segunda-feira, 7 de outubro de 2013

PSDB e PT discutem sobre quem perdeu mais

Enquanto tucanos veem oposição fortalecida, petistas apontam prejuízo para Aécio Neves

Fabio Leite, Ricardo Della Coletta e Lauriberto Braga

Petistas, tucanos e seus aliados entraram numa disputa pela "melhor tradução" do anúncio da parceria entre a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Os primeiros afirmam que o projeto de Aécio Neves, senador mineiro que deve ser o nome do PSDB na sucessão ao Planalto, é o principal atingido pelo acordo. Já os segundos adotaram o discurso de que a aliança de Marina e Campos, dois antigos aliados dos petistas, fortalecerá a oposição à presidente Dilma Rousseff.

O senador paulista Aloysio Nunes (PSDB) tem a seguinte avaliação: "A semana que passou terminou bem para a oposição e mal para o governo. O (José) Serra ficou no PSDB e a Marina fortaleceu o PSB, o que no meu entender leva a uma eleição com muita chance de vitória das forças que querem uma mudança".

Para o senador, mesmo com a possibilidade de uma chapa com Campos e Marina, o PSDB é o partido mais credenciado para disputar o 2.° turno em 2014.

Ao participar de evento ontem na zona leste da capital paulista, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tentará reeleição no ano que vem, afirmou ter ficado "feliz" com 0 acordo da ex-ministra do Meio Ambiente com o governador de Pernambuco para a disputa ao Planalto. Disse não acreditar que a parceria prejudique a candidatura de Aécio ao Planalto.

"Estava preocupado de ela (Marina) não se filiar a nenhum partido e se autoexcluir do processo eleitoral", disse o governador, referindo-se ao fato de a Rede, partido que a ex-ministra queria criar, ter sido rejeitada pelo Tribunal Superior Eleitoral por falta de assinaturas de apoio. "Fiquei feliz com ela ter se filiado porque isso garante a sua participação no cenário político-eleitoral do ano que vem. Fortalece a democracia."

O ex-ministro José Dirceu, ainda influente no PT apesar de condenado no julgamento do mensalão, defendeu a tese de enfraquecimento do projeto de Aécio. "Na ocasião, em abril, chamávamos atenção para o fato de a Rede enfrentar dificuldades para sua criação. E que a candidatura de Marina não atendia a estratégia da oposição. Daí a união com um candidato da oposição", escreveu Dirceu em seu blog na internet.

"De qualquer forma, essa mudança do quadro eleitoral não é necessariamente contra a presidenta Dilma Rousseff e o PT. Pode ser que Aécio Neves seja o principal perdedor. Basta avaliar o novo cenário, se tudo se confirmar no final do prazo legal", acrescentou. "Mas sem dúvida a aliança Marina-Eduardo muda o quadro eleitoral de 2014."

Líder do PT na Câmara, o deputado federal cearense José Nobre Guimarães, no Twitter, bateu na mesma tecla. "Quem deve estar muito preocupado com essa aliança é o PSDB", escreveu o petista.

"Zeros". Secretário da Saúde do governo de seu irmão Cid Gomes no Ceará, o ex-ministro Ciro Gomes disse ontem que Marina e Campos são "dois zeros". "Eles não têm proposta para o Brasil. São dois zeros", afirmou Ciro, que até a semana passada integrava o PSB do governador de Pernambuco. Agora, filiado ao recém-criado PROS, defende a reeleição de Dilma na disputa do ano que vem.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Uma nova ordem eleitoral

A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos leva a mudanças nas estratégias dos presidenciáveis. Enquanto a ex-senadora se prepara para estrear no programa de TV do PSB na quinta- feira, o PT de Dilma Rousseff se reúne hoje para estudar medidas de afago aos aliados.

A nova atração no programa do PSB

Ana Cláudia Dolores, Glauce Gouveia

Na próxima quinta-feira, quando irá ao ar em rede nacional o programa partidário do PSB, não será apenas o governador de Pernambuco e presidente nacional da sigla, Eduardo Campos, que será visto pelos brasileiros. Menos de uma semana depois de assinar sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro, a ex-senadora Marina Silva vai ser a atração do vídeo.

Com 10 minutos de duração, o programa dedicará boa parte de seu tempo à união formalizada entre os dois líderes políticos no último sábado, mas discutida nos bastidores desde o início do ano. Depois da repercussão da filiação de Marina ao PSB, que tomou conta das redes sociais e do noticiário político por todo o final de semana, Campos vai telefonar para a ex-senadora ainda hoje.

O objetivo é agendar o primeiro encontro entre os dois, que servirá para definir um time formado por integrantes do PSB e da Rede Sustentabilidade – partido que teve seu registro rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última quinta-feira – e traçar as primeiras linhas da plataforma da aliança firmada. Essa plataforma será a base do programa de governo da dupla para as eleições do ano que vem e deve estar finalizada até janeiro de 2014.

Desde que chegou ao Recife vindo de Brasília, por volta das 14h de ontem, o governador passou a tarde em conversas por telefone com lideranças políticas de todo o país. Na maioria delas recebeu parabéns pela união firmada com Marina. Inclusive do senador Aécio Neves, também pré-candidato à presidência pelo PSDB e principal adversário da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). Apesar de atuarem em campos políticos diferentes, os dois são amigos desde o movimento das Diretas Já. Além de Aécio, com quem Eduardo deverá contar em caso de ir ao segundo turno com Dilma, o governador também recebeu telefonemas de pré-candidatos a governador de outros estados e que pertencem a grupos políticos adversários. Todos oferecendo apoio e insinuando uma possível aproximação com os socialistas.

Afinados os discursos entre as duas maiores lideranças, PSB e Rede querem, agora, juntamente com o PV, buscar aliados no país. A ideia é que as legendas estejam unidas no plano nacional a fim de consolidar a candidatura Campos/Marina. As conversas com partidários de outros estados serão intensificadas e serão encabeçadas por articuladores com trânsito nos dois terrenos.

Os entendimentos no estado, inclusive, são os mais adiantados. Aqui, como PV e PSB já são aliados, não houve corrida para a troca de partidos como no restante do país. A orientação do PV e da Rede no plano geral foi a de que os correligionários indecisos buscassem o PSB como opção de legenda até o último sábado, quando terminou o prazo de filiações.

Desculpas o eleitor
Marina postou nas redes sociais um vídeo no qual se desculpa com a militância por só ter comunicado a ida para o PSB depois de ter fechado a decisão com o partido. Ela fez questão de destacar que não será militante da legenda, mas que opção foi necessária para "chancelar" a Rede. "A coligação é feita entre dois partidos, com identidade, com programa, com base social e militância, onde cada um respeita sua identidade." Ela admite que o caminho adotado é polêmico. "Mas não tenho dúvidas de que essa foi a atitude mais acertada para influenciarmos a política." No Facebook, havia 1.105 comentários até às 21h30 de ontem. Muitos militantes criticaram a adesão ao PSB.

Fonte: Correio Braziliense

Marina organiza e embaralha sucessão

Organiza ao definir os três grupos que podem ter candidatos mais competitivos. Embaralha pela dúvida sobre se transferirá voto ao PSB e se afetará Dilma e Aécio.

Hora de redefinir as estratégias

Juliana Bublitz

O cenário eleitoral de 2014 ganhou um novo – e controverso – ingrediente no fim de semana: a filiação de Marina Silva ao PSB. A ex-senadora decidiu abrir mão do projeto de ser presidente e declarou apoio ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na disputa pelo cargo de Dilma Rousseff.

Avaliada com cautela por especialistas, a reviravolta pode significar o fim da histórica polarização entre PT e PSDB na briga pelo posto mais alto do país.

Mais do que causar surpresa, a jogada política protagonizada por Marina Silva no sábado embaralhou a disputa eleitoral de 2014. É cedo para prever os desdobramentos do lance que levou a ex-senadora a se filiar ao PSB e a declarar apoio à candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência. A única certeza é de que a bola voltou ao centro do campo, obrigando os partidos a redefinirem suas estratégias.

A reviravolta começou a se desenhar quando Marina viu naufragar o sonho de fundar a própria sigla. O registro da Rede Sustentabilidade foi rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral na quinta-feira passada, por problemas na validação das assinaturas de apoiadores. Com 20 milhões de votos na bagagem, a ex-ministra do governo Lula teve 48 horas para repensar o futuro. Chegou a marcar uma entrevista coletiva apenas para dizer que não havia decidido nada. Por fim, fez o que analista nenhum havia sido capaz de prever.

