Como dizia a velha raposa política, “o único prazo que político respeita é o legal”. O jogo político tem disso, parece às vezes um balé entre os diversos atores, um xadrez cheio de sutilezas, uma esgrima refinada, onde momentaneamente a versão é mais importante do que os fatos, o gesto superior a mil palavras, o silêncio é eloquente. A arte da política implica na administração correta do tempo. Não se abre o jogo logo de primeira. O ensaio no teatro de operações implica em balões de ensaio, blefes legítimos, insinuações reticentes. Mas quando o prazo legal vence é inevitável colocar parte das cartas sobre a mesa.
Os movimentos subjetivos no teatro político, é claro, não substituem as bases objetivas da realidade.
É evidente que a economia determina muita coisa. Mas a arte da política não é prisioneira das condições objetivas. Há espaço para o inesperado, para a jogada genial, para ocupação de espaços improváveis. É aquela velha história do pensador italiano: há que se ter virtude, mas também sorte.
O primeiro prazo legal relevante do calendário político de 2014 se esgotou no último sábado, dia 5 de outubro. Quem quer disputar as eleições deve estar filiado a um partido político.
O tabuleiro começa a se organizar. Há muita água ainda para passar sob a ponte, mas agora é possível visualizar as opções disponíveis e as possíveis alianças.
Registre-se que o pano de fundo desenhado a partir da realidade econômica transformou uma reeleição fácil da presidente Dilma numa eleição totalmente aberta. A baixa confiança na atual política econômica configura a cena a exigir mudanças, seja com quem for.
Pesquisas de opinião têm baixa serventia neste momento. O eleitor só passa a decidir a partir do horário eleitoral de rádio e TV, quando obtém todas as informações e compara candidatos e propostas. A última Ibope, por exemplo. Dilma recuperou oito pontos nas intenções de voto e foi para 38%. Fogos e brindes no quartel general petista? Não obrigatoriamente, ela tinha 58%, fez discurso em rede nacional de TV no dia 6 de setembro, o marketing governamental estava no auge. Marina enfrentava manchetes negativas quanto às dificuldades da sua Rede. Eduardo Campos concentrava seus esforços no desembarque do governo Dilma. Aécio entraria logo após com comerciais e programa de TV. A dança dos números é irrelevante. O importante é fazer benfeito o dever de casa em cada etapa.
Entramos em uma nova fase com parte das cartas colocadas na mesa. Agora sabemos que Dilma seguirá tendo o PMDB como seu principal parceiro. Aécio unificou completamente o PSDB, consolidou o apoio do DEM e somou o Solidariedade à sua caminhada. Na hora certa, buscará novos aliados. Eduardo Campos sinalizou que é candidato e que poderá contar Marina Silva.
O jogo vai começar. Façam suas apostas. A próxima data fatal é o 5 de abril, prazo das desincompatibilizações. Mais cartas irão à mesa.
Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB-MG
Fonte: O Tempo (MG)
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