terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Incra silencia sobre crime de líderes do MST

Letícia Lins
DEU EM O GLOBO

Integrantes do movimento mataram a tiros quatro seguranças de fazenda em Pernambuco

RECIFE. Quarenta e oito horas depois de dois líderes do MST terem matado a tiros quatro seguranças de uma fazenda em Pernambuco, a coordenação estadual do movimento pediu ontem ao governo do estado "garantia de vida" para as famílias acampadas ao lado das fazendas Jabuticaba e Consulta. O crime ocorreu no sábado à tarde, na Fazenda Consulta. Os dois líderes do MST - Aluciano Ferreira dos Santos, de 31 anos, e Pedro Alves, de 62 - acusados dos assassinatos estão presos e indiciados por homicídio qualificado. Um terceiro integrante do MST, que teria participado da chacina, ainda era procurado ontem pela polícia.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, informou, por meio de sua assessoria, que pedirá à Ouvidoria Agrária Nacional para acompanhar de perto o caso. O ministro não teria conseguido contato ontem com o ouvidor Gercino José da Silva Filho. Cassel disse também que quer aguardar o fim da investigação policial para ter mais clareza sobre as circunstâncias dos quatro assassinatos. O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, está de férias.

Até as 19h de ontem o governo de Pernambuco também não havia se pronunciado sobre o crime. O Incra no estado não se pronunciou sobre a questão das duas propriedades e o assassinato dos quatro seguranças da fazenda por líderes do MST.

MST passa o dia reunido e divulga nota

O MST pediu a presença de representantes da Ouvidoria Agrária na região através de uma nota distribuída no final da tarde, enviada com cópia à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A nota foi distribuída depois de um dia inteiro de reunião na sede da regional do MST, que fica no município de Caruaru, a 130 quilômetros de Recife.
O coordenador do MST Jaime Amorim havia informado, no dia anterior, que o superintendente do Incra em Pernambuco, Abelardo Siqueira, tinha sido chamado para o encontro. Mas Siqueira disse ontem que não recebeu qualquer convite e que amanhã visitará as áreas em conflito. O promotor agrário de Pernambuco, Edson Guerra, informou ontem que vai solicitar ao Incra a presença da Ouvidoria Nacional da autarquia no estado a fim de tentar uma solução para o conflito.

As duas propriedades ficam no município de São Joaquim do Monte, a 137 quilômetros de Recife. Elas são reivindicadas pelo MST, que acusa os proprietários de terem feito manobras nos cartórios locais para fracionar uma das fazendas. Com o suposto artifício - um tamanho mais reduzido - ela ficaria imprópria para a reforma agrária.

O MST acusa os fazendeiros de contratar seguranças para perseguir os sem-terra. "O senhor Estermilton Guedes, um dos herdeiros de uma (fazenda) delas, contrata milícia de pistoleiros para ameaçar as famílias e proteger a fazenda", acusaram os sem-terra na nota distribuída ontem.

Na nota, o MST faz um retrospecto do confronto que aconteceu no último sábado e afirma que o conflito nas duas fazendas ocorre desde 2000, quando a Consulta e a Jabuticaba foram ocupadas por sem-terra. Desde então, já foram feitos vários despejos por ordem judicial, o último deles na quinta-feira da semana passada. Segundo o MST, foram utilizados mais de 300 policiais militares, quando foi feita a reintegração de posse das duas propriedades.

"Sem resistência", segundo a nota, as famílias acamparam "ao lado das duas fazendas, como vêm fazendo nestes oito anos de luta pela desapropriação da área". O MST confirmou que o movimento voltou a se preparar para invadir as duas áreas.

