terça-feira, 17 de outubro de 2017

Opinião do dia – Alexis Tocqueville

A verdade, deplorável verdade, é que o gosto pelas funções públicas e o desejo de viver à custa dos impostos não são, entre nós, uma doença particular de um partido: é a grande e permanente enfermidade democrática de nossa sociedade civil e da centralização excessiva do nosso governo; é esse mal secreto que corroeu todos os antigos poderes e corroerá igualmente todos os novos.


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Alexis Tocqueville (1805-1859), ‘Lembranças de 1848’ , p. 70, Companhia de Letras, 2011.

Não à idolatria aos holofotes | *Aloísio de Toledo César

- O Estado de S.Paulo

Acusações e alegações não constituem meios de prova, daí o risco de torná-las públicas

Com a posse da nova procuradora-geral da República abriu-se a esperança de que os promotores e procuradores de Justiça não percam de vista que o processo judicial para apuração de crimes deve ser dirigido ao juiz, com muita discrição, e não à opinião pública. Não é aceitável que se repita a conduta de aceitar como verdadeiras acusações revestidas de gravidade, mas que não estão acompanhadas das provas necessárias à sua comprovação. Acusações e alegações não constituem meios de prova, daí o risco de torná-las públicas.

O processo judicial é uma peça técnica que não pode se afastar daquilo que está exposto na lei e consagrado pelo Direito. Como o monopólio de distribuição de justiça e o direito de punir pertencem exclusivamente ao Estado, esse direito de agir deve ser exercido perante juízes e tribunais, jamais voltado para televisões, rádios e jornais.

Nos últimos quatro anos, graças ao magnífico trabalho realizado anonimamente por delegados e procuradores federais de Justiça, o Brasil começou a mudar de cara, com a denúncia e a prisão de pessoas muito ricas, algo que em nossa História apenas havia ocorrido excepcionalmente.

O liberal de verdade | Joel Pinheiro Da Fonseca

- Folha de S. Paulo

Em sua coluna da semana passada aqui na Folha, Gregorio Duvivier declarava não conhecer nenhum "liberal-de-verdade" —desses que defendem menos intromissão do governo em todos os âmbitos da vida, inclusive na moral pessoal, nas artes, etc. Os políticos eleitos com plataforma liberal, afinal, têm mostrado outras cores ao longo do mandato.

Gregorio, pode respirar aliviado: os liberais de verdade estão entre nós e seus números não param de aumentar. Foi o que pude constatar em primeira mão na LibertyCon, convenção para o público liberal e libertário que ocorreu neste fim de semana em São Paulo. Um tipo de evento (comercialmente viável) impensável mesmo cinco anos atrás, com jovens de todo o Brasil.

Eu tive o prazer de mediar um debate sobre a filiação ideológica do liberalismo: direita, esquerda, terceira via? Em meio a discordâncias bastante acentuadas, a confiança mútua de que todo mundo ali é capaz de conviver com perspectivas diferentes. Saber escolher bem os próprios aliados é parte do jogo político neste mundo caído, mas é preciso sabedoria para não se deixar levar facilmente pelo primeiro canto das sereias políticas.

O mero discurso vale pouco. Lula, Doria e Bolsonaro já se disseram liberais, assim como no passado todo mundo se dizia de esquerda. Nada de novo. A diferença é que, agora, para nos enganar, a política escolhe a roupagem liberal. Só até a página 2? Sem dúvida. Mas melhor duas páginas de liberalismo do que de socialismo.

A segunda denúncia e os riscos para Temer | Raymundo Costa

- Valor Econômico

Situação do presidente não é confortável

Até outubro de 2015, o vice Michel Temer não era uma alternativa de poder ao governo de Dilma Rousseff. O vice-presidente somente se tornou uma opção depois que o PMDB lançou e Dilma recusou o programa batizado de "Uma Ponte Para o Futuro". Ninguém é candidato de si mesmo e àquela altura a ponte, mais tarde rebatizada de "pinguela" por Fernando Henrique Cardoso, balizava um certo consenso das forças à direita do PT para tirar o país da sua pior crise econômica.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desde o impeachment de Dilma é o primeiro na linha de sucessão do presidente Michel Temer, mas não é uma alternativa de poder ao PMDB, neste momento. Pode vir a ser, sobretudo se a investigação sobre a família Vieira Lima (o ex-ministro Geddel e o deputado Lúcio) respingar sobre o presidente - hipótese em que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lucia, também pode aspirar ao lugar mais alto do pódio. O DEM tem experiência de sobra para saber que jabuti não sobe em árvore - ou foi enchente ou mão de gente. No fim de semana, dois apareceram na copa: o vazamento da delação do doleiro Lucio Funaro e a operação de apreensão de documentos no gabinete e na casa de Lucio Vieira Lima.

Por enquanto, as manifestações de insatisfação de Rodrigo Maia não são suficientes para o afastamento de Temer. Maia precisa de 342 votos; Temer, de 172. Mas a situação do presidente decididamente não é confortável e ele pode sair menor da segunda denúncia do que saiu da primeira.

‘Torpezas e vilezas’ | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Com todos contra todos, a profusão de ‘torpezas e vilezas’ é generalizada

O confronto entre o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, virou uma guerra desde que o PMDB sabotou as articulações do DEM para atrair deputados do PSB e Maia aderiu ao vale-tudo. Não só jantou com os piores inimigos de Temer no PMDB, como Renan Calheiros e Kátia Abreu, como agora é acusado de postar no site oficial da Câmara as acusações frontais do “operador” Lúcio Funaro contra o presidente da República.

O menor problema de Temer é a oposição do PT, PC do B e PSOL, porque ele está mesmo é às voltas com os aliados e com o potencial deletério de Maia sobre a tramitação da segunda denúncia da PGR e das futuras medidas de interesse do governo na Câmara. Bater de frente com a oposição é natural, com os próprios aliados é um risco imenso.

Para falar direto com sua base, sem mediação do presidente da Câmara, Temer enviou carta para deputados reagindo às “torpezas e vilezas” contra ele, inclusive a delação de Funaro, que Maia potencializou pela internet. Para o Planalto, Maia fez propaganda a favor de Funaro e contra Temer.

Golpes e erros | Míriam Leitão

- O Globo

A carta enviada por Temer ao Congresso cria mais um ponto de conexão entre o atual e a antiga ocupante da Presidência: tanto Michel Temer quanto Dilma Rousseff têm visões persecutórias e culpam outros pelos seus erros. Dilma arruinou a economia, Temer envolveu-se por vontade própria em uma relação indefensável com um dos investigados da Lava-Jato. Os dois acreditam em conspirações.

“Tenho sido vítima desde maio de torpezas e vilezas que pouco a pouco, e agora até mais rapidamente, têm vindo à luz. Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da presidência da República. Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis.”

