunha.

Covardia. O peemedebista afirmou ainda que seu rompimento pessoal com o governo não significa que ele usará a Casa para atuar contra o governo. Cunha reclamou do que chamou de "covardia" do governo contra ele nas acusações da Lava Jato, mas disse que seu compromisso é conduzir a Câmara mantendo o equilíbrio e atuando institucionalmente e com independência.
"Não está no nosso horizonte fazer com que nosso País incendeie. Nesses dias difíceis, pode faltar incendiário, o que não pode faltar é bombeiro", disse o presidente da Câmara, afirmando que sempre estará na posição de bombeiro. Cunha recordou a votação expressiva que teve na eleição para a presidência da Câmara para dizer que não se sente no direito de usar o cargo para atuar contra o governo.

Pedaladas. Cunha tentou explicar o processo de julgamento das contas do governo Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União e lembrou que o órgão foi criado para assessorar o Poder Legislativo. Para ele, é o Congresso quem dará a palavra final sobre o parecer que será dado pelo Tribunal.

Cunha reforçou que estava fazendo a explicação para que as pessoas "não se decepcionassem" com a tramitação do processo das contas no Legislativo. "As pessoas estão criando expectativa como se TCU condenasse o governo, não é isso. É um parecer. A palavra é do Congresso", disse o peemedebista.

Cunha: Pedido de impeachment não será tratado como recurso eleitoral

Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira que os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff não “podem ser tratados como recurso eleitoral”.

“Eu não mudei minha opinião. Impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral. Não podemos transformar o Brasil numa republiqueta, que não é”, afirmou o Cunha ao responder a uma pergunta de um empresário durante evento na capital paulista.

“O impeachment é decisão política. Não é um processo simples. Tem que ter base legal para isso. Vou tratar todos (os pedidos) de forma técnica”, declarou o pemedebista, acrescentando que dará andamento aos processos caso haja fundamento jurídico.

O presidente da Câmara enfatizou que sua decisão de virar oposição não irá interferir nos processos que tramitam na Câmara e pedem o afastamento da presidente Dilma. Além disso, ressaltou que não pediu o apoio de nenhum parlamentar para segui-lo em seu posicionamento.

Cunha, que rompeu com o governo há dez dias, justificou a postura e voltou a acusar o Executivo pela citação do seu nome nas denúncias de corrupção investigadas no âmbito da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.

“Fui vítima de uma violência com as digitais bem definidas. Não podia me acovardar e não reagir. Ce rtamente teria uma (denúncia) atrás da outra (caso não reagisse).” Questionado sobre quem teria incluído seu nome nas investigações, Cunha citou o Executivo ao declarar que o Planalto tentou evitar sua eleição para a presidência da Câmara e a continuidade de seu trabalho à frente da Casa.

As declarações motivaram aplausos da plateia, composto por 502 empresários, segundo a organização do evento.

Cunha diz que PT está abaixo do ‘volume morto’

• Presidente da Câmara diz que rompeu com o governo ‘como reação a uma covardia’

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO — O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), centrou suas críticas ao governo Dilma Rousseff e ao PT e disse que o partido, para a sociedade, está “abaixo do volume morto”. A declaração foi dada nesta segunda-feira em um almoço com empresários de São Paulo, e faz uma referência à declaração feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em junho em um reunião fechada e revelada pelo O GLOBO.

— Se a frase do ex-presidente Lula é de que o PT está no volume morto, acho que para a sociedade ele já baixou do volume morto. O que precisamos fazer é ver para o futuro. E o futuro passa por esse debate todo que estamos fazendo, que a gente possa construir soluções que esteja em consonância com a sociedade. E não fazer do congresso e do governo apenas uma pauta ideológica, corporativa e partidária — afirmou o presidente, que foi aplaudido.

Cunha também disse que a impopularidade do PT “consegue ser maior que a impopularidade de Dilma Rousseff“.

— Talvez, o PT tenha até arrastado a impopularidade dela mais para baixo do que poderia ser.

