Por Camilla Veras Mota, Luiz Henrique Mendes, Sérgio Ruck Bueno e Bruno Peres - Valor Econômico
SÃO PAULO, PORTO ALEGRE e BRASÍLIA - Grupos de caminhoneiros organizados pelas redes sociais e não alinhados a entidades representativas da categoria bloquearam ontem, total ou parcialmente, rodovias em 14 Estados. A principal demanda do movimento é a renúncia da presidente Dilma Rousseff, segundo Ivar Schmidt, fundador do Comando Nacional do Transporte, que convocou na semana passada as manifestações.
Ele afirma que as pautas específicas da categoria já foram entregues "há muito tempo" ao governo e que, diante do avanço tímido das demandas, o movimento pede a saída do atual governo do cargo. Catarinense radicado há 16 anos em Mossoró, no Rio Grande do Norte, Schmidt admite que as paralisações ocorridas foram, em parte, espontâneas, feitas sem comunicação às lideranças, e que não há ainda uma agenda de ações pré-definida para hoje.
Segundo balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), divulgado no início da noite de ontem, existiam ainda 24 pontos de interdição em estradas federais, sendo 22 delas com bloqueio parcial - com passagem para carros particulares, ônibus e ambulâncias. Essas manifestações atingiam oito Estados.
Em nota divulgada na noite de ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que não há possibilidade negociar em cima de uma pauta política. "Não podemos admitir que um movimento político, sem nenhum viés de reivindicação para a categoria dos caminhoneiros, mesmo com sua baixa densidade revelada no dia de hoje [ontem], possa trazer qualquer consequência ou dano a quem quer seja", disse.
Segundo Cardozo, a PRF está atuando em uma "ação rigorosa" para aplicar multas em caso de interdição de estradas e assegurar o direito de ir e vir daqueles que não participam do movimento. Também na avaliação do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, a paralisação tem viés político. "Infelizmente tem se caracterizado com uma aspiração única de desgaste político do governo", disse.
O Comando Nacional do Transporte foi fundado em dezembro do ano passado, a partir de um grupo de discussão de caminhoneiros no Facebook. Segundo Schmidt, nasceu da "indignação da categoria com seus representantes", mas não tem orientação política e nem pretende se tornar uma entidade sindical. "Os sindicatos poderiam fazer muito mais por nós", afirmou Schmidt, referindo-se, entre outras demandas, ao tabelamento do preço mínimo do frete - reivindicação que ficou de fora do acordo fechado em abril com o governo, após as manifestações realizadas no início do ano.
As principais entidades trabalhistas do setor se posicionaram contra a paralisação. A CNTTL, ligada à CUT, afirmou que o "grupo não representa os caminhoneiros e não tem compromisso com as reivindicações da categoria".
Para Diumar Bueno, presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), o movimento tem sido coordenado por um pequeno grupo de frotistas e atravessadores de carga. Eles teriam, segundo Bueno, aproveitado os anos de crédito farto e programas como o Procaminhoneiro, do BNDES para entrar no setor de frete. Agora, com a desaceleração da atividade, estariam com dificuldade para pagar financiamentos, ou sofrendo efeitos do encolhimento do mercado, diz o dirigente da CNTA.
Temendo os efeitos da greve, a ABPA, entidade que representa produtores e exportadores de carnes de frango e suína, criou um comitê de crise para adotar medidas contra os possíveis impactos da paralisação. O temor é que se repita o que ocorreu com a greve de fevereiro, quando o setor perdeu cerca de R$ 700 milhões. (Com Folhapress, de São Paulo e Brasília)
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