quinta-feira, 14 de agosto de 2014

'É um choque para a República, uma perda grande, de um líder jovem', diz FH sobre Campos

• Ex-presidente disse que era amigo do avô de Campos e que sempre respeitou o ex-governador pernambucano

- O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao Jornal Hoje, da TV Globo, lamentou na tarde desta quarta-feira o acidente aéreo que vitimou o ex-governador Pernambucano Eduardo Campos, nesta manhã, em Santos, litoral paulista. FH diz que era amigo de Miguel Arraes, avô de Campos morto no mesmo dia, há 9 anos, que tinha por Campos muito respeito e que via no ex-governador pernambucano 'um caminho que seria bom para o Brasil'.

- Conheci Eduardo, fui amigo do avô dele, fui amigo da Violeta, tia avó dele. Nessas horas, a gente tem de se lembrar dos familiares, do Eduardo, dos que o acompanhavam, dos pilotos que conduziam o avião. É um choque para a República, uma perda grande, um líder jovem, um homem que abria esperanças para o Brasil. Ganhasse ou não ganhasse, certamente teria uma presença marcante no futuro do país. Uma pessoa com a capacidade de compreender a situação e não guardar ódio, rancor - disse FH, que acrescentou:

- Nunca trabalhei com Eduardo, ele era secretário de Finanças do Miguel Arraes. Mas tive um jantar com ele em São Paulo, quando ele me disse que seria candidato (..) Acho importante renovar a política brasileira e via nele um caminho em comum (juntamente com Aécio Neves, candidato do PSDB) que seria bom para o Brasil. Eduardo foi o tempo todo um candidato que pensava mais nos problemas do Brasil do que na pequena política. É um homem que eu sempre respeitei.

Segundo o ex-presidente, as consequências políticas e eleitorais do acidente "são difíceis de prever". FH acredita ser "provável que Marina seja a candidata".

Em nota divulgada após a entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a morte de Eduardo Campos é uma perda para o país. "Diante dos fatos que arrancaram a vida de Eduardo Campos, de alguns de seus colaboradores e dos pilotos, minha primeira reação é simplesmente emocional: que tragédia.Volto-me para os familiares: não há palavras que amenizem as perdas. Ainda assim, expresso minhas condolências, meus sentimentos de tristeza e de pesar. Quanto ao Eduardo, por quem sempre manifestei respeito, a perda maior é do País. No momento em que nós precisamos de líderes jovens e competentes, perdemos um dos melhores. Sua carreira nacional apenas se iniciava. Fosse ou não eleito, seria um líder para a renovação política que tanto necessitamos. É uma perda irreparável", afirma o ex-presidente.

Aécio: 'Campos era um dos representantes da boa política'

• Tucano repetiu o que disse em nota afirmando que 'Eduardo fará uma falta imensa a política nacional'

Carla Araújo e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

O candidato a Presidência da República, Aécio Neves (PSDB) convocou coletiva de imprensa nesta quarta-feira para se pronunciar sobre a morte do ex-governador Eduardo Campos e para que a mensagem fosse registrada pelas câmeras de televisão. "Eduardo era um dos grandes representantes da boa política. Convivi com ele por 20 anos", disse, lembrando que os dois trocaram mensagens pela ultima vez no domingo do dia dos pais. "Guardarei com muito carinho a mensagem que recebi de Eduardo no dia dos pais", afirmou.

Aécio repetiu o que havia dito em nota publicada mais cedo e afirmou "Eduardo fará uma falta imensa a política nacional". "É ma perda enorme, estamos todos abalados", afirmou o tucano. Segundo Aécio, apesar da imensa perda política, o momento é de apoio a família. "Perde a política, mas é a família dele que precisa de nossa força", disse.

O tucano confirmou que cancelou sua agenda nos próximos dias. "cancelei a minha agenda dos próximos dias para que possamos nos recuperar", afirmou.

Aécio lembra convívio de décadas

• Tucano interrompe agenda: "tenho por ele admiração que não terminará com sua morte"

Chico de Gois, Cristiane Jungblut, Isabel Braga, Maria Lima e Thiago Herdy – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, soube da morte de Eduardo Campos ao desembarcar em Natal (RN), na manhã de ontem, para um compromisso de campanha. Os eventos do candidato, que se estenderiam a cidades da Paraíba no fim da tarde, foram então cancelados, e, antes mesmo das confirmações oficiais, Aécio embarcou com sua equipe para São Paulo, onde acompanhou os desdobramentos da tragédia.

No início da noite, já em seu comitê eleitoral em São Paulo, o tucano fez um pronunciamento no qual elogiou o ex-governador pernambucano, qualificando-o como "valoroso, um homem público especial e um grande amigo". Para Aécio, "Eduardo era um dos maiores representantes da boa política".

Felicitação pelo dia dos pais
O tucano lembrou que, domingo, Campos lhe mandara mensagem para felicitá-lo pelo Dia dos Pais e pelo fato de Bernardo, filho mais novo de Aécio e que nasceu prematuramente, ter deixado o hospital:

- Guardarei com muito carinho a última mensagem que recebi do Eduardo, domingo agora. No Dia dos Pais, logo cedo, ele foi um dos primeiros a mandar, cumprimentando pela chegada do meu filho Bernardo em casa e desejando que ele pudesse estar com saúde e com força para continuar a sua caminhada. Eu retribuí, cumprimentando-o pelo seu aniversário. É uma perda enorme, estamos todos abalados, perde a política brasileira, mas a sua família é que precisa agora das nossas orações, da nossa força.

"Falta imensa à política"
Aécio lembrou seu convívio "por mais de 20 anos" com Eduardo Campos:

- Tenho por ele uma admiração que não terminará com sua morte trágica. Convivemos em vários momentos importantes da vida nacional. Fomos governadores de estados juntos, e o Eduardo fará uma falta imensa à política nacional. O fato de estarmos em partidos diferentes nunca nos impediu de conversar sempre sobre aquilo que interessava ao Brasil.

A agenda de Aécio está cancelada sem prazo determinado:

- É uma perda que dói fundo no coração de todos nós.

Em nota divulgada na tarde de ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a morte de Campos é uma perda para o país. Ele ressaltou que o ex-governador de Pernambuco era um líder jovem e competente.

"Diante dos fatos que arrancaram a vida de Eduardo Campos, de alguns de seus colaboradores e dos pilotos, minha primeira reação é simplesmente emocional: que tragédia. Volto-me para os familiares: não há palavras que amenizem as perdas. Ainda assim, expresso minhas condolências, meus sentimentos de tristeza e de pesar. Quanto ao Eduardo, por quem sempre manifestei respeito, a perda maior é do país. No momento em que nós precisamos de líderes jovens e competentes, perdemos um dos melhores. Sua carreira nacional apenas se iniciava. Fosse ou não eleito, seria um líder para a renovação política que tanto necessitamos. É uma perda irreparável", afirmou o ex-presidente.

Mais cedo, em entrevista ao "Jornal Hoje", da Rede Globo, FH disse que era amigo de Miguel Arraes, avô de Campos morto no mesmo dia 13 de agosto, há nove anos. O ex-presidente afirmou que tinha por Campos muito respeito e que via nele "um caminho que seria bom para o Brasil":

- Nunca trabalhei com Eduardo, ele era secretário de Finanças do Miguel Arraes. Mas tive um jantar com ele em São Paulo, quando ele me disse que seria candidato (...). Acho importante renovar a política brasileira e via nele um caminho em comum (junto com Aécio, candidato do PSDB) que seria bom para o Brasil. Eduardo foi o tempo todo um candidato que pensava mais nos problemas do Brasil do que na pequena política. É um homem que sempre respeitei.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), também lamentou a morte de Campos. "Uma tragédia se abateu sobre todos nós com o desaparecimento inesperado e impensado de Eduardo Campos. O acidente aéreo vitimou não apenas um personagem da política nacional, mas uma grande personalidade brasileira. O país perde um líder carismático, um guia, um homem de família", afirma a nota.

Marina Silva é tratada como sucessora natural de Eduardo Campos

• Lideranças da coligação em torno do PSB avaliam que ex-ministra não vai resistir à pressão para assumir o posto de presidenciável

João Domingos e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A ex-ministra Marina Silva é considerada a sucessora natural do ex-governador Eduardo Campos para disputar a Presidência da República pelo PSB por todos os integrantes do partido e da coligação, que conta também com PPS, PHS, PRP, PPL e PSL.

Embora as principais lideranças desses partidos estejam ainda muito emocionadas com a morte de Campos, provocada pela queda do jatinho que o transportava do Rio de Janeiro para Santos, na quarta-feira pela manhã, a impressão geral é de que Marina, candidata a vice na chapa, não conseguirá resistir à pressão para que assuma o posto de presidenciável da coligação. O PSB tem prazo de dez dias para fazer a substituição.