Depois de receber convites de várias legendas dispostas a lhe dar protagonismo no pleito de 2014, acabou optando pelo PSB, que já tinha Campos definido como cabeça de chapa. A repercussão foi imediata. Líder do PPS – partido preterido por Marina –, Roberto Freire classificou a decisão como "suicídio político". Candidato à Presidência pelo PSDB, o senador Aécio Neves não fez críticas. Limitou-se a saudar a adversária, embora saiba que terá mais dificuldades pela frente.

No meio acadêmico, a mudança de rota também surpreendeu. Os especialistas são unânimes ao afirmar que Marina conseguiu mexer com uma disputa que vinha, mais uma vez, polarizada entre PT e PSDB. Apesar disso, poucos se arriscam a projetar os efeitos dessa jogada.

– A verdade é que essa dobradinha está despertando mais perguntas do que respostas – resume Felipe Borba, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).

Para o professor, pelo menos duas incógnitas persistem. Primeira delas: com a sua alta popularidade, a ex-senadora de fato seguirá aceitando o papel secundário? Ou haverá ruídos na relação? Segunda dúvida: como vice do pernambucano, seus votos serão de fato transferidos para ele?

A primeira resposta depende dela – que tem fama de centralizadora –, mas a segunda, não. A questão é saber como seus apoiadores e eleitores reagirão. Afinal, Marina vinha defendendo a criação da Rede para renovar a política. Agora está no PSB, uma sigla histórica, em plena ascensão – e também em processo de inchaço, abrigando nomes das mais distintas vertentes, até mesmo representantes da direita como o ex-senador Heráclito Fortes (ex-DEM) e o deputado catarinense Paulo Bornhausen (ex-PSD), filho do político conservador Jorge Bornhausen.

– É cedo para dizer, mas ninguém tem voto cativo. Ainda tem muita água para rolar – pondera Gustavo Grohmann, da UFRGS.

Não por menos, a ex-senadora apressou-se em definir a aproximação como "programática" e não "pragmática". Para o cientista político Guilherme Simões Reis, a estratégia pode funcionar:

– Marina perde um pouco a aura da inovação, mas quem pretendia votar nela provavelmente não vai votar no PT nem no PSDB.

Efeito Marina 

Para Dilma 

Prós e contras da nova chapa para os adversários

A favor
O número de adversários competitivos diminui: antes eram três chapas de oposição (Aécio, Campos e Marina). Agora são duas.

Contra
Terá mais trabalho para evitar um segundo turno, já que, juntos, Campos e Marina tendem a somar mais votos do que se estivessem em chapas distintas.

Para Aécio 

A favor
Como ele próprio mencionou na nota em que parabenizou Marina pela decisão, a união dá mais consistência à oposição ao PT.

Contra
Enfrentará maiores dificuldades para levar o PSDB ao segundo turno, já que terá de disputar com outra chapa de oposição forte.

Fonte: Zero Hora (RS

Marina no PSB deve levar eleição para segundo turno

Surpreendente, a filiação da ex-senadora Marina Silva ao PSB dificulta a reeleição da presidente Dilma Rousseff no primeiro turno, como é projeto do PT, acende uma luz de alerta no PSDB e dá alento à candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que até agora não passou de um dígito nas pesquisa de opinião.

O projeto de vencer a eleição no primeiro turno já era tarefa difícil para a presidente Dilma sendo seus adversários apenas o senador Aécio Neves (PSDB), o governador Eduardo Campos e talvez Chico Alencar (PSOL). Com Marina na disputa, mesmo como candidata a vice numa chapa encabeçada por Campos, o cenário de segundo turno ganha força.

Marina e Campos protagonizam jogo eleitoral

Por Raymundo Costa e Maíra Magro

BRASÍLIA - Marina e Campos, no sábado: aliança coloca em risco planos petistas de encerrar a eleição já no primeiro turno Surpreendente, a filiação da ex-senadora Marina Silva ao PSB dificulta a reeleição da presidente Dilma Rousseff no primeiro turno, como é projeto do PT, acende uma luz de alerta no PSDB e dá alento à candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que até agora não passou de um dígito, nas pesquisas de opinião.

Marina anunciou sua decisão no sábado, após passar duas noites virtualmente em claro, discutindo seu destino político com aliados. "O governador Eduardo Campos está com uma responsabilidade histórica diante de todos nós, disse Marina. "Eu venho adensar uma candidatura que já está posta", acrescentou, dando a entender que pode ser candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, decisão que ficará para ser tomada mais adiante. "Ele é o candidato. Minha filiação ao PSB é uma filiação para chancelar uma coligação", diz Marina

O movimento de Marina foi o mais importante, até agora, da pré-campanha eleitoral. Para o PSB Marina explicou que seu gesto era também um protesto contra o que chamou de "autoritarismo do PT", configurado no projeto, ainda em tramitação no Congresso, que dificulta a criação de novos partidos, e no alto índice de rejeição de assinaturas na região do ABC paulista -mais de 70%, contra a média de 23% nos cartórios de outras cidades.

Convencida de que o PT não só quer ganhar a eleição como também escolher os adversários, a ex-senadora tomou a iniciativa de procurar o PSB, após a recusa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do registro provisório para seu partido, o Rede Sustentabilidade. É bem verdade que o PSB já fizera gestos em direção a Marina: foi o partido que ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a lei que dificulta a criação de novos partidos, por exemplo.

Para Eduardo Campos foi importante que o ingresso de Marina no PSB tenha se dado em torno de uma carta programática, o que fortalece o discurso do partido contra alianças heterodoxas do PT. "O objetivo central da aliança entre o PSB e o Rede é aprofundar a democracia e construir as bases para um ciclo duradouro de desenvolvimento sustentável, os dois pilares da verdadeira soberania nacional", diz o texto que selou a aliança.

A filiação de Marina é o segundo movimento de peso do governador de Pernambuco, com vistas à sucessão presidencial. Antes Eduardo Campos entregou os cargos que o partido detinha no governo, inclusive o Ministério da Integração Nacional, decisão que também surpreendeu o governo e o PT.

Campos demonstrou ter o controle efetivo do partido, quando entregou os cargos. Apenas o governador do Ceará, que se desligou e se filiou ao Pros, votou contra o desligamento do PSB. Ficaram os governadores do Piauí, Paraíba, Amapá, Espírito Santo, além, é claro, o de Pernambuco. Também contrário à saída do governo, o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, ex-líder do PSB na Câmara, não compareceu à reunião em que a entrega dos cargos foi decidida.

O projeto de vencer a eleição no primeiro turno já era tarefa difícil para a presidente Dilma sendo seus adversários apenas o senador Aécio Neves (PSDB), o governador Eduardo Campos e, talvez, o deputado Chico Alencar (PSOL). Com Marina na disputa, mesmo como candidata a vice numa chapa encabeçada por Campos, o cenário de segundo turno ganha força.

No segundo turno da eleição de 2010, os votos de Marina Silva se distribuíram, mais ou menos, meio a meio entre os candidatos Dilma e José Serra. Segundo estudos do professor da USP André Singer, Dilma levou a maioria dos votos de Marina no Nordeste; Serra, das regiões Sul e Sudeste. O mais provável, agora, é que leve para Campos a maioria dos 16% que detém nas pesquisas, segundo levantamento do Ibope feito em setembro por encomenda do jornal "O Estado de S. Paulo".

Pelos números atuais, Dilma, com 38% das intenções de voto, tem mais que a soma dos demais candidatos: Marina (16%), Aécio (11%) Eduardo Campos (4%). Mas o número de pessoas que hoje dizem votar em branco ou nulo é de 31%, um eleitorado flutuantes que na eleição pode ir em maioria para a oposição. Cálculos feitos no PT estimam que a presidente, para vencer no primeiro turno, precisa puxar a aprovação de seu governo dos cerca de 40% atuais para algo em torno de 55%.

Lula deixou o governo com 83% de aprovação, e ainda assim Dilma teve de enfrentar o segundo turno, em 2010. Após os protestos de junho, a aprovação da presidente Dilma caiu de 58% para 30% nas pesquisas.

Nesse cenário, são justificáveis os esforços do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da própria presidente para manter boa relação com o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ele pode ser o fiel da balança em eventual segundo turno entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, se ele próprio não estiver no segundo turno. No PSDB a notícia foi recebida com preocupação, pois passa a ser real a possibilidade de o PSB, ao contrário do que sucede desde 2002, ir para o segundo turno.