O presidente da Câmara também afirmou que seu rompimento político com o governo foi “reação a uma covardia” e voltou a afirmar que seu posicionamento é pessoal.

— Eu não costumo reagir colocando a cabeça debaixo do buraco. A história não reserva espaço para os covardes. Eles não vão impedir o meu livre exercício da liderança parlamentar. Fui vítima de uma violência com as digitais definidas. Não podia me acovardar e não reagir — disse Cunha, em referência a sua investigação na Operação Lava-Jato, por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.

Questionado pelo presidente do grupo Lide, João Dória, sobre a quem pertenciam essas digitais, respondeu: - Basicamente, foi uma interferência do Poder Executivo, que todo mundo sabe que não me engole.

Cunha acusou ainda o governo de “estimular a criação de partidos artificiais para tumultuar”, referindo-se à recriação do PL com a ajuda do ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD).
Na entrevista coletiva, dada após o almoço, Cunha não respondeu os questionamentos sobre sua investigação na Lava-Jato e disse que foi orientado pelo seu advogado a não comentar o assunto.

Questionado sobre críticas de lideranças petistas no seminário estadual do PT de Minas Gerais, que ocorreu neste final de semana, Cunha rebate provocando dizendo que o partido poderia adotar a tese do impeachment de Dilma.

— Os mesmos princípios que eles têm para mim, eles devem ter para todos os os quadros deles que são por ventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa em relação a mim, deviam começar pedindo o afastamento de ministros e talvez discutindo o da própria presidente. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment — ironizou.

Para ele, seu afastamento ser defendido por dirigentes petistas é motivo de satisfação, já que considera a sigla como adversária.

— O PT é meu adversário, todos já sabem. Se ele tem pedido a minha destituição, só me dá alegria. Se o PT defendesse minha permanência, talvez eu pudesse estar errado — disse Cunha, que não considera a hipótese de se afastar da presidência da Câmara durante as investigações da Lava-Jato.

O lobista Júlio Camargo disse em depoimento que Cunha teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

Impeachment
Cunha voltou a falar que um impeachment de um presidente da República não é um processo simples, mas disse que os que tiverem fundamento terão andamento na Casa.

— Os (pedidos de impeachment) que sanearem serão analisados sob a ótica jurídica. Os que tiverem fundamento terão acolhimento — disse o presidente da Câmara.

Ele também disse que sua posição sobre o assunto “não mudou uma vírgula” desde que o tema foi colocado em debate por grupos que promoveram manifestações e se reuniram diversas vezes com o presidente da Câmara.

— Impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral. Recurso eleitoral porque você não se satisfez com aquele que foi eleito não é a melhor maneira. Não podemos transforma o Brasil num republiqueta, que não é.

Cunha fez questão de detalhar o trâmite de um processo de impeachment no Congresso para os empresários convidados do Grupo Lide.

— O impeachment é uma decisão política. Não é um processo simples. Tem que ter base legal para isso. Vou tratar todos (os pedidos) de forma técnica.

Apesar de reconduzir o impeachment na agenda do segundo semestre da Casa, Cunha disse que seu papel é de “bombeiro” e não de “incendiário”.

— Não está no nosso horizonte fazer com que nosso país incendeie. Nesses dias difíceis, pode faltar incendiário, o que não pode faltar é bombeiro.

Crise econômica
Ainda em ataque ao governo, Cunha criticou o ajuste fiscal que, para ele, leva à retração da economia. Para ele, as crises política e econômica “vão perdurar por muito tempo” ainda e que “não é com esse ajuste que (a crise) vai melhorar”.

— Quanto mais se ajusta, mais cai a arrecadação e de mais ajuste é preciso.

O presidente da Câmara chamou, ainda, de medidas “pífias” do governo contra a crise e disse que o atual ambiente no país contribui para a queda no grau de investimento.

— O pior desastre é o Brasil perder o grau de investimento. Nada é tão ruim que não possa piorar.