Entre os líderes existe ainda a avaliação de que Marina vai se defrontar com uma realidade diferente da que tinha traçado para si: enquanto Eduardo Campos lutava para chegar ao segundo turno da eleição, ela estava mais interessada era na formalização de seu partido, a Rede Sustentabilidade, cujo registro foi negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em outubro do ano passado, por não ter conseguido as assinaturas necessárias para ser legalizado.

Agora, Marina terá de se preocupar mais com a campanha e menos com a Rede. Especulam-se já nomes para substituir a ex-ministra no posto de vice. Entre o PSB, a percepção é a de que será preciso ter na chapa um nome “orgânico” do partido, um “pessebista de raiz”, de um Estado grande. O deputado Júlio Delgado, presidente do PSB de Minas, nome que era ligado a Eduardo Campos, seria uma opção clássica. Questionado nesta quarta sobre o futuro do PSB, porém, Delgado foi taxativo. “Perdemos o nosso norte. Não existe conversa de partido ainda. Para o PSB, Eduardo é insubstituível”, afirmou o parlamentar.

Fala-se ainda na possibilidade de candidatura a vice da ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Eliana Calmon, cujo perfil é marcado pela luta contra a corrupção, hoje candidata a senadora pela Bahia; no deputado Romário Farias, candidato a senador pelo Rio de Janeiro; no deputado Roberto Freire (SP), presidente do PPS, e no economista Eduardo Gianetti da Fonseca.

Este último seria uma espécie de vacina contra as desconfianças do empresariado em relação a Marina, uma repetição do que ocorreu em 2010, quando seu vice foi o empresário Guilherme Leal.
Um dos principais quadros políticos da Rede Sustentabilidade, grupo político de Marina Silva dentro do PSB, o ex-deputado Walter Feldman afirma que Marina proibiu seus correligionários de falarem sobre a eleição até o enterro de Campos. “Ninguém teve ousadia de perguntar isso a ela”, diz.

Choque. Se confirmar a candidatura à Presidência no lugar de Campos, Marina tenderá a depurar mais a aliança que se formou em torno do ex-governador de Pernambuco. É provável, por exemplo, um choque ideológico com o presidente do PSB de Santa Catarina, deputado Paulo Bornhausen, agora candidato a senador.

Marina posicionou-se contrária à abertura do PSB para setores que ele considera à direita. Para o cientista político Leonardo Barreto, surgiu à frente de Marina Silva “uma janela para o improvável”.

Cientistas políticos apostam que PSB deve lançar Marina

Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo

Cientistas políticos ouvidos pelo Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, apostam que, com a morte nesta quarta-feira do candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, o partido deve lançar a candidatura da vice na chapa, Marina Silva, na corrida ao Palácio do Planalto. A avaliação inicial é a de que o "fator simpatia" com a consternação pela tragédia pode impulsionar uma eventual chapa encabeçada por Marina com resultados até melhores do que obtidos por Campos até o momento. Mas ressalvam que a estratégia só dará certo se ela mantiver os acordos eleitorais costurados por Campos, agindo de forma pragmática.

"O PSB não tem outra alternativa a não ser confirmar ela. O partido não tem outro candidato e precisa lançar uma chapa bem forte para puxar as alianças nos Estados", afirmou o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB). Ele aposta que no início da próxima semana, passado o período de luto, o partido vai se reunir para lançar Marina e escolher o vice dela. Pela legislação eleitoral, o PSB tem preferência na indicação do cabeça de chapa, mas pode abrir mão para os outros cinco partidos que compõem a coligação assumir a candidatura. O nome, entretanto, deverá ter o apoio da maioria da aliança. Em 2010, Marina obteve no primeiro turno 19,6 milhões de votos (19,33%).

Se antes tinha dúvidas, David Fleischer considera que, com Marina no páreo, a possibilidade de se ter um segundo turno é 100% fechado. O também cientista político da UnB Paulo César Nascimento tem opinião distinta de Fleischer. Para ele, a entrada de Marina pode contribuir para uma reeleição em primeiro turno da presidente Dilma Rousseff.

Paulo César Nascimento avalia que um dos prejudicados com a saída de Campos da corrida eleitoral é o candidato do PSDB, Aécio Neves. Segundo ele, o presidenciável do PSB retirava votos de Dilma no Nordeste, o que favoreceria o tucano. "O Aécio certamente é a primeira vítima, independentemente de Marina se lançar como candidata", ponderou. Nascimento lembrou que o PSB vai ter problemas se apoiar a candidatura de Marina, uma vez que o "casamento" entre o partido e a Rede Sustentabilidade, legenda cujo registro de criação foi negado e acabou sendo abrigada pelos socialistas, sempre foi "bastante tumultuado". "O Campos teceu alianças regionais e ela fez de tudo para bloquear os acordos", destacou.

O cientista político Murilo Aragão, da consultoria Arko Advice, afirmou que a tragédia pode ressaltar o potencial eleitoral de Marina, que, frisou, sempre quis ser candidata a presidente. "Na substituição, ela pode ficar acima dos pontos que o Campos", disse, que também aposta num segundo turno com esse cenário. Murilo Aragão considerou ainda que, além de facilitar a vida de Dilma no Nordeste, a eventual entrada de Marina "encurta" os espaços da petista e de Aécio no Sudeste. Ele ainda considera que a tragédia trará uma maior atenção do eleitorado para as eleições, reduzindo o número de indecisos - na última pesquisa Ibope, divulgada na semana passada, 24% dos entrevistados anunciaram votar em branco, nulo ou estavam indecisos. Para ele, paradoxalmente, a morte de Campos vira um "eleitor importante". "Seu falecimento vira um catalisador de indecisos", destacou.

Pesquisadores afirmam que tragédia é 'incomparável' na história do Brasil

• Especialistas acreditam que eleição presidencial será 'imprevisível'

Wilson Tosta - O Estado de S. Paulo

Uma sucessão presidencial imprevisível, agora marcada pela perplexidade e por uma tragédia sem comparação possível no passado da República brasileira. Para pesquisadores que acompanham a política e a história do Brasil, esse é o cenário em que a morte do candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, lança a política do País. O destino da campanha passa a depender de uma eventual substituição da candidatura do político pernambucano por Marina Silva, admitem. Mas mesmo esse cenário não é certo, reconhecem.

"Equivalente a isso, só (a morte de) Tancredo (Neves, presidente eleito indiretamente em 1985, que, internado antes da posse, morreu sem assumir o mandato)", afirmou a historiadora Maria Celina D'Araújo.

"Porque já houve outros casos, como (as mortes de) Ulysses (Guimarães, liderança do PMDB que desapareceu em queda de helicóptero no mar, em 1992) e Castelo Branco (ex-presidente militar nos anos 60, durante a ditadura, morto em acidente aéreo em 1967). Mas que tenha tido impacto tão grande, só Tancredo." A historiadora destacou que Campos era um candidato que poderia "fazer a diferença" no processo sucessório, viabilizando o segundo turno.

"Era um fiel da balança importantíssimo", disse. "Agora é difícil avaliar . O partido vai ter de discutir.

Não sei se o PSB terá alguém para substituir." O cientista político Luiz Werneck Vianna disse não se recordar de episódio semelhante na República. "A eleição já está um marasmo danado, um desencanto generalizado", analisou. "Sem uma candidatura influente no Nordeste, a campanha fica ainda mais desinteressante." Em sua opinião, o processo eleitoral já precisava "imperativamente, urgentemente" de algo para movimentá-lo mesmo antes da morte de Campos.

"Só duas candidaturas competitivas (a presidente Dilma Rousseff, pelo PT, e o senador Aécio Neves, do PSDB) não satisfazem", afirmou. Vianna não acha que uma eventual entrada de Marina, embora importante, vá "eletrizar a campanha". Se houver outra candidatura pelo PSB, porém, as consequências poderão ser piores, avalia. "Um fantasma ronda a eleição, o desinteresse da população. A impressão que tenho é que doses cavalares de Dilma vão torná-la ainda mais desinteressada." O pesquisador disse que Campos era "um candidato preparado, que tinha feito dois governos e que sabia conciliar interesses".

"Não é o caso de Marina. Se ela se tornar candidata, para ter um bom desempenho vai ter de limar muitas arestas, não só com o agronegócio", disse. "Diante do cenário, só poderes mediúnicos podem garantir previsibilidade." O historiador José Murilo de Carvalho lembrou outros políticos cujas mortes tiveram impacto na história. Citou os presidentes Afonso Pena, na República Velha, Getúlio Vargas, que se suicidou em 1954, o marechal Costa e Silva, vítima de derrame cerebral em 1969, e Tancredo.