Fonte: Valor Econômico

Aliança mostra que a política ainda pulsa - Carlos Melo

A política nunca será uma miséria enquanto sua capacidade de inverter expectativas for superior à mesmice; enquanto dobrar espinhas diante da majestade do "fato novo". A adesão de Marina Silva ao PSB de Eduardo Campos é um desses "momentos que balançam certezas enrijecidas e reíntroduzem o imperativo da política sobre a resignação e o marketing.

Sim, há um cálculo na escolha da ex-senadora: permanecer no cenário de 2014, sem perder de vista 2018. Mas o óbvio recomendaria aceitar a carona do PPS, fazendo número e levando a disputa ao 2.0 turno para que Aécio Neves, por exemplo, encarasse Dilma Rousseff num embate piebiscitário.

Mas, Marina demonstra que desprendimento e alguma novidade ainda são possíveis: seu apoio a Campos vislumbra colocar uma cunha na desgastada polarização PT-PSDB, Não há como negar, o governador de Pernambuco sai favorecido. Primeiro porque acumula pontos com a líder da Rede ao seu lado. Mas, não só. Seu "golaço" talvez resida, antes, em demonstrar o porquê de Lula tanto pedir ao PT que tivesse tato para com ele.

O neto de Miguel Arraes se revela um tipo de caçador que não espanta a caça. Um político que, por paradoxal que pareça, exercita a arte da política: observa os detalhes da cena, compreendendo e percebendo suas fragilidades; prevendo e aproveitando suas brechas. Aguarda, em silêncio, que as feras se enredem, por si mesmas, no emaranhado de cordas do desenrolar da história.

Foi assim com o PT de Recife, em 2012; do mesmo modo com Dilma, na retirada de suas tropas do governo. E, agora, com Marina. Eduardo Campos nao se precipita; acompanha o processo sem perder de vista os lances de lá adiante. Mostra que quem dá tempo ao tempo torna-se o seu senhor.

O tempo não acabou, por certo. Continuará o governador tão perspicaz como tem se mostrado? Provável que sim. Perspicácia não é algo que se esgote. Aos seus adversários ficam, portanto, a lição e o alerta: não se dá fortuna ao homem de virtù.

*Cientista político e professor do Insper

Fonte: O Estado de S. Paulo

Chile, entre o passado e o futuro - Sérgio Fausto

O interesse pelo Chile vai muito além da estreita e longa faixa de terra na qual o país se espreme entre o Oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes. Nos últimos 40 anos, aproximadamente, desenrolou-se ali uma história capaz de mobilizar corações e mentes em toda a América Latina: a fracassada experiência, com Salvador Allende, da via chilena para o socialismo, de curta duração (1970-1973) e final dramático; a brutalidade da ditadura de Augusto Pinochet, com suas dezenas de milhares de torturados, mortos e/ou desaparecidos e suas reformas econômicas liberais, de 1973 a 1989; e a emergência do Chile como país democrático e mais próspero a partir de 1990.

Sobre o significado desse período da História chilena, competem entre si três narrativas distintas, quando não opostas. A narrativa de inspiração neoliberal atribui os méritos do bom desempenho econômico do Chile desde 1990 às reformas realizadas sob a ditadura. Na sua versão pinochetista, as atrocidades cometidas teriam sido o necessário remédio amargo para livrar o país da "ameaça comunista" e liberar forças de mercado antes atrofiadas. No polo oposto, tem-se a narrativa de uma esquerda nostálgica do governo de Allende, profundamente crítica do "modelo chileno". Essas duas narrativas, embora com valorações opostas, coincidem em dizer que pouco mudou de essencial no país no atual regime democrático. A terceira narrativa é a articulada no interior da coalizão de centro-esquerda que comandou a política chilena em quatro dos cinco mandatos presidenciais desde a ditadura. Para a Concertación, o Chile tomou-se "outro país" nas últimas duas décadas. Em linhas gerais, os fatos dão respaldo a essa narrativa.

Nesse período, não apenas o Chile foi o país latino-americano que mais aumentou sua renda per capita, como também o que mais progrediu na redução da pobreza. Esse resultado não teria sido alcançado sem um conjunto amplo de políticas e programas sociais. Na área da educação, o país destaca-se como um dos que mais evoluíram na última década em rankings internacionais. Além de seguir em frente, os chilenos passaram a limpo o que havia ficado para trás: uma comissão da verdade identificou e reconheceu os crimes da ditadura e iniciou um programa de reparação às vítimas. Pinochet não terminou seus dias na cadeia, mas os militares subordinaram-se ao poder civil e o general acabou desmoralizado quando se descobriu que tinha recursos "não contabilizados" nos Estados Unidos. Não menos importante, o Chile construiu uma democracia capaz de operar com alternância normal de poder e acordos programáticos entre coalizões estáveis de partidos.

Inegáveis, os avanços das duas últimas décadas revelam hoje, porém, suas insuficiências e contradições. Coube ao movimento estudantil, primeiro o secundarista e depois o universitário, pôr o dedo na ferida aberta por expectativas que o progresso chileno criou, mas não se mostrou capaz até aqui de atender. O ponto politicamente mais sensível está num sistema de educação superior que obriga os alunos a assumir dívidas para financiar seus estudos, mas não os capacita para obter empregos com salários que permitam pagar o empréstimo contraído. Também sensível é a diferença de qualidade entre escolas privadas, escolas privadas subsidiadas pèlo governo e escolas públicas. Com a universalização da educação secundária, a matrícula nas universidades cresceu rapidamente, incluindo muitos jovens de famílias de menor renda, que vêm de escolas secundárias piores e enfrentam condições mais adversas para conseguir um bom emprego, uma vez formados nas universidades.

A simpatia angariada pelo movimento estudantil mostra que seus integrantes tocaram num nervo exposto da sociedade chilena: a percepção de que, a despeito dos avanços econômicos e sociais das últimas duas décadas, o Chile continua a ser um país de oportunidades muito desiguais. Ao sentimento de injustiça soma-se o descrédito da política partidária, explicada em parte pela vigência de um sistema eleitoral que força um empate legislativo entre a Concertación, de centro-esquerda, e a Alianza, de centro-direita, e virtualmente impede a representação política fora das duas grandes coalizões. O sistema eleitoral e o modelo educacional são duas heranças até aqui quase intocadas da ditadura.

Em novembro haverá eleições gerais no país. Tudo aponta para o retorno de Michelle Bachelet. Neste que provavelmente será o seu quinto mandato presidencial, a Concertación terá de encontrar resposta para os temas interligados da desigualdade e da representação política. Quando não equacionados, a legitimidade da democracia se vê em xeque.

É preciso reformar o sistema de ensino, aumentando a participação direta e indireta do governo, mas sem cair na tentação de estatizá-lo. Cabe também reforçar o subsídio aos benefícios prevídenciários dos trabalhadores que não acumulam o suficiente para uma pensão digna na aposentadoria Iniciativas como essas exigem elevar a carga tributária. Há condições para tanto, mas existem limites que não devem ser ultrapassados, sob pena de prejudicar a competitividade das empresas chilenas. Da mesma forma, deve-se ampliar a representatividade no sistema político sem, no entanto, atiçar a fragmentação partidária e a instabilidade parlamentar. Economistas e cientistas políticos oferecem fórmulas eventualmente úteis para a solução dessas questões. E no Chile não faltam profissionais competentes nessas áreas, à esquerda e à direita. Mas a política é mais arte do que ciência.

Nas duas últimas décadas o Chile tem mostrado competência na arte de combinar e re-combinar políticas liberais e social-democratas. Essa competência está em teste novamente. Se comprovada mais uma vez, será um alento para o reformismo progressista em toda a América Latina.

*Diretor executivo do IFHC, é membro do GACINT-USP

Fonte: O Estado de S. Paulo

Contas reprovadas – Aécio Neves

Escrevo neste domingo de Nova York, onde estou para proferir palestra a investidores internacionais interessados nas oportunidades e nos potenciais da América Latina.

Por aqui ainda repercute a decisão da Moody's, uma das principais agências globais de classificação de risco do mundo, de piorar a perspectiva da dívida pública brasileira de "positiva" para "estável".

O mais grave é que a decisão ocorre pouco mais de quatro meses após a Standard & Poor's, outra grande agência de classificação de risco, ter rebaixado a perspectiva de "estável" para "negativa".

A Moody's foi mais longe ao também rebaixar a nota da Petrobras, exatamente no dia em que ela comemorava 60 anos de fundação, mergulhada na maior crise de sua história.

Antes que venham as desculpas oficiais de sempre, denunciando "conspirações" contra o governo e o PT, convém examinar as razões apresentadas pelas agências.

Elas apontam como causa principal a crescente deterioração das contas públicas brasileiras, geridas sem compromisso com a austeridade e a qualidade dos gastos públicos.

