- Folha de S. Paulo
Sábado é dia de feijoada. Segunda-feira, de picadinho. Cada início de mês é temporada de fritura de Joaquim Levy. Teve torresmo de ministro da Fazenda no início de setembro, no início de outubro e, agora, em novembro. Levy vai comer rabanadas de festas de final de ano ainda ministro?
Levy não quer sair pelo menos antes de dar um rumo às contas do governo em 2016. Há gente no Planalto que frita o ministro, com apoio de lulistas em outros altos cargos, mas parte relevante do palácio diz que a queda do ministro é "conversa".
Sabe-se lá. Vários donos do dinheiro grosso, porta-vozes do "mercado" e mesmo os preços financeiros parecem já não ligar muito para o destino de Levy, a não ser que a queda represente uma "virada desenvolvimentista". Certos empresários industriais detestam Levy, mas isso é velho.
Enquanto o povo esfolado dá sinal de estupor, o povo do dinheiro passou a demonstrar indiferença provisória pela ruína das contas do governo e pelo fato de Levy estar emparedado em um beco sem saída. Em setembro, não foi assim. Havia tanto preocupação (de perder dinheiro) com a queda de Levy como pressões de gente graúda para segurar o ministro.
Agora, menos gente liga se Levy cai pelas tabelas, se o deficit sobe pelas paredes ou se o relator do Orçamento de 2016 sugere que a meta fiscal federal seja de 0,07% do PIB. O tamanho do fracasso da política econômica estaria por ora na medida, previsto e "precificado" desde a queda de setembro. Isto é, taxas de juros, de câmbio e outros preços financeiros estariam adequados à degradação já vista ou previsível.
Esta temporada de fritura de Levy nem tem muito de diferente. Trata-se ainda da mesma conversa de Lula tutelar ainda mais Dilma Rousseff e, mais absurda, de colocar na Fazenda alguém que cuidasse de fazer o país crescer logo, por meio de um relaxamento de crédito, para citar uma das tolices mais frequentes. Para tocar tal programa, seria necessário um nome amigo do "mercado". Não faz sentido, não é possível atender às duas condições, se fosse esse o caso. Tal nome, ainda por cima, seria o de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central nos anos Lula, que não queimaria seu filme com essas bobagens.
Meirelles poderia muito bem assumir o papel de Antonio Palocci como coadjuvante de Lula. O então ministro da Fazenda tocava o "ajuste" enquanto Lula divertia o povo dizendo que o "milagre do crescimento" estava para chegar. Mas Palocci e cia. não faziam mágicas.
Se a fofoca é verdade, Lula quereria Meirelles para o quê? Para reduzir Dilma Rousseff a um papel de vez figurativo. Para quê? Para "relançar" o governo e ter um ministro politicamente mais habilidoso. Para quê? Para fazer um grande ajuste dito "liberal"?
No Congresso, ontem, o governo corria o risco de perder em todas as votações que ainda podem render uns dinheiros para o governo. Por exemplo, a repatriação de dinheiro sujo ou uma regulamentação do setor elétrico que tiraria um empecilho ao leilão das hidrelétricas. Mesmo a desvinculação de receitas (menos gastos obrigatórios por lei, a DRU) ainda capengava, pois parte da oposição amolecia, outra endurecia. Não é por causa de Levy que tudo isso está encrencado.
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