"A morte de Tancredo foi a mais sofrida, a de Getúlio foi a mais impactante", analisou. "A de Tancredo não afetou a abertura política, mas os seus rumos; a de Afonso Pena mexeu com a sucessão." Disse, porém, não recordar da morte de candidato presidencial em campanha." Carvalho considerou difícil prever o que acontecerá. "Em que isso afeta a reeleição de Dilma?", perguntou.

"Poderiam dizer que polariza (entre Dilma e Aécio). Mas tem Marina Silva... Se ela se lança, a oposição se mantém dividida. Mas talvez favoreça o segundo turno. É possível que tenha mais votos que Eduardo. Se ela não se lançar, não sei (o que acontecerá)." Aécio precisará convencer a oposição a se unir em torno dele, opinou.

A polarização Dilma-Aécio "naturalmente favorece Dilma". "(A tragédia) Não se compara a Tancredo, Getúlio. Mas é um negócio esquisito. O destino brinca com a gente."

Elio Gaspari:Sem Marina, acaba a terceira via

• Eduardo vai para o túmulo de Arraes, e Aécio está diante das lições de Tancredo, que fez política para a História

- O Globo

Caberá ao PSB decidir o que fará com a cabeça de sua chapa à presidência da República, mas de duas uma: ou Marina Silva ascende à posição aberta com a morte de Eduardo Campos, ou a terceira opção desaparece. Se ela era a candidata a vice-presidente até as primeiras horas da manhã desta quarta-feira, será difícil justificar outra solução, sobretudo tratando-se de uma companheira de chapa que tem identidade própria e recebeu 20 milhões de votos na última eleição.

Marina não entrou na chapa de Eduardo Campos como um simples apenso destinado a costurar acordos partidários. Se não serve para substituir o candidato morto, serviria para quê? Com algum exagero no paralelo, o entendimento de que o vice-presidente é um enfeite desemboca na manhã de outro agosto, de 1969, quando o presidente Costa e Silva estava entrevado por uma isquemia cerebral e os ministros militares mandaram o vice Pedro Aleixo para casa. Dezesseis anos depois, para alívio geral, o vice-presidente José Sarney assumiu no dia em que Tancredo Neves deveria ser empossado. O presidente eleito estava hospitalizado e morreria mês depois.

Pedro Aleixo e Sarney já haviam sido eleitos. Ambos, contudo, eram enfeites. Um, para dar um toque civil à presidência de um marechal. O outro, dava sabor governista a um presidente da oposição. Não sendo enfeite, Marina é mais que isso.

Se a ex-senadora for deixada de lado, a terceira via implode. Se ela substituir Eduardo Campos a natureza desse terceira via muda de qualidade e transforma a eleição deste ano numa reedição do pleito de 2010.

Eduardo Campos será sepultado no mesmo jazigo onde está seu avô, Miguel Arraes. morto em outro 13 de agosto. Ele disputava a presidência contra outro neto, Aécio Neves. Nos próximos dias vai-se saber o que farão o PSB e Marina. A lembrança de Arraes e Tancredo, contudo, leva a uma especulação passadológica. Em 1980, quando a polarização bipartidária foi rompida pelo governo, Tancredo sinalizou que iria para um terceiro caminho, dizendo que o seu MDB não era o de Arraes.

Quatro anos depois, quando se costurava o arco de alianças que permitiria a eleição indireta de Tancredo, o deputado Fernando Lyra (irmão do atual governador de Pernambuco) costurou um encontro de Tancredo com Arraes e o impossível aconteceu. Os dois ficaram juntos, acabaram com a ditadura e foram felizes para sempre.

Tancredo elegeu-se presidente da República porque costurou alianças consideradas impossíveis pela política do andar de cima e óbvias para o ronco das ruas no andar de baixo, ouvida durante a campanha das Diretas.

Havia no avô de Aécio Neves habilidade, mas sobretudo conhecimento da História. Diferenciou-se pela percepção que teve do fenômeno político que formaria alianças para lá de implausíveis.

Se o PSB, marineiros e tucanos quiserem impedir que o PT permaneça no governo por 16 anos seguidos, em algum lugar alguém pensará o impossível: Marina Silva na campanha de Aécio Neves. Olhando-se essa hipótese pela ótica da política é enorme o espaço que os separa. Pela ótica da História, caso ela esteja no tabuleiro, é razoável. Se não estiver, paciência. Tancredo não fazia só política, fazia História.

Merval Pereira: Presidência é destino

- O Globo

Nunca a frase atribuída a Tancredo Neves, de que a Presidência da República é questão de destino, foi tão apropriada quanto agora, diante da trágica morte de Eduardo Campos, que cortou uma carreira política ascendente e mudará necessariamente a eleição presidencial.

Quis o destino que o ex-governador de Pernambuco nem mesmo chegasse a disputar o cargo, para o qual se qualificou por meio de uma carreira política exitosa. E Marina Silva, que havia sido impedida de disputá-lo pela segunda vez, devido a manobras políticas, pode vir a ser a candidata na vaga aberta pela morte de Campos, de quem era companheira de chapa.

Campos pretendia liderar uma nova maneira de fazer política, e acreditava que com a propaganda oficial, a partir do dia 19, poderia, com a apresentação de sua proposta de governo, reverter o quadro sucessório em que aparecia em terceiro lugar.

A jogada política mais ousada da campanha eleitoral até agora foi dele, ao se aproximar de Marina Silva assim que a ex-senadora perdeu o direito de disputar a eleição por seu partido, a Rede Sustentabilidade. Essa imprevisível aliança política criou mais problemas do que soluções para sua candidatura, mas deu a Campos a possibilidade de disputar um espaço político maior e, sobretudo, expectativa de vitória devido aos 20 milhões de votos que Marina recebera na eleição de 2010.

A decisão sobre a campanha eleitoral do PSB tem que ser tomada em dez dias, segundo a legislação eleitoral, e num prazo tão curto será difícil criar uma candidatura do nada. Se aparentemente a substituição por Marina seria escolha natural, as disputas internas, no entanto, podem levar o PSB a outros caminhos.

Há um grupo à esquerda no partido que sempre preferiu o apoio à candidatura Dilma, dando continuidade a uma aliança histórica com o PT que Campos passou a renegar de uns anos para cá. O tom da campanha do ex-governador de Pernambuco, porém, torna difícil essa opção.

Dilma era sua adversária preferencial, ao mesmo tempo em que ele poupava Lula, por amizade e cálculo político, pois considerava provável que, a certa altura da campanha, vendo a impossibilidade de reeleger a presidente, o PT a cristianizaria e passaria a apoiá-lo a comando de Lula.

Também o PPS, que apoiava a candidatura de Campos, não aceitaria essa hipótese e passaria a apoiar Aécio Neves, do PSDB. O lançamento de Marina transformaria a terceira via em uma alternativa bastante viável, mas, embora seja filiada ao PSB, quem daria o tom da sua campanha seria a Rede, e este é o maior embaraço na costura dessa nova aliança, com Marina na cabeça da chapa. A ex-senadora já apareceu em pesquisas eleitorais com 27%, na última vez em que seu nome foi testado.

Uma hipótese pensada em setores do partido é simplesmente abrir mão de apresentar uma nova candidatura, o que representaria na prática um apoio branco à reeleição da presidente Dilma. Apresentar um candidato próprio, que seja do PSB e não da Rede, teria o mesmo efeito, pois dificilmente esse indicado conseguiria ter uma projeção nacional e, sobretudo, não contaria mais com o apoio nem de Marina nem da Rede.

Na hipótese de Marina não vir a ser a candidata, o que pode acontecer até mesmo por decisão dela de não participar da eleição nessas circunstâncias, a eleição se transformaria num duelo entre Dilma e Aécio Neves - numa antecipação do segundo turno, mas com a desvantagem para o candidato do PSDB, que continuará com três vezes menos tempo de televisão que a incumbente.

As recentes pesquisas eleitorais mostram, no entanto, que, no confronto direto com a presidente, o candidato tucano recebe grande parte dos votos que iriam para os demais candidatos, chegando a um virtual empate técnico.

Caso Marina venha a ser a candidata do PSB em substituição a Eduardo Campos, a disputa ficará mais difícil para Aécio Neves, mas o segundo turno estará praticamente garantido, e, com ele, os riscos da presidente Dilma aumentarão bastante.