Também se preocupam com o crescimento pequeno da economia após 2010 e especialmente com as manobras fiscais das quais o governo se utiliza para tentar fechar suas contas. É a chamada contabilidade criativa, cuja face mais visível é a promíscua relação entre o Tesouro Nacional e os bancos públicos.

A desconfiança dos brasileiros, expressa nos diversos índices que medem o ânimo de empresários e de consumidores, alcança os investidores internacionais, que se afastam do país devido também à incerteza dos marcos regulatórios, como mostram as dificuldades dos leilões de concessões para estradas e exploração do petróleo do pré-sal.

A revista "The Economist" trouxe importante reportagem em que ampliou, para público que ultrapassa o círculo fechado dos especialistas, os questionamentos sobre as dificuldades enfrentadas pelo Brasil.

A decisão da Moody's é um alerta que não deve ser subestimado. Nosso entendimento é o de que é hora de enfrentar desafios que não podem mais ser adiados, adotando-se iniciativas capazes de produzir resultados no curto prazo, criando bases sólidas também para médio e longo prazos.

Pelo menos quatro desafios precisam ser superados para ampliar a produtividade e a competitividade da economia brasileira -a simplificação do nosso sistema tributário, a qualificação da educação e da nossa mão de obra; maior integração internacional e a adoção de políticas públicas de incentivo à inovação.

Por estes caminhos, com certeza é possível construir um país diferente daquele que a comunidade financeira internacional -e grande parte dos brasileiros- enxerga hoje.

Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB. Foi governador de Minas Gerais entre 2003 e 2010. É formado em economia pela PUC-MG.

Fonte: Folha de S. Paulo

O cenário político: nova etapa rumo a 2014 - Marcus Pestana

Como dizia a velha raposa política, “o único prazo que político respeita é o legal”. O jogo político tem disso, parece às vezes um balé entre os diversos atores, um xadrez cheio de sutilezas, uma esgrima refinada, onde momentaneamente a versão é mais importante do que os fatos, o gesto superior a mil palavras, o silêncio é eloquente. A arte da política implica na administração correta do tempo. Não se abre o jogo logo de primeira. O ensaio no teatro de operações implica em balões de ensaio, blefes legítimos, insinuações reticentes. Mas quando o prazo legal vence é inevitável colocar parte das cartas sobre a mesa.

Os movimentos subjetivos no teatro político, é claro, não substituem as bases objetivas da realidade.

É evidente que a economia determina muita coisa. Mas a arte da política não é prisioneira das condições objetivas. Há espaço para o inesperado, para a jogada genial, para ocupação de espaços improváveis. É aquela velha história do pensador italiano: há que se ter virtude, mas também sorte.

O primeiro prazo legal relevante do calendário político de 2014 se esgotou no último sábado, dia 5 de outubro. Quem quer disputar as eleições deve estar filiado a um partido político.

O tabuleiro começa a se organizar. Há muita água ainda para passar sob a ponte, mas agora é possível visualizar as opções disponíveis e as possíveis alianças.

Registre-se que o pano de fundo desenhado a partir da realidade econômica transformou uma reeleição fácil da presidente Dilma numa eleição totalmente aberta. A baixa confiança na atual política econômica configura a cena a exigir mudanças, seja com quem for.

Pesquisas de opinião têm baixa serventia neste momento. O eleitor só passa a decidir a partir do horário eleitoral de rádio e TV, quando obtém todas as informações e compara candidatos e propostas. A última Ibope, por exemplo. Dilma recuperou oito pontos nas intenções de voto e foi para 38%. Fogos e brindes no quartel general petista? Não obrigatoriamente, ela tinha 58%, fez discurso em rede nacional de TV no dia 6 de setembro, o marketing governamental estava no auge. Marina enfrentava manchetes negativas quanto às dificuldades da sua Rede. Eduardo Campos concentrava seus esforços no desembarque do governo Dilma. Aécio entraria logo após com comerciais e programa de TV. A dança dos números é irrelevante. O importante é fazer benfeito o dever de casa em cada etapa.

Entramos em uma nova fase com parte das cartas colocadas na mesa. Agora sabemos que Dilma seguirá tendo o PMDB como seu principal parceiro. Aécio unificou completamente o PSDB, consolidou o apoio do DEM e somou o Solidariedade à sua caminhada. Na hora certa, buscará novos aliados. Eduardo Campos sinalizou que é candidato e que poderá contar Marina Silva.

O jogo vai começar. Façam suas apostas. A próxima data fatal é o 5 de abril, prazo das desincompatibilizações. Mais cartas irão à mesa.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB-MG

Fonte: O Tempo (MG)

O Rede e o bom rei - Renato Janine Ribeiro

A questão crucial desta semana foi: deveria o Rede Sustentabilidade ser autorizado a funcionar como partido? O problema é que ele não conseguiu validar as 492 mil assinaturas de eleitores exigidas em lei. O problema adicional é que dois partidos de quem ninguém ouviu falar até um mês atrás, Pros e Solidariedade, conseguiram esse número de apoios. Um terceiro problema é que o Rede tem por líder uma política notável, que obteve 20 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais, enquanto o Pros, por exemplo, foi montado por um vereador de cidade pequena: como um pequeno partido, de nome que simboliza o governismo ("pró"), se habilita para as eleições, enquanto fica fora uma força liderada por gente do mais alto quilate ético? Vejo aqui uma nova versão do embate entre a letra fria da lei e o espírito da ética.

Isso recorda uma questão que aparece na filosofia desde Aristóteles: é melhor ser governado por boas leis ou por bons reis? Há argumentos para as duas posições. Boas leis são necessárias. Mas bastam? Para aplicá-las não é preciso o critério de bons líderes, capazes de modulá-las? Mas, se o pêndulo favorecer o bom rei, não cairemos num regime arbitrário, em que o governante fará o que quiser? Ainda mais, e esta resposta me parece decisiva, onde está o Bem? Quem garante que esteja deste lado, e não do outro? Porque, se soubermos onde está o Bem, não precisaremos de leis, de instituições, de eleições.

Estamos divididos, como alertava o filósofo grego, entre as instituições e nossas visões do Bem. Esta divisão não é privilégio nosso. Os Estados Unidos são o caso modelar. Constituem o exemplo supremo de país, na modernidade, em que a democracia coexiste com práticas desumanas, a começar pela escravidão. Na América Latina, a escravatura fazia parte do despotismo. Quando acaba o regime despótico, acaba a propriedade do homem pelo homem. Já nos Estados Unidos, a escravidão e depois a segregação racial couberam em regimes democráticos. São hoje a único democracia a aplicar, com frequência, a pena de morte. Chegaram a empossar, em 2000, um presidente derrotado nas eleições. Mas isso convive com instituições democráticas, e quando estas falham redondamente - mantendo a escravatura, o linchamento, a segregação, a pena de morte, a fraude eleitoral - o resultado é acatado, porque se crê nas regras do jogo. E se acredita que, com essas regras, as coisas possam melhorar. E com o tempo melhoram. Daí que as instituições pesem tanto naquele país e, embora falhem muitas vezes, seus cidadãos possam, o que nos surpreende e até nos faz rir, também acreditar que encarnam o bem, que representam o Bem na Terra.

Os moinhos moem devagar mas de forma sustentável

O que deu certo nos Estados Unidos foi a aposta na via institucional, mesmo com quebras dela - como a Guerra de Secessão ou, nos anos 60, a quase guerra civil que incendiou os bairros de negros. Quase guerra civil porque o presidente Lyndon Johnson conseguiu aprovar uma legislação de direitos humanos pacificando a relação entre as etnias e fazendo seu país, mais atrasado na época que o Brasil no respeito ao negro, se tornar em poucas décadas uma referência para nós. A mesma via das instituições funcionou no Reino Unido. Já em outra grande democracia, a França, a ruptura prevaleceu mais vezes. Aqui, cabe a questão: queremos o cumprimento das leis, mesmo que inviabilize a curto prazo o Rede, ou - porque Marina é representativa e seria absurdo não poder disputar, em 2014, a Presidência - preferiríamos soluções extraordinárias?

Confesso, com toda a simpatia que tenho pelo Rede, preferir a via das instituições. Comete erros mas, com o tempo, eles são sanados. Não nego que seja preciso pressionar as instituições. Até entendo pressões, como algumas ações dos manifestantes de maio e junho, que ficam perto da ilegalidade. Não as justifico eticamente, mas compreendo sociologicamente. Contudo, aprovar um partido porque é do Bem me parece abrir a via para todo tipo de arbitrariedade. Estamos perto de uma das piores formas de tirania, que é a tirania do Bem, melhor dizendo, a tirania exercida em nome do Bem (porque, o Bem, onde ele estará? quem tem acesso a ele, quem fala em seu nome?). Foi esse um dos vícios originais do comunismo. É esse o risco, hoje, de quem invoca o Bem na política (não, não me refiro a Marina nem ao Rede).