O peemedebista também considerou “nula” a possibilidade de o país atingir a meta de superávit primário de 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

Ele declarou que depois do recesso de julho, colocará em pauta a reforma tributária. Os deputados, de acordo com o presidente, vão apreciar um texto elaborado por uma comissão especial que aglutinará várias propostas em tramitação na Câmara.

— Hoje, só tem três maneiras de fazer [a reforma tributária]: a União paga a conta, São Paulo perde dinheiro ou o contribuinte paga a conta. Temos de achar uma alternativa.

Protesto
Dez pessoas do movimento Juntos, formado pela juventude do PSOL, estão reunidos em frente ao hotel onde o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), participa no começo da tarde desta segunda-feira de um almoço com empresários.

Para Camila Souza, de 24 anos, representante do movimento, é “inadmissível” que um político investigado por corrupção continue presidindo a Câmara.

— As políticas defendidas por Cunha são contra a juventude. A redução da maioridade, as falas dele contra a mulher, contra o aborto e contra o movimento LGBT. Nós pedimos o afastamento imediato dele porque é inadmissível que um político com as acusações que ele enfrenta na Lava-Jato continue como presidente da Câmara — afirmou.

O Juntos acompanha Cunha em todas as suas agendas pelo país e estiveram nas manifestações contra o deputado federal dentro da Câmara no debate sobre a redução da maioridade penal.

Após o almoço, o presidente da Câmara tem encontro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes.

Dilma cobra reação de ministros contra impeachment

Dilma exige que ministros enquadrem bancadas para barrar impeachment

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Planalto reage ao movimento do presidente da Câmara, que anuncia disposição de analisar pedidos de impedimento na Casa; senador Aécio Neves (PSDB), líder da oposição, afirma que partido utilizará inserções na TV para dar apoio formal a protesto marcado

A presidente Dilma Rousseff cobrou nesta segunda-feira, 27, de 12 ministros que mobilizem as bancadas de seus partidos para impedir que propostas pedindo o seu afastamento do cargo contaminem a pauta do Congresso a partir da próxima semana, quando terminar o recesso parlamentar. Com receio de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), admita a tramitação dos pedidos de impeachment antes mesmo dos protestos marcados para 16 de agosto, o governo iniciou uma estratégia para pôr um freio de arrumação na base aliada.

Em reunião com o vice-presidente Michel Temer e os ministros, na tarde de ontem, Dilma pediu ajuda para garantir apoio político no Congresso e evitar as manobras de Cunha, que rompeu com o governo após o lobista Júlio Camargo, delator da Operação Lava Jato, acusá-lo de receber US$ 5 milhões em propina. Dilma disse no encontro que o caso de corrupção na Petrobrás, revelado pela Lava Jato, provocou instabilidade política e econômica. Segundo dois ministros ouvidos pelo Estado, a presidente observou que, por causa da sucessão de escândalos, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu um ponto.

A preocupação de Dilma é com o agravamento da crise em agosto, quando o Congresso retoma suas atividades, e com os protestos de rua pelo impeachment convocados em todo o País que ontem ganharam o apoio formal do PSDB, principal partido de oposição. Segundo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), os tucanos vão utilizar inserções partidárias de TV na próxima semana para estimular a participação popular nos atos pró-impeachment.

Ao falar sobre os planos do governo para superar dificuldades, Dilma reforçou o pedido para que ministros conversem com deputados e senadores dos partidos aliados com o objetivo de impedir, também, a votação da chamada "pauta-bomba", que aumenta as despesas e coloca sob risco o ajuste fiscal. Ela chegou a citar o projeto que foi obrigada a vetar, aumentado os salários do Judiciário em até 78,5%.

Na quinta-feira, Dilma vai se reunir com 27 governadores, em mais uma tentativa de obter sustentação política. "Se esperar só da União, não há solução. Eu acho que os governadores serão bons articuladores, especialmente em benefício dos Estados", comentou Temer, após a reunião de ontem. "Quando se tem aumento de despesas na área federal, isso repercute em cascata nos Estados. De modo que eles serão bons aliados."