Segundo o promotor, eles não aceitavam o fato de terem perdido suas lavouras por ocasião do despejo. Na mesma nota, o MST acusou o Incra de inoperância. "Mesmo classificando as propriedades como improdutivas, o Incra não conseguiu a desapropriação das áreas, pois houve manipulação dos registros dos imóveis no cartório, e a fazenda Consulta foi subdividida enquanto tramitava o processo de desapropriação". O MST disse que a situação ficou muito tensa em 2007, depois do cumprimento de mais uma reintegração de posse da Fazenda Jabuticaba, quando o proprietário "contratou capangas e máquinas agrícolas para destruir mais de 120 hectares de lavoura das famílias acampadas". Na nota, o MST não nega a autoria dos quatro assassinatos e os atribui a uma reação à investida dos "pistoleiros". Os donos das fazendas não se pronunciaram desde sábado.

O sistema bancário no limiar do colapso

Paul Krugman
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O camarada Greenspan deseja que nos apoderemos do alto comando econômico. Tudo bem, não é exatamente isso o que está acontecendo. O que Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (o BC americano) - e aguerrido defensor do livre mercado - disse foi: "Pode ser necessária a estatização temporária de alguns bancos para facilitar uma rápida e ordenada reestruturação do sistema". Eu concordo.

Os defensores da estatização levam em consideração três observações. Em primeiro lugar, alguns grandes bancos estão perigosamente perto do abismo - na verdade, já teriam falido se os investidores não esperassem um resgate governamental caso surgisse a necessidade. Em segundo, os bancos precisam de resgate. O colapso do Lehman Brothers quase destruiu o sistema financeiro mundial, e não podemos correr o risco de deixar que instituições muito maiores, como o Citigroup, implodam. Em terceiro lugar, embora os bancos precisem de resgate, o governo dos EUA não pode bancar, tanto fiscal quanto politicamente, a distribuição de imensos presentes entre os acionistas.

Sejamos concretos. Há uma chance considerável - não é uma certeza - de que o Citi e o Bank of America (BofA), juntos, percam centenas de bilhões de dólares nos próximos anos. E o capital deles, o excedente dos seus ativos em relação aos passivos, está muito aquém de poder cobrir essas perdas em potencial.

O único motivo pelo qual essas instituições ainda não faliram é a atuação do governo, que age como anteparo, garantindo implicitamente suas obrigações. Mas se trata de bancos zumbis, incapazes de proporcionar o crédito do qual a economia necessita.

Para pôr um fim a esse estado de morte em vida, os bancos precisam de mais capital. Mas esse não pode ser obtido com os investidores privados. Assim, o governo precisa fornecer os fundos necessários.

Mas é aí que está o problema: os fundos necessários para devolver esses bancos à vida excedem em muito o valor dos mesmos. Citi e BofA têm juntos um valor de mercado inferior a US$ 30 bilhões, e mesmo esse valor tem por base a esperança de que os acionistas recebam parte da oferta do governo. Se o governo vai entrar com todo o dinheiro, deveria ficar com a propriedade dos bancos. Ainda assim, a estatização é antiamericana? Não, é tão americana quanto a torta de maçã.

Ultimamente, a Sociedade Federal de Seguro de Depósito (FDIC, em inglês) assumiu o controle de bancos considerados insolventes num ritmo de dois por semana, aproximadamente. Quando a FDIC assume o controle de um banco, incorpora os ativos ruins, paga parte da sua dívida e revende a instituição limpa para investidores particulares. É exatamente isso que os defensores da estatização temporária querem que ocorra, não apenas com os pequenos bancos, mas também com os grandes.

A verdadeira pergunta é: por que a administração Obama insiste em fazer propostas que soam como alternativas à estatização, mas envolvem imensas distribuições de dinheiro para os acionistas dos bancos? Por exemplo, inicialmente, a administração surgiu com a ideia de oferecer aos bancos garantias contra as perdas relacionadas aos ativos problemáticos. Seria ótimo negócio para os acionistas, mas nem tanto para o resto de nós.