Na era clássica, que é como chamamos os séculos 17 e 18, era comum distinguir a ação ordinária e extraordinária do rei. Seu poder ordinário estava na aplicação das leis, a exemplo de Deus quando rege o mundo por suas leis usuais, como a água fervendo a cem graus ou o sol nascendo todo dia. Mas, assim como o Criador eventualmente recorria ao milagre, parando o sol diante de Josué, também o rei agia extraordinariamente. Isso, para eles, era mais ou menos normal - nem tão normal assim, porque a Revolução Inglesa de 1640 se deu contra o "milagre" que Carlos I pretendia praticar, suspendendo a Constituição.

Estaremos hoje - quando alguns cogitam deixar em segundo plano a rota das leis, das instituições, em favor do espírito da lei, do Bem - de novo querendo milagres que nos salvem de um cotidiano tido por insuportável? Mas os protestantes diziam que a era dos milagres tinha passado. Talvez a fé católica em milagres e a descrença protestante neles explique por que estes últimos foram mais capazes de construir as primeiras grandes sociedades democráticas. Milagres são lindos, mas a sociedade não é feita deles. Da religião, prefiro a passagem sobre os moinhos de Deus que moem lentamente, mas muito fino. Só isso é sustentável. Só isso educa.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

De anões e tratores - José Roberto de Toledo

"Dilma vai ganhar no primeiro turno porque ocorrerá uma antropofagia de anões. Vão se comer lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo". O momento pitonisa foi de João Santana, o marqueteiro de Lula e Dilma Rousseff, para a revista Época, pouco antes de a chapa "EduMarina" ser anunciada.

Apesar de fazer previsões, Santana não tem bola de cristal. Nem ele nem ninguém anteviu que Eduardo Campos levaria Marina Silva para o seu PSB. O governador pernambucano cevou a adversária com discrição, para só dar a fisgada na última hora. Pegou-a pela fígado: ofereceu-lhe uma boa chance de vingar-se do PT, de Lula e de Dilma sem perder a pose nem o discurso - só a autonomia.

Os ditos anões não se comeram, se somaram. O resultado da operação é imprevisível. Pode ser uma potência ou uma subtração. Tudo depende de como o eleitor vai perceber a fusão. Se Marina potencializar Eduardo, a candidatura de Aécio Neves (PSDB) perde estatura. Mas Dilma ganhará um problema. Mais um, diga-se, se o marqueteiro traduziu bem o estado de espírito presidencial.

O que mais chama a atenção na frase de Santana não é verbo nem substantivo, mas o adjetivo com que descreveu Dilma. O Houaiss define "sobranceira": "que encara as pessoas com superioridade; arrogante". Não há melhor receita para a autofagia dos gigantes.

Por que tamanha sobrançaria?

Enquanto Marina se enredava num drama existencial-partidário, Dilma acelerava a campanha eleitoral. Literalmente. A presidente doou 7.326 máquinas pesadas para quatro de cada cinco prefeituras do Brasil. Mais de 6 mil foram entregues este ano. Há outras 11 mil para ela entregar antes da eleição. Tenta tratorar a oposição.

A ação eleitoral não se limita a dar retroescavadeiras (4,5 mil) e motoniveladoras (2 mil). A campanha de Dilma reorientou a estratégia de comunicação para desnivelar ainda mais o jogo. Sua prioridade se voltou para veículos regionais e locais. Metade das entrevistas exclusivas que Dilma concedeu a rádios desde que tomou posse ocorreram após sua popularidade despencar em julho.

Na sexta-feira, a presidente foi ao interior do Paraná. Falou só às rádios Musical FM e Maringá FM. A locutora sintetizou o que seria a entrevista: "Estamos em rede para Campo Mourão, Maringá e todos os municípios do noroeste do Paraná. Vamos falar com exclusividade com a presidenta Dilma Rousseff, que veio ao Paraná para a entrega de obras e anúncio de investimentos".

Não deu outra. Dilma despejou cifras e siglas, bilhões para cá e para lá. Anunciou tratores para 92% das cidades paranaenses. "São 367 municípios que vão receber esse kit de motoniveladora, retroescavadeira e caminhão-caçamba", declamou a presidente. Dois dias antes, repetira a fórmula com as rádios Nordeste Evangélica AM e 96 FM, do Rio Grande do Norte.

Dilma interiorizou a campanha eleitoral. Voltou-se para onde mantém popularidade mais alta - lugares cuja ruas não foram tomadas por manifestantes em junho. Às rádios potiguares, ela foi explícita: "Uma das melhores iniciativas que tivemos foi a interiorização tanto dos cursos técnicos como das universidades, das faculdades criando campus (sic) no interior do Brasil".

É para o interior que vão também mais médicos e casas dos programas federais. Esse é o contexto da aliança de Dilma com a "agrogirl" Katia Abreu (TO). Eleita pela oposição, a senadora saiu do DEM para o PSD e agora filiou-se ao PMDB, levando a bancada ruralista cada vez mais para perto do governo.

Some-se a recuperação de parte da popularidade perdida, a liderança nas pesquisas eleitorais e a previsão de ter mais tempo de propaganda na TV do que teve em 2010 e vê-se de onde vem o "sobranceira" atribuído a Dilma por seu marqueteiro. O futuro parece definido. Só falta combinar com anões e eleitores.

Fonte: O Estado de S. Paulo

De alma lavada - Valdo Cruz

Marina Silva exibia semblante de quem sabia estar protagonizando o lance mais inesperado da campanha eleitoral, indo à desforra contra aqueles que, segundo ela, tentaram lhe tirar da disputa.

Eduardo Campos não escondia a surpresa pelo presente que acabava de ganhar e deixava transparecer, no olhar, o sentimento de felicidade por dar o troco naqueles que tentaram minar sua candidatura.

Ambos, no evento de sábado em que Marina anunciou sua filiação ao PSB e o apoio a Campos, estavam se sentindo de alma lavada. Certos de terem dado um golpe de mestre.

Marina soube tomar o caminho menos previsível, fiel a seu estilo de incorporar uma cara nova na política. Escapou do pragmatismo que até seus aliados defendiam.

Campos exalava ares de confiança, agora munido de armas --a mobilização social da Rede-- para tentar se viabilizar como a terceira via da eleição presidencial de 2014 e em condições de derrotar Dilma.

Por sinal, por mais que o Palácio do Planalto transfira ao tucano Aécio Neves a maior parte do prejuízo, o que pode se tornar real, a turma palaciana ficou atônita e teme ser atingida mais à frente.

Os dois novos aliados podem se apresentar como herdeiros do lulismo e assumir o discurso de que vão fazer mais do que Dilma. Campos tem fortes ligações com o ex-presidente. Marina veio do PT.

Agora, porém, a jogada de mestre terá de mostrar força eleitoral. Uma pergunta: os sonháticos vão seguir Marina e tonificar o líder do PSB? Afinal, a soma de dois candidatos nem sempre resulta em ganhos de igual proporção. O tempo mostrará, na dupla, quem ganha mais.

Campos tirou de Marina o compromisso de que é o candidato, mas precisa viabilizar seu nome antes do início da campanha. Caso contrário, terá abrigado um fantasma dentro de casa. Isso, porém, é dor de cabeça para amanhã. Hoje, os dois querem é celebrar. Com razão.

Fonte: Folha de S. Paulo

Gordura versus músculo - Denise Rothenburg

Dilma hoje não tem mais como fazer uma "dieta" política na base aliada. Terá que conviver com o peso gordo e torcer para que não inflame seus tecidos bons

Nas academias, o que mais se escuta é a necessidade de queimar gordura e adquirir musculatura, fundamental para manter o corpo saudável e disposto para enfrentar o dia a dia. Transferindo o ensinamento para a política, os próximos dias vão dizer se Marina é músculo ou gordura para o projeto presidencial de Eduardo Campos. Em princípio, é músculo puro. Marina é afinada com as ruas, tem recall da eleição de 2010, quando obteve uma votação expressiva e ainda expressa a "boa política", longe do toma-lá-dá-cá. Nesse aspecto, a gordura parece ter ficado do outro lado, ou seja, aliada à presidente Dilma Rousseff. É aquela parte da política que, quanto mais cargo ganha, mais peso tem, e mais difícil fica de se ver livre depois. Dilma hoje não tem mais como fazer uma "dieta" política. Terá que conviver com essa gordura e torcer para que não inflame seus tecidos bons.