Dora Kramer: Rasteira do destino

- O Estado de S. Paulo

Desde o início esta eleição estava marcada pela imprevisibilidade. Mas o inesperado acabou vindo antes do resultado, trazendo consigo a mais impactante das surpresas no acidente que matou o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, e outras seis pessoas que estavam no avião que caiu em Santos (SP) na manhã de ontem.

Uma rasteira do destino que corta de forma brutal a trajetória de um político vivaz, habilidoso e, característica rara, com um bom humor que o grande público não teve oportunidade de conhecer.
Na tarefa de se tornar conhecido nacionalmente, o ex-governador de Pernambuco estava empenhado em mostrar suas qualidades de governante. Natural, não poderia nessa fase ocupar seu tempo mostrando aos eleitores suas qualidades de exímio comediante.

Melhor dizendo, de imitador. Inesquecíveis as performances em que reproduzia hipotéticos diálogos de Lula falando sobre ministros de seu governo, destacando as peculiaridades mais engraçadas de cada um.

O “elenco” era amplo. Ciro Gomes, Marina Silva, Dilma Rousseff, Jaques Wagner, Fernando Henrique e muitos outros. Na verdade, todos. Nenhum dos “colegas” escapava ao espírito gozador de Eduardo Campos.

Juntando-se à leveza de alma a consistência política, uma conversa com ele era sempre proveitosa e prazerosa. Na medida dos limites da estratégia, era transparente. Quando indicava seus passos podia até omitir, mas não mentia. Cabia ao interlocutor pesar, medir e concluir.

Ocorreu assim anos atrás quando, em diálogo rápido num restaurante em Brasília, deu sinais de que abriria (sem querer querendo) com sutileza as portas de saída ao PSB a Anthony Garotinho. Aconteceu de novo em 2013.

O cenário era de indefinição sobre se seria ou não candidato a presidente, se deixaria ou não a área de influência do PT - surgiram especulações a respeito da possibilidade de Eduardo Campos aceitar a proposta do PT de concorrer à Presidência apenas em 2018 e desistir da disputa em 2014.

Diante do quadro, o então governador de Pernambuco dizia: “Tem gente que ainda está esperando o cumprimento de compromissos de 1989”. Portanto, não seria ele a acreditar em promessa futura diante de acertos descumpridos do passado. Sem que ele dissesse de maneira explícita, estava claro que sairia candidato.

O projeto, construir um caminho político-eleitoral independente das duas forças preponderantes no País, PT e PSDB. Construção difícil, mas não impossível à qual Eduardo Campos começou a se dedicar com o discurso da “nova política” mais objetiva que a agenda “sonhática” de sua companheira de chapa Marina Silva.

Campos costumava lembrar exemplos da história do Brasil para mostrar que seria perfeitamente possível governar sem lotear os cargos da administração pública entre partidos. O engajamento da sociedade na agenda política, segundo ele, seria a chave, tal como já ocorrera por ocasião da campanha pela redemocratização do País, no governo de transição depois do impeachment de Collor e à época da implantação do Plano Real.

Na opinião dele, a urgência de renovação dos meios e modos de se fazer política poderia motivar o mesmo tipo de mobilização, a depender da disposição do governante eleito de utilizar a força obtida nas urnas para unir o País em torno de uma pauta inovadora desse tipo.

Nessa concepção, caberia às lideranças, no caso específico ao presidente, transformar a apatia decorrente da indignação social com os políticos e os partidos em motor da geração de uma força coletiva de vontade de renovação.

Sem mau humor, sem descrença, sem divisões, sem “eles”. O Brasil de todos nós. Agregador, assim era Eduardo Campos, um político de quem se podia discordar, mas uma pessoa de quem era absolutamente impossível não gostar.

Eliane Cantanhêde: 13 de agosto

- Folha de S. Paulo

A morte chocante de Eduardo Campos joga um grau de imprevisibilidade ainda maior numa eleição já particularmente imprevisível desde junho de 2013.

Campos era jovem, promissor, de uma família política e uma opção criativa à polaridade de 20 anos entre PSDB e PT. Sua morte trágica, na reta final da campanha à Presidência, no mesmo mês da morte de Getúlio e JK e no mesmo dia da morte do avô Miguel Arraes --13 de agosto-- atinge uma dramaticidade especial num país emotivo e religioso como o Brasil.

Sem Campos, o caminho natural é que a candidata seja Marina Silva, que conquistou cerca de 20% dos votos em 2010, deixou uma legião de seguidores e sabe falar, olho no olho, com o eleitorado evangélico.

Confirmada, será uma guinada e tanto na chapa do PSB. Campos era pragmático, pró mercado, pró agronegócio. Marina é menos flexível e enfrenta resistência no mercado e, especialmente, entre ruralistas. Mas pode e tem tudo para crescer muito.

Campos patinava em 8% e 9% de intenções de voto, mas tinha certeza de que iria deslanchar com o início da propaganda na TV e no rádio, dia 19. Essa expectativa se transfere agora para Marina, que poderá, enfim, somar o seu capital ao potencial dele.

Assim, seria decisiva para evitar a vitória de Dilma no primeiro turno. O problema é o quanto ela poderá crescer. Só o suficiente para garantir o segundo turno? Ou a ponto de ameaçar o tucano Aécio Neves?

A eleição fica ainda mais embolada e ainda mais imprevisível, mas a melhor aposta ainda é a de mais um round, não necessariamente o último, no pugilato entre petistas e tucanos. Com Marina correndo por fora e empurrada pela enorme comoção com a morte de Campos.

Diante da perplexidade e da tristeza, o mais importante é destacar o homem, o marido, o pai Eduardo Campos. Mas é impossível não dizer que a tragédia, mais uma em agosto, roubou do Brasil um político de grande futuro, para o qual o céu era o limite.

César Felício: A morte da promessa

• Cria-se um vácuo não só na eleição deste ano, mas na de 2018

- Valor Econômico

A tragédia de Eduardo Campos é inédita na história eleitoral brasileira, o que torna difícil projetar seus efeitos políticos no futuro. O ex-governador de Pernambuco havia ingressado na corrida sucessória apostando em um cansaço do brasileiro na polarização entre o PT e o PSDB, o que foi potencializado depois da onda de protestos de junho do ano passado. Aécio Neves está abaixo do patamar atingido pelos tucanos em campanhas passadas e Dilma Rousseff enfrenta uma rejeição ao seu nome próxima à sua intenção de voto.

Sua possível substituição na chapa por Marina Silva atende a esta manifestação de fastio, de maneira muito mais eloquente que o dirigente do PSB, mas não possui os mesmos códigos e o mesmo simbolismo que Eduardo Campos tinha. Falta à terceira colocada nas eleições de 2010 a estrutura partidária que, ainda pequena, Campos construiu como cacique de uma legenda de porte médio e como fiador de acordos nos Estados com tucanos, pemedebistas e até petistas. Caso se torne a candidata, algo incerto enquanto esta coluna estava sendo escrita, Marina entra no espólio político de Campos, mas não necessariamente como a única herdeira, e sem que haja um inventariante.

O ex-governador pernambucano demonstrava confiança em uma improvável vitória, mas sabia que construía algo para o futuro. Dificilmente teria o mesmo destino de outros que tentaram a terceira via, como Ciro Gomes e Anthony Garotinho, confinados à política regional. Campos estabelecia acordos com os que se sentiam deserdados pela guerra entre petistas e tucanos, mas ancorado em terra firme. Foi o único que tentou romper a dicotomia que marca o Brasil sem trocar de partido. Seu desaparecimento cria um vácuo que move não apenas a eleição presidencial deste ano, mas a de 2018.

No retrospecto do país, o episódio mais semelhante à catástrofe desta quarta-feira foi vivido em 1998, em uma escala muito mais modesta à atual. Naquele ano, morreu de maneira súbita Luis Eduardo Magalhães, candidato a governador pelo PFL da Bahia, em um projeto que o levaria a disputar a eleição presidencial de 2002. O enfarte do então deputado em 1998, conjugado à doença e morte do governador paulista Mário Covas em 2001, contribuiu para desagregar a base de apoio de Fernando Henrique Cardoso. Mas o país não estava a menos de uma semana do início do horário eleitoral gratuito.

Muito se fala sobre o empobre- cimento da Argentina nas últimas décadas. De acordo com alguns analistas, seria o único caso do mundo de um país rico que deixou de sê-lo em um largo período de tempo. Esta não é a opinião de alguns estudiosos do caso venezuelano, outro caso notável de entropia no mundo econômico.

O fim do mês passado foi uma ocasião que levou os venezuelanos a meditar sobre a própria história. Não foi apenas a primeira guerra mundial que completou 100 anos na última semana de julho: também cumpriu um século a descoberta do petróleo na Venezuela, que jorrou pela primeira vez no dia 31 de julho de 1914, no poço de Zumaque. Hoje, o país é dono das maiores reservas de petróleo do mundo.