Novo tom. Dez dias depois de romper formalmente com o governo, Cunha disse ontem, durante um almoço com empresários em São Paulo, que vai tratar "de forma técnica e jurídica" os pedidos de impeachment que foram protocolados na Câmara e que, nos casos em que houver fundamento, os pareceres serão acolhidos.

O discurso do peemedebista aos empresários reunidos pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) marca uma mudança de tom em relação às suas intervenções sobre o tema. Durante um evento organizado pelo mesmo grupo em abril, na Bahia, Cunha rechaçou prontamente a ideia de acolher os pedidos de impeachment contra a presidente.

Naquela ocasião, o PSDB ensaiava apresentar um pedido em conjunto com as demais siglas de oposição. "O que vocês chamam de pedalada é a má prática de se adiar investimento para fazer superávit primário. Isso vem sendo praticado nos últimos 15 anos sem nenhuma punição", afirmou.

Nesta segunda, diante da mesma plateia, o discurso foi outro. "Vamos tratar tudo e todos de forma técnica e jurídica.

Havendo fundamento, o processo será analisado." Em um sinal de que poderia usar o impeachment como mais uma forma de desgastar o governo, Cunha encaminhou ofício para que todos os responsáveis pelos pedidos apresentados até o começo do recesso adequassem seus documentos às normas do regimento. O procedimento não é usual. Normalmente, os pedidos fora do formato exigido são imediatamente arquivados.

Aos empresários, entretanto, o deputado afirmou que não pretende "incendiar" o cenário político. "Eu vou separar muito bem isso. Vou ter até uma cautela, para não antecipar meu julgamento, ou parecer que qualquer tipo de posicionamento tem a ver com a mudança do meu posicionamento político, que eu anunciei publicamente", disse. "O impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral", concluiu.

Dilma agora responsabiliza Lava-Jato por queda do PIB

Na conta da Lava-Jato

Simone Iglesias, Luiza Damé e Catarina Alencastro – O Globo

• Ao pedir empenho de ministros para domar a base, Dilma culpa investigação por queda no PIB

BRASÍLIA - Após meses culpando a crise internacional pela retração da economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff responsabilizou ontem a Operação Lava-Jato por causar este ano a queda de um ponto percentual no PIB. A avaliação foi feita na reunião com 12 ministros e o vice-presidente Michel Temer, encarregado da coordenação política, ontem à tarde, quando Dilma cobrou apoio no Congresso.

O comentário, segundo dois ministros presentes à reunião, ocorreu logo após explanação do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, sobre o cenário econômico e as perspectivas "sombrias", se as medidas de ajuste fiscal não forem aprovadas no Congresso.

- Para vocês terem uma ideia, a Lava-Jato provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro - afirmou a presidente.

Dilma não detalhou o cálculo, mas disse que a crise afetou a economia:

- Em condições normais, a reação seria mais ágil. Mas, em função das consequências para (...) o setor do petróleo, foi prejudicial (para a economia) - concluiu.

Dilma cobra fim de traições na base
A situação econômica foi apresentada para frisar a necessidade de o Congresso aprovar as medidas econômicas apresentadas pelo governo. Dilma convocou a reunião para cobrar de ministros indicados pelos partidos aliados que seus parlamentares votem a favor do governo.

Dilma se mostrou insatisfeita com o grau de infidelidade da base, que levou a seguidas derrotas na Câmara e no Senado no primeiro semestre. Por isso, pediu "rapidez" e "responsabilidade" nas votações e determinou aos ministros que procurem os deputados e senadores de suas relações para influenciá-los a votar a favor do governo.

Do PMDB, participaram Eliseu Padilha (Aviação Civil), Kátia Abreu (Agricultura), Edinho Araújo (Comunicação Social) e Hélder Barbalho (Pesca); do PSD, Gilberto Kassab (Cidades) e Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa); do PCdoB, Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia); do PTB, Armando Monteiro (Desenvolvimento); do PRB, George Hilton (Esporte); e do PR, Antonio Carlos Rodrigues (Transportes).

