- O Estado de S. Paulo
A morte do ex-governador Eduardo Campos é daquelas tragédias que reúne todos os elementos para alimentar a mitologia política, dado o contexto que retira de cena precocemente um dos políticos mais promissores de sua geração , destinado a consolidar-se como referência política permanente no país.
Sua saída de cena, de forma abrupta, aos 49 anos, remete à máxima política de que presidência da República é destino. Campos tinha tempo e pressa, a urgência que o orientava a não postergar a candidatura para 2018, certo de que não poderia confiar em acordo com o PT nesse sentido, e de que chegara a hora de romper a polarização PT/PSDB.
Era um dos quadros mais preparados na cena política nacional. Economista, tinha gosto pela articulação política e pela gestão, uma combinação rara no Brasil. Sua gestão em Pernambuco tinha a aprovação de mais de 70% da população, o que o credenciava a ser uma liderança regional nordestina.
O acidente aéreo interrompeu sua carreira em pleno esforço para tornar-se mais conhecido do eleitorado nacional, objetivo que a ironia do destino consolidou em minutos.
Sua presença em São Paulo cumpria esse objetivo de ampliar a visibilidade de sua candidatura no maior colégio eleitoral brasileiro, meta que o levou a Santos, de onde iria para um seminário em Guarujá.
Avaliava ainda seu desempenho na entrevista ao Jornal Nacional, na véspera, outro fator a contribuir para a visibilidade nacional que perseguia obsessivamente, numa luta contra o relógio da campanha.
Saíra-se bem, apesar da dureza das perguntas, aplicada também ao seu antecessor e adversário eleitoral, Aécio Neves, um dia antes.
Os questionamentos feitos pelos entrevistadores já produzira uma brincadeira nos meios políticos: ao deixar a bancada do JN, não se usava mais o diagnóstico “saiu-se bem”, trocado para “defendeu-se bem”. Alguns, mais irônicos, sugerem que a presidente Dilma, na sua vez, se faça acompanhar de um advogado.
No contexto eleitoral, a saída de Campos de cena provoca mudanças ainda não avaliadas friamente. De início, o raciocínio natural é o de sua substituição pela sua vice, Marina Silva, o que não deve ser considerado, porém, ponto pacífico.
A troca de Campos por Marina se traduz pela inversão da supremacia partidária na chapa, que passaria a ser da Rede, uma legenda ainda embrionária, que encontrou no PSB abrigo seguro para que o indeferimento de seu registro como partido político não significasse a exclusão da campanha.
Campos era o poder moderador na aliança que convive com divergências não minimizáveis. Só o anúncio da aliança já afastou do ex-governador o público do agronegócio, o pilar econômico de sustentação comercial do país.
Essa circunstância desautoriza versão imediata de que Marina o substituirá na candidatura. Pode até ser, mas o PSB vai ainda ter que metabolizar a perda de seu líder que, aparentemente, não deixa herdeiros com potencial para substituí-lo. E nem poderia: ele próprio , com menos de 50 anos, é para a política uma liderança jovem e,dentro de seu partido, única.
Devem seguir ao luto, que é da Nação, avaliações eleitorais ainda arriscadas se feitas imediatamente. Para onde migrarão os votos do ex-governador que , mesmo em terceiro lugar nas pesquisas, estava em viés de crescimento e com potencial de alcançar os 20% obtidos pela sua vice em 2010.
Teoricamente, para o PT, mas não necessariamente. O índice de rejeição alta do partido, refletido na queda de sua candidata nas pesquisas e na estagnação do candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, que mantém-se com 4% das intenções de voto, já tem na sua composição boa parcela de eleitores petistas insatisfeitos com os rumos do partido.
A esse contingente somam-se os votos do eleitor atraído pelo discurso ambientalista e dos avessos à continuidade da polarização PT/PSDB, que já dura duas décadas. Se a próxima pesquisa prevista para sexta-feira pelo instituto Datafolha, avaliaria o efeito das entrevistas dos candidatos no Jornal Nacional, junto aos eleitores, agora a próxima é que concentra as expectativas gerais.
A pesquisa já estaria prejudicada por ser concluída um dia após a entrevista da presidente Dilma Roussef, que seria hoje e não será mais. Refletiria mais os efeitos das entrevistas de Aécio e Campos, do que a da presidente, adiada sine die.
O episódio terá reflexos mais imediatos também no cenário pernambucano, com forte possibilidade de contaminar emocionalmente a eleição que, nesse estágio, tem na liderança o senador Armando Monteiro, adversário do candidato do ex-governador, Paulo Câmara.
Por fim, o acidente que vitimou o ex-governador de Pernambuco, dá limite também às previsões, análises e pesquisas, que devem funcionar como referência e não como base de uma campanha.
Mais do que nunca, o 13 de agosto que marca a despedida de Eduardo Campos, é o que se chama de imponderável - na política, um personagem que quando quer a frequenta.
Hoje ele visitou a campanha presidencial brasileira.
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