Dilma alegou que houve um golpe contra ela e até hoje o Partido dos Trabalhadores repete isso publicamente. Os efeitos dos seus erros econômicos continuam. A dívida pública brasileira voltou, depois de duas décadas, a ser uma ameaça à estabilidade, o Tribunal de Contas da União (TCU) acaba de confirmar a constatação de que os R$ 500 bilhões transferidos ao BNDES tiveram um custo de mais de R$ 100 bilhões e formaram um orçamento paralelo, o país saiu de 16 anos de superávit primário para o déficit. E, além de tudo isso, ela usou truques para esconder os números fiscais. Tudo isso elevou a inflação, jogou o país na recessão e a tirou do cargo. Mas ela se diz vítima.

Torpezas e vilezas | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Na era da comunicação instantânea, Michel Temer se mantém fiel às cartas. Há quase dois anos, ele escreveu uma para informar que não queria mais ser um "vice decorativo". Agora enviou outra para avisar que deseja continuar presidente.

Na primeira correspondência, Temer enumerou suas mágoas com Dilma Rousseff. "É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo", disse. Na segunda, ele repete a ladainha para os congressistas. "É um desabafo. É uma explicação para aqueles que me conhecem", afirma.

Na missiva original, o peemedebista negou ser o chefe de uma "suposta conspiração". "Não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade", escreveu. Agora ele muda de papel e se diz vítima de conspiradores. "Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar", lamuria-se.

Raquel investiga | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Com Lúcio arrastado para o olho do furacão, teme-se no Palácio do Planalto que Geddel resolva falar para salvar o irmão

O estilo soft power da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, alimentou expectativas no Congresso de que as operações de busca e apreensão da Operação Lava-Jato contra políticos eram uma página virada. Errado. No mesmo dia em que o presidente Michel Temer (PMDB) distribuía uma carta aos seus aliados denunciando uma suposta conspiração para destituí-lo da Presidência capitaneada pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot, a Polícia Federal fazia uma devassa no gabinete do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e nas residências do parlamentar.

Foi a primeira operação contra um político na gestão de Raquel Dodge, que deu continuidade às investigações sobre os R$ 51 milhões encontrados em setembro, pela Polícia Federal, num apartamento de Salvador, supostamente pertencentes ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, irmão do parlamentar, que está preso preventivamente no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Durante toda a manhã os policiais permaneceram na Câmara, deixaram o gabinete de Lúcio com uma mala e um malote de documentos.

Temer diz em carta que é vítima de conspiração

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Às vésperas da votação da segunda denúncia contra ele na Câmara, o presidente Michel Temer encaminhou nesta segunda (16) aos gabinetes dos deputados aliados uma carta em que se diz "indignado" com o que chama de "conspiração" para tirá-lo do cargo.

"Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis", afirma na carta.

No texto, Temer admite que está fazendo um "desabafo", com críticas ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e aos delatores Joesley Batista, dono da JBS, e Lúcio Funaro, operador do PMDB. O presidente desqualifica as delações premiadas de ambos, homologadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), e diz que as colaborações têm o intuito apenas de atingi-lo.

Segundo o presidente, Janot participou de forma ativa de uma "trama", com a ajuda do procurador Marcello Miller, para fechar a delação da JBS com o objetivo de tirar o peemedebista do comando do Palácio do Planalto.

Aos parlamentares que votarão seu destino político nos próximos dias, o presidente diz que está defendendo sua honra e que Janot queria impedir que ele nomeasse um novo titular para a Procuradoria-Geral da República e "ser ou indicar" o novo candidato à Presidência, na disputa que se dará no ano que vem.

"Tudo combinado, tudo ajustado, tudo acertado, com o objetivo de: livrar-se de qualquer penalidade e derrubar o presidente da República", escreveu Temer.

Temer cita na carta a entrevista que o procurador Ângelo Goulart Vilela deu à Folha. O presidente diz que ele permaneceu preso durante 76 dias, sem que fosse ouvido: "Nela, evidenciou que o único objetivo do ex-procurador-geral era derrubar o presidente da República [...] Veja que trama".

EDUARDO CUNHA
O presidente diz ainda que as declarações do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba há quase um ano, à revista "Época" indicam que a delação de Funaro só foi aceita porque a de Cunha não entregava o presidente.

"Em entrevista à revista Época, o ex-deputado Eduardo Cunha disse que a sua delação não foi aceita porque o procurador-geral exigia que ele incriminasse o presidente da República. Esta negativa levou o procurador Janot a buscar alguém disposto a incriminar o presidente. Que, segundo o ex-deputado, mentiu na sua delação para cumprir com as determinações da PGR. Ressaltando que ele, Funaro, sequer me conhecia", diz a carta.

O texto começou a ser entregue apenas dois dias depois de a Folha divulgar vídeos de depoimentos de Funaro, apontado como o principal operador do PMDB da Câmara, e que implicam Temer em diversos crimes.

A delação de Funaro foi usada por Janot para embasar a segunda denúncia contra o presidente, desta vez por obstrução de Justiça e formação de organização criminosa.

A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara deve votar nesta quarta-feira (18) o parecer contrário ao prosseguimento da denúncia contra Temer e seus ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).

Leia a íntegra da carta:

Temer se declara vítima de conspiração

Por Andrea Jubé e Bruno Peres | Valor Econômico

BRASÍLIA - Na véspera da votação sobre o prosseguimento da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o presidente Michel Temer enviou uma carta aos deputados para convencê-los a suspender a investigação requerida pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Em quatro páginas, Temer se declara vítima de uma "urdida conspiratória" e invoca sua trajetória jurídica e política para reforçar o pleito pela suspensão do processo.

No Planalto, a expectativa é de que a segunda acusação tenha o mesmo destino da primeira. Contudo, aliados admitem, reservadamente, que Temer poderá obter menos votos do que na primeira votação, sugerindo uma "vitória de Pirro".

"A carta é mais um recurso de defesa, mas os deputados não vão se basear nela para votar contra ou a favor da denúncia", explicou ao Valor um líder de bancada da base governista.

Este líder reconhece que a segunda denúncia da PGR apresenta-se mais frágil que a primeira, inclusive por força da situação dos principais delatores, os ex-executivos da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud, hoje presos. Mas aponta os fatores que realmente formarão a convicção dos deputados: a favor de Temer, pesam a retomada do crescimento da economia e a estabilidade institucional.

Temer vê ‘conspiração’ e tensão com Maia aumenta

Temer vê ‘conspiração’ às vésperas de votação

Embora afirme que mensagem é também um ‘desabafo’, presidente aponta suposta trama para derrubá-lo do cargo

Tânia Monteiro e Vera Rosa | O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - O presidente Michel Temer encaminhou carta a deputados e senadores na qual afirma ser vítima de “conspiração” para derrubá-lo da Presidência. No texto, Temer deixa claro o clima de tensão dias antes da votação, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, da segunda denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República. Embora afirme que a carta é também um “desabafo” – com críticas dirigidas ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e aos delatores Joesley Batista, da J&F, e Lúcio Funaro, operador do PMDB –, a ofensiva de Temer contra a suposta conspiração ocorreu em meio a uma crise entre o Planalto e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República.

Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis”, escreveu.

O presidente Michel Temer encaminhou ontem uma carta a deputados e senadores na qual afirma ser vítima de uma “conspiração” para derrubá-lo da “Presidência da República”. No texto, Temer escancara o clima de tensão em Brasília a três dias da data prevista para a votação, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, da segunda denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República.

Nova cartada

Sob o impacto da delação de Funaro, Temer escreve a deputados e se diz vítima de conspiração

Vinicius Sassine, Leticia Fernandes e Patricia Cagni | O Globo

-BRASÍLIA- O presidente Michel Temer enviou ontem a 453 parlamentares — 63 senadores e 390 deputados da base aliada — uma carta escrita de próprio punho ao longo do fim de semana, e depois passada para o computador por sua equipe, para rebater a denúncia da Procuradoria-Geral da República que o acusa de organização criminosa e obstrução de justiça. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deve votar o pedido ainda esta semana. Na carta, o presidente diz ser vítima de “torpezas e vilezas” e considera “incontestável” a existência de “conspiração” para derrubá-lo do cargo.

“Começo pelo áudio da conversa entre os dirigentes da JBS. Diálogo sujo, imoral, indecente, capaz de envergonhar aqueles que o ouvem. (...) Quem o ouviu verificou urdidura conspiratória dos que dele participavam demonstrando como se deu a participação do ex-procurador-geral da República (Rodrigo Janot), por meio de seu mais próximo colaborador, Dr. Marcelo Miller”, escreveu.

Em conversa com O GLOBO à tarde, Michel Temer disse que decidiu ampliar o envio da carta, encaminhando-a também a advogados, amigos, ex-alunos e deputados estaduais. Temer disse ter sido aconselhado a “não dizer nada”, mas considerou “inadmissível” ficar calado em relação à denúncia formulada pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

— As pessoas me aconselham a não dizer nada. É inadmissível que eu não diga. Tem de dar uma satisfação. Aliás, estou mandando essa carta para muita gente, sabe? Advogados, meus amigos, para ex-alunos, tenho mais de dez mil alunos espalhados pelo Brasil. Tenho mandado para deputados estaduais, estou tentando, enfim, explicar — afirmou Temer.

Aliados de Temer culpam STF por vídeos

Nomes próximos a Temer classificaram que o 'erro original' foi do STF, especialmente do relator Edson Fachin

Isadora Peron e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Para dissipar a nova crise entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente Michel Temer, interlocutores do governo resolveram creditar na conta do Supremo Tribunal Federal (STF) a divulgação dos vídeos do operador financeiro Lúcio Funaro.

O material foi disponibilizado no site da Câmara, e gerou um bate-boca entre Maia e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, no fim de semana.

Nomes próximos a Temer, no entanto, classificaram que o “erro original” foi do Supremo – especialmente do relator Edson Fachin – que teria enviado o material à Câmara sem deixar claro o que deveria ser mantido em sigilo e o que poderia ser divulgado.

No domingo, o ministro Antonio Imbassahy (Relações Institucionais) jantou com Maia para tentar diminuir o mal-estar entre o presidente da Câmara e o Planalto.

‘Crise’ Michel Temer x Rodrigo Maia é praticamente combinada

Maia quer mostrar 'independência' à Câmara e ao eleitor do Rio

Redação | Diário do Poder

É tão autêntica quanto a cabeleira implantada de alguns políticos a suposta “hostilidade” entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente da República. Às vésperas da votação da segunda denúncia contra Michel Temer, o deputado precisa fazer gestos e acenos para o “público interno” da Câmara, com a maior pose de “independência”, e para eleitores do Rio de Janeiro, onde é candidato a governador. A informação é da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.

Experiente, Temer não exige e nem espera de Maia, candidato em 2018, o sacrifício de “colar” sua imagem à de um governo impopular.

O deputado e sua mãe sabem que ele não teria sido eleito presidente da Câmara se Temer não quisesse. Mais que isso, Temer o escolheu.

Maia está mais afinado com Temer do que supõe a torcida juvenil pela “crise”. E tem sido leal ao presidente, sobretudo em momentos graves.

Questões familiares não podem ser desprezadas: Rodrigo Maia é genro de Moreira Franco, um dos ministros mais ligados a Temer.

Populismo econômico e colapso do crescimento | Afonso Celso Pastore

- O Estado de S.Paulo

Em breve, elegeremos um novo governo e precisamos nos proteger contra promessas fáceis do populismo

O World Economic Outlook (WEO-IMF) publica as séries anuais da renda per capita dos países medida em paridade de poder de compra. Tomando como base a renda per capita dos EUA, em 1980 a do Brasil era equivalente a 38% da norte-americana, apenas um pouco abaixo dos 45% do México e muito acima da chinesa, que atingia apenas 4%. Em 2005, a renda per capita do Brasil havia declinado para 25% e a do México para 33%, com a da China chegando a 11%, e em 2016, a renda per capita do México mantinha-se em 33%, com a do Brasil indo para 27%, quando foi alcançada pela da China. Para 2022, o WEO projeta que a renda per capita do Brasil deverá manter-se em 26%, com a da China igualando-se à do México em 33%. China, Índia e Turquia têm crescimentos superiores à União Europeia e ao Reino Unido, com a Ásia se constituindo no motor do crescimento mundial, enquanto a América Latina e o Brasil estão ficando muito para trás.

A causa desse desempenho medíocre está no que Rudiger Dornbusch e Sebastian Edwards definiram por “populismo econômico” – o crescimento dos gastos públicos distribuindo benesses sem o correspondente aumento das receitas, ao lado do intervencionismo excessivo na economia. As reformas do Plano Real nos afastaram desse paradigma estabelecendo uma nova conduta que ainda se manteve no primeiro mandato de Lula. Nesse período, a austeridade fiscal foi preservada ao lado da redução de distorções na economia e de melhora da distribuição de rendas. Mas no segundo mandato de Lula e nos de Dilma Rousseff tudo isso se perdeu. Embora o Brasil não tenha desembocado no financiamento inflacionário dos déficits públicos, como ocorre atualmente na Argentina, criou um desequilíbrio fiscal que leva ao crescimento insustentável da dívida pública, além de acentuar uma infinidade de distorções.

‘Fator Maia’ salvou presidente e pode complicá-lo

Vera Magalhães | O Estado de S.Paulo

A atuação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na condução da votação da primeira denúncia contra Michel Temer foi o fator preponderante para seu arquivamento.

O reconhecimento desse papel veio do próprio Temer e de seu entorno no Palácio do Planalto. Nos dias que antecederam e se seguiram à votação, era comum ouvir de ministros a avaliação de que houve um momento, logo depois de 17 de maio, que se Maia tivesse querido embarcar num plano para derrubar o presidente ele teria sido efetivo.