O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, ambos do PT, também participaram. Dilma quer que esse grupo reduza ao máximo as dissidências.

- Foi uma reunião para dar um freio de arrumação nas relações com as bancadas. O recado aos ministros foi duro, porque o governo não pode deixar a economia sair do controle. É preciso compromisso dos partidos aliados, que eles impeçam uma pauta-bomba na Câmara e no Senado com medidas que aumentem as despesas - disse uma fonte do governo.

O mapa da infidelidade será distribuído por Padilha aos ministros que estiveram ontem com Dilma. Esse levantamento servirá como base para as negociações, principalmente para a distribuição de cargos no governo.

O GLOBO revelou sábado levantamento do governo, mostrando o índice de infidelidade por partido. O que mais traiu na Câmara foi o PP e, no Senado, o PRB. O segundo mais infiel nas duas Casas foi o PDT. Ontem, os ministros do PP, Gilberto Occhi (Integração Nacional), e do PDT, Manoel Dias (Trabalho), não compareceram à reunião, assim como Henrique Alves (Turismo), considerado muito próximo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os três tinham agendas fora de Brasília durante a reunião.

Antes desse encontro mais amplo, a presidente já havia se reunido de manhã com seu núcleo de coordenação política. Escalado para falar pelo governo, Eliseu Padilha disse, ao comentar a baixa popularidade da presidente, que o governo está se esforçando para entender o momento político e econômico. Segundo ele, embora o governo esteja adotando medidas para reativar a economia, essa percepção demora a chegar à sociedade.

- Vivemos um momento político e economicamente com algumas interrogações. O governo está fazendo o máximo para decifrá-las - afirmou.

Vídeos de Dilma nas redes sociais
Sobre o rompimento de Eduardo Cunha com o governo, Padilha disse confiar que ele manterá o equilíbrio institucional que o cargo exige. Ainda precisam ser votadas propostas do ajuste fiscal, como o projeto elevando a tributação de empresas sobre a folha de pagamentos das empresas, que precisa passar pelo Senado. Outro tema relevante para o governo é a prorrogação da Desvinculação de Receitas Orçamentárias (DRU), que lhe permite usar livremente até 20% das receitas das contribuições sociais, exceto as previdenciárias.

Ao fim do dia, Temer disse apostar no "espírito público" dos parlamentares para desarmar a chamada pauta-bomba que está sendo montada por Cunha.

- O objetivo da reunião é exatamente fazer a integração dos ministros e do Executivo com o Congresso. Toda a pauta da reunião foi exatamente esta: temos que dialogar com o Congresso. Essa foi a tônica da primeira reunião (coordenação) e da reunião agora à tarde - afirmou Temer.

Numa ofensiva de mídia e de aproximação com o Congresso, Dilma marcou um jantar para a próxima segunda-feira, no Palácio da Alvorada, com todos os deputados, senadores e presidentes dos partidos aliados. Serão cerca de 400 convidados. Paralelamente, começarão a ser divulgados nas redes sociais vídeos gravados sábado. Em cinco filmes de 30 segundos a um minuto, Dilma fala sobre as crises políticas e econômicas, intolerância, as Olimpíadas de 2016, o plano de exportações e o desemprego.

O governo cogitou ontem cancelar a reunião com os governadores, agendada para quinta-feira. Dilma não gostou da interpretação de que, no encontro, pediria que os governadores influenciassem suas bancadas para aprovar suas contas de 2014, que estão sendo questionadas no Tribunal de Contas da União (TCU), entre outras razões, por causa das "pedaladas fiscais". Porém, no fim da tarde, um auxiliar presidencial garantiu que a reunião está mantida.

Dilma também pretende anunciar no encontro que não vetará a proposta que permite aos estados usar parte dos depósitos judiciais como receita. A medida dará fôlego aos estados. O governo conta com a pressão dos governadores para ajudá-lo a articular propostas de interesse do Planalto.