quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Luiz Carlos Azedo: O transformismo

• O “transformismo” petista, tanto no governo quanto no parlamento, se esgotou. O resultado é um governo cada vez mais enfraquecido, incapaz de dar respostas aos problemas do país.

- Correio Braziliense

O “transformismo” político é um conceito adotado pelo marxista italiano Antônio Gramsci para analisar a política italiana. Muito estudado na academia a partir dos anos 1980, parece que foi esquecido por boa parte da esquerda após a chegada do PT ao poder, embora o conceito tenha sido incorporado ao acervo instrumental da ciência política não-marxista. Grosso modo, o conceito trata da ampliação pelo establishment de sua classe dirigente, por meio da absorção gradual e contínua dos grupos aliados e mesmo de adversários que pareciam “irreconciliavelmente inimigos”.

Gramsci utilizou o conceito para explicar a fragilidade dos partidos italianos, do Risorgimento até o fascismo de Mussolini. Segundo ele, por meio do “transformismo”, o governo opera como um partido e se coloca acima deles, não para harmonizar seus interesses e atividades de acordo com os interesses nacionais, mas para desagregá-los, separá-los das massas e ter “uma força de sem-partido ligada ao governo por vínculos paternalistas de tipo bonapartista-cesarista”.

Na Itália, em diferentes fases da vida política, personalidades políticas ligadas aos partidos democráticos de oposição se incorporam individualmente à “classe política” conservadora e moderada, culminando com o “transformismo” de grupos radicais inteiros, “que passam ao campo moderado”. Um dos aspectos mais interessantes da análise de Gramsci diz respeito à juventude: “Os jovens deixam-se atrair culturalmente pelos operários, e chegam mesmo a se tornar — ou buscam fazê-lo —seus líderes (desejo ‘inconsciente’ de realizarem a hegemonia de sua própria classe sobre o povo), mas, nas crises históricas, retornam às origens”.

O conceito se encaixa como uma luva para examinar a trajetória do PT no poder. Durante seus dois mandatos, mas principalmente no segundo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se colocou acima dos partidos e estabeleceu uma linha direta com o eleitorado. Retirou do Congresso a grande política e abduziu o seu papel de representação dos diversos setores da sociedade, cujos interesses passaram a ser negociados diretamente com o Palácio do Planalto. Coube aos partidos da base aliada um papel meramente homologatório, enquanto a oposição, isolada e sufocada pela pequena política, esperneava.

Os quadros do PT no governo operavam um sistema de forças que se articulava de forma perversa. Com os agentes econômicos, pela intermediação de negócios; com os atores sociais, pela cooptação de lideranças. De certa forma, devido à inapetência da presidente Dilma Rousseff para gerenciar a política como Lula o fazia, o sistema começou a dar sinais de fadiga logo no primeiro mandato dela. Dilma não conseguiu se colocar acima dos partidos e, simultaneamente, comandá-los. Virou um sputnik.

À incapacidade de operar a ampla coalizão de governo somaram-se a crises econômica, resultado de erros sucessivos do governo no primeiro mandato, e ética, desnudada pela Operação Lava-Jato no começo do segundo. Com o escândalo de corrupção na Petrobras, também se esgotou a principal fonte de financiamento de sua política de alianças e, com isso, entrou em colapso o sistema de poder.

Sem volta
O “transformismo” petista, tanto no governo quanto no parlamento, se esgotou. O resultado é um governo cada vez mais enfraquecido, incapaz de dar respostas aos problemas do país. O esquema de financiamento de sua hegemonia, que se sustentava no desvio de recursos públicos, virou caso de polícia. Além da desagregação da coalizão de governo, que a recente reforma ministerial não conseguiu recompor, a base eleitoral petista foi volatilizada em razão das consequências sociais do ajuste fiscal e dos desgastes provocados pelos escândalos de corrupção.

É nesse contexto que a operação deflagrada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para substituir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles precisa ser compreendida. Para manter sua base eleitoral, cada vez mais reduzida, o petista tenta reconstruir a identidade perdida devido ao “transformismo”. É preciso que o atual ministro Levy seja responsabilizado pela recessão e o desemprego, como se o ajuste fiscal fosse um equivocado desvio de rota do governo Dilma, e não a consequência lógica dos erros cometidos.

Uma guinada populista, com expansão do crédito consumidor e uma corrida aos financiamentos externos por governos estaduais e prefeituras, que estão à bancarrota, seria uma maneira de conter, momentaneamente, a recessão, não importa que a manobra tenha fôlego curto e possa levar o país a consequências ainda mais graves. É a mesma estratégia adotada na eleição passada, na qual a economia foi manipulada para manter o PT no poder e eleger Dilma Rousseff. O problema é que o “transformismo” é um caminho sem volta.

Eliane Cantanhêde: Ponto final?

- O Estado de S. Paulo

Vida de ministro da Fazenda já não é fácil e fica pior ainda, muito pior, quando ele é um estranho no ninho, encontrou a economia destrambelhada e tem de tourear desequilíbrio fiscal, juros na estratosfera, inflação voltando aos dois dígitos, desemprego cruel e a perspectiva de dois anos seguidos de recessão – algo que não desaba sobre o Brasil desde 1930/31.

O que é que mais duro para Joaquim Levy, porém, não é nada disso. É a marcação cerrada do ex-presidente Lula, que não pode demitir Dilma Rousseff, mas já cortou a cabeça de Aloizio Mercadante da Casa Civil e continua com a foice afiada na direção do pescoço do ministro da Fazenda. Aliás, também no do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Afinal, alguém tem de pagar o pato. Levy vai ser culpado pela crise. Cardozo, pelo sufoco de filho, amigos e ex-ministros de Lula na Polícia Federal.

As investidas de Lula contra Levy nem chegam a ser novidade porque, antes mesmo da posse de Dilma no segundo mandato, ele já queria porque queria emplacar na Fazenda o seu ex-presidente do Banco Central, Henrique Meireles – que Dilma não suporta. A novidade é que a pressão não vem mais de fora e de Lula. O próprio governo começou a se mexer contra Levy, apertando o cerco em torno de Dilma. O risco é ela olhar em volta e descobrir que está sozinha, isolada, na defesa de Levy.

“Ele (Levy) não está saindo do governo. Ponto. Eu não trato mais desse assunto”, declarou Dilma há menos de um mês, na Suécia, demonstrando impaciência ao falar sobre os ataques do seu partido, o PT, ao ministro da Fazenda. Ela aproveitou para defender a recriação da CPMF como crucial, mas nem o “assunto” da queda de Levy saiu da pauta, nem a volta da CPMF entrou de fato na pauta do Congresso.

A diferença, de um mês para cá, é que os maiores adversários de Levy eram Lula, o PT, o órgão de estudos do PT, os movimentos sociais ligados ao PT. Agora, ele vem sendo bombardeado também por áreas do próprio governo, inclusive pela área financeira, e virou alvo até de manifestações contra o deputado Eduardo Cunha em São Paulo. Convenhamos, o que o pobre do Levy tem a ver com o nada pobre Cunha?

Dilma pode até reavivar seu estilão dona de si, dura na queda, que não ouve ninguém. Mas há um detalhe: Levy ficar ou não ficar no governo não depende só dela, depende também do próprio Levy e ele está emitindo sinais de que está cansado de ser o saco de pancada e mudou de tom. Diz o que pensa sem titubear, defende com vontade sua política. Quem não gostar que se dane.

Entre os novos adversários de Levy no governo, Levy é acusado de “fiscalista”, mas não consegue ao menos aprovar a CPMF no Congresso (como se dependesse dele...). Já Henrique Meirelles, da área financeira, tem experiência internacional, foi oito anos presidente do BC com Lula e segue a regra do “tudo que seu mestre mandar”. Seu mestre Lula dá de ombros ao ajuste fiscal e diz que a hora é de ressuscitar o crédito farto, o consumo, a geladeira nova, o bom humor do dono e da dona de casa. É isso que vai tirar o País da crise. Leia-se: vai garantir a candidatura dele em 2018 e salvar o PT.

Até lá, porém, Lula precisa garantir o governo Dilma. Com Levy já está esse pandemônio. Sem Levy vai melhorar? A primeira percepção dos especialistas será uma guinada populista do governo. E a primeira reação da área política será a de Dilma definitivamente refém de Lula, com os lulistas Jaques Wagner na política e Meireles na economia. O que sobraria de Dilma como presidente?

P.S.: Diferentemente de informação reproduzida neste espaço em 18/10, o delator Fernando Baiano não citou um filho de Lula, mas sim uma nora, que ele não nomeou.

Elio Gaspari: A bagunça é um perigo para todos

• Na terça-feira o Congresso votará os vetos da doutora, demarcando sua posição diante da plataforma da desordem

- O Globo

Congresso não precisa piorar o que está ruim. Uma greve de caminhoneiros pedindo a saída da presidente da República não é uma greve, nem é de caminhoneiros, mas apenas de alguns donos ou motoristas de caminhões que resolvem obstruir estradas. Se fosse greve de caminhoneiros, os veículos ficariam nas garagens. É apenas bagunça. Na hora em que a Receita Federal põe no ar um sistema bichado e ameaça multar suas vítimas caso não cumprissem um prazo maluco, não houve problemas na montagem do sistema. O que houve foi onipotência, pois o programa foi ao ar bichado porque o Serpro, que trabalhava na sua montagem, teve uma greve por tempo indeterminado que durou 29 dias. (Com pagamento dos dias parados, negociando-se a reposição das horas perdidas.) Bagunça.