Quando tudo apontava que a segunda denúncia seria mais fácil de descartar – a economia se recuperando, Rodrigo Janot fora de jogo, a proximidade das eleições e a lambança da delação dos executivos do Grupo J&F –, o “fator Maia” vai se mostrando de novo crucial, só que ao contrário.

Ainda não está totalmente claro o que move o deputado do DEM em seu confronto com Temer. Apenas a disputa por deputados no supermercado dos partidos não explica a sanha de romper com o governo a menos de um ano das eleições.

Afinal, se ele quisesse apenas assumir a cadeira, melhor seria tê-lo feito no primeiro semestre. Suceder Temer eventualmente tiraria o presidente da Câmara da disputa pela reeleição para a Casa – e consequentemente para o seu comando. Não é esse, portanto, o combustível a inflamar sua retórica.

Também é difícil imaginar que seu cálculo seja de ficar bem com “as bases”. Mais do que em qualquer outra unidade da Federação, no Rio de 2018 valerá a máxima de que quem tiver um olho (como o comando da Câmara) será rei.

Não é inteligente comprar briga com aquele que vai ditar as regras do jogo da votação da denúncia e tem a pauta das votações de interesse do governo nas mãos. Portanto, a reação do advogado de Temer, Eduardo Carnelós, ao esquisito episódio da divulgação dos vídeos da delação de Lúcio Funaro pelo site da Câmara, foi, de fato, de uma incompetência atroz no sentido político.

Assim, Temer, que teve de recorrer a mais uma carta lamuriosa para tentar conter o estrago do fim de semana, vai engolir o orgulho e tentar conter a rebeldia de Maia. Resta saber se é tarde demais.

FMI defende política fiscal para reduzir a desigualdade – Editorial | Valor Econômico

Não por acaso uma foto do hotel Sheraton no Rio, com o morro do Vidigal ao fundo, ilustra o blog do Monitor Fiscal do Fundo Monetário Internacional (FMI) deste segundo semestre. Tradicional defensor da austeridade e disciplina fiscais, o Monitor Fiscal apresentado na reunião da semana passada teve como tema a desigualdade e como enfrentá-la. A legenda da foto torna a escolha da ilustração ainda mais óbvia - "Riqueza e pobreza lado a lado no Rio, Brasil: a desigualdade está aumentando nos países ao redor do mundo".

Há quem diga que o FMI chega tarde a esse debate importante e sensível. Mas o organismo tem realmente ampliado seu leque de interesse, abrindo espaço para discutir a corrupção e até reconhecendo a eventual utilidade do controle de capitais.

Assinado pelo diretor de Assuntos Fiscais, Vitor Gaspar, e pela líder do time que analisou o tema, Mercedes Gardia-Escribano, o estudo do Fundo sustenta que a política fiscal é responsável em boa parte pela desigualdade nos países e pode ser usada para corrigir o problema, aproveitando o espaço aberto pela recuperação da economia global. O FMI alinha-se assim à mais recente tendência do debate sobre a desigualdade, encabeçada pelo francês Thomas Piketty, que mergulhou nas declarações de Imposto de Renda e mostrou como os mais ricos acabam pagando relativamente menos tributos com aplicações financeiras, dividendos, heranças e doações.

Pobres saem do sufoco – Editorial | O Estado de S. Paulo

As famílias de baixa renda, geralmente as mais prejudicadas quando os preços disparam, estão sendo beneficiadas pelo recuo da inflação. Aos poucos, e ainda com muito cuidado, voltam a diversificar as despesas, buscando no comércio algo além do essencial para a sobrevivência. Com alimentos menos caros, sobra mais dinheiro para outros bens e serviços. Elevam-se, portanto, os padrões de consumo. Apesar disso, o normal ainda é reclamar da vida, como se nada tivesse melhorado, mas o movimento nos shoppings e outros indicadores mostram um ambiente de maior animação. Além disso, as pessoas tendem a reconhecer mais prontamente a piora das condições de compras do que qualquer melhora na evolução dos preços. Mas aos poucos se acumulam os sinais positivos. Exemplo: nas lojas de produtos eletroeletrônicos, as vendas de televisores básicos têm crescido mais rapidamente que as de aparelhos mais sofisticados.

Mesmo sem corte de preços, a mera redução do ritmo de aumentos contribui para diminuir o sufoco e produzir algum alívio. Inflação menor significa menor corrosão dos ganhos das famílias. Em outras palavras, significa ampliação do poder de consumo. Todos os grupos de famílias foram beneficiados pelo recuo da inflação.

Sem controle, violência impõe mudança de hábitos – Editorial | O Globo

Combater a criminalidade é vital. Autoridades de segurança não podem permitir que bandidos moldem a rotina de uma cidade de 6,5 milhões de habitantes

Num estado que registra, por dia, uma média de 13 assassinatos, 429 roubos de rua, 153 de veículos, 28 de carga e 21 a estabelecimentos comerciais, não surpreende que essa epidemia de violência, em meio a uma grave crise financeira, altere comportamentos, force mudanças em serviços importantes e imponha novas regras aos cidadãos.

Os efeitos podem ser percebidos por toda parte. No comércio, no turismo — especialmente hotéis, bares e restaurantes — e serviços em geral. A disparada do número de roubos de veículos, por exemplo, está fazendo com que seguradoras recusem clientes ou aumentem o valor do seguro. A Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) admite que companhias deixaram de atender a pelo menos cinco bairros do Rio: Cavalcante, Manguinhos, Sampaio, Pavuna e Rocha Miranda.

Da mesma forma, o aumento no número de roubos de carga — 23,6% este ano — tem penalizado moradores de alguns bairros do Rio. Empresas deixaram de fazer entregas para determinados CEPs alegando motivos de segurança.

Inquirir Aécio – Editorial | Folha de S. Paulo

Em 24 de março, no sétimo andar de um hotel paulistano, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) encontrou-se com Joesley Batista, do grupo JBS, sem saber que a conversa estava sendo gravada.

São estarrecedores os termos do diálogo. A um dado momento, o ex-candidato tucano ao Planalto pergunta se o empresário pode lhe "dar uma ajuda" de R$ 2 milhões, recebendo resposta afirmativa.

Combinam-se os termos da entrega. Seria feita em quatro parcelas de R$ 500 mil, em dinheiro vivo. Logo em seguida, o senador declara a Joesley Batista que poderia atendê-lo na indicação de dirigentes da Vale—não lhe sendo mais possível nomear, para o cargo de presidente da empresa, a figura preferida pelo dono da JBS.

Duas semanas depois, um parente de Aécio Neves vai ao escritório da JBS e recolhe a primeira parcela. Na semana seguinte, nova entrega, e as cenas em que se conta e transporta o dinheiro são filmadas pela Polícia Federal.

Prossegue nesse teor, com notável grau de detalhamento, a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o tucano —cuja sorte política se encontra no fio de iminente decisão.

