sábado, 13 de setembro de 2025

Motta está entre gregos e troianos. Por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Presidente da Câmara tem pela frente a proposta de anistia e a isenção do IR

O pior que pode acontecer para o país é o presidente da Câmara, Hugo Motta, tentar agradar gregos e troianos na semana seguinte à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF por liderar tentativa de golpe de Estado.

Avançar com a proposta de anistia aos condenados e ao mesmo tempo colocar em votação o projeto do governo Lula de aumento para R$ 5.000 da faixa de isenção do Imposto de Renda.

Um pé no governo e outro na oposição. Antes resistente a pautar a anistia aos acusados de golpismo, Motta já falou que a cobrança dos líderes para ir adiante estaria aumentando.

Colocou-se publicamente na situação de pressionado, em mais um sinal de fragilidade política após a união de partidos de centro-direita em torno do governador de São PauloTarcísio de Freitas, na articulação pela votação da anistia. Por outro lado, Motta tem um acordo com Lula para votar o projeto do IR como uma medida de compensação pela perda de arrecadação.

O projeto é a grande plataforma eleitoral de Lula e tem apoio popular, mas precisa de uma fonte de financiamento permanente para funcionar.

O governo propôs a criação de um imposto mínimo para a taxação de milionários, enquanto a oposição bolsonarista quer implodir a medida, aprovando a proposta sem compensação e ainda elevando o limite de isenção para R$ 10 mil.

Está claro que ainda não há votos para o projeto passar sem colapsar as contas públicas pela falta de medida compensatória.

Uma saída para o governo seria fechar acordos (liberação de emendas) para tentar pautar o projeto na próxima terça (16) antes de a mobilização da anistia crescer. Ou tentar aprovar projeto antigo do senador Eduardo Braga, que trata do tema, para incluir a taxação das altas rendas.

Na semana seguinte à do julgamento, a anistia se transformou num problema no caminho do projeto do IR. O governo sabe que perdeu o timing para aprovar a proposta antes da decisão do STF. A chance maior no cenário atual é Motta colocar os dois projetos para votar e ver no que dá.

 

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