Temer vê ‘conspiração’ às vésperas de votação
Embora afirme que mensagem é também um ‘desabafo’, presidente aponta suposta trama para derrubá-lo do cargo
Tânia Monteiro e Vera Rosa | O Estado de S. Paulo
/ BRASÍLIA - O presidente Michel Temer encaminhou carta a deputados e senadores na qual afirma ser vítima de “conspiração” para derrubá-lo da Presidência. No texto, Temer deixa claro o clima de tensão dias antes da votação, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, da segunda denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República. Embora afirme que a carta é também um “desabafo” – com críticas dirigidas ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e aos delatores Joesley Batista, da J&F, e Lúcio Funaro, operador do PMDB –, a ofensiva de Temer contra a suposta conspiração ocorreu em meio a uma crise entre o Planalto e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República.
Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis”, escreveu.
O presidente Michel Temer encaminhou ontem uma carta a deputados e senadores na qual afirma ser vítima de uma “conspiração” para derrubá-lo da “Presidência da República”. No texto, Temer escancara o clima de tensão em Brasília a três dias da data prevista para a votação, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, da segunda denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República.
Embora afirme que a carta é também um “desabafo”, com críticas dirigidas ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e aos delatores Joesley Batista, do Grupo J&F, e Lúcio Funaro, operador do PMDB, a ofensiva de Temer contra a suposta conspiração ocorreu em meio a uma crise entre o Palácio do Planalto e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis”, escreveu o presidente, citando Janot, Joesley, o exprocurador Marcelo Miller e o advogado Willer Tomaz. “Tudo combinado, tudo ajustado, tudo acertado, com o objetivo de: livrar-se de qualquer penalidade e derrubar o presidente da República”, completou.
A divulgação dos vídeos da delação de Funaro, disponíveis no portal da Câmara no fim de setembro, levou a um bate-boca público entre Maia e o advogado do presidente, Eduardo Carnelós. O Estado apurou que o deputado também não gostou do tom da carta do peemedebista.
Desde o mês passado, o malestar entre Temer e Maia vem aumentando dia a dia. O presidente da Câmara já disse que o governo tem “errado muito” e precisa de uma nova agenda para o País. Na semana passada, afirmou estar cansado da “falta de respeito” do Planalto e anunciou que não aceitará mais medidas provisórias até que o Congresso analise a proposta de emenda à Constituição (PEC) que regulamenta a tramitação da matéria.
A mensagem de Temer teve como alvo, ainda, o Supremo Tribunal Federal, responsável por enviar para a Câmara os áudios da delação de Funaro, que estariam sob sigilo. No documento, o presidente diz aos parlamentares que “tem sido vítima de torpezas e vilezas que pouco a pouco, e agora até mais rapidamente, têm vindo à luz”. Afirmou estar sendo vítima de “afirmações falsas” e “denúncias ineptas alicerçadas em fatos construídos”.
Para justificar as “urdiduras conspiratórias”, Temer citou frase do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à revista Época. Em sua delação, Funaro sustentou que Temer fazia parte do grupo de Cunha.
“Em entrevista à revista Época, o ex-deputado Eduardo Cunha disse que a sua delação não foi aceita porque o procurador-geral exigia que ele incriminasse o presidente da República. Esta negativa levou o procurador Janot a buscar alguém disposto a incriminar o presidente. Que, segundo o ex-deputado, mentiu na sua delação para cumprir com as determinações da PGR. Ressaltando que ele, Funaro, nem sequer me conhecia”, escreveu Temer.
Na prática, a correspondência do presidente repete o discurso que ele tem feito aos parlamentares, nas dezenas de encontros e audiências mantidos no Planalto, com o objetivo de garantir apoio para barrar a denúncia contra ele na Câmara.
Aproximação. Preocupado com a escalada de atritos com Maia, Temer pediu mais uma vez ao ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, para conversar com o deputado, de quem é amigo. O ministro jantou com o presidente da Câmara no domingo. Na semana passada, já tinha conversado várias vezes com ele para tentar jogar água na fervura da crise.
Ao final, o retorno para Temer foi o de que a crise havia sido iniciada por causa de uma trapalhada de Carnelós e o problema estaria “contornado”.
Em nota, o advogado do presidente havia classificado a divulgação do áudio da delação de Funaro como “vazamento criminoso”. A reação furiosa de Maia foi imediata. Temer precisou mandar Carnelós distribuir outra nota, desta vez se retratando.
Na contabilidade do Planalto, mesmo considerando o fim de semana tumultuado, não houve baixas para a votação da segunda denúncia. O governo acredita que conseguirá enterrar a acusação por obstrução da Justiça e organização criminosos
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