Sobre os goleiros | Augusto Guimarães Cavalcanti

Medita o goleiro-engenheiro na geometria
de gestos mais econômicos
Traves são planetas grávidos
de gols, vicejados de noite

O gol é o melhor psicanalista do atacante
O gol redime “tudo”,
é a meta representação ideal para toda cirurgia do jogo;
para o verão forçado de um gol
Antes de qualquer tempo inaugural,
pairam os goleiros
com suas aparências desoladas
a beijar solitariamente suas traves
Goleiro mãe do galináceo,
guardião do marco zero
O mistério dos goleiros:
eles também não aprenderam a voar

Yara de Mello - 1 X 0 - Pixinguinha letra Nelson Angelo

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

Difícil fazer um balanço equilibrado da trajetória comunista. No poder, o modelo bolchevique produziu estruturas autoritárias ou, reconheça-se, totalitárias, que afinal se mostraram frágeis e ruíram. Fora do poder, deve-se admitir que aquela trajetória teve luzes às vezes intensas. O próprio Ingrao, cuja capacidade autocrítica destacamos, constatou a ação positiva dos comunistas na organização de uma classe – a dos trabalhadores, mas não só – e na sua integração à sociedade inclusiva, ampliando regras e valores da democracia – rigorosamente, um bem coletivo.

Eric Hobsbawm convidou-nos a uma visão livre de uma das muitas ironias que a História, essa dama caprichosa, acabou por nos reservar: o fato de a revolução russa, que parecia encarnar o mais temido dos fantasmas, na verdade ter salvado duplamente a civilização “adversária”. Na guerra, aniquilando Hitler; na paz, estimulando, até pelo medo de algum novo evento revolucionário, sua reforma e sua capacidade de se expandir além da feição original. Descartado cabalmente o método da violência, o papel democratizador dos velhos comunistas, no Ocidente, deveria ser lembrado por todos nesta hora difícil.

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Luiz Sérgio Henriques é tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das 'Obras' de Gramsci, ‘1917’, O Estado de S. Paulo, 15/10/2017

Entrevista:O Estado inteligente

O historiador inglês, Adrian Wooldridge, afirma que modelo de governo burocrático e inchado precisa ser repensado. A saída, diz ele, virá do uso intenso da tecnologia

Por Marcelo Sakate | Veja

A crise de credibilidade enfrentada por diferentes governos pelo mundo afora é resultado do esgotamento do modelo de Estado consolidado nas últimas décadas. O setor público não consegue corresponder plenamente a todas as suas atribuições, premido pelo excesso de gastos e pela necessidade de sustentar o bem-estar de uma população cada vez mais velha. A sobrevivência das democracias requer uma reformulação dos governos, levando em conta as possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias — entre elas, a inteligência artificial. É disso que trata A Quarta Revolução — A Corrida Global para Reinventar o Estado, escrito pelo jornalista e historiador inglês Adrian Wooldridge, em parceria com o jornalista John Micklethwait. O livro foi publicado originalmente em 2014, antes, portanto, da vitória de Donald Trump e da decisão britânica de sair da União Europeia. Wooldridge, que é editor da revista The Economist e doutor em filosofia por Oxford, disse que está mais pessimista e que os acontecimentos recentes mostram que a quarta revolução do Estado é necessária para revigorar o apelo e a força da democracia. Ele falou a VEJA por telefone, de Londres.

O que é a quarta revolução?

É uma forma de usar o poder da tecnologia e do pensamento político moderno para disciplinar o Estado. Houve anteriormente três revoluções. Thomas Hobbes argumentou que o papel do Estado era proteger as pessoas da morte, da destruição ou da violência. Em meados do século XIX, os liberais diziam que o Estado tinha de garantir a liberdade das pessoas. Beatrice e Sidney Webb, no fim do século XIX, afirmaram que o Estado deveria providenciar o bem-estar das pessoas. Era uma resposta socialista. Houve mais tarde uma reação parcial com Margaret That¬cher e Ronald Reagan, para os quais o Estado havia ficado grande demais, mas não foi propriamente uma revolução. Chegou a hora de uma quarta revolução. As atribuições do Estado precisam ser avaliadas. Parte da transformação reside no uso da tecnologia para aprimorar a qualidade da prestação de serviços de saúde e educação.

Qual deve ser o papel do Estado no mundo de hoje?

Precisamos de um Estado poderoso para fornecer serviços públicos, para evitar que as pessoas matem as outras, para preservar a ordem pública. O problema é que o Estado tende a se autoalimentar. Quanto maior o seu tamanho, mais indisciplinado ele fica. Presta serviços cada vez piores à população, até colapsar sob o próprio peso. É preciso usar a tecnologia moderna para aperfeiçoá-lo. Pode parecer banal dizer isso, mas, se voltarmos ao século XIX, houve um salto de produtividade graças ao uso de máquinas que substituíram trabalhos feitos a mão, com a Revolução Industrial e a Revolução Agrícola. Agora temos as bases de uma nova revolução com as máquinas inteligentes. Os computadores tendem a ser intensivos no uso de informações e de mão de obra. A produtividade na prestação de serviços pode crescer muito.

Teatro jurídico

O Supremo Tribunal Federal decide que — agora — caberá ao Congresso dar a palavra final sobre o afastamento de parlamentares

Por Thiago Bronzatto, Robson Bonin | Veja

Na vida brasiliense, é comum o uso da expressão “teatro político”, pois os jogos de cena são próprios do mundo parlamentar. Mais raro é o emprego da expressão “teatro jurídico”, por uma razão elementar: espera-se que, nos tribunais, as decisões produzam segurança jurídica e previsibilidade — e, para tanto, não devem ser tomadas ao sabor das circunstâncias ou do tamanho do personagem envolvido. Na quarta-¬feira 11, o Supremo Tribunal Federal (STF) reuniu-se por treze horas e fez o que deveria ter evitado: teatro jurídico. Em votação apertadíssima, o STF decretou, por 6 votos a 5, que a corte pode afastar um parlamentar do exercício do seu mandato, mas a decisão só valerá se tiver o aval da Câmara ou do Senado.

Como se constata pelo placar, o entendimento do STF está longe de ser pacífico. De um lado, seis ministros (Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski) votaram a favor da tese segundo a qual o STF pode impedir um deputado ou senador de exercer as suas funções parlamentares mas, em nome da independência e da harmonia entre os poderes, é preciso que tenha o aval do Congresso. Os demais cinco magistrados (Celso de Mello, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber) sustentaram que o STF tem a prerrogativa de arbitrar sobre a suspensão das atividades de um parlamentar sem a necessidade da concordância de qualquer casa do Congresso.

O teatro jurídico do STF não tem relação com a decisão vitoriosa. Quem acompanhou as treze horas de debate pôde ver que há argumentos sólidos para defender a posição que saiu vencedora — assim como a posição contrária. O teatro aparece quando se compara a posição de hoje adotada por alguns de seus ministros com a posição que esses mesmos ministros defendiam até ontem — e, nessa gangorra, fica a sensação de que as decisões são tomadas de olho nas circunstâncias, e não na letra da lei.