Essa gordura, leia-se PMDB e outros mais que passam dias e noites à porta do Planalto pedindo cargos, não sai mais. Ontem, por exemplo, os peemedebistas eram os mais felizes. Acreditavam ter acabado com o fantasma da substituição de Michel Temer por Eduardo Campos na chapa da presidente Dilma. O governador de Pernambuco, depois de aparecer na fotografia ao lado de Marina e ser apresentado pelo mestre de cerimônias como "futuro presidente da República", não tem mais ponto de recuo. É candidato. E o fato de ter recebido Marina em seu partido e não em outra legenda que agregasse tempo de tevê tornou, na visão dos peemedebistas, a candidatura mais "estreita" porque Eduardo não tem mais por onde atrair aliados capaz de ampliar o seu tempo de exposição na hora em que a campanha chegar.

A análise feita ontem em conversas fechadas do PMDB reflete, entretanto, o que se pensa na chamada "velha política", onde as alianças visam agregar tempo de tevê e recursos financeiros, ou seja, meios de conseguir amealhar votos e não votos em si. Marina não chegou ao PSB para dar dinheiro ou tempo de tevê. Chegou para reforçar o discurso do que Eduardo tem tratado da "boa política". E agora, juntos, vão torcer para que esse discurso da boa política pegue junto ao eleitorado.

Como ex-ministros de Lula, ambos podem levar o eleitor a crer que manterão tudo aquilo de bom que o governo petista construiu, agregando o valor da mudança, ou seja, sem o toma-lá-dá-cá tão criticado aos quatro cantos. Dilma tem sustentado sua base com docinhos (promessa de cargos, emendas ao orçamento da União). Agora, juntou-se a essa receita os palanques estaduais. Eduardo e Marina vão tentar mostrar que a receita deles será outra e que pretendem empreender um programa que não fique restrito a loteamentos de espaços de poder entre os partidos.

As chances dessa construção dar certo ainda não são visíveis. Afinal, se Dilma mantiver o seu peso gordo bem distribuído pelo corpo do governo, mas mantiver as formas arredondadas que agradam ao eleitor, as gordurinhas localizadas não farão cair a sua popularidade. A popularidade da presidente, aliás, é que mantém o PMDB e demais partidos na órbita petista. Não é de hoje que todo mundo sabe que, se dependesse exclusivamente da simpatia de Dilma, a base já teria pulado fora há muito tempo.

Enquanto isso, no PSDB...
Para completar, além da presidente bem avaliada tem ainda o PSDB, detentor de mais tempo de tevê que Eduardo e Marina. Aécio tem ainda, na hipótese de o bolso do brasileiro começar a dar sinais de esvaziamento, o discurso de que, quem criou o plano Real, tem as ferramentas para consertar crises econômicas. Pode não ter a emoção de Eduardo e Marina na festa de filiação do último sábado, mas não deixa de ter apelo diante de uma classe média conservadora e de uma classe C que deseja manter a sua melhoria no padrão de vida.

Diante disso tudo, é preciso levar em conta que só daqui a um ano é que o eleitor dirá quem tem a melhor estrutura muscular para carregar o país nas costas. Até aqui, a união de Marina e Eduardo foi o gesto mais importante da temporada, desses que fazem da política algo emocionante de se acompanhar. Mas uma campanha presidencial é feita de muitos gestos e até a hora da urna teremos muitos deles a observar.

E nos demais partidos...
Com os times de cada pré-candidato montado, começa agora o segundo ato, onde cada um tentará tirar apoios uns dos outros. Essa fase só termina em junho do ano que vem, quando começa a temporada de convenções partidárias para oficialização de coligações e candidaturas. O PT, por exemplo, só deve entrar em campo para valer depois de novembro, quando termina o processo de eleição direta. Talvez já seja tarde demais para dar ao PMDB e outros aliados os espaços que eles pleiteiam nos estados em troca do apoio a Dilma. Agora, depois da aliança entre Marina e Eduardo, esses palanques ganharam maior relevância para a reeleição da presidente. Mas essa é outra história.

Fonte: Correio Braziliense

O "x" da questão - Paulo Brossard

O leitor há de estranhar que me volte para um problema que vem se desdobrando de maneira dramática, senão patética, originalmente de natureza privada, embora de repercussão pública. Pois é exatamente por este motivo que me arrisco a enfrentar o caso Eike Batista.

Um empresário, possuidor de uma das maiores fortunas do mundo, de poderosa criatividade. Por onde passava, empresas nasciam, cresciam, ganhavam identidade na bolsa, e os resultados eram festejados de antemão; enfim, um futuro promissor, tanto mais expressivo quando o quadro indicava sinais de retração.

Eis senão quando uma espécie de terremoto atingiu em cheio aquele mundo de maravilhas. Sem entrar em pormenores, partindo do que vem sendo divulgado pela totalidade dos meios de comunicação, lamento o desastroso insucesso do empreendimento econômico, laureado ontem, flagelado hoje. Jornais não hesitaram em dizer tratar-se do maior calote do século e a fortuna do empresário passou a ser uma sombra do que era, dado revelador da facilidade em vender sonhos. Obviamente, o bom sucesso não nasceu no vácuo, mas em meio no qual é relevante um sistema bancário. Outrossim, é da natureza do ofício do banqueiro a posse de qualidades específicas, porque o risco faz parte do seu dia a dia e ele não pode ser o último a saber da catástrofe. Ao sistema bancário parece que nada de estranho embaciava o singular esplendor do bilionário. Mais não posso dizer porque os negócios não se noticiam, "o segredo é a alma do negócio". Mas há outro aspecto. O sistema financeiro estatal entre nós apresenta inegável relevância, chegando a financiar obras em países da América do Sul e até Cuba, por exemplo. Também foi noticiado que o Grupo Eike Batista, agora em declive notório, é um dos grandes financiados pelo BNDES.

O Banco é destinado a ser instrumento do governo federal para fomentar o desenvolvimento econômico e social do país, sua natureza e particularidade são inseparáveis de sua origem e destinação; ainda agora, o ministro da Fazenda anunciou um reforço ao BNDES. O financiamento do grupo Eike Batista pelo BNDES, em condições que banqueiros não poderiam ignorar, não deixa bem o governo. A direção do Banco não pode fazer generosidade para uma das maiores fortunas do mundo sem as reservas de estilo. O mesmo se pode dizer, mutatis mutandis, em relação à Petrobras, que passou, está passando e ainda vai passar por enormes dificuldades. A maior empresa do Brasil fez coisas que não podia fazer, a compra em condições onerosas e a venda em condições perniciosas de uma refinaria em território americano. Foi tão flagrante o abuso, que, até onde sei, não houve quem se arvorasse em defensor da traficância.

O castelo de areia ruiu de uma hora para outra. Não sei se os bancos privados não amargaram grandes perdas, mas o BNDES, por ter sido o grande financiador do grupo Eike Batista, seria o principal prejudicado. Incompetência? Irresponsabilidade? Ufanismo inconsequente? Como o caso da Petrobras, o do BNDES é tão chocante, que autoriza deduções menos decorosas. Esse o x da questão.

*Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal

Fonte: Zero Hora (RS)

Política – Claudio Humberto

• Solidariedade e Pros nascem grandes e caros
Solidariedade e Pros, criados há uma semana, somados, formam a sexta maior bancada da Câmara. Apesar de desfalcar seus antigos partidos, os deputados não levam os cargos. Para acomodar os aspones da nova estrutura, o gasto extra será de pelo menos R$ 6,5 milhões por ano. Ato da mesa, de 1995, garante a cada nova sigla dez nomeações sem concurso, com salários de R$ 10,4 mil a R$ 14,8 mil.

• Boquinha garantida
Solidariedade e Pros correm contra o tempo para incluir emendas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e garantir sua gastança em 2014.

• É um mistério
A briga por espaço na Câmara é grande entre os novos partidos. O PSD, com 62 nomeados, teve direito a apenas uma saleta de 1,5m².

• Assim é fácil
O Dia do Servidor Público, que seria comemorado segunda (28), será na quinta (31), que ninguém é de ferro sem uma sexta-feira no meio.

• Amigo brasileiro
O governo do Brasil, que adora ditaduras africanas, perdoou a dívida de US$ 43,5 milhões do Sudão. A ditadura se instalou há 24 anos.