À época a Venezuela era um país de base agrária, centrado na exportação de café e governado por um militar ancorado na oligarquia rural. Em 56 anos, o país se tornou o de maior renda per capita no continente e deu início a um ciclo para criar alternativas à economia, com a implantação de um polo siderúrgico e a construção de uma hidrelétrica com mais de 10 mil MW de potência instalada. Do ponto de vista político, era o único regime civil, democrático e sem insurgências na América do Sul no início da década de 80. De lá para cá, o modelo se esgotou. Está esgotado há 31 anos, desde a primeira megadesvalorização do bolívar, em fevereiro de 1983.

Patriarca da esquerda bolivariana, com seus admiradores no Brasil, Hugo Chávez não pôde, ou não quis, deter o ciclo que levou a Venezuela a ter o menor crescimento do PIB entre os países da OPEP entre 1970 e 2010, segundo dados da ONU; e o segundo menor da América do Sul neste período, a frente apenas do Uruguai. Há 43 anos, a Venezuela e a Arábia Saudita tinham aproximadamente o mesmo PIB. Hoje, o PIB saudita é três vezes maior. "O socialismo do século 21 tem sido a exaltação do modelo anterior", comentou o economista venezuelano José Luis Saboin, autor do relatório "Depois de 100 anos de petróleo", divulgado pela empresa de consultoria Ecoanalítica.

Saboin relata como o dilema venezuelano foi agravado pela estratégia completamente pró-cíclica de diferentes governos na economia: nos períodos de bonança petroleira, o governo venezuelano de turno expropria empresas, aumenta a presença do Estado na economia e se fecha a investimentos externos. No momento que o petróleo cai, desacelera a produção e tenta captar investidores na baixa.

O último episódio foi protagonizado pelo próprio Chávez: entre 2004 e 2008, considerando o PIB ajustado pelos termos de intercâmbio, a Venezuela teve o espetacular crescimento médio de 14% ao ano, segundo Saboin, e o então presidente estatizou desde granjas até a exploração petrolífera. Em 2009, começou a reverter o processo e criou um regime para atrair investidores na área do petróleo, sobretudo russos e chineses. Os resultados até o momento foram modestos.

O que Saboin não explica é como o chavismo na Venezuela está conseguindo sobreviver ao seu criador. A explicação pode estar em outra base de dados. Nos 15 anos de "revolução bolivariana" na Venezuela, Chávez teve sucesso em reduzir de maneira acelerada os desníveis sociais do país. Sob reserva, integrantes do governo brasileiro admitem que neste aspecto a Venezuela teve mais resultados a mostrar que o Brasil durante os 11 anos de petismo.

A geração de riqueza está estancada, mas a capacidade de Chávez em reparti-la é o que explica a sobrevivência política do regime que arquitetou. De acordo com dados da Cepal, a parcela de 20% da população mais pobre passou a concentrar 6,8% da renda em 2012. Era 4,3% dez anos antes, um avanço de 58%. No caso brasileiro, passou de 3,4% para 4,5% no período, alta de 32%. O consumo diário médio de calorias por habitante era de 2,5 mil entre 2003 e 2005. Hoje é de 3,1 mil. No Brasil passou de 3,1 mil para 3,3 mil.

Luiz Carlos Azedo: Que horror!

- Correio Braziliense

O Brasil perdeu um de seus políticos mais promissores, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, candidato a presidente da República do PSB, que ocupava o terceiro lugar nas pesquisas e tentava construir, com Marina Silva na vice, uma espécie de "terceira via" na política brasileira. Morreu num desastre de aviação em Santos, depois de uma tentativa de pouso do jatinho que o transportava no aeroporto de Guarujá. Ele havia embarcado com alguns assessores no Rio de Janeiro. Foi um horror: todos morreram carbonizados.

"Jantei com ele na véspera e conversamos ontem de manhã por celular; ele desligou na hora em que o avião decolou do Santos Dumont", conta o amigo e assessor de imprensa Alon Feurweker, que também embarcou do Santos Dumont, mas com destino a Brasília, e somente soube do desastre quando desembarcou. Amigos aflitos e colegas ligavam para o jornalista porque corria o boato de que também estaria no avião.

Quando embarcou, Campos estava muito animado com o próprio desempenho na televisão, principalmente depois da entrevista de 15 minutos ao Jornal Nacional, da TV Globo. Acreditava que, intensificando as viagens pelo país e tendo um bom desempenho na tevê, empolgaria os eleitores, cresceria nas pesquisas, iria para o segundo turno. Quando falava da campanha, Eduardo Campos revelava convicção de que venceria as eleições. Julgava-se um predestinado a ser presidente da República.

O neto do ex-governador Miguel Arraes que por duas vez governou Pernambuco era mesmo uma liderança política ascendente. Pretendia ir bem mais longe que o avô e resgatar a liderança política de seu estado, perdida desde a Confederação do Equador, em 1824, que reuniu também Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. A província acabou perdendo grande parte de seu território (a antiga comarca do Rio São Francisco) para a província da Bahia.

Vários líderes da rebelião, como frei Caneca, foram enforcados ou fuzilados, enquanto outros, como Cipriano Barata, acabaram presos. Abolicionistas e republicanos, ambos, porém, são reverenciados até hoje pelo povo pernambucano.

Deram origem a uma linhagem de políticos "exaltados", marca registrada da esquerda pernambucana desde os liberais da Revolução Praieira. Mesmo não tendo caráter essencialmente socialista, esse grupo político era claramente influenciado por socialistas utópicos do século 19, como Pierre–Joseph Proudhon, Robert Owen e Charles Fourier.

É o segundo político pernambucano dessa estirpe que perde a vida num desastre de avião. O primeiro foi Marcos Freire, ministro da Reforma Agrária do governo Sarney, que faleceu em 8 de setembro de 1987, num desastre no Pará. Ele viajara para tratar de assuntos do ministério e, poucos minutos após a decolagem, o jatinho que o conduzia explodiu no ar.

Campos era considerado um hábil articulador e foi excelente administrador de seu estado, deixando o governo com elevados índices de aprovação popular. Era simpático, bem-humorado, gostava de contar histórias e fazer imitações, que às vezes beiravam a perfeição, como nos casos do ex-presidente Lula e do vice-presidente de seu partido, Roberto Amaral.

Economista, Campos modernizou o estado de Pernambuco, cuja produção industrial hoje chega a 20% do PIB. Ex-ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula, rompeu com a presidente Dilma Rousseff, sem entretanto atacar o ex-aliado petista. Na sua última entrevista, foi duro com a adversária, que concorre à reeleição: "O governo Dilma vai entregar o país pior do que recebeu".

Marina
O candidato do PSB conseguiu chegar a uma plataforma comum com a vice, Marina Silva, com cujo discurso, inicialmente, tinha muitas contradições. Também administrou com sucesso suas diferenças históricas com o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), seu conterrâneo.

A vice se solidarizou com a família de Campos e dos assessores e disse que, durante 10 meses de convivência intensa, aprendeu "a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar nas suas atitudes e em seus ideais de vida". Estava em São Paulo hoje, mas cumpria agenda pessoal na capital paulista.

Marina não falou sobre uma possível substituição da candidatura. Pela legislação, poderá ser mantida na mesma posição na disputa ou se tornar a candidata do partido à Presidência, "por decisão da maioria absoluta dos órgãos executivos de direção dos partidos coligados". PSB, PPS, PRB, PHS, PPL e PSL, que formam a coligação, sofrerão um ataque especulativo dos demais candidatos, mas a maioria deve substituir Campos por Marina e, provavelmente, escolher um novo vice entre os quadros históricos do PSB.

Jose Roberto de Toledo: Após morte de Campos, terceira via é incógnita

O Estado de S. Paulo

As implicações da morte trágica de Eduardo Campos vão muito além da sucessão presidencial de 2014. Antes de ser candidato a presidente, ele era o condutor do mais sólido projeto de poder alternativo à polarização tucano-petista que domina o cenário político brasileiro há 20 anos. Sua morte abre uma dúvida que não será respondida de pronto: a viabilização de uma terceira via vai regredir ou acelerar?

No curto prazo, a resposta depende da reação de Marina Silva. Se a vice assumir a chapa presidencial e tiver sucesso em galvanizar a comoção provocada pela tragédia, ela poderá aspirar a suceder Eduardo não apenas na campanha eleitoral, mas no projeto político que ele capitaneava. Mas isso não depende só de Marina. Unir o PSB e seus aliados em torno da ex-petista não é uma tarefa trivial, especialmente para ela.