O julgamento de agora foi motivado por uma ação apresentada ao STF em maio do ano passado por três partidos: PP, PSC e Solidariedade. As legendas contestavam a decisão do Supremo, tomada pouco antes, de afastar o então deputado Eduardo Cunha do exercício do seu mandato. Diziam que era uma violação da Constituição, na medida em que atropelava o Congresso. Afastado do mandato, Cunha acabou cassado e preso. Detalhe relevante: o STF o puniu por unanimidade, 11 votos a zero, e ninguém na ocasião disse que era preciso o aval da Câmara.

A caminho do arquivo

Se uma mala de propina foi insuficiente para um processo contra o presidente, imagine o destino de uma acusação desprovida de prova tão espetacular

Por Daniel Pereira | Veja

Já era esperado que o deputado Bonifácio de Andrada, do PSDB de Minas Gerais, apresentasse um relatório favorável ao arquivamento da segunda denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, acusado de obstrução de Justiça e participação em organização criminosa. Só não se sabia que o parecer, lido na terça-feira 10 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, seria tão chapa-branca. Em 35 páginas, Andrada não rebateu os principais indícios elencados pela PGR para afirmar que o grupo político de Temer recebeu 587 milhões de reais em propina. Em vez disso, ele redigiu um manifesto político e defendeu a tese de que há uma campanha orquestrada para criminalizar a atividade político-¬partidária — tese, como se sabe, sustentada apenas por acusados, como o peemedebista Temer, o petista Lula e o tucano Aécio Neves. “A Polícia Federal, atuando à mercê do Ministério Público, compactuada com setores do Judiciário, às vezes tomando posições exageradas e mesmo exóticas, chega a ponto de fiscalizar a Presidência da República, seus ministros de Estado e outros órgãos de destaque institucional”, declarou Andrada. “Nestes autos, a Presidência não é tratada com a devida reverência que o cargo requer.”

Descendente de José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como “o patriarca da Independência”, o relator sempre fez da tal reverência ao poder uma característica de sua trajetória na vida pública. Andrada militou na Arena, partido que deu sustentação ao regime militar, negou voto à emenda das Diretas Já, preferiu Paulo Maluf a Tancredo Neves no Colégio Eleitoral e votou a favor de Temer quando da primeira denúncia contra o presidente. Naquela ocasião, Temer era acusado de corrupção passiva, e contra ele pesava a notória gravação de seu assessor Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala recheada com 500 000 reais de propina da JBS.

O refúgio da esquerda | *Denis Lerrer Rosenfield

- O Estado de S.Paulo

Fracassada, procura agora se reinventar usando palavras como censura, arte e ditadura

A queda do Muro de Berlim foi uma linha divisória. O sonho esquerdista esvanecera, expondo o pesadelo que tinha engendrado. Talvez nenhum país mostre melhor o sucesso do capitalismo e o fracasso do socialismo. Enquanto a Alemanha Ocidental era uma amostra de um Estado de bem-estar social, com todas as liberdades garantidas, a Alemanha Oriental, dita democrática e socialista, obrigava seus cidadãos a compartilharem a penúria, sufocando todas as liberdades. Não eram propriamente cidadãos, mas súditos do Estado.

Podemos também comparar, a modo de exemplo, a próspera e capitalista Coreia do Sul, Estado democrático, com a totalitária e socialista Coreia do Norte, que vive da opressão de seus súditos, da fome, e aterroriza o planeta com suas armas nucleares. Ou se pense, ao nosso lado, na ditadura de Maduro e em seu apoio em Cuba e no PT, no Brasil. Esses parecem não ter nada aprendido com a História, embora, talvez como galhofa, queiram reivindicá-la.

Note-se que nem lhe sobrou a defesa dos pobres e do então dito proletariado, pois os Estados que mais conquistaram direitos sociais são os capitalistas, seja em suas vertentes social-democrata (países nórdicos), trabalhista (Grã-Bretanha) ou democrata-cristã (Itália e Alemanha). Aliás, neste último país o consenso era de tal ordem que a alternância entre os partidos cristãos e social-democrata em nada alterou, se não implementou, os ganhos sociais por todos reconhecidos. À esquerda não restou nem o social, salvo em sua face social-democrata, tida por direita pelos comunistas, socialistas e, entre nós, petistas.

Sem esculacho, por favor! | Ricardo Noblat

- O Globo

“Para encontrar a Justiça é preciso ser-lhe fiel. Ela só se manifesta àqueles que nela creem”. Piero Calamandrei, jurista italiano

Guarde esta data: 11 de outubro de 2017, véspera do dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Foi quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a última palavra em matéria de lei não será mais dele, mas do Congresso no caso de punição de parlamentar acusado por crime comum. Revoguem-se as disposições em contrário, inclusive o Código de Processo Penal. Publique-se de imediato.

SESSÃO MEMORÁVEL, CONCLUÍDA DEPOIS de 13 horas de discussões com o voto de desempate da ministra Cármen Lúcia, presidente do tribunal. Sim, a que já havia dito que “a população clama por Justiça e é contra a impunidade”. Ou que a ”ética não é uma escolha, mas a única forma de se viver sem o caos”. Ou ainda que “sem o Poder Judiciário forte, livre e imparcial não teremos uma democracia”.

CÁRMEN, A BOA DE FRASES, GAGUEJOU ANTES de deixar claro de que lado ficaria. Talvez não contasse com a contundência do voto do ministro que a antecedeu, Celso de Mello. As decisões do STF, segundo ele, “não estão sujeitas a revisão, nem dependem para sua eficácia de ratificação ou ulterior confirmação por qualquer das casas do Congresso, pois não assiste ao Parlamento a condição de instância arbitral de revisões da Corte”.

É FATO QUE O TRIBUNAL SEGUIRÁ aplicando a parlamentares as medidas cautelares previstas no Código de Processo Penal. Mas uma vez que as aplique, caberá ao Congresso confirmá-las ou suspendê-las. Ou às assembleias. Ou às câmaras municipais. Era o que desejavam os interessados em salvar Aécio Neves (PSDB-MG), e em se salvarem também. Por tibieza, jais sabedoria, o STF rendeu-se às pressões de um Congresso repleto de criminosos.

Corrupção popular? | Marcus Melo

- Folha de S. Paulo

Segundo Groucho Marx, há uma maneira de saber se alguém é honesto: "Pergunte a ele. Se responder 'sim', é desonesto!"

O ex-governador da Bahia Jaques Wagner parece ter se inspirado em Groucho ao comentar, em entrevista à Folha, a estratégia de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014: "Estamos em campanha e tenta-se fazer palanque sobre um tema rejeitado pela população, que é a corrupção.... Ninguém ganha eleição dizendo 'sou honesto'. Até porque ninguém acredita".

Wagner errou em seu diagnóstico de que esse tema era "rejeitado pela população", mas acertou quando apontou para a questão da credibilidade de declarações sobre honestidade.