• Banco dribla regra do BC para evitar castigo
O banco Itaú fez barulho lançando títulos atrelados a crédito imobiliário, no valor de R$ 4,4 bilhões. Só não contou que é a forma de driblar regra do Banco Central obrigando converter em financiamento da casa própria 52% dos depósitos da poupança, pelo SFH. Estourado em R$ 3 bi, o Itaú teria de depositar esse dinheiro no BC, como castigo. Mas usou brecha na legislação para fazer a leitura de que esses títulos equivalem a aplicação o recurso da poupança em crédito habitacional.

• Embromation
Ao driblar a regra do BC, a rigor o Itaú não financia ninguém. Segundo estimativas, o banco deixou de financiar cerca de 10 mil mutuários.

• Cota pra índio
É de Nilmário de Miranda (PT-MG) a ideia de jerico de propor emenda acrescentando 4 vagas aos 513 deputados existentes, para índios.

• PR ‘arrudou’
O PR mudou de cor, nos comerciais de TV em Brasília. Agora é verde, a cor-símbolo do ex-governador José Roberto Arruda, seu novo filiado.

• Que perigo…
O deputado Paulinho da Força (SP), fundador do Solidariedade, calcula que ele e sua turma, enquanto ficaram no PDT, “davam” mais de R$ 1 milhão mensais do fundo partidário a Carlos Lupi, dono da sigla.

• Incompetentes
Dilma reclamou da espionagem americana, mas esqueceu de perguntar aos incompetentes que chefiam o Ministério da Defesa e Abin, que aliás se fingiram de mortos, por que não conseguem nem mesmo proteger as comunicações da Presidência da República.

• Eis a questão
Com a chegada do tal “e-mail tupiniquim”, prometido pelos Correios, restará um dilema de fácil opção: é melhor ser espionado por Barack Obama, para quem você não existe, ou ser espionado pelo PT?

• Perdeu, mané
Agora que Inês é morta e José Serra já não pode trocar de partido, ele logo descobrirá que a cúpula do PSDB não fará o menor esforço para ajudá-lo a se tornar candidato ao Senado. O preferido é o arquiinimigo de Serra, José Aníbal, que, aliás, controla 70% dos diretórios paulistas.

• Consolação
Além de cadeira no Turismo, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) é cotado para assumir o Ministério de Ciência e Tecnologia, hoje sob o comando de Marco Antônio Raupp, pupilo de Aloizio Mercadante.

• Precipitação
O mensaleiro Valdemar Costa Neto (PR-SP) trocou o domicílio eleitoral para Brasília, habilitando-se a cumprir lá sua prisão em regime fechado. Mas o odor de pizza deixa nele a sensação de que se precipitou.

• Marineiro
Apesar de ter se filiado ao Pros, que está afinado com o governo Dilma, o deputado Miro Teixeira afirmou que dará palanque no Rio à ex-senadora Marina Silva, caso ela saia candidata à Presidência em 2014.

• Programa de índio
Esta semana, a ministra de Desenvolvimento da Holanda, Lilianne Ploumen, vai a Mato Grosso ver de perto a violenta disputa de terras entre índios e fazendeiros. Os holandeses são acionistas da Bunge.

• Pensando bem…
… Sérgio Cabral deve ter providenciado guardanapos para enxugar as lágrimas de crocodilo dos amigos e Eike Batista e Fernando Cavedish.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Painel - Vera Magalhães

De olho em 2018
Um fator pesou na decisão de Marina Silva de se filiar ao PSB e apoiar Eduardo Campos -admitindo, inclusive, ser sua vice, mesmo tendo o triplo de suas intenções de votos. Na conversa que tiveram na madrugada de sábado, Campos reiterou a Marina o compromisso de, se eleito, mandar ao Congresso emenda constitucional para acabar com a reeleição. Nesse cenário, como vice atuante e com uma aliança já assegurada, Marina seria um nome forte para a eleição de 2018.

Timing O programa de dez minutos do PSB que vai ao ar quinta-feira no horário da propaganda partidária será refeito para mostrar a aliança com Marina Silva. A propaganda vai reafirmar a legitimidade da Rede e exibir cenas do anúncio da aliança.

Superexposição A Rede Globo exibiu seis propagandas estreladas por Eduardo Campos no intervalo de "Sangue Bom" sábado. Em seguida, o "Jornal Nacional" dedicou 4m22s à notícia. Por fim, mais três inserções do PSB foram ao ar no primeiro intervalo de "Amor À Vida".

Top of Mind Para estrategistas de Campos, o combo do noticiário da TV mais os spots partidários e a repercussão nas redes sociais representa o equivalente a 200 milhões de GRPs (Gross Rating Points), parâmetro usado para medir o alcance de mídia de uma notícia.

Despertar A ideia de que Marina seja vice de Campos não agrada aos sonháticos. "Espero que essa chapa se inverta e seja Marina presidente e Eduardo vice. Caso contrário, vou defender candidatura própria do PDT", diz o deputado federal Reguffe (DF), que não se filiou ao PSB.

Em casa Marina não transferiu o domicílio eleitoral do Acre, o que acaba com a especulação de que poderia ser candidata ao governo do Rio ou do Distrito Federal para puxar votos para Campos.

Epocler Lula soube da união entre Campos e Marina num sítio em Ibiúna com a família do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar. "Agora foi um direto no fígado", reagiu o petista, segundo relatos.

De pé Ao telefonar para Aécio Neves, que está em Nova York, Campos disse que foi surpreendido pela iniciativa de Marina. Combinaram de se encontrar, e o governador de Pernambuco disse que os acertos entre PSB e PSDB nos Estados estão mantidos.

Lá e cá O PT pretende explorar as contradições de perfis dos neoaliados. "Marina reduz a capacidade de diálogo de Campos com o empresariado, e ele aniquila a sedução dela pela promessa do novo", diz um petista.

Porteira Já Aécio vai investir em atrair os representantes do agronegócio, que vinham conversando com o pré-candidato do PSB, mas agora ficam órfãos diante da parceria com Marina.

Cizânia Pesquisa do instituto Ideia para o PSDB fechada no dia 2, com 3.000 entrevistas, reforçou no partido a aposta de que haverá pressão pela troca de posições de chapa no PSB. Dilma Rousseff tem 38%, Marina, 20%, Aécio, 17%, e Campos, 5,5%.

Carburador Fernando Haddad (PT) pretende anunciar nesta semana o encerramento do contrato entre a Prefeitura de São Paulo e a Controlar, responsável pela inspeção veicular na cidade, depois de longa disputa administrativa com a empresa.

Cofre Haddad recebeu na semana passada do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a notícia de que a Câmara deve votar ainda em outubro a renegociação das dívidas de Estados e municípios.

Tiroteio

Aécio é o grande perdedor com a decisão de Marina. Resta saber a reação na Rede, que pode ser contrária à decisão imperial dela.

DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU (PT), réu no mensalão, que publicou em seu blog, em abril, post que dizia que Marina podia ser vice em chapa de oposição.

Contraponto

Saí do Facebook

No longo discurso que fez no sábado para justificar sua decisão de se filiar ao PSB, Marina Silva, além de criticar a decisão do TSE, que, segundo ela, tornou a Rede o "primeiro partido clandestino" pós-democratização, ironizou a ideia de que deveria se manter fora dos partidos e da disputa eleitoral para conservar a "pureza" política.

-Muitos achavam que eu deveria ser a madre Teresa de Calcutá da política. Mas escolhi assumir posição.

Outros a queriam como "a candidata da internet":

-Todo mundo ia curtir, e muita gente ia me cutucar! -brincou, arrancando risos na plateia.

Fonte: Folha de S. Paulo

Para onde vamos? - Ferreira Gullar

O mercado é um campo de batalha: quem não dispõe de armas e munição em quantidade não sobrevive

Que o sonho da sociedade comunista, onde todos seriam iguais em direitos e propriedades, acabou, não é novidade para ninguém. É verdade que, apesar disso, há quem ainda insista em defender uma opção ideológica alimentada por aquele mesmo sonho.

Não obstante, na prática social, tudo indica que os valores de esquerda foram assimilados por uma boa parte dos políticos que já não lhes atribuem propósitos revolucionários. Do meu ponto de vista, isso é um avanço, já que defende o fim das desigualdades como o caminho inevitável da sociedade humana.

De qualquer modo, o projeto da sociedade comunista se desfez. Tudo bem. E o capitalismo? Para onde vai o capitalismo? É difícil dizer para onde ele vai, mas, no meu modo de ver, ele vai mal.

Não me refiro apenas à recente crise iniciada em 2008, porque muito antes dela, mesmo nos Estados Unidos, o mais rico país capitalista do mundo, o problema da desigualdade social jamais se resolveu.