Recessão, desemprego e inflação ameaçam a vida dos brasileiros, mas são fenômenos que não têm identidade física. A doutora Dilma, por exemplo, diz que não é responsável por nenhuma dessas ruínas. A bagunça, diferentemente das outras pragas, tem sempre nome e sobrenome. Falando em nome do Comando Nacional do Transporte, o cidadão Ivar Schmidt diz que só negocia “com o próximo governante”.

Administradores ineptos, bem como provocadores, são riscos da vida. Pela lógica, uns deveriam ser demitidos e os outros, responsabilizados criminalmente. Se isso não acontece, é porque a bagunça vai além da inépcia e das provocações.

O Congresso não precisa aderir à desordem. Vive uma triste fase, com os presidentes do Senado e da Câmara respondendo a inquéritos na Justiça, mas nem isso justifica que os plenários das duas Casas entrem num estágio superior ao do “quanto pior melhor”. Nessa linha, pode-se apenas torcer para que as coisas piorem. No estágio seguinte, trata-se de piorar o que já está muito ruim.

O senador Renan Calheiros anunciou que na próxima terça-feira votará pelo menos oito vetos da doutora Dilma. Três deles poderão custar R$ 63,2 bilhões ao Erário até 2019. Um dos projetos vetados aumenta os servidores do Judiciário e custará R$ 36,2 bilhões. Outro concedeu aos professores o direito de descontar do Imposto de Renda as suas despesas na compra de livros. Poderá custar R$ 16 bilhões. O terceiro atrela os benefícios da Previdência aos índices de aumento do salário-mínimo.

Cada uma dessas reivindicações tem seus defensores, mas a realidade é que os servidores do Judiciário estão empregados, os professores compram livros sem desconto no Imposto de Renda há décadas e os benefícios da Previdência nunca estiveram atrelados ao salário-mínino. Deveriam estar, mas, com a ruína econômica nas ruas, o cofre da Viúva não aguenta tantas pancadas.

Derrubar qualquer desses vetos nada tem a ver com a construção de uma sociedade melhor. Relacionamse apenas com a radicalização da bagunça, na expectativa de que ela derrube o governo. Afinal, só o fim do mundo pode salvar os réus da LavaJato e garantir o mandato de Eduardo Cunha.

A oposição tucana comporta-se com uma astúcia infantil. Apoia a Lava-Jato com adjetivos, e só. Faz a mesma coisa com Eduardo Cunha. Veste a toga dos senadores romanos quando fala e a máscara dos black blocs quando se move no Congresso. São todos muito bem educados e sabem fazer contas. Infelizmente, flertam em silêncio com a bagunça.

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Elio Gaspari é jornalista

Estelionato à vista – Editorial / O Estado de S. Paulo

Tudo leva a crer que Lula está prestes a assumir o controle total do governo, agora forçando Dilma Rousseff a demitir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e substituindo-o por alguém de confiança do ex-presidente e disposto a adotar uma “nova política econômica” destinada a “acelerar a retomada do crescimento econômico”. Segundo se informa, Lula e os ministros do núcleo político do Planalto – políticos alinhados com o ex-presidente, que os colocou onde estão exatamente para isso – intensificaram na última semana a pressão sobre a presidente da República para que substitua urgentemente Levy, de preferência pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Considerando que a crise econômica e a debacle moral e o consequente impasse político paralisaram o governo e provocaram o rebaixamento da popularidade de Dilma a índices sem precedentes, faz sentido que Lula tenha pressa em preencher o vazio deixado por sua pupila no comando da ação governamental, tarefa que já executou com êxito no que se refere à área política, ao “nomear” Jaques Wagner e Ricardo Berzoini para o comando da Casa Civil e da Secretaria de Governo.

Falta agora o chefão do PT colocar alguém de sua confiança à frente do Ministério da Fazenda, para executar a “nova política” que, na verdade, nada tem de nova, pois se trata apenas da reedição da gastança na forma da liberação de crédito para a aquisição de bens de consumo. É óbvio que não se pode pensar em crescimento econômico sustentável sem investimentos em infraestrutura, nos chamados bens sociais como educação, saúde, saneamento, segurança, transportes, etc. Mais uma vez, porém, não é hora de pensar em projetos que só dão retorno a longo prazo.

Resta saber se Henrique Meirelles estará disposto a assumir os enormes riscos da “política econômica” com a qual Lula sonha como último recurso para salvar sua pretensão de chegar de novo à Presidência da República em 2018. E se, para fazê-lo, tolerará o convívio com a presidente que o detesta.

A economia brasileira foi jogada num buraco cada vez mais profundo pelo delírio populista do PT, associado ao dogmatismo ideológico e à incompetência de Dilma. Beneficiado por uma conjuntura favorável, que encheu os cofres públicos com impostos, o governo se permitiu gastar sem fazer contas, subsidiar programas com inaudita generosidade, fornecer crédito abundante e fácil para consumo e fazer uma impensada desoneração fiscal.

Quando começou a “sair mais dinheiro do que entrava” – como admitiu dias atrás o próprio Lula –, a crise econômica se apresentou aos brasileiros como o resultado inescapável da insustentabilidade do delírio consumista no qual o lulopetismo tentou – e, pelo jeito, vai insistir nisso – ancorar seu projeto de poder.

Dilma e o próprio Lula estavam convencidos, na transição do primeiro para o segundo mandato da presidente, de que a situação econômica era grave e exigia, prioritária e urgentemente, que as arrombadas contas do governo fossem colocadas em ordem. Era a necessidade do ajuste fiscal que entrava em cena. E Lula indicou para o ministério da Fazenda um executivo de perfil liberal, ninguém menos que o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco. Trabuco não foi liberado para o cargo pelo conselho do banco e Dilma ficou com Joaquim Levy.

Mas a discussão das medidas necessárias ao ajuste fiscal, especialmente aquelas que contrariam os interesses dos assalariados, assustou as correntes esquerdistas do Parlamento, as bases sindicais do PT e as organizações filopetistas. O ajuste fiscal passou a ser apontado como uma ameaça às conquistas sociais. E não demorou para que Lula, sempre atento aos reflexos eleitorais dos acontecimentos, passasse a sabotar o demonizado ajuste e fazer eco às reivindicações de uma “nova política econômica” – como se o governo tivesse alguma.

Mais do que depressa, Lula quer reviver o consumismo inconsequente que o transformou num grande líder popular. Com que dinheiro se produzirá esse milagre? Bem, o interesse eleitoral de Lula é mais importante do que detalhes como esse. Afinal, como creem os petistas, o governo tudo pode, basta querer.

Carga política – Editorial / Folha de S. Paulo

A greve arruaceira de motoristas de caminhão que bloqueou estradas em pelo menos uma dezena de Estados nesta semana oferece exemplo gritante de irresponsabilidade. Convocada à revelia dos sindicatos da categoria, parece veicular mais uma carga pesada de ressentimento político do que reivindicações classistas razoáveis.

Mal se conhece a pauta propriamente corporativa da paralisação.

Piquetes já haviam prejudicado a vida de milhares de pessoas em março e abril passados. Alguns pedidos tinham sido atendidos pelo governo federal, mas não o de uma tabela com valores mínimos de frete –item que volta à tona agora, de carona com uma não menos descabida exigência de redução do preço do diesel.

Paradoxalmente, representantes do movimento deixam claro que se recusam a negociar com o Planalto. Mais que frete e diesel, o que trombeteiam nas rodovias interditadas são palavras de ordem contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e a favor do impeachment.

Tanto o direito de greve quanto o de livre manifestação contam com inequívoco amparo constitucional. Isso não autoriza ninguém, contudo, a tomar o público como refém, com vistas a obter repercussão para objetivos sectários, mais que corporativistas.

Não é a única categoria a valer-se do expediente autoritário, lamentavelmente. Outras classes de motoristas e até professores cultivam o mau hábito de promover manifestações com o intuito explícito de parar o trânsito e chamar a atenção.

Pouco importa a eles que dezenas de milhares de trabalhadores se atrasem para chegar ao emprego ou percam horas de descanso merecido. Menos ainda que seus bloqueios resultem em colapso do abastecimento à população, proporcionando prejuízos de monta.

Acusam-se o Comando Nacional do Transporte –uma entidade cuja existência parece reduzir-se às redes sociais– e seu líder, Ivar Luiz Schmidt, de compor uma linha auxiliar e barulhenta do aglomerado de movimentos pró-impeachment.

Em uma democracia, não se pode proibir ninguém de ter preferências políticas, por certo. Mas a questão não é de conteúdo na manifestação, e sim de forma: regras mínimas de convivência em sociedade foram desacatadas por um grupo minoritário.

Se não se mostrarem de todo incapazes de aprender, como já sugere a sucessão de iniciativas paralisantes, um dia talvez percebam que por essa via terminarão atolados no repúdio da população à sua causa. Na ânsia de fustigar o poder central, e no delírio de derrubar com buzinadas um governo constituído, arriscam-se a perder o rumo e chegar a lugar nenhum.

Governo deixa Petrobras à beira do abismo – Editorial / O Globo

• O tempo passa, o governo não mexe no seu irrealista ‘modelo’ de partilha e a Petrobras, sem crédito e sem caixa, continua próxima ao precipício

O tempo passa e a Petrobras não se move. Submersa em gestão temerária e corrupção durante o período Lula, a administração da maior empresa estatal do país virou tema de um folhetim policial no governo Dilma Rousseff.

Sua produção estagnou na faixa dos 2,8 milhões de barris diários; a receita entrou em declínio também por efeito da queda à metade dos preços do petróleo, em comparação com os valores de 2014; o endividamento em moeda estrangeira ascende a US$ 100 bilhões; e a companhia já não consegue renovar créditos, porque porque foi banida do mercado.

Dilma, reeleita, sinalizou uma faxina na empresa e mudanças na política setorial. No Congresso, alguns partidos aliados do governo e da oposição uniram-se na reavaliação do “modelo” de partilha da produção, adotado para o pré-sal numa conjuntura em que a Petrobras era outra companhia — tinha caixa, crédito, gastava menos dinheiro com exércitos de advogados e menos tempo e energia com problemas em tribunais do Brasil e do exterior.

O tempo passou, porém quase nada foi feito. Por fé ideológica, o governo resolveu manter o seu irrealista “modelo” de partilha, com monopólio da Petrobras na operação e imposição do controle de 30% de todos os consórcios.

A cúpula da empresa, por sua vez, manteve-se refém de um outro “modelo”, o político: cumpre ordens de Brasília enquanto, tacitamente, compõe interesses corporativos com os da nomenclatura sindical, usufrutuária de benesses por se alinhar ao partido do governo, o PT.

Da lassidão surgiu a atual greve de petroleiros, organizada em torno de uma “pauta política", com efeito vinculante sobre “um novo acordo coletivo", conforme a federação dos petroleiros.

Nele, essa burocracia beneficiária da gestão política que conduziu a Petrobras ao abismo pretende decidir o rumo da empresa controlada pelo Estado, à margem da vontade da coletividade, acionistas e representados no Legislativo.

Sob o silêncio obsequioso do governo e da direção da empresa, exigem que a Petrobras “assuma o interesse em permanecer como operadora única do pré-sal", conforme a atual lei da partilha. E mais: compromisso de não realizar “qualquer abertura de capital" da BR Distribuidora, incorporação “integral e imediata" das subsidiárias Transpetro e Araucária Nitrogenados, “manutenção e/ou ampliação" das atividades de exploração e produção no país e preservação da política de conteúdo local.

Fosse privada, a Petrobras já estaria em concordata, devido ao cardápio de malfeitos lulopetistas. Sem realismo sobre o seu papel (o ideal seria o retorno ao exitoso formato de concessões), não se realizam leilões para o pré-sal, porque a estatal não consegue participar. Assim, não entra dinheiro no caixa, não há crédito e o endividamento se multiplica. A Petrobras está à beira do precipício.

O PT prova do próprio veneno – Editorial / O Estado de S. Paulo

O Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu para ser do contra. Até 2002, a legenda fez de tudo para firmar-se no cenário político nacional como a mais aguerrida organização na luta contra qualquer iniciativa que não fosse de sua lavra. O PT ausentou-se da transição do regime militar para o governo de Tancredo Neves, votando nulo na eleição indireta; votou contra a Constituição de 1988 por considerá-la apenas “reformista” e “conservadora” em relação aos direitos sociais; votou contra o Plano Real e também contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, pilares do controle da inflação e do equilíbrio das contas públicas. Nesse período, os sindicatos petistas infernizaram a vida de todos os governos com manifestações e greves cujas reivindicações trabalhistas mal disfarçavam sua evidente natureza política.

Mas eis que o PT chegou ao poder e, passado o período de ilusória prosperidade experimentada durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que deu ao chefão petista e a seus companheiros a sensação de pairarem acima do bem e do mal, o partido começa a provar do próprio veneno.
Na segunda-feira passada, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, queixou-se de que uma greve de caminhoneiros iniciada naquele dia era contrária aos “interesses da sociedade brasileira” porque nada pretendia além de provocar o “desgaste político do governo”. Foi uma referência ao fato de que, sem apresentar reivindicações específicas, o grupo anunciou que sua única exigência era a renúncia da presidente Dilma Rousseff, já que ela descumpriu promessas feitas à categoria em março passado.

De forma didática, Edinho explicou: “Uma greve apresenta questões econômicas, sociais, geralmente é propositiva. Nunca vi uma greve cujo único objetivo é gerar desgaste ao governo. É uma greve que não busca melhorias da categoria, mas desgaste de governo”.

Nem seria preciso que o petista Edinho fizesse grande esforço de memória para lembrar que, há pouco mais de 20 anos, entre maio e junho de 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso enfrentou violenta e irresponsável greve dos petroleiros, comandados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do partido ao qual pertence o ministro. A paralisação foi julgada ilegal pela Justiça do Trabalho, porque em seu espírito ela nada reivindicava senão uma pauta puramente política, como a retirada de propostas que acabavam com o monopólio da Petrobrás e a revogação da lei que instituiu o programa de privatizações. Os petroleiros, secundados por outras categorias, ignoraram a decisão judicial e partiram para a desobediência civil, sofrendo, como consequência, os rigores da lei e uma firme resposta do governo.

Aquela greve histórica mostrou até que ponto os petistas estavam dispostos a ir para desgastar um governo ao qual se opunham de forma tão renhida. Mais tarde, logo no início do segundo mandato de FHC, o PT e a CUT voltariam a atormentar o presidente, deflagrando pedidos de impeachment e de renúncia. Esse era o padrão petista quando estava na oposição.

Agora no governo, o PT se queixa do radicalismo do qual o próprio partido se serviu à beça. Não que os caminhoneiros tenham razão em sua reivindicação. Muito ao contrário: ao exigirem a cabeça de Dilma, bloqueando estradas e prejudicando todo o País, esses manifestantes deixaram de ter qualquer legitimidade como representantes em negociações com o governo ou com quem quer que seja, pois sua reivindicação nada tem que ver com questões trabalhistas – e são apenas essas questões que garantem o direito dos trabalhadores à greve. Tudo o mais certamente é abusivo.

Pode-se dizer que esse momento de crise profunda, do qual se aproveitam forças extremistas – como o próprio PT um dia foi –, está sendo muito didático para o partido que agora tem sob sua responsabilidade a condução do País. Espera-se do governo firmeza para lidar com os irresponsáveis que, aproveitando-se da democracia, nada pretendem a não ser causar tumulto para impor suas causas radicais.

Míriam Leitão: Dividir o indivisível

- O Globo

STF esvazia a Lava-Jato ao ignorar conexão entre crimes. A melhor forma de o Supremo Tribunal Federal ameaçar a Lava-Jato é ir tirando pedaços do processo de Curitiba e enviando para outras cidades. Desta forma a investigação e o processo judicial perdem consistência. O caso da Eletronuclear torna claro o risco de o STF quebrar a lógica do que tem sido até agora o mais importante e efetivo ataque à corrupção no país.

Aprova de um crime ajuda a provar o outro. Isto é, inclusive, um dos princípios estabelecidos no Código de Processo Penal para manter a unidade do processo. O STF tem ignorado isso. Primeiro na decisão de mandar a parte da corrupção da Consist, que envolvia os políticos paranaenses, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffman, entre outros, para São Paulo. Agora, a decisão do ministro Teori Zavascki de mandar o processo da Eletronuclear, que envolve o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva e o ex-ministro Edson Lobão, para o Rio.

O que o caso da Eletronuclear tem a ver com o da Petrobras? Os mesmos corruptos e corruptores, os mesmos operadores, o mesmo modus operandi, os mesmos métodos de tirar recursos em contratos com estatais para enviar para pessoas, políticos e partidos da base governamental beneficiários do mesmo esquema. E esse é outro motivo estabelecido na lei para manter juntas as partes do processo. A conexão por similaridade. É um único caso em que várias pessoas praticam crimes similares que têm igual formato, objetivo e agentes. As infrações se sobrepõem. O processo tem unidade. Na Petrobras os beneficiários foram o PT, PP e PMDB; na Eletronuclear o PT e o PMDB. O Ministério das Minas e Energia é o órgão que coordena as duas estatais. Como separar?

É difícil entender o que quer o ministro Teori com o fatiamento: tornar o processo mais leve, dividir responsabilidades até dentro do Supremo criando ações penais separadas, alguma razão jurídica que lhe pareça mais relevante que as muitas provas das conexões entre as partes. Mas é fácil perceber que os advogados de todos os acusados ou condenados vibram a cada fatiamento e que a opinião pública informada tem a impressão que o caso se enfraquece a cada parte que é tirada da Força Tarefa do Ministério Público Federal no Paraná, ou da alçada do Juiz Sérgio Moro.

A ideia na Petrobras, Consist e Eletronuclear foi a de gerenciar o apoio ao governo, arrecadando recursos financeiros para o processo eleitoral ou para proveito próprio através do esquema de superfaturar e fraudar contratos de empresas com seus fornecedores. Qualquer pessoa que analisar objetivamente o caso verificará que há uma conexão porque são as mesmas pessoas que se repetem nos esquemas montados em empresas diferentes mas que formam a mesma organização criminosa. E há clara conexão probatória. Enfraquecerá o Supremo a nossa melhor chance na difícil luta contra a corrupção se continuar dividindo o indivisível.

No caso da Consist não havia cartel, mas era uma série de crimes cometidos em Curitiba. Há contudo repetição de pessoas e também de políticos da base envolvidos. No caso da Eletronuclear há outras similitudes. Dividir será enfraquecer. Espera-se que os ministros do Supremo pensem na floresta em vez de cada árvore. Os especialistas em questões ambientais costumam dizer que há um momento em que a retirada de árvores de um fragmento florestal o torna insustentável e ele começa a morrer. Quantas árvores mais se pode tirar da Lava-Jato sem que o processo fique um conjunto sem lógica interna, sem a dinâmica necessária, e comece e perder consistência? Aonde quer chegar o fatiamento se as partes forem espalhadas por outras áreas do país?

A forma de o Brasil perder a maior chance que já tivemos na luta difícil e árdua contra o crime da corrupção é ir desidratando a Operação Lava-Jato prendendo-se a firulas jurídicas que ignoram a claríssima conexão entre os crimes e o conjunto probatório. Agora o ex-ministro Antonio Palocci quer anular os depoimento de Alberto Youssef e de Fernando Baiano. O ataque à Lava-Jato é assim, por partes. E nestas fatias partidas o país se enfraquecerá em momento decisivo. Por isso, o que o STF tem que olhar é o todo. É neste todo, unido, que está a nossa melhor chance.

Cristiano Romero: Falta de "futuro" mina política de Levy

• Não há em fala do ministro estratégia para o crescimento

- Valor Econômico

Apesar das pressões de seu antecessor e de setores do PT, a presidente Dilma Rousseff resiste a substituir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e não fará nada antes da virada do ano. Dilma sabe que Levy está enfraquecido, mas acredita que exista uma chance, mesmo que pequena, de as coisas melhorarem. A esperança reside na definição, pelo Congresso, de vários temas que vão configurar a situação fiscal de 2016.

Entre os temas, estão a recriação ou não da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), a renovação da DRU (Desvinculação de Receitas da União) e a aprovação ou não do projeto que legaliza recursos depositados por brasileiros no exterior. Levy tem pronto um pacote tributário de fim de ano, caso ocorra a frustração de algumas ou de todas essas medidas. Seu objetivo é aumentar a arrecadação de tributos e diminuir o rombo das contas públicas.

"Dilma espera conseguir, com as medidas que estão no Congresso, refazer as contas públicas. Com isso, pode prometer um pouco de 'futuro'", conta um aliado da presidente.

"Futuro" é o que, na opinião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falta ao discurso de Joaquim Levy e também da presidente Dilma. Na opinião de Lula, o ministro da Fazenda só fala em ajuste. Não há em suas falas e mesmo em sua estratégia o vislumbre de uma retomada do crescimento da economia. É uma prática, acredita o ex-presidente, que aplaca o "espírito animal" dos empresários, a propensão dos cidadãos ao consumo e, portanto, a retomada da economia.

O ex-presidente decidiu parar de fazer críticas públicas a Levy, mas, nas conversas privadas, continua descendo o malho no ministro. "Lula se mantém na atividade política, neste momento, mais próximo dos movimentos sociais. Estes, claro, não apoiam o ajuste fiscal, logo, o discurso dele não pode ser diferente. Acha que, com isso, até ajuda o governo", explica um amigo e intérprete do ex-presidente. "Ele é muito crítico do Levy e de Dilma pelo fato de eles não apontarem o arco-íris."

Há, evidentemente, um exagero na visão de Lula quanto à postura de Levy. O que o ministro sempre advogou é que, sem ajuste hoje, não haverá crescimento amanhã. Foi assim no governo do ex-presidente. Quando assumiu, Lula pegou a economia à beira da falência ou virtualmente quebrada, inflação de dois dígitos (17,24% nos 12 meses até maio de 2003) e baixo crescimento. Convencido da importância da estabilidade econômica para sua sobrevivência política, segurou o PT e deixou que economistas ortodoxos arrumassem a casa - o ajuste de 2003 foi duríssimo, tanto do ponto de vista fiscal quanto monetário, e ainda foram realizadas reformas institucionais ousadas, como a da previdência.

Lula, claro, está preocupado novamente, mas desta vez com a sobrevivência do projeto político de seu partido. O projeto depende, neste momento, da manutenção de Dilma Rousseff no poder. O problema é que a economia só piora e quem está em seu comando é Joaquim Levy. Nos últimos meses, o quadro se deteriorou mais um pouco, com a piora das expectativas de inflação, o corte das projeções de crescimento e a previsão de aumento da dívida e do déficit públicos. Para Lula e petistas de seu círculo, o aprofundamento da crise econômica é a antessala do impeachment.

Em pelo menos quatro oportunidades o ex-presidente defendeu que Dilma nomeasse o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda. Fez isso em abril de 2013, quando a Nova Matriz Econômica já fazia água e prenunciava o desastre atual; repetiu a dose no fim daquele ano; voltou à carga em novembro do ano passado, na transição do primeiro para o segundo mandato da presidente; e insistiu, uma vez mais, quando ficou claro que o prestígio de Levy no Palácio do Planalto se tornara diminuto como a umidade do ar em tempos de seca em Brasília.

Na última conversa que tiveram sobre o tema, a presidente reagiu com franqueza: "O senhor sabe que não gosto do Meirelles". "Mas a senhora gosta do Levy?", indagou Lula. "Também não gosto do Levy", respondeu Dilma, encerrando a tertúlia.

Todos sabem de quem Dilma gosta - de Nelson Barbosa, ministro do Planejamento. Mas, neste caso, gostar não é poder. Mesmo a presidente sabe que a nomeação de Barbosa representaria o rompimento definitivo de seu governo com os setores produtivo e financeiro, o que ajudaria a piorar o que já está bem ruim.

Levy está fraco porque se tornou um ministro sem meta, portanto, sem plano de voo. O objetivo fiscal que ele anunciou no início do ano caiu de um superávit primário de 1,1% do PIB para outro de 0,15% do PIB. Hoje, a certeza é que haverá um déficit primário (o que obriga o governo a aumentar a dívida pública para bancar despesas). Para 2016, a meta de superávit de 0,7% do PIB já se tornou "flexível" ou atingível dentro de uma banda, o que significa dizer que não há meta.

Com a área fiscal sem meta, o câmbio disparou, as expectativas de inflação se deterioraram e também o Banco Central perdeu o rumo. A inflação segue pressionada e o BC, inclusive por razões políticas, mas também por causa do hiato do produto que se amplia, está de mãos atadas. Nesse quadro, não consegue fazer o que se espera dele, que é intensificar o combate à carestia.

Dilma está inquieta. Há pouco mais de 15 dias, gastou uma tarde no Palácio da Alvorada conversando com o ex-ministro Antônio Palocci. Não o convidou para assumir o lugar de Levy, até externou que não gosta da ideia de trocar ministro, mas, num colóquio demorado, quis saber da economia, de suas perspectivas etc. Continua sem gostar da ideia de chamar Meirelles, mas pode ser obrigada a fazer isso. De um interlocutor ouviu um conselho: "Quando quiser mudar o ministro da Fazenda, decida e faça. Não se pode fazer isso em praça pública".

Meirelles, por sua vez, diz um interlocutor próximo, está quieto em seu canto. Habitué de Lula, tem se encontrado pouco com o ex-presidente. Já emissários do ex-presidente, recebe com certa frequência. Um deles, petista, passa-lhe cantadas com o slogan: "O senhor será o Fernando Henrique de Dilma". O que se sabe é que, a exemplo do que exigiu de Lula em 2002, só aceitará um convite para a Fazenda se tiver carta branca para agir.

Sobre a ideia de que, nomeado, Meirelles promoveria forte expansão do crédito para reanimar a economia, como deseja o PT, um amigo indaga: "Quem vai entrar no governo para bombar o crédito numa hora dessas? O problema da economia não é falta de crédito".

Vinicius Torres Freire: Picadinho, torresmo e rabanada

- Folha de S. Paulo

Sábado é dia de feijoada. Segunda-feira, de picadinho. Cada início de mês é temporada de fritura de Joaquim Levy. Teve torresmo de ministro da Fazenda no início de setembro, no início de outubro e, agora, em novembro. Levy vai comer rabanadas de festas de final de ano ainda ministro?

Levy não quer sair pelo menos antes de dar um rumo às contas do governo em 2016. Há gente no Planalto que frita o ministro, com apoio de lulistas em outros altos cargos, mas parte relevante do palácio diz que a queda do ministro é "conversa".

Sabe-se lá. Vários donos do dinheiro grosso, porta-vozes do "mercado" e mesmo os preços financeiros parecem já não ligar muito para o destino de Levy, a não ser que a queda represente uma "virada desenvolvimentista". Certos empresários industriais detestam Levy, mas isso é velho.

Enquanto o povo esfolado dá sinal de estupor, o povo do dinheiro passou a demonstrar indiferença provisória pela ruína das contas do governo e pelo fato de Levy estar emparedado em um beco sem saída. Em setembro, não foi assim. Havia tanto preocupação (de perder dinheiro) com a queda de Levy como pressões de gente graúda para segurar o ministro.

Agora, menos gente liga se Levy cai pelas tabelas, se o deficit sobe pelas paredes ou se o relator do Orçamento de 2016 sugere que a meta fiscal federal seja de 0,07% do PIB. O tamanho do fracasso da política econômica estaria por ora na medida, previsto e "precificado" desde a queda de setembro. Isto é, taxas de juros, de câmbio e outros preços financeiros estariam adequados à degradação já vista ou previsível.

Esta temporada de fritura de Levy nem tem muito de diferente. Trata-se ainda da mesma conversa de Lula tutelar ainda mais Dilma Rousseff e, mais absurda, de colocar na Fazenda alguém que cuidasse de fazer o país crescer logo, por meio de um relaxamento de crédito, para citar uma das tolices mais frequentes. Para tocar tal programa, seria necessário um nome amigo do "mercado". Não faz sentido, não é possível atender às duas condições, se fosse esse o caso. Tal nome, ainda por cima, seria o de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central nos anos Lula, que não queimaria seu filme com essas bobagens.

Meirelles poderia muito bem assumir o papel de Antonio Palocci como coadjuvante de Lula. O então ministro da Fazenda tocava o "ajuste" enquanto Lula divertia o povo dizendo que o "milagre do crescimento" estava para chegar. Mas Palocci e cia. não faziam mágicas.

Se a fofoca é verdade, Lula quereria Meirelles para o quê? Para reduzir Dilma Rousseff a um papel de vez figurativo. Para quê? Para "relançar" o governo e ter um ministro politicamente mais habilidoso. Para quê? Para fazer um grande ajuste dito "liberal"?

No Congresso, ontem, o governo corria o risco de perder em todas as votações que ainda podem render uns dinheiros para o governo. Por exemplo, a repatriação de dinheiro sujo ou uma regulamentação do setor elétrico que tiraria um empecilho ao leilão das hidrelétricas. Mesmo a desvinculação de receitas (menos gastos obrigatórios por lei, a DRU) ainda capengava, pois parte da oposição amolecia, outra endurecia. Não é por causa de Levy que tudo isso está encrencado.

Roberto DaMatta: O arranjei-me como valor

• No Brasil, a grande transformação seria o gerenciamento igualitário e honesto do Estado pelo governo. É preciso desapropriar o Estado do grupo eleito

- O Globo 

A imobilidade da Monarquia foi substituída pela mobilidade republicana. Numa aristocracia, vale mais a reciprocidade do que o mérito e a competição. Se você é “amigo do rei”, você — mesmo na República — se arranja e se arruma, pois o rei lhe faz a pergunta fatal: o que você quer?

O problema é que a República supõe uma igualdade que atrapalha escolhas pessoais. Na Monarquia, o imperador faz barões; na República, as autoridades devem ter competência e mérito. O maior deles, nesses dias em que os escândalos viraram capítulos de novelas, seria o de arranjos e assaltos mais discretos, mais sensíveis para com os que pagam a conta.

Na Monarquia, há súditos e na República, cidadãos. O gerenciamento igualitário é modesto, pois, além de ligar governantes e governados pelo voto, ele se funda no axioma segundo o qual todos são sujeitos das mesmas leis. Nisso o Brasil inventa os “arranjos”. Cada grupo trata de ser uma exceção a uma execrável igualdade universal. Como lidar com a igualdade, se o mundo é dividido, dizem os mais recalcitrantes.

A igualdade substitui o “sangue” e a família como dimensão de pertencimento. Será, pergunta-se, que o partido político ou a ideologia populista-revolucionária substitui o “sangue” e avaliza pertencimentos, vantagens, propinas e outros elementos diferenciadores que engendram desigualdade e, no limite, escancarada corrupção? Aparelhamento é uma nova forma de hierarquia?

A coisa seria institucionalizada e capitulada em lei, não fosse existir um controle dos governantes pelos governados, numa odiosa reversão republicana que a mídia estampa, anunciando como os códigos antigos não morrem por decreto. Eles vivem na estratosfera dos valores — das coisas não ditas mas sabidas.

No Brasil, a maior revolução foi o republicanismo, diz-me o professor Richard Moneygrand numa longa carta. Nela, Moneygrand assevera que um modesto igualitarismo burguês na zona do uso criterioso ou republicano dos recursos públicos seria suficiente para transformar radicalmente o Brasil. Para ele, a “nossa revolução” teria o defeito de ser somente “nossa”, e não de todos. Ela criaria em paralelo novos arranjos do velho “arranjei-me”, instituindo no poder um novo grupo com o direito de usar legalmente o “Você sabe com quem está falando?”, tal como ocorre hoje nos arranjos jurídicos do mensalão e do petrolão.

O conceito de “revolução” serve como um amuleto contra uma desigualdade gritante. No populismo todos ganham; no republicanismo igualitário, alguém perde. Não adianta teorizar que estamos lutando por dentro porque as grandes transformações exigem uma enorme parcela de participação. A revolução milenarista não nos exime do que estamos testemunhando: o assalto à sociedade e a pulverização do principio de realidade por meio do conchavo e da mendacidade.

No Brasil, a grande transformação seria o gerenciamento igualitário e honesto do Estado pelo governo. É preciso desapropriar o Estado do grupo eleito para, em sintonia, mudar a sociedade. Não se admite haver governos que arranjam e enriquecem os “revolucionários” da caneta e das propinas com contas no exterior e consultas-palestras milionárias no Brasil.

À ousadia dos trêfegos que são hoje “autoridades” e protagonistas sem nenhum senso de responsabilidade histórica, têm plena certeza na nossa patetice. Em nós, que pagamos a conta e ainda temos fé na honestidade como um axioma de qualquer sistema. Daí esse teatro de absurdos onde a mentira é legal e o legal é a mentira.

Você, leitor, vai arguir que existem vários condenados e presos. Eu apenas respondo que hoje o meu ideal é o de ser condenado a uma prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica e aposentadoria integral sem esquecer a grana que depositei numblind trust, como é o caso do ilustríssimo presidente da Câmara dos Deputados.

Comove-me, entretanto, descobrir que os envolvidos nas roubalheiras se preocuparam em arranjar e proteger seus familiares. A desejada vida de sócio de um estado infalível se realiza com as bênçãos de uma secular desfaçatez. Esse patrimônio nacional de direita e de esquerda. E quem — eis a questão — recusaria o arranjei-me?
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Roberto DaMatta é antropólogo

Choro N° 1 (Heitor Villa-Lobos) - Turibio Santos

João Cabral de Melo Neto: O sertanejo falando

A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.

Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Opinião do dia - Marco Antonio Villa

As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de confiança, Lula.
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Marco Antonio Villa é historiador. ‘A crise tem nome: Lula’. O Globo, 10 de novembro de 2015.

PF investiga ex-assessor da Casa Civil em propina para campanha de Dilma

• Doleiro afirmou ter entregue R$ 2 milhões em 2010 em hotel em São Paulo e principal suspeito da força-tarefa é Charles Capella de Abreu, que trabalhou com ex-ministro Antonio Palocci e permaneceu no governo federal até 2014

Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O pagamento de R$ 2 milhões feito pelo doleiro Alberto Youssef, em 2010, a pedido do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa é o caminho que a Operação Lava Jato trilha para chegar ao suposto uso de dinheiro de propina na campanha da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff. O pagamento envolveria um pedido do ex-ministro Antonio Palocci, que foi coordenador da campanha presidencial do PT naquele ano e um ex-assessor especial da Casa Civil Charles Capella de Abreu.

Youssef – peça central da Lava Jato – detalhou em novo depoimento prestado à Polícia Federal no dia 29 de outubro o pagamento que fez em dinheiro vivo no Hotel Blue Tree, na Avenida Faria Lima, em São Paulo, a um emissário que ele não sabe dizer quem era. A suspeita dos investigadores recai sobre Charles Capella de Abreu.

“Tal pessoa tinha a cor de pela branca, estatura média alta, sendo um pouco mais alto que ele, que tem 1 metro e 71 centímetros, compleição física normal, mas se tratando de pessoa obesa ou de barriga saliente”, descreveu o doleiro.

O suspeito recebeu Youssef em um quarto do hotel, conta o doleiro, que disse não se lembrar exatamente o mês, nem o dia, possivelmente “no período de junho a outubro de 2010″. “Os R$ 2 milhões determinados por Paulo Roberto Costa a tal pessoa foram entregues em uma ou duas malas pequenas, do tipo daqueles que se leva como bagagem de mão em vôos comerciais”, afirmou Youssef ao delegado Luciano Flores de Lima, da equipe da Lava Jato.

“Esclarece que pode ter sido uma mala pequena, com alça telescópica, e uma maleta, como costumava fazer para transportar essa quantidade de dois milhões de reais em notas de R$ 100,00, como foi no presente caso”, anotou a PF. O doleiro disse que costumava usar esse tipo de bagagem para “não chamar a atenção, pois encaixava a maleta na alça prolongada da mala, puxando-as enquanto caminhava”.

A PF mostrou uma foto Charles Capella de Abreu para Youssef para saber se poderia ser ele o emissário que recebeu o dinheiro da propina da Petrobrás. “Reconhece como sendo possível que a foto seja de tal pessoa referida acima, para a qual entregou os R$ 2 milhões em notas cuja maioria (cerca de 85%) eram em cédulas de R$ 100,00 por ordem de Paulo Roberto Costa”, registra o depoimento. Em termos de probabilidade percentual, Youssef disse acreditar que tenha “70% a 80% de certeza” se tratar da mesma pessoa.

Perguntado pelo delegado se conhecia Charles Capella de Abreu, Youssef respondeu que o nome não era estranho, mas não se lembrava se realmente o conhecia.

Acareação. O pagamento de R$ 2 milhões à campanha presidencial do PT em 2010 foi inicialmente apontado aos investigadores da PF, nas delações de Paulo Roberto Costa, o primeiro delator da Lava Jato, em agosto de 2014. O ex-diretor relatou ter recebido um pedido via Youssef, que teria falado no nome de Palocci. O doleiro negou ter sido ele o autor do pedido e revelou posteriormente que outro operador de propinas traria à tona tal demanda.

Seria Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, operador de propinas ligado ao PMDB. Ele também fez acordo de delação premiada com a Lava Jato e em depoimento no dia 15 de setembro revelou que aproximou Palocci de Costa.

Para isso, Fernando Baiano afirma ter se reunido com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que ele tentasse garantir a permanência de Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás caso a candidata Dilma fosse eleita. Costa temia ser demitido do cargo.

Bumlai respondeu que sim (poderia ajudar) e que faria o que fosse possível”, afirma Baiano. “Bumlai disse que a pessoa mais indicada para fazer a aproximação de Paulo Roberto Costa com o PT era Antonio Palocci, uma vez que era naquele momento o coordenador da campanha de Dilma Roussef e provavelmente seria o ministro da Casa Civil.”

Fernando Baiano conta que acompanhou posteriormente Costa no encontro com Palocci, em Brasília. O ex-ministro teria faladou que “haveria interesse por parte do PT” na continuidade dele na Diretoria de Abastecimento.

“Em seguida se passou a falar da campanha presidencial; que então Antonio Palocci falou que seria muito importante se Paulo Roberto Costa em sua relação com as empresas que eram prestadoras de serviços na Petrobrás conseguisse ajudar com doações para a campanha de Dilma Rousseff.”

Fernando Baiano afirma que o ex-diretor disse que poderia ajudar, mas não falou sobre valores nem como seria essa ajuda.

“No final da conversa, Antonio Palocci disse que havia uma pessoa que trabalhava com ele, possivelmente um assessor dele, que o estava ajudando nesta parte de arrecadação”, explicou Fernando Baiano. “Pelo que se recorda, o nome dessa pessoa era Charles.

Paulo Roberto Costa foi colocado frente-a-frente com Fernando Baiano na quinta-feira, 5, e negou que tivesse participado de reunião com ele e Palocci para tratar do assunto. O ex-diretor sustenta ter ouvido de Youssef o pedido de R$ 2 milhões para a campanha do PT a pedido do ex-ministro. Costa disse que autorizou o pagamento.

O pecuarista José Carlos Bumlai negou categoricamente envolvimento em qualquer ato ilícito.

Contra Dilma, caminhoneiro fecha estradas pelo país

No 1º dia de paralisação, caminhoneiros montam bloqueios em rodovias de 14 Estados

• Transportadores pedem redução no valor do óleo diesel, uma tabela de preços mínimos para o frete e a saída da presidente Dilma

José Maria Tomazela - O Estado de S. Paulo

Caminhoneiros fecharam nesta segunda-feira, 9, 43 pontos de rodovias em 14 Estados brasileiros contra o governo da presidente Dilma Rousseff. As manifestações, que têm como principal objetivo a renúncia da presidente, se concentraram em Estados importantes para a produção agrícola do País, como Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Santa Catarina – o que trouxe preocupação entre exportadores.

Representantes do grupo independente Comando Nacional do Transporte (CNT), responsável pela mobilização, garantem que tiveram novas adesões e o movimento continuará nos próximos dias. O objetivo é conseguir o apoio da população em geral para ir às ruas e fortalecer os protestos a favor da queda da presidente, diz Ivar Luiz Schmidt, líder do movimento.

“Diante do clima em que se encontra o País, com inflação elevada e aumentos consecutivos dos combustíveis e da energia elétrica, achamos por bem pedir a renúncia da presidente. Não acreditamos mais que ela seja capaz de conduzir o País para fora do abismo no qual se encontra”, diz o organizador do movimento.

No Palácio do Planalto, a greve e a pressão em cima da presidente ocorrem num momento em que o Congresso Nacional tinha dado uma “certa” trégua ao governo em relação ao impeachment. Para o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, o movimento visa desgastar politicamente o governo.

Segundo ele, nenhuma pauta de reivindicações foi encaminhada pelos organizadores. “Uma greve vem com questões econômicas, sociais e, geralmente, é propositiva, mesmo quando se trata de questões políticas. Eu nunca vi uma greve onde o único objetivo é gerar desgaste para o governo.”

Por outro lado há um receio por parte do governo de que o protesto dos caminhoneiros se mantenha de alguma forma até o final de semana e seja engrossado com a manifestação pró-impeachment marcada para domingo, dia 15 de novembro, feriado de Proclamação da República, em Brasília, e em outras cidades do País.

Ação. Os bloqueios atingiram importantes rodovias de ligação entre São Paulo e outras capitais – como a Dutra, acesso ao Rio de Janeiro, e a Fernão Dias, ligando São Paulo a Belo Horizonte. A mobilização chegou a prejudicar o trânsito na Marginal Tietê, principal via de escoamento de tráfego da capital paulista. Um comboio de caminhões seguiu para a Baixada Santista, mas até a tarde desta segunda-feira não tinham sido bloqueadas as operações no Porto de Santos. Foi realizado um protesto nas imediações do cais.

No Rio Grande do Sul, houve bloqueios em 13 rodovias, mas todas estavam liberadas à tarde, disse a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na madrugada, manifestantes queimaram pneus, mas não houve confronto com a polícia. No Paraná, seis rodovias federais e estaduais foram fechadas, uma delas com bloqueio total. Em Minas Gerais, houve seis bloqueios em vias federais, e na Bahia, quatro, um deles total. Goiás registrou quatro interdições parciais.

Em Mossoró (RN), base de Schmidt, a principal liderança do movimento, até um pixuleco – boneco gigante representando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com uniforme de presidiário – foi levado para a rodovia. Manifestantes queimaram pneus para fechar a BR-304, que permanecia interditada no final da tarde. Na BR-153, em Anápolis (GO), também houve queima de pneus. Na SC 486, próximo de Itajaí, o líder dos manifestantes Antônio Heil foi preso após atravessar o caminhão na pista e obstruir a passagem de outros veículos.

De acordo com a PRF, na maioria das vias houve bloqueio parcial, com a formação de filas de caminhões. À medida que veículos de carga chegavam, eram abordados e convidados à aderir à paralisação. Segundo o comando nacional da paralisação, só eram parados caminhões com carga secas. Veículos com leite a granel, ração para suínos, remédios, oxigênio para hospitais e transporte de lixo eram liberados.

Sem apoio. O presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, o China, disse que a entidade não apoia a mobilização do Comando Nacional. “Parar rodovias em meio à crise econômica não ajuda, só pode piorar. Respeito os movimentos sociais e as reivindicações, mas esse não é o momento oportuno para uma paralisação”, informou, através da assessoria.

Em nota, o Movimento Vem Pra Rua negou participação nos protestos. “O Movimento Vem Pra Rua apoia movimentos pacíficos, ordeiros, e que visem exclusivamente um Brasil melhor, livre de corrupção. Não apoiamos pautas específicas que não digam respeito aos nossos objetivos.” O Movimento Brasil Livre manifestou apoio pela rede social. /Colaboraram Aline Torres, Gabriela Lara, Renê Moreira, Wagner Machado, Júlio César Lima, Leonardo Augusto, Anna Ruth Dantas e Renée Pereira

Caminhoneiro que fechar estrada pagará multa de R$ 1.915, diz ministro da Justiça

• Cardozo afirmou que movimento não tem pauta de reivindicações e por isso maior parte dos caminhoneiros não aderiu à greve

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta segunda-feira, 9, que os caminhoneiros que interditarem as estradas serão multados em R$ 1.915,00. A categoria deflagrou greve para protestar contra o governo e pedir a saída da presidente Dilma Rousseff.

"Esse é um movimento com um viés claramente político", disse Cardozo. "Não tem pauta de reivindicações e isso fez com que a maior parte dos caminhoneiros do País não aderisse à manifestação".

Além de aplicar a multa de R$ 1.915,00, a Polícia Rodoviária Federal também foi orientada a desobstruir as estradas e garantir a segurança dos caminhoneiros que quiserem trabalhar.

A greve atingiu 14 Estados e, de acordo com balanço do governo, interditou totalmente cinco rodovias, provocando obstruções parciais em outras 22. "Foi um movimento pulverizado, sem apoio das entidades tradicionais de classe, o que tirou a intensidade da manifestação", argumentou Cardozo. O ministro participou, nesta segunda-feira, de uma videoconferência com a Polícia Rodoviária Federal para fazer um balanço da greve e transmitir as orientações do governo.

A paralisação causou preocupação no Palácio do Planalto por ressuscitar a onda de protestos num momento em que a presidente Dilma sofre ameaça de impeachment.

Governo ameaça multar caminhoneiros parados

• Polícia Rodoviária aplicará punição de R$ 1.900 por bloqueio em estradas

No primeiro dia de greve, houve interdições em 48 trechos de rodovias em 12 estados, inclusive na Via Dutra

Após um dia de bloqueios de 48 trechos de rodovias em 12 estados do país, o Ministério da Justiça determinou ontem à noite que a Polícia Rodoviária Federal multe em R$ 1.900 os motoristas de caminhões que impedirem a circulação nas estradas. A greve está sendo organizada via redes sociais pelo Comando Nacional de Transporte (CNT), mas não tem o apoio de outros sindicatos de caminhoneiros. Para o governo, a greve é política. Produtores de aves e suínos temem que a paralisação afete as exportações.

Freio para caminhoneiros

• Governo diz que multará motoristas por bloqueios. Greve chega a 12 estados

Danilo Fariello, Catarina Alencastro, Dicler Mello e Souza, João Sorima Neto, Fernando Donasci e Heloísa Traiano - O Globo

-BRASÍLIA, BARRA MANSA, SÃO PAULO e RIO- O governo federal atuou ontem para enfraquecer a greve de caminhoneiros convocada por um grupo que bloqueou 48 pontos de rodovias em 12 estados. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que os caminhoneiros que tentarem impedir o “direito de ir e vir” receberão multas de mais de R$ 1,9 mil. Para Cardozo, os líderes do movimento não têm uma reivindicação da categoria dos caminhoneiros, mas uma “pauta política”. Um reflexo disso é a falta de apoio à greve atual por outras entidades da categoria. A principal reivindicação dos grevistas é a renúncia da presidente Dilma Rousseff.

Segundo nota da Polícia Rodoviária Federal (PRF), às 19h de ontem, havia cinco rodovias federais totalmente interrompidas no país e 23 com interdição parcial. Outras 21 tinham manifestantes, mas sem prejuízo ao trânsito.

Cardozo destacou, em declaração em áudio distribuída pelo ministério, que o movimento é político, “sem nenhum viés de reivindicação para a categoria dos caminhoneiros”:

— Fechar uma estrada, paralisar uma estrada, é algo que efetivamente não se aceita num Estado de direito, numa democracia. Então, portanto, nós temos a absoluta clareza de que esse movimento, exatamente por essa característica política, tem tido uma baixa adesão por parte dos caminhoneiros em geral no Brasil. Ele é um movimento de baixa intensidade, mas muito pulverizado, até porque as entidades sindicais não têm apoiado esse movimento.

Mais cedo, o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, disse que a greve era pontual e tinha como único objetivo desgastar o governo. Segundo ele, o governo está aberto ao diálogo, mas também destacou que não há uma pauta de reivindicação.

Apesar da ameaça do ministro Cardozo de ser rigoroso com as multas, os caminhoneiros poderão contar no futuro com a boa vontade de alguns políticos. Em março, a Câmara dos Deputados aprovou a toque de caixa, com apenas dez dias de tramitação, projeto de lei que anistia os caminhoneiros de multas pelas manifestações de fevereiro. O texto ainda está parado no Senado e, portanto, não entrou em vigor.

No primeiro dia da mobilização organizada pelo Comando Nacional do Transporte (CNT), o movimento chegou a interditar totalmente o tráfego na Via Dutra, na altura de Barra Mansa, no Sul Fluminense. Os dois sentidos foram liberados por volta das 16h, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Durante o bloqueio, o grupo só permitia que caminhões com oxigênio, ambulâncias, veículos de passeio e ônibus passassem.

Para o carreteiro autônomo Carlos Antunes Oliveira, que aderiu à manifestação, a greve é para dizer “basta” à corrupção instalada no país, que, afirma ele, está derrubando as empresas.

Em São Paulo, os caminheiros ocuparam três faixas da pista expressa da Marginal Tietê, uma das principais vias da cidade. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o bloqueio criou congestionamento de cerca de 15 quilômetros na pista que leva às rodovias Dutra e Ayrton Senna. A via expressa só foi liberada às 14h. E, mesmo sem uma liderança definida, caminhoneiros reunidos em um posto da rodovia Anhanguera, em Jundiaí, defendiam a greve em protesto contra o governo e por melhores condições para a categoria.

— Sou assalariado e, se a firma mandar sair com o caminhão, eu saio. Se mandar fazer greve, eu faço. Só não passo em bloqueio. A greve é encabeçada por autônomos, e a coisa está feia para todos por causa desse governo — explicou Altair Bertocci, que não tinha aderido à greve.

Alex Sandro Barbim, por sua vez, listou motivos como a crise econômica para apoiar a greve:

— Mesmo trabalhando como assalariado, está muito ruim, porque sou comissionado, e as entregas diminuíram. Com isso, meu salário fica muito baixo, e não consigo pagar minhas contas. Sou a favor da greve pacífica, sem quebradeira. Pago R$ 17 na marmita na estrada, tem dias que é difícil até de comer.

Outros sindicatos de caminhoneiros criticaram os protestos. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) classificou como imoral “qualquer mobilização que se utiliza da boafé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país”. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), filiada à CUT, os caminhoneiros estão sendo usados em prol de interesses políticos. O líder do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nelio Botelho, disse que a força do primeiro dia de greve superou as expectativas da organização. No entanto, afirmou que a entidade não vai participar de eventuais protestos, assim como não atuou na paralisação do primeiro semestre.

Caminhoneiros se organizam pelas redes sociais e bloqueiam estradas em 14 Estados

Por Camilla Veras Mota, Luiz Henrique Mendes, Sérgio Ruck Bueno e Bruno Peres - Valor Econômico

SÃO PAULO, PORTO ALEGRE e BRASÍLIA - Grupos de caminhoneiros organizados pelas redes sociais e não alinhados a entidades representativas da categoria bloquearam ontem, total ou parcialmente, rodovias em 14 Estados. A principal demanda do movimento é a renúncia da presidente Dilma Rousseff, segundo Ivar Schmidt, fundador do Comando Nacional do Transporte, que convocou na semana passada as manifestações.

Ele afirma que as pautas específicas da categoria já foram entregues "há muito tempo" ao governo e que, diante do avanço tímido das demandas, o movimento pede a saída do atual governo do cargo. Catarinense radicado há 16 anos em Mossoró, no Rio Grande do Norte, Schmidt admite que as paralisações ocorridas foram, em parte, espontâneas, feitas sem comunicação às lideranças, e que não há ainda uma agenda de ações pré-definida para hoje.

Segundo balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), divulgado no início da noite de ontem, existiam ainda 24 pontos de interdição em estradas federais, sendo 22 delas com bloqueio parcial - com passagem para carros particulares, ônibus e ambulâncias. Essas manifestações atingiam oito Estados.

Em nota divulgada na noite de ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que não há possibilidade negociar em cima de uma pauta política. "Não podemos admitir que um movimento político, sem nenhum viés de reivindicação para a categoria dos caminhoneiros, mesmo com sua baixa densidade revelada no dia de hoje [ontem], possa trazer qualquer consequência ou dano a quem quer seja", disse.

Segundo Cardozo, a PRF está atuando em uma "ação rigorosa" para aplicar multas em caso de interdição de estradas e assegurar o direito de ir e vir daqueles que não participam do movimento. Também na avaliação do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, a paralisação tem viés político. "Infelizmente tem se caracterizado com uma aspiração única de desgaste político do governo", disse.

O Comando Nacional do Transporte foi fundado em dezembro do ano passado, a partir de um grupo de discussão de caminhoneiros no Facebook. Segundo Schmidt, nasceu da "indignação da categoria com seus representantes", mas não tem orientação política e nem pretende se tornar uma entidade sindical. "Os sindicatos poderiam fazer muito mais por nós", afirmou Schmidt, referindo-se, entre outras demandas, ao tabelamento do preço mínimo do frete - reivindicação que ficou de fora do acordo fechado em abril com o governo, após as manifestações realizadas no início do ano.

As principais entidades trabalhistas do setor se posicionaram contra a paralisação. A CNTTL, ligada à CUT, afirmou que o "grupo não representa os caminhoneiros e não tem compromisso com as reivindicações da categoria".

Para Diumar Bueno, presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), o movimento tem sido coordenado por um pequeno grupo de frotistas e atravessadores de carga. Eles teriam, segundo Bueno, aproveitado os anos de crédito farto e programas como o Procaminhoneiro, do BNDES para entrar no setor de frete. Agora, com a desaceleração da atividade, estariam com dificuldade para pagar financiamentos, ou sofrendo efeitos do encolhimento do mercado, diz o dirigente da CNTA.

Temendo os efeitos da greve, a ABPA, entidade que representa produtores e exportadores de carnes de frango e suína, criou um comitê de crise para adotar medidas contra os possíveis impactos da paralisação. O temor é que se repita o que ocorreu com a greve de fevereiro, quando o setor perdeu cerca de R$ 700 milhões. (Com Folhapress, de São Paulo e Brasília)

Filho de Lula consegue sigilo na Operação Zelotes

Por Letícia Casado - Valor Econômico

BRASÍLIA - O Tribunal Regional Federal da 1ª Região decretou na sexta-feira, 6 de novembro, sigilo sobre documentos e dados apreendidos na Operação Zelotes nas empresas de Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O mandado de busca e apreensão foi autorizado pela juíza federal Célia Ody Bernardes e cumprido em 26 de outubro. Ela também levantou o sigilo do processo e, assim, tornou pública a medida cautelar referente ao procedimento.

Na sexta-feira, a defesa de Luís Cláudio conseguiu liminar junto ao TRF-1, decretada pela desembargadora federal Neuza Alves, para que os documentos e os dados apreendidos na LFT Marketing Esportivo e na Touchdown, empresas do filho do ex-presidente, sejam acessíveis apenas pelas autoridades policiais e judiciais competentes, assim como pelo Ministério Público Federal. A medida cautelar que pede a busca e apreensão nas empresas de Luís Cláudio continua pública e pode ser consultada no site do TRF-1.

Na semana passada, Luís Cláudio prestou depoimento à Polícia Federal em Brasília. Acompanhado por quatro advogados, ele respondeu perguntas sobre pagamentos feitos às suas empresas pelo escritório de advocacia Marcondes e Mautoni e sobre sua trajetória e experiência profissional, entre outras questões, durante quatro horas, mas suas respostas não foram satisfatórias para os investigadores, segundo apurou oValor. Os repasses feitos pelo escritório colocaram o filho de Lula no radar da Zelotes.

A juíza Célia Bernardes, que estava responsável pelos processos da Zelotes enquanto o juiz titular, Vallisney Oliveira, cumpria convocação no Superior Tribunal de Justiça passa agora a ser a substituta da Zelotes nas próximas semanas.

O juiz substituto da 10ª Vara, Ricardo Leite, entrou em férias e vai emendar o período com o recesso do Judiciário. Ele só retorna à Vara em 2016. Até lá, uma eventual substituição do juiz titular do caso, Vallisney Oliveira, será feita por Célia.

OAB decide em dezembro sobre impeachment

• Comissão de advogados analisa se houve crime de responsabilidade

Carolina Brígido, Jéssica Moura e Isabel Braga - O Globo

-BRASÍLIA- A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) deve decidir em 2 de dezembro se apoiará ou não o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo o presidente da entidade, Marcus Vinicius Furtado Coelho, uma comissão de advogados, que está analisando o caso, apresentará em 29 de novembro um parecer. No dia 2, o Conselho Federal da OAB votará o parecer.

Coelho explicou que a OAB vai analisar se Dilma cometeu crime de responsabilidade em razão das irregularidades encontradas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nas contas do governo de 2014:

— Não compete à Ordem aprovar ou reprovar as contas. As contas estão, pelo parecer do TCU, reprovadas. O que precisa verificar é qual a consequência jurídica dessa reprovação. Implicará impeachment? Daí terá que ser enquadrado no artigo da Constituição da República que prevê a possibilidade de impeachment, quando tiver a hipótese de crime de responsabilidade — disse o presidente da OAB.

Na mesma reunião, o Conselho Federal da OAB vai definir se, no caso de apoio ao impeachment, será apresentado novo pedido, ou se a entidade assinará o pedido já em andamento na Câmara. O Conselho da Ordem tem 81 integrantes.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse ontem que não deverá decidir esta semana sobre os pedidos pendentes que deram entrada na Casa. Segundo a Secretaria Geral da Câmara, há 13 pedidos de impeachment pendentes de decisão, entre eles os dois apresentados pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior, que têm o apoio da oposição e de movimentos da sociedade.

— Eu havia dito que, antes de 15 de novembro, não faria. Não vou fazer esta semana. Já pedi para ver se tem outros pareceres (técnicos) prontos, amanhã (hoje) vão me dar posição — disse Cunha: — Tem uns cinco (pedidos) que entraram aí que eu nem li. Todo dia tem um pedido novo de impeachment aqui, uma fila grande.

Desde 2012, entraram 47 pedidos de impeachment contra Dilma. Destes, 33 foram apresentados na gestão de Cunha, que arquivou 20. Os pareceres jurídicos da Casa estão sendo finalizados. Eles serão levados a Cunha pela assessoria jurídica. As regras regimentais da Casa não estabelecem prazo para a análise desses pedidos. 

Levy sofre novo revés no ajuste fiscal

• Ministério da Fazenda foi surpreendido com a decisão do governo de reabrir pedidos de financiamento do PSI e reduzir cortes em R$ 3 bi

Irany Tereza, Adriana Fernandes, Álvaro Campos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sofreu mais um revés no ajuste fiscal. Terá de rever o corte de R$ 30,5 bilhões que havia determinado no mês passado para o limite das operações do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), administrado pelo BNDES. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, o BNDES vai reabrir o prazo para os protocolos de pedidos de financiamentos do programa depois de negociações com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O Ministério da Fazenda terá de devolver ao programa em torno de R$ 3 bilhões, reduzindo o corte para R$ 27,5 bilhões.

Na segunda-feira, 9, a equipe técnica da Fazenda foi surpreendida com o anúncio de que o governo voltaria atrás na decisão. Foi o presidente da Anfavea, Luiz Moan, que se antecipou e divulgou a decisão no fim da manhã, em São Paulo. Ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o presidente da Anfavea informou ter recebido, na sexta-feira, aval do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para tornar pública a medida.

Confirmação veio na sexta-feira, diz o presidente da Anfavea, Luiz MoanO PSI, programa do governo que financia investimentos com taxas de juros mais baratas do que as praticadas pelo mercado, tinha limite de liberação fixado em R$ 50 bilhões para 2015. Argumentando queda na demanda pelo programa, Levy propôs que o total fosse reduzido para R$ 19,5 bilhões, encerrando em 30 de outubro o prazo para recebimento de pedidos de financiamento. Agora, para manter o programa em operação, o BNDES depende de nova resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), que deve se reunir extraordinariamente até amanhã para modificar a decisão tomada no mês passado.

Voto vencido. “Recebi a confirmação (da mudança no corte) na sexta-feira em nome da presidente (Dilma Rousseff)”, disse Moan. Ele disse que a reabertura dos prazos tem o apoio dos três ministros que integram o CMN: Joaquim Levy (Fazenda); Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central). O fim do prazo para entrega dos protocolos de novos pedidos de financiamento causou grande preocupação nas empresas e levou, segundo ele, às negociações ao longo da semana passada.

O executivo disse que o novo prazo final será dia 27, mas a medida ainda não foi anunciada oficialmente pelo governo. Segundo Moan, quando houve o anúncio do fim do prazo em outubro houve corrida de pedidos de financiamento, provocando desestabilização das previsões do setor para este fim de ano.

Questionado se Levy apresentou resistências, Moan disse que, “sem dúvida” a mudança do prazo tinha apoio do ministro. No entanto, Levy foi voto vencido no governo.

O ministro retornou ontem do Rio de Janeiro a Brasília e foi direto ao Palácio do Planalto para uma reunião com a presidente Dilma e Jaques Wagner. A reunião não constava da agenda oficial de nenhum dos três e o tema não foi divulgado. OBroadcast apurou que a conversa girou em torno da medida envolvendo o BNDES. Levy relutava em alterar o corte determinado em 23 de outubro no programa de crédito subsidiado.

De volta ao Ministério da Fazenda, após a reunião com Dilma, cancelou toda a agenda – receberia o ministro da Defesa, Aldo Rabelo, à tarde e participaria, à noite no Planalto, da entrega da Ordem do Mérito Cultural, ao lado de Dilma.

Levy tem recebido pressões de auxiliares da presidente para tomar medidas para a retomada do crescimento, em especial para facilitar o crédito. Também tem sido alvo de especulação sobre sua saída do governo.

“Ao considerar a conjuntura atual do segmento, tenho certeza de que a decisão foi extremamente acertada e poderá dar uma injeção de confiança nos consumidores e investidores”, disse Moan durante abertura da 20ª edição da Fenatran – Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Carga. / Colaborou Igor Gadelha