Marina é uma candidata com potencial carismático junto à opinião pública, mas não é uma articuladora como Eduardo. Ainda está tateando seu caminho como política. Deu tantos encontrões que nem sequer conseguiu formar o próprio partido. Ela é complementar a Eduardo, não sua substituta.

Desde que retomara o comando do PSB junto com o avô Miguel Arraes, há uma década, Eduardo Campos tinha conseguido transformá-lo no único partido com crescimento contínuo em todas as eleições a partir de 2004, junto com o PT. Era um esforço de maratonista, que ainda estava a meio caminho.

Sem Campos, é uma incógnita o que acontecerá com essa maratona. Sob o impacto da notícia, o amigo e deputado Julio Delgado (PSB-MG) disse à Globo News que Eduardo é insubstituível “porque era o que nos unia, era a nossa bússola”. A declaração vai muito além do protocolar. Expõe uma sinceridade rara entre políticos. O PSB vive um dilema.

A Rede de Marina é um objeto estranho que foi implantado no PSB. Não há liderança na ala histórica do PSB que se equipare a Marina em popularidade, e por isso é natural que ela assuma a frente do projeto de poder do partido, se tiver garra para isso. Mas lhe fará falta a habilidade de Eduardo para amarrar todas as pontas e pacificar as diferenças entre PSB e Rede.

Sem Eduardo, o poder gravitacional do governo federal vai agir sobre o PSB e seus aliados. Defecções poderão acontecer. As próximas semanas serão únicas na história política brasileira.

Jarbas de Holanda: Custos maiores, depois e já agora, do projeto reeleitoral de Dilma

O risco de uma derrota no 2º turno, de 26 de outubro, reforça as ações do governo federal (cada vez mais condicionadas por pesquisas, externas e próprias e pela necessidade de atração de financiadores da campanha), para “respostas” à piora dos vários indicadores da economia consideradas capazes de produzir bons e rápidos dividendos. Propiciando uma vitória da presidente/candidata em 5 de outubro e, assim, evitando tal risco. “Respostas” que são dadas, ou tentadas, de par com uma escalada da agressividade da candidata contra os adversários, em especial o tucano Aécio Neves, nas redes sociais, nos palanques do PT e em declarações à imprensa, bem como no tom programado para os discursos dela e de Lula no amplíssimo horário “gratuito” de que disporá. Essa agressividade foi bem resumida no título de reportagem do Valor, de ontem: “Para Dilma, situação econômica do país sob FHC era mais grave do que a atual crise argentina. „PSDB quebrou o país três vezes‟, diz a presidente”.

A piora dos referidos indicadores segue dominando o noticiário político-econômico: a queda das projeções para o PIB por parte dos vários analistas e do boletim Focus, do BC (a deste reduzida anteontem para 0,81%); o baque das vendas da indústria auto-motiva, com as consequentes demissões de trabalhadores; a ampliação do déficit da balança comercial; o encolhimento das atividades do comércio, também já implicando demissões; o comprometimento ainda maior dos bancos públicos para o financiamento do setor elétrico (agudamente descapitalizado pelo represamento eleitoreiro de suas tarifas), a ser pago pelos consumidores a partir do próximo ano; os enormes prejuízos da Petrobras, outra vítima desse represamento o provável adiamento do leilão da banda larga 4-G, com o qual o governo esperava obter “recursos extraordinários”, de fato “criativos” para viabilizar o superávit fiscal de 1,9%; a paralisia dos investimentos privados em geral pela desconfiança em relação ao Palácio do Planalto e resistência ao dirigismo de
suas políticas e programas.

As “respostas” rápidas a esse quadro de indicadores tão negativos tendem porém, em face da inconsistência e da improvisação, a não gerar os efeitos buscados nas duas etapas do processo eleitoral e a agravá-lo para o enfrentamento por um novo governo. Elas estão incluindo desde a extensão do Super Simples a grande número de segmentos empresariais até mais estímulos à produção e comercialização de veículos. Passando pelo adensamento de recursos públicos para os programas assistencialista.

A Petrobras e o reajuste dos combustíveis
Os juros altos, a estagnação da economia e a queda do consumo estão contendo a pressão inflacionária no limite de tolerância do teto da meta oficial. O que abre espaço para um reajuste agora dos preços dos combustíveis (o do óleo diesel defasado em 9% e o da gasolina, em 8,9% em relação aos do mercado internacional). Num contexto de aumento constante dos prejuízos da estatal petrolífera com a manutenção do represamento desses preços – sua dívida tendo crescido de R$ 221 bilhões para R$ 241 bilhões, entre dezembro de 2013 e junho deste ano. Ao que se soma o impacto da sequência de denúncias de irregularidades que envolvem as direções e os controladores, nos governos Lula e Dilma.

Nesse cenário, o diretor financeiro da empresa, Almir Barbassa, reiterou dias atrás a cobrança de rapidez na adoção de reajuste, afirmando que, sem ele “...vai ficar complicado a Petrobras conseguir reduzir o endividamento”. Mas o Palácio do Planalto segue resistindo a isso, com a preocupação maior do efeito inflacionário que a medida possa ter antes da eleição presidencial. Motivo por quê, mais provavelmente, ela só será tomada depois do pleito, então como parte de um inevitável tarifaço para a correção de preços dos combustíveis e dos serviços de energia elétrica, neste caso para os consumidores ainda não atingidos com reajustes que estão sendo feitos em algumas regiões.

Jarbas de Holanda é jornalista

Ricardo Young: Não vamos desistir do Brasil

• O homem público e político Eduardo Campos foi forjado entre influências e oportunidades extraordinárias

- Folha de S. Paulo

Ontem, antes de embarcar no Rio de Janeiro com destino ao Guarujá (no litoral paulista), Eduardo Campos se despediu de Marina Silva e de todos à sua volta.

Ele entrou no avião levando consigo o brilho no olhar de quem sempre acreditou que é possível construir um Brasil melhor, mais justo e mais sustentável.

Era essa a sua marca. Um homem que encantava a todos, por onde passava, com seu riso franco e otimista e sua disposição para ouvir e contar boas histórias.

Sobre Eduardo Campos há muito que dizer. Neto de Miguel Arraes (1916-2005), viveu a política desde criança. A influência de seu avô moldou seu caráter e seu amor pelo Brasil.

Por coincidência do destino, Eduardo partiu exatamente nove anos depois de Miguel. A partida de ambos deixa marcas permanentes na política nacional.

Foi também ao lado do avô que ele iniciou sua carreira política, para, em seguida, tornar-se deputado federal.

Ganhou destaque como articulador do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e à frente do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Consagrou-se como governador de Pernambuco. Seu governo teve a marca do diálogo e da inovação, alcançando grandes avanços na área de segurança, na gestão pública e nas questões ambientais. O apoio popular o levou à reeleição com mais de 80% dos votos.

O homem público e político Eduardo Campos foi forjado entre influências e oportunidades extraordinárias, contudo o que realmente prevalece não é somente a herança política nem a promessa, e sim o que ele fez com essas oportunidades.

Eduardo representava a possibilidade de pensar o Brasil fora da caixa. Um Brasil que clama pela renovação, que exige da democracia o seu compromisso com o novo.

Em torno dele, construiu-se a possibilidade de um sonho compartilhado, que vem se desenhando com traços cada vez mais fortes de realidade.

A sua juventude e a sua capacidade de articular diversos segmentos da sociedade, sem preconceito, tendo como norte uma fé inabalável em que o Brasil pode criar as condições para a renovação da sociedade, contagiaram milhões de pessoas.

Eduardo construiu no coração e nas mentes dos brasileiros a possibilidade de um Brasil na plena expressão do potencial do seu povo.

A sua partida não interrompe o seu legado. Aquilo que ele nos deixa é o melhor que o nosso país pode produzir: entusiasmo, trabalho incansável, capacidade de interlocução ampla, determinação de superar conflitos sem ruptura e apontar para a possibilidade do novo nascendo das profundas contradições que a democracia brasileira tem e ainda terá.

É um legado de alguém que não se rotulou e que ousou, com cordialidade, desafiar axiomas, buscando trilhar o caminho do meio.

Faltam-me palavras para descrever a dimensão da perda de Eduardo Campos. Elas me fogem, não apenas porque tinha por ele grande apreço e admiração mas também porque considero realmente difícil dimensionarmos o efetivo impacto de sua ausência.

Nós todos que militamos pela sustentabilidade, por um novo jeito de fazer política, por um novo Brasil, devemos agora nos unir ainda mais para que o sonho de Eduardo, que é o sonho de um Brasil melhor, continue.

Estamos de luto.

Ricardo Young, 57, é vereador do município de São Paulo pelo PPS --partido que integra a coligação Unidos pelo Brasil, de apoio à candidatura de Eduardo Campos (PSB) à Presidência da República

Míriam Leitão: Perda nacional

- O Globo

O Brasil tem poucos quadros políticos de qualidade que possam almejar a Presidência. A morte de um jovem de 49 anos que já foi testado na administração pública, governou duas vezes um estado complexo e saiu com alta aprovação é perda de precioso patrimônio. Havia grande chance de que algum dia Eduardo Campos governasse o Brasil, independentemente do que ocorresse nesta eleição.

Pensar no futuro quando o presente é atravessado pela tragédia é um desafio. Mas é o que os partidos que concorrem à Presidência fazem desde o primeiro momento. A coalizão "Unidos pelo Brasil" terá que tomar uma decisão urgente no meio da comoção, que é escolher alguém para disputar as eleições.

O primeiro cenário que apareceu na mente de todos os analistas foi o da escolha de Marina Silva como candidata. Mas não é tão simples nem a única possibilidade. Há outras. Uma delas é a coalizão manter o PSB na vaga de candidato e procurar entre seus quadros alguém que possa ocupar o posto. A primeira possibilidade só se mantém se, nesses dez meses, Eduardo Campos e Marina tiverem conseguido superar as divisões que existem dentro do PSB.

É importante lembrar a natureza surpreendente do nascimento dessa aliança. Ela começa com um gesto de Marina Silva que, sem partido, vai até Eduardo e adere à candidatura dele. Naquela entrevista que concederam juntos, no sábado 5 de outubro, havia uma genuína surpresa em cada um e uma lufada de ar fresco na mesmice da política brasileira. Os gestos eram novos. O de Marina, de ir até ele; o dele, de abrigar a Rede Sustentabilidade. Foi o encontro de duas lideranças com muita força pessoal. Cada uma teve que trabalhar duramente para superar as divergências nos seus grupos políticos e para costurar a união dos dois movimentos.

Mudou tudo ao fim da manhã de ontem. Alterou a dinâmica da eleição e o tom da propaganda eleitoral que começa na próxima terça-feira. O grau de incerteza da eleição de 2014 subiu e vai ser mais difícil também encontrar a melhor forma de se comunicar com o eleitor neste curto período de campanha, de menos de dois meses, até o primeiro encontro com as urnas.

Eduardo Campos causava uma excelente impressão nos encontros que vinha tendo com empresas e líderes de diversos segmentos. Era fácil ouvir palavras de entusiasmo pelo aparecimento de um novo líder que falava bem, ouvia com atenção, mostrava-se preparado para o debate de questões com profundidade. Ele tinha a favor dele dados que agradavam. Melhora em todos os indicadores sociais do estado, queda de 10 pontos na mortalidade infantil e um crescimento de 17,7% da produção industrial do estado entre janeiro de 2007 a abril de 2014. A do Brasil cresceu 7%; a do Nordeste, 11%.

O Brasil tem essa escassez de bons quadros políticos por alguns motivos sobre os quais devemos refletir. A razão original, sem dúvida, é a ditadura. O longo período de cassações e autoritarismo interrompeu carreiras, desviou e dizimou lideranças e impediu o aparecimento de novos líderes. Depois disso, veio o descrédito com a política, pelos sucessivos casos de corrupção, e isso desestimula talentos jovens de seguirem o caminho da participação partidária. Os dois fatos juntos empobreceram a democracia brasileira. Ontem, o destino produziu um enorme desfalque no pouco que temos.

As duas razões que produziram essa escassez de quadros políticos nos levam a uma conclusão. Dado que o passado não podemos mudar - a ditadura ocorreu e deixou suas sequelas insanáveis, algo imutável -, temos que trabalhar para superar o desânimo que tem afastado os jovens da política.

João Bosco Rabello: A visita do imponderável

- O Estado de S. Paulo

A morte do ex-governador Eduardo Campos é daquelas tragédias que reúne todos os elementos para alimentar a mitologia política, dado o contexto que retira de cena precocemente um dos políticos mais promissores de sua geração , destinado a consolidar-se como referência política permanente no país.

Sua saída de cena, de forma abrupta, aos 49 anos, remete à máxima política de que presidência da República é destino. Campos tinha tempo e pressa, a urgência que o orientava a não postergar a candidatura para 2018, certo de que não poderia confiar em acordo com o PT nesse sentido, e de que chegara a hora de romper a polarização PT/PSDB.

Era um dos quadros mais preparados na cena política nacional. Economista, tinha gosto pela articulação política e pela gestão, uma combinação rara no Brasil. Sua gestão em Pernambuco tinha a aprovação de mais de 70% da população, o que o credenciava a ser uma liderança regional nordestina.

O acidente aéreo interrompeu sua carreira em pleno esforço para tornar-se mais conhecido do eleitorado nacional, objetivo que a ironia do destino consolidou em minutos.
Sua presença em São Paulo cumpria esse objetivo de ampliar a visibilidade de sua candidatura no maior colégio eleitoral brasileiro, meta que o levou a Santos, de onde iria para um seminário em Guarujá.

Avaliava ainda seu desempenho na entrevista ao Jornal Nacional, na véspera, outro fator a contribuir para a visibilidade nacional que perseguia obsessivamente, numa luta contra o relógio da campanha.
Saíra-se bem, apesar da dureza das perguntas, aplicada também ao seu antecessor e adversário eleitoral, Aécio Neves, um dia antes.

Os questionamentos feitos pelos entrevistadores já produzira uma brincadeira nos meios políticos: ao deixar a bancada do JN, não se usava mais o diagnóstico “saiu-se bem”, trocado para “defendeu-se bem”. Alguns, mais irônicos, sugerem que a presidente Dilma, na sua vez, se faça acompanhar de um advogado.

No contexto eleitoral, a saída de Campos de cena provoca mudanças ainda não avaliadas friamente. De início, o raciocínio natural é o de sua substituição pela sua vice, Marina Silva, o que não deve ser considerado, porém, ponto pacífico.

A troca de Campos por Marina se traduz pela inversão da supremacia partidária na chapa, que passaria a ser da Rede, uma legenda ainda embrionária, que encontrou no PSB abrigo seguro para que o indeferimento de seu registro como partido político não significasse a exclusão da campanha.
Campos era o poder moderador na aliança que convive com divergências não minimizáveis. Só o anúncio da aliança já afastou do ex-governador o público do agronegócio, o pilar econômico de sustentação comercial do país.

Essa circunstância desautoriza versão imediata de que Marina o substituirá na candidatura. Pode até ser, mas o PSB vai ainda ter que metabolizar a perda de seu líder que, aparentemente, não deixa herdeiros com potencial para substituí-lo. E nem poderia: ele próprio , com menos de 50 anos, é para a política uma liderança jovem e,dentro de seu partido, única.

Devem seguir ao luto, que é da Nação, avaliações eleitorais ainda arriscadas se feitas imediatamente. Para onde migrarão os votos do ex-governador que , mesmo em terceiro lugar nas pesquisas, estava em viés de crescimento e com potencial de alcançar os 20% obtidos pela sua vice em 2010.

Teoricamente, para o PT, mas não necessariamente. O índice de rejeição alta do partido, refletido na queda de sua candidata nas pesquisas e na estagnação do candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, que mantém-se com 4% das intenções de voto, já tem na sua composição boa parcela de eleitores petistas insatisfeitos com os rumos do partido.

A esse contingente somam-se os votos do eleitor atraído pelo discurso ambientalista e dos avessos à continuidade da polarização PT/PSDB, que já dura duas décadas. Se a próxima pesquisa prevista para sexta-feira pelo instituto Datafolha, avaliaria o efeito das entrevistas dos candidatos no Jornal Nacional, junto aos eleitores, agora a próxima é que concentra as expectativas gerais.

A pesquisa já estaria prejudicada por ser concluída um dia após a entrevista da presidente Dilma Roussef, que seria hoje e não será mais. Refletiria mais os efeitos das entrevistas de Aécio e Campos, do que a da presidente, adiada sine die.

O episódio terá reflexos mais imediatos também no cenário pernambucano, com forte possibilidade de contaminar emocionalmente a eleição que, nesse estágio, tem na liderança o senador Armando Monteiro, adversário do candidato do ex-governador, Paulo Câmara.

Por fim, o acidente que vitimou o ex-governador de Pernambuco, dá limite também às previsões, análises e pesquisas, que devem funcionar como referência e não como base de uma campanha.

Mais do que nunca, o 13 de agosto que marca a despedida de Eduardo Campos, é o que se chama de imponderável - na política, um personagem que quando quer a frequenta.

Hoje ele visitou a campanha presidencial brasileira.

Capa de jornal popular do Rio


Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Temendo Marina, PT cogita ‘volta, Lula’ de novo
A morte de Eduardo Campos, que comove o País, e sua eventual substituição por Marina Silva na disputa presidencial, provocaram uma reunião informal da cúpula do PT, mostrando temor pela candidatura da ex-ministra. A avaliação inicial do PT aponta Marina como a principal beneficiária do legado de Campos, o que levaria risco real de derrota para Dilma, por isso a substituição dela por Lula voltou a ser cogitada.

• Comoção
Lulistas do PT avaliam que a comoção pela morte de Eduardo Campos colocaria Marina em condições até de vencer a eleição presidencial.

• Reflexo
Além de favorecer eventual candidatura de Marina Silva, a morte de Eduardo Campos deve refletir nas campanhas do PSB a governador.

• Dez dias
Segundo a Lei Eleitoral (art. 13, parágrafo 1º), o partido tem prazo de 10 dias para indicar o candidato substituto, no caso de falecimento.

• Insegurança
Lula confia tão pouco no “taco” de Dilma que viajou a Brasília, nesta terça, para orientar sua entrevista no Jornal Nacional, afinal cancelada.

• Roberto Freire (PPS) é cotado a vice de Marina
A morte do ex-governador Eduardo Campos cria um novo cenário para a eleição de 2014. Candidata a vice, Marina Silva tornou-se a principal herdeira e liderança do PSB e substituta natural de Campos na disputa pela Presidência. Membros da coligação já avaliam as opções para a nova chapa, e ganha força como candidato a vice o pernambucano Roberto Freire, deputado por São Paulo e presidente nacional do PPS.

• Solução natural
O PPS foi o primeiro partido relevante a apoiar o projeto presidencial de Eduardo Campos, o que credencia Roberto Freire para ser o novo vice.

• Quase petista
O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, ligado a Lula, também é cotado para vice, mas estreitaria a aliança com os demais partidos.

• Nomes do Congresso
O deputado Júlio Delgado (MG) e o senador Antônio Carlos Valadares (SE) também são opções para vice, no PSB.

• A mão do destino
Tragédias em campanha favorecem substitutos. Em 1982, na Bahia, Clériston Andrade morreu em desastre aéreo dias antes da eleição. Escolhido por ACM, o desconhecido João Durval foi eleito governador.

• Outros desastres
Desastres aéreos já vitimaram outros políticos brasileiros, como os paulistas Ulysses Guimarães e Severo Gomes, ambos em outubro de 1992, e o pernambucano Marcos Freire, em setembro de 1987.

• Coincidência
O então ministro Marcos Freire morreu em acidente aéreo no Pará três dias após completar 56 anos, em 8 de setembro de 1987. Eduardo Campos morreu três dias após completar 49 anos, no último dia 10.

• Herança
A eventual candidatura de Marina Silva (PSB) pode tornar irrelevante a pretendida criação do partido Rede. É mais provável que os “verdes”, com Marina à frente, herdem o comando da sigla de Eduardo Campos.

• Fatos secundários
A tragédia de Eduardo Campos ofuscou a impugnação da candidatura de José Roberto Arruda (PR) ao governo do DF e o depoimento da ex-contadora do doleiro Alberto Youssef no Conselho de Ética da Câmara.

• Tonho da Lua
No olho do furacão por sua ligação ao doleiro Alberto Youssef, Luiz Argôlo ganhou apelido de “Tonho da Lua”, na Bahia. O deputado virou autista e faz campanha à reeleição como se nada tivesse ocorrido.

• Nepotismo de luxo
Sobre o calote do Brasil na ONU, o serpentário do Itamaraty acha que a prioridade da missão brasileira é pagar aluguéis dos apartamentos de luxo dos irmãos embaixadores Antonio e Guilherme Patriota, em Nova York. Um é subordinado do outro, mas o governo ignora o nepotismo.

• Racha petista
Facções do PT do DF se articulam para concentrar esforços no candidato ao Senado, Geraldo Magela, na tentativa de fazê-lo mais votado que o governador Agnelo Queiroz, candidato petista à reeleição.

• 1965-2014
Eduardo Campos era idealista, agradável, grande contador de histórias, e até se divertia fazendo política, embora a levasse a sério. Fará falta.

Painel :: Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A hora de Marina
Abalada com a morte de Eduardo Campos, Marina Silva atendeu ligações de amigos e parentes, mas se recolheu durante boa parte do dia para fazer orações e meditar. Antes do breve pronunciamento em Santos, avisou a aliados, a portas fechadas: "Não é hora de discutir política". Mais tarde, disse o mesmo a integrantes da Rede Sustentabilidade que buscavam orientação sobre o futuro da chapa. "Nem as pessoas mais íntimas conseguiriam arrancar algo dela agora", disse um deputado.

Choque Marina estava em seu apartamento em São Paulo quando soube do acidente. Após a confirmação da tragédia, chorou muito.

Tempo O governador Geraldo Alckmin disse à ex-senadora que a liberação dos corpos pelo IML pode levar até cinco dias. Só após o enterro ela deve falar do futuro.

Família À noite, após se despedir dos assessores, Marina ficou em casa na companhia da filha caçula, de uma irmã e de um sobrinho.

Roda Dirigentes do PSB terão hoje as primeiras conversas sobre o destino da candidatura. O ex-ministro Roberto Amaral viajou para São Paulo. Primeiro vice-presidente do partido, ele é o substituto imediato de Campos.

Tensão Amaral e Marina já tiveram fortes atritos. Em 2013, ele declarou que a Rede seria um partido "fundamentalista, religioso e preconceituoso". Marineiros temem que ele agora defenda uma adesão a Dilma Rousseff (PT).

Silêncio O ex-ministro disse ontem que não tinha condições de pensar no futuro da chapa. "Estou com a cabeça em outro lugar."

Desunião Um deputado próximo à vice espera novos conflitos. "Vai ter muita resistência, a começar pelo Amaral. O único consenso no PSB é a antipatia à Marina."

Moderadora Marineiros torcem para que a viúva Renata Campos tenha voz ativa na definição do rumo do partido. As duas ficaram muito amigas nos últimos meses.

Futuro Boa parte do PSB já defende a manutenção de uma terceira via. "Temos consciência da nossa responsabilidade", diz a senadora Lídice da Mata (PSB-BA).

É ela A maioria dos integrantes da campanha de Dilma Rousseff acredita que Marina será candidata. O PT está cauteloso sobre a nova configuração do xadrez eleitoral.

Potencial Em princípio, a ex-senadora é considerada uma adversária mais forte do que Campos. No entanto, os petistas acreditam que ela se enfraquecerá caso não escolha um vice que controle a máquina do PSB.

Descolados Nesse cenário, governadores do PSB como Renato Casagrande (Espírito Santo) e Camilo Capiberibe (Amapá), que resistiram a se desvincular do PT, não entrariam com força na disputa.

Prorrogação A estimativa de dilmistas é que Marina agregue eleitores que hoje votam em branco ou nulo, o que impulsionaria a realização de um segundo turno.

Última impressão Antes de decolar no Rio, Campos estava entusiasmado com sua entrevista ao "Jornal Nacional". "Ele estava vibrando no telefone", diz Cláudio Valverde, secretário paulista de Turismo, que o aguardava na base aérea de Guarujá.

Na linha Fernando Henrique Cardoso estava em casa quando soube da tragédia em Santos. Quem o avisou por telefone foi José Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.

Borracha O site Muda Mais, da campanha de Dilma, apagou texto que atacava a participação de Campos no "JN". O Blog da Dilma, mantido por militantes petistas, não seguiu o exemplo.

Esperança Nascido em 1965, Campos repetia a aliados que seria o primeiro presidente da geração pós-64. Dilma e Aécio Neves (PSDB) nasceram antes do golpe.
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Tiroteio
"Eduardo Campos acendeu uma chama e nós não vamos deixar que ela se apague. A melhor forma de homenageá-lo é ir adiante."
DO DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE (PSB-RS), líder da bancada na Câmara, sobre a continuidade da terceira via na corrida presidencial deste ano.
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Contraponto
Nos braços do povo
Eduardo Campos adorava fazer campanha de rua. Em visita a Campina Grande, o ex-deputado Pedro Valadares, que também morreu no trágico acidente de ontem, chamou atenção para sua desenvoltura ao ser assediado por populares.
--Esse cabra é o cão chupando manga. Viu como o povo ama ele? --observou, a uma repórter da revista "Piauí" que registrou a cena em perfil do candidato.
--Não tem palestra para intelectual, não tem encontro com empresário, não tem é nada. O negócio dele é o povo!