Na realidade, segundo dados do Lapop (Latin American Public Opinion Project, da Vanderbilt University), o Brasil é o país que apresentava maior preocupação com a corrupção no período entre 2004 e 2014. Só a Argentina obteve escore mais alto do que o Brasil —em 2010 e 2012— mas, na média da série histórica, o Brasil está a frente. Na rodada seis do World Values Survey, o Brasil ocupava o percentil 87% da distribuição das respostas à pergunta sobre se aceitar propina pode ser justificado. Isso significa que em apenas 13% dos países a preocupação com a corrupção era maior.

Quanta falta nos faz, Ulysses! | Marcus Pestana

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- O Tempo (MG)

No último dia 12 de outubro, completamos 25 anos sem Ulysses Guimarães, o grande timoneiro da redemocratização. Ele, que em plena ditadura, nos tempos mais sombrios, com a mão no leme das oposições, ditava o rumo: “navegar é preciso!”. Sonhou outro Brasil e lutou por ele. Um país onde a base de tudo seria a liberdade. Escoltada de perto pela ética, pela fome de justiça e pelo espírito público.

Da anticandidatura presidencial até a conquista da agenda democrática, a mesma coragem, o mesmo patriotismo. A memória e a história de Ulysses bem poderiam iluminar um pouco os nebulosos tempos presentes. Ali, o rumo era claro: anistia, Constituinte e eleições diretas. E daí resgatar a cidadania e os direitos sociais.

Era doce e poético quando queria, era duro e cortante quando precisava: “Eu tenho ódio e nojo à ditadura”. Sabia ser generoso com os adversários, não os fazia inimigos. Sabia que “não se pode fazer política com o fígado, conservar o rancor e ressentimentos na geladeira. A pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais”.

Descobertas do mundo velho | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Charles Darwin torna-se cada vez mais atual no conhecimento da aventura humana. Esqueça os postulados reducionistas e racistas que, já na virada do século 19 para o 20, tentaram adaptar achados do naturalista britânico.

É o mecanismo da aleatoriedade, da diversidade e da exposição múltipla aos riscos de um ambiente indômito, imprevisível e mutante que vai se encaixando nas melhores produções das ciências humanas nas últimas décadas. O Nobel ao economista Richard Thaler é um lembrete disso.

Escorre ironia na louvação, da parte da esquerda, aos poderosos disparos de Thaler contra pressupostos ultra-racionalistas de modelos prediletos da economia. A saraivada a que ele se soma atinge também, e no coração, as doutrinas de engenharia social, como o marxismo, que tantos cadáveres e destroços produziram.

Huck e o faro do DEM | Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

O abandono da pré-candidatura presidencial de João Doria pelo DEM é relevante não por de onde o partido está saindo mas por onde ele está entrando. Segundo a repórter Andreza Matais, “o foco do DEM se voltou para Luciano Huck”. O DEM não é exatamente um campeão das urnas, mas é o melhor perdigueiro político que Brasília já criou. Sente o cheiro de poder e é capaz de apontar sua direção bem antes do resto da matilha.

Se o PMDB está no governo sem grandes interrupções desde o fim da ditadura militar, o DEM permanece lá desde a própria. Só não aderiu às raras administrações para as quais não foi convidado. O ex-PFL é mais resiliente do que qualquer outro partido. Mesmo sem muito voto, emplacou dois vices que sentaram na cadeira presidencial: Marco Maciel e Rodrigo Maia. Sem contar Sarney, que nunca foi do PFL no papel, mas sempre foi da família.

Nada mal para uma defecção do lado perdedor. Seu segredo é farejar as mudanças políticas antes que ocorram. Foi assim em 1985 quando, diante da inexorável derrota de Maluf no colégio eleitoral, seus pais fundadores aderiram ao oposicionista Tancredo Neves e desertaram as fileiras do PDS. Nascia o PFL.

E Temer gritou golpe | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Temer fala em golpe, mas não sabe o que moveria os golpistas

O deputado Bonifácio Andrada sentiu o peso da responsabilidade. Para escrever seu voto, contou com auxílio de dois netos. Um deles, o mais jovem, do alto de seus 28 anos, extasiado com a possibilidade de participar de um 'momento histórico', declarou que se sentia "como se tivesse ganhado um prêmio, uma viagem para a Disney". A referência é útil para ler a produção familiar, salpicada com passagens que só podem ter sido colhidas no 'mundo maravilhoso' de Disney.

A defesa formal do presidente Michel Temer, a cargo do advogado Eduardo Pizarro Carnelós, traz em epígrafe passagem de Gabriel Garcia Marquez. A referência serve como um alerta para o leitor: o 'realismo fantástico' influenciou o autor do texto a ser lido.

A falta de compromisso com a realidade caracteriza os dois documentos. Segundo o deputado mineiro, "a denúncia pretende criminalizar as práticas que são, na realidade, simples exercício da vida política partidária". A afirmação é repetida diversas vezes ao longo do relatório. O advogado do presidente, não menos repetitivo, é mais veemente: "O que se vê é a imputação de prática de crime pelo simples exercício da atividade política, como se esta pudesse existir sem acordos partidários".

O destino de Temer e Aécio | Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

Unidos pela crise da JBS, Michel Temer e Aécio Neves passarão pelo crivo do Congresso nesta semana. Apesar da artilharia impiedosa de Lúcio Funaro, revelada em vídeos aqui na Folha, Temer deve sobreviver à votação da CCJ da Câmara sobre a denúncia da PGR.

Do outro lado do parlamento, no Senado, Aécio Neves não goza da mesma benevolência. Ele se arrasta nos bastidores para garantir que os senadores restabeleçam seu mandato, suspenso por decisão do STF.

Quem conhece bem o xadrez de votação do Senado diz que, hoje, Aécio tem um placar apertado a seu favor. O PT já anunciou mudança de lado, contra o senador, e parte do PMDB não está disposta a ajudá-lo. O tempo é crucial para o futuro do tucano. Quanto mais se adia a sessão, mais diminuem as chances dele.

Cultura punitiva se alastra | Gaudêncio Torquato

- Blog do Noblat

A cultura punitiva ganha corpo no país sob um pesado clima de denúncias, intenso bombardeio midiático, elevação de juízes e procuradores ao pódio de “salvadores da Pátria”, invasão de quadros que administram a justiça no campo dos encarregados de fazer as leis e, para coroar, uma paisagem de violência que se descortina nos centros e nas margens do território.

Os perversos efeitos dessa radiografia se fazem ver na quase nula credibilidade da esfera representativa, com visível extensão às instituições políticas, no desprestígio de governantes das três esferas federativas, e consequente desequilíbrio dos eixos de sustentação dos Três Poderes.

A ideia de que chegou o momento de colocar meio mundo na prisão – como forma de resgatar a base moral da política - se fortaleceu com a expansão da delação.

De instrumento excepcional, a ser usado de maneira pontual e voltado para desmontar redes de criminalidade, a delação tornou-se banal, negociada aqui, ali e alhures, adotada de maneira quase indiscriminada, abarcando um sem número de figurantes, cujo interesse em se livrar de elevadas penas acaba obrigando-os a “arrumar” provas e, por dificuldade de consegui-las, a esticar uma expressão acusativa que imprime o tom das mídias.

Todos os dias, telespectadores se deparam com o verbo farto de delatores e áudios de gravações, muitas realizadas com o prévio fim de criminalizar A, B e C.

Cena externa e agenda de 2019 já preocupam | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Senna alerta para mudança estrutural na economia global

A prévia da inflação brasileira representada pelo IPCA-15 volta a subir em 12 meses até outubro após quase dois anos em queda. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o dado nesta semana e deve confirmar o retorno da inflação ao patamar de 2,7% na mesma base de comparação. Será o nível mais elevado em quatro meses, porém ainda inferior ao piso da meta brasileira, de 3%. A retomada de um ciclo de alta de preços não preocupa o mercado financeiro e tampouco o governo que ganha tempo - quase todo dedicado a evitar respingos da Lava-Jato no presidente Michel Temer e construir alternativas para tapar o rombo das contas públicas já espichado até 2019.

O próximo presidente receberá, com as chaves do Palácio da Alvorada, um déficit de R$ 159 bilhões. O governo dispõe de poucos meses para entregar alguma mudança na Previdência, mas depende de muito empenho e não deve contar com efeitos práticos imediatos de tão complexa reforma.

Na sexta-feira - espremida entre o feriado de Nossa Senhora Aparecida e o fim de semana - o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ambos em Washington onde participaram da reunião do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, reiteraram a importância das reformas para a perspectiva da economia brasileira. Ilan deu um parâmetro de inflação para os investidores. Disse que ela estará muito próxima à meta [4,50%] ao final de 2018. Até lá tem chão. Contudo, o Brasil já está na pista.

Sair da toca | Cida Damasco

- O Estado de S.Paulo

À espera da votação da nova denúncia, governo ensaia retomar a pauta

O Fundo Monetário Internacional (FMI) avisou. As agências de rating, uma a uma, repetiram o mesmo alerta. E o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, voltou à carga: é imperativo aprovar a reforma da Previdência ainda este ano, sob pena de inviabilizar qualquer esforço de ajuste fiscal. Essa corrente de advertências e/ou ameaças não se trata exatamente de uma novidade. Mas, agora, ganha sentido de urgência, diante da preocupante situação fiscal e da “pausa” decretada no governo, antes da votação da segunda denúncia contra o presidente Temer. De fato, nada estava andando em Brasília. Ou melhor, nada que não fosse resultado de negociação para salvar a pele do presidente.

O governo empurrou com a barriga a revisão do Orçamento para 2018 e a concretização das medidas que foram anunciadas dois meses atrás, com o objetivo declarado de evitar o colapso da administração no ano que vem. Imagine-se então a reforma da Previdência. A vulnerabilidade das contas do governo é indiscutível. A meta fiscal para este ano pode até ser cumprida, mas para 2018 permanecem as incertezas – nos dois casos, o alvo é um déficit primário de R$ 159 bilhões, recentemente revisto e ampliado. Além disso, os cenários econômicos para depois de 2018 são ainda mais nebulosos, tanto quanto continua nebuloso o pós-Temer.

O Nobel de Economia de 2017 | Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

Nesta coluna vou deixar de lado o foco principal das minhas reflexões dos últimos meses - a defesa de que vivemos uma recuperação cíclica clássica iniciada no segundo semestre do ano passado - para discorrer sobre a importância do prêmio Nobel de economia deste ano. Como sabem os leitores do Valor, o prêmio foi para o economista americano Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago.

O trabalho do professor Thaler, sobre o comportamento do que se convencionou chamar de Homo Econômicus, está inserido na chamada Escola de "behavioral economics". Seu foco principal é o de estudar o comportamento do indivíduo real nas suas decisões no âmbito de uma economia de mercado. Este grupo de economistas começou a questionar, a partir dos anos oitenta do século passado, a figura do "homo economicus" ultra racional como definido no arcabouço teórico da escola chamada de Neoclássica. Para este grupo, dominante no pensamento econômico por várias décadas, a decisão individual tinha sempre um caráter racional na busca de maximizar seu bem-estar econômico. Junto com a racionalidade das empresas na busca da maximização de seus lucros, formavam os pontos centrais dos modelos econômicos que explicavam o funcionamento das economias de mercado.

Políticos togados – Editorial | O Estado de S. Paulo

A Associação dos Juízes Federais (Ajufe) divulgou um vídeo destinado, segundo suas palavras, a servir de “manifesto em defesa da Justiça Federal e do Poder Judiciário”. Nele, diz-se que “a Justiça Federal batalha por todos”, isto é, “por todos aqueles que sentem hoje o gosto de pizza da impunidade, que sentem o desprezo, o cansaço de ver tanta injustiça, por todos que ainda não desistiram de acreditar que as coisas ainda vão melhorar, por todos os que se esforçam em gritar pela mudança”.

No tom e no conteúdo da mensagem, está claro que se trata de uma iniciativa de cunho político, que vai além de simples reação às críticas em relação aos exageros de magistrados e procuradores que lidam com casos de corrupção. Essas críticas foram apenas pretexto para a afirmação explícita de uma plataforma partidária, como se juízes precisassem arregimentar apoio popular para continuar seu trabalho.

Nem é preciso lembrar que a Constituição diz que aos juízes é vedado “dedicar-se à atividade político-partidária”, conforme se lê no artigo 95, parágrafo único, inciso III. Isso significa tanto que os magistrados não podem se filiar a partidos como é desejável também que se mantenham o mais longe possível das controvérsias políticas, pois espera-se que sejam imparciais, sem se deixar levar pelas paixões naturalmente suscitadas nesses casos. Sem muito esforço, entretanto, é possível identificar uma forte pretensão de militância política na mensagem da Ajufe, que, assim como suas congêneres, já se notabiliza por controvertida atuação sindical.

Contribuinte será protegido em nova lei de crises bancárias – Editorial | Valor Econômico

A criação de um novo marco legal para a resolução de crises bancárias, que está em discussão dentro do governo, é fundamental não apenas para garantir a solidez do sistema financeiro nas próximas décadas, mas também para fortalecer a posição fiscal do país de forma mais ampla. É um equívoco tratar a proposta como um mero mecanismo para salvar bancos com recursos públicos.

Reportagem publicada pelo Valor na semana passada mostrou que o projeto de lei de resolução de crises bancárias, que vem sendo intensamente discutido desde o começo da década, está quase pronto para ser enviado ao Congresso Nacional, depois de produzidas mais de 400 versões. Portanto, não é algo que se começou a pensar agora para enfrentar problemas conjunturais.

O ponto que chamou mais atenção foi a volta da possibilidade de usar recursos públicos para socorrer instituições financeiras quebradas. O senador Lindberg Farias (PT-RJ) acusou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, de pretender rasgar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que hoje veda expressamente essa possibilidade.