Não me refiro à eliminação definitiva da pobreza. Isso parece fora de cogitação. Se não se encontra lá o mesmo nível de pobreza que encontramos em países menos desenvolvidos, nada justifica um tal grau de exploração do trabalho humano num país que produz a riqueza que ali se produz.

Não há nenhuma novidade em dizer-se que o capitalismo é o regime da exploração. E isso independe do empresário capitalista, que pode ser um feroz explorador ou um patrão generoso. Independe, porque a exploração é inerente ao sistema, voltado para o lucro máximo. E veja bem, como isso é a essência do sistema, quem descuida disso vai à falência. Ao contrário do que Marx dizia, a luta de classes não se dá entre trabalhadores e patrões, mas, sim, entre os patrões: é um tentando engolir o outro.

Não estou dizendo nenhuma novidade. Todos os dias nascem milhares de empresas, a maioria das quais vai à falência, derrotadas pelas outras. O mercado é de fato um campo de batalha, uma zona de guerra: quem não dispõe de armas e munição em quantidade necessária e com a suficiência exigida não sobrevive. É a lei da selva, que determina a sobrevivência do mais apto; a seleção natural a que se referia Charles Darwin.

Para vencer essa guerra, o recurso fundamental é o lucro máximo, o que pode ser sinônimo de maior exploração, seja do trabalhador, seja do consumidor. Claro que não é tão simples assim, porque, hoje em dia, os trabalhadores também dispõem de meios para se defender. Não obstante, na Coreia do Sul, hoje um dos países capitalistas mais florescentes, a quantidade de trabalhadores que se suicida é espantosa. A pergunta a fazer é: por que se matam? Certamente porque não são felizes naquele paraíso capitalista.

E não é porque todo o empresário capitalista seja por definição explorador e cruel. Nada disso. Na verdade, ele (a empresa) está voltado para tirar cada vez mais vantagem dos negócios que faz, e isso não apenas resulta em explorar os empregados --fazer com que o trabalhador produza mais ao menor custo possível-- como pode provocar desastres como a bolha imobiliária norte-americana, que levou a economia do país ao desastre, arrastando consigo o sistema bancário e o empresariado europeus.

Os estudiosos do assunto garantem que, a certa altura do processo, era possível antever o que inevitavelmente ocorreria, mas a aspiração ao lucro e tudo o mais que isso envolve não permitem parar. Não por acaso, as crises do capitalismo são cíclicas.

E o mais louco de tudo isso é que o capitalista individualmente pode acumular bilhões de dólares em sua conta bancária. Mas de que lhe serve tanto dinheiro? Quem necessita de bilhões de dólares para viver?

Ninguém precisa. Por isso, Bill Gates doou sua fortuna a uma entidade beneficente que trata de crianças com Aids e, depois disso, ele mesmo abandonou a direção de sua empresa para ir dirigir aquela entidade beneficente. Em seguida, convenceu outros capitalistas a fazerem o mesmo. É que ganhar dinheiro por ganhar dinheiro, a partir de certo ponto, perde o sentido.

O que o capitalismo tem de bom é que ele estimula a produção de riqueza e isso pode ajudar a melhorar a vida das pessoas, mas desde que não se perca a noção de que o sentido da vida é o outro.

Fonte: Folha de S. Paulo / Ilustrada

Fator cabulação - José de Souza Martins*

Greves, ocupações, quatro meses de férias e a farsa da reposição de aulas não ajudam a elevar a USP no ranking das melhores do mundo

A USP está em 93º lugar na lista das 100 melhores universidades do mundo em Ciências da Vida, no ranking de 2013 do Times Higher Education (THE), o mais prestigioso indexador internacional do gênero. São cerca de 50 as Ciências da Vida abrangidas por essa classificação, o que inclui anatomia, bioquímica, biologia, botânica, ecologia, genética, ciências da saúde, imunologia, biologia marítima, neurociência, farmacologia e zoologia.

Em 2013, a USP ficou em 61º/70º lugar no ranking do THE das 100 universidades de melhor reputação no mundo. Esse ranking é construído com base em avaliação subjetiva e pontuação atribuída por 16.639 pesquisadores de 144 países. A proporção de pesquisadores por área de conhecimento é balanceada. São pesquisadores consagrados, acadêmicos com publicações, pessoas mais bem situadas no mundo acadêmico e "que melhor conhecem a excelência de nossas universidades".

No entanto, a USP, em seu conjunto, neste ano não aparece na lista das 200 melhores universidades. Entrou no ranking em 2005, em 196º lugar, subiu para o 178º em 2012 e subiu mais ainda, para o 158º, em 2012. Nesse ano, teve a mesma pontuação que as Universidades de Tel-Aviv e de Birmingham e melhor pontuação que prestigiosas universidades como a de Ottawa (Canadá), de Bonn (Alemanha) e Liverpool (Inglaterra). A USP não caiu sozinha na classificação do THE. Tel-Aviv, Bonn, Ottawa e Liverpool também caíram, embora ainda apareçam na lista das 200 melhores.

O desencontro entre o índice de reputação e o índice das melhores universidades, no que à USP se refere, sugere cautela na avaliação. A reputação depende de uma lenta construção de prestígio e indica um crédito que não se esgota, ainda que temporariamente, como o calculado por outros indicadores. A reputação reconhece uma história passada e um potencial de futuro.

Já o índice de melhor universidade reúne pontuações em 13 indicadores, como ensino, pesquisa, citações de trabalhos por outros pesquisadores, interação universidade/indústria, internacionalização, pesquisas que tenham pelo menos um coautor de universidades de outros países. As três universidades públicas paulistas - USP, Unicamp e Unesp - têm se empenhado significativamente para lograr melhor desempenho nesses itens,.

No sentido da internacionalização, vale destacar a contribuição decisiva da Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -, que vem celebrando convênios com um grande número de universidades de dezenas de países, nos vários continentes, para envio de pesquisadores e estudantes das universidades paulistas e para recebimento de pesquisadores e estudantes estrangeiros nas universidades daqui. Dessa colaboração deve se desenvolver melhor conhecimento do que se faz em nossas universidades e também oportunidades de publicações conjuntas. A Fapesp tem intensificado, com bons resultados, o apoio a projetos conjuntos entre a universidade e a indústria, um campo em que a cooperação ainda poderá crescer muito.

Nosso gargalo está na publicação de artigos científicos em revistas internacionais, publicadas em inglês. Temos excelentes revistas científicas no Brasil, em todas as áreas. Porém, publicadas em português, atendem a nossa patriótica veneração da língua nacional, mas não caem diante dos olhos dos pesquisadores de outros países. Diga-se em favor do pesquisador brasileiro que, frequentemente, lê e até escreve em mais de uma língua estrangeira, mérito que não tem a maioria dos pesquisadores americanos e ingleses que, quase sempre falam, leem e escrevem apenas em sua própria língua.

É claro que há fatores adversos a que a USP, a Unicamp e a Unesp logrem concretizar no futuro próximo seu melhor potencial. O número de dias ociosos em nossas universidades é muito superior ao das universidades com melhor desempenho. Temos aulas em pouco mais da metade do ano letivo: quase quatro meses de férias, Semana Santa, Semana da Pátria, feriadões e, na USP, as greves que praticamente entraram no calendário escolar. É pouco provável que as descontinuidades que demarcam esse calendário de ociosidade e conflito contribuam para a apropriada formação dos estudantes. Mesmo com a farsa das reposições de aulas. Pouco provável, também, que a casta dos estudantes de marreta de demolição em punho, como vimos na semana passada na USP, a turma do quebra e ocupa, represente uma poderosa contribuição ao desenvolvimento da ciência e à melhora de nossa competência no ensino e na pesquisa.

Prejudicam e prejudicam-se. As universidades do topo da lista são no geral de ensino em tempo integral, com severas exigências quanto ao rendimento escolar e a disciplina. Em Cambridge, sempre entre as cinco universidades mais importantes e a maior coleção de Prêmios Nobel do mundo, aluno reprovado numa única disciplina é simplesmente expulso. Sem contar que essas universidades são poupadas das descabidas despesas com os reparos de depredações, dinheiro que é para ser usado no ensino e na pesquisa.

* José de Souza Martins foi, em 1993-1994, professor da Cátedra Simón Bolívar, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), e Fellow de Trinity Hall. É autor, entre outros livros, de A Sociologia Como Aventura (Contexto)

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Onde anda você - Toquinho / Vinicius de Moraes (19/10/1913-9/7/1980)

Soneto de fidelidade – Vinicius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure