O Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu para ser do contra. Até 2002, a legenda fez de tudo para firmar-se no cenário político nacional como a mais aguerrida organização na luta contra qualquer iniciativa que não fosse de sua lavra. O PT ausentou-se da transição do regime militar para o governo de Tancredo Neves, votando nulo na eleição indireta; votou contra a Constituição de 1988 por considerá-la apenas “reformista” e “conservadora” em relação aos direitos sociais; votou contra o Plano Real e também contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, pilares do controle da inflação e do equilíbrio das contas públicas. Nesse período, os sindicatos petistas infernizaram a vida de todos os governos com manifestações e greves cujas reivindicações trabalhistas mal disfarçavam sua evidente natureza política.
Mas eis que o PT chegou ao poder e, passado o período de ilusória prosperidade experimentada durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que deu ao chefão petista e a seus companheiros a sensação de pairarem acima do bem e do mal, o partido começa a provar do próprio veneno.
Na segunda-feira passada, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, queixou-se de que uma greve de caminhoneiros iniciada naquele dia era contrária aos “interesses da sociedade brasileira” porque nada pretendia além de provocar o “desgaste político do governo”. Foi uma referência ao fato de que, sem apresentar reivindicações específicas, o grupo anunciou que sua única exigência era a renúncia da presidente Dilma Rousseff, já que ela descumpriu promessas feitas à categoria em março passado.
De forma didática, Edinho explicou: “Uma greve apresenta questões econômicas, sociais, geralmente é propositiva. Nunca vi uma greve cujo único objetivo é gerar desgaste ao governo. É uma greve que não busca melhorias da categoria, mas desgaste de governo”.
Nem seria preciso que o petista Edinho fizesse grande esforço de memória para lembrar que, há pouco mais de 20 anos, entre maio e junho de 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso enfrentou violenta e irresponsável greve dos petroleiros, comandados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do partido ao qual pertence o ministro. A paralisação foi julgada ilegal pela Justiça do Trabalho, porque em seu espírito ela nada reivindicava senão uma pauta puramente política, como a retirada de propostas que acabavam com o monopólio da Petrobrás e a revogação da lei que instituiu o programa de privatizações. Os petroleiros, secundados por outras categorias, ignoraram a decisão judicial e partiram para a desobediência civil, sofrendo, como consequência, os rigores da lei e uma firme resposta do governo.
Aquela greve histórica mostrou até que ponto os petistas estavam dispostos a ir para desgastar um governo ao qual se opunham de forma tão renhida. Mais tarde, logo no início do segundo mandato de FHC, o PT e a CUT voltariam a atormentar o presidente, deflagrando pedidos de impeachment e de renúncia. Esse era o padrão petista quando estava na oposição.
Agora no governo, o PT se queixa do radicalismo do qual o próprio partido se serviu à beça. Não que os caminhoneiros tenham razão em sua reivindicação. Muito ao contrário: ao exigirem a cabeça de Dilma, bloqueando estradas e prejudicando todo o País, esses manifestantes deixaram de ter qualquer legitimidade como representantes em negociações com o governo ou com quem quer que seja, pois sua reivindicação nada tem que ver com questões trabalhistas – e são apenas essas questões que garantem o direito dos trabalhadores à greve. Tudo o mais certamente é abusivo.
Pode-se dizer que esse momento de crise profunda, do qual se aproveitam forças extremistas – como o próprio PT um dia foi –, está sendo muito didático para o partido que agora tem sob sua responsabilidade a condução do País. Espera-se do governo firmeza para lidar com os irresponsáveis que, aproveitando-se da democracia, nada pretendem a não ser causar tumulto para impor suas causas radicais.
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