• A recessão econômica começou a ser contratada antes mesmo do início da operação de combate à corrupção. Não pode, portanto, ser responsabilizada pela crise
Autoridades têm óbvias conveniências e limitações que condicionam seus pronunciamentos. Ministros da Fazenda, por exemplo, são sempre otimistas com os rumos da economia. E presidentes, com o próprio país. Entende-se, mas a questão é saber se acreditam no que dizem. Dilma não é a primeira pessoa a despachar no gabinete presidencial, no Planalto, que responsabiliza o exterior por toda maior dificuldade brasileira. Mesmo quando a economia americana se recupera há meses seguidos, como acontece agora.
O arrefecimento da China é ruim para exportadores de commodities, o Brasil entre eles. Mas não chega a explicar toda a amplitude dos problemas nacionais: inflação na fronteira dos dois dígitos, recessão e todas as suas consequências malévolas — desemprego, perda de renda, agravamento das desigualdades, e assim por diante.
A última pesquisa Focus, feita pelo Banco Central semanalmente junto a analistas das principais instituições financeiras, ampliou a previsão de retração do PIB, este ano, para 1,76%. E há quem já projete 2%, uma recessão de razoáveis dimensões para a economia brasileira.
Em reunião com políticos da base do governo, na segunda-feira, a presidente Dilma disse que a Operação Lava-Jato “provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro”. Não informou como chegou ao número.
Mas se trata de uma estimativa inverossímil. Tanto quanto relacionar a crise brasileira ao exterior. A Lava-Jato, é fato, tem repercussões nas maiores empreiteiras do país e na Petrobras, maior empresa brasileira, porque, no circuito entre elas, deu-se o maior caso de corrupção da República. E é provável que no Império também não tenha ocorrido algo igual. Trata-se de crime que não pode ficar impune. A perda de ritmo de investimento da Petrobras, porém, é parte pequena no cenário da crise. Que, em 2013, já sinalizava que viria. No ano seguinte, a economia rateou, e o PIB terminou praticamente estável, com um crescimento ínfimo de 0,1%.
Ele já desacelerava, não devido à Operação Lava-Jato —lançada em março e que passou a ampliar espaço no noticiário apenas no fim do ano —, mas porque foram cometidos erros crassos com a adoção do tal “novo marco macroeconômico”, cujos resultados são o forte crescimento da dívida pública, mais inflação e recessão.
Assim, sabia-se que algum ajuste teria de ser feito em 2015. E ele veio. Responsabilizar a Lava-Jato pela perda de um ponto percentual de PIB é tentar jogar fumaça nos olhos da opinião pública. Compreenda-se o escorregão da presidente pela contingência do momento e do cargo. Pois é inconcebível achar que o Brasil estaria melhor sem a devassa anticorrupção.
É o oposto. Punir exemplarmente corruptos e corruptores, neste circuito de grandes obras no setor público, melhorará a segurança jurídica dos investimentos. Será um forte fator de atração dos investidores.
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