Agora a administração fala em "parceria público-privada" para comprar os ativos problemáticos, com o governo emprestando dinheiro aos investidores privados para tal propósito. Para os investidores, seria uma aposta vencedora. Novamente, eles ganham e nós perdemos.

Por que não simplesmente ir adiante e estatizar? Lembrem-se, quanto mais tempo convivermos com bancos zumbis, mais difícil será a recuperação da economia. Como se daria essa estatização? Tudo que a administração precisa fazer é levar a sério o seu próprio "teste de stress" projetado para os bancos, sem ocultar os resultados negativos quando um banco for reprovado no teste. É verdade que o processo teria certo aspecto teatral, evidenciado quando um governo que esteve sustentando bancos durante meses se declarasse chocado, absolutamente chocado com o estado miserável dos balanços patrimoniais. Mas tudo bem.

Vale repetir que o objetivo não é a propriedade do governo sobre os bancos a longo prazo: como no caso dos pequenos bancos adquiridos pela FDIC, os grandes seriam devolvidos ao controle particular assim que possível. O blog de finanças Calculated Risk sugere que, em vez de chamar o processo de estatização, deveríamos chamá-lo de "pré-privatização".

Segundo o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, a gestão Obama crê "que um sistema bancário nas mãos de investidores particulares seja a alternativa correta". Todos acreditamos no mesmo. Mas o que temos agora não é o empreendedorismo particular, e sim o socialismo limonada: os bancos ficam com os benefícios, mas os contribuintes assumem os riscos.

O que queremos é um sistema dentro do qual os bancos fiquem tanto com a parte boa quanto com a ruim. O caminho para chegar a esse sistema passa pela estatização.

*Paul Krugman é articulista

Ter ou não ter

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


O que que o Obama tem? Tem três pacotes, uma crise gigante e um rumo: quer usar os estímulos econômicos para sair da crise convertendo a economia americana a um outro padrão energético e de emissão de carbono. Aqui, o governo dá estímulos econômicos a esmo. Os usineiros podem ter bilhões do governo, mas sem qualquer contrapartida.

Os usineiros estão pedindo prorrogação de dívidas ao BNDES e ao Banco do Brasil e querem financiamento para estocagem. Segundo o jornal "Valor Econômico", isso pode chegar a R$6 bilhões. O governo estuda "discretamente", diz o jornal, como atender às concessões. Até agora não se falou o que se pedirá em troca aos usineiros.

Nos EUA, Barack Obama concede ajuda às montadoras e pede carros menores, que consumam menos combustível e que possam usar outras fontes de energia. Aos usineiros ninguém pensa em pedir, por exemplo, respeito às leis trabalhistas e ambientais. Foram muitos os casos recentes de flagrante de trabalho escravo ou degradante e de desmatamento em usinas de todo o país, até de grupos paulistas. Será que vão perdoar dívida e dar dinheiro do FAT para quem pratica trabalho escravo ou permite a morte de cortadores de cana por exaustão?

Aqui, como lá, o governo acredita que investimentos públicos vão criar emprego. Lá, o Obama quer que os investimentos reduzam a emissão de carbono e a dependência ao petróleo. Aqui, o que houve nos últimos tempos: os resultados dos leilões de energia elétrica confirmam a tendência cada vez maior de gerar energia com combustíveis fósseis e, o que é pior, 45% com óleo combustível, que, além de sujar a matriz elétrica, é sujeito à volatilidade de preços. Como resultado, 75% da energia acrescentada à matriz elétrica através dos leilões é térmica. Em 2005, foram contratados 244 MW de usinas a óleo combustível, passando para 532 MW, em média, em 2006, para 1.620 MW em 2007 e para 2.801 MW em 2008, segundo informações do CBIE.

O rumo aqui é transitar para uma economia de alta emissão de carbono, curiosa escolha quando entramos na era do combate às emissões de carbono por razões de sobrevivência do planeta. O plano decenal da Empresa de Pesquisa Energética prevê que entre 2008 e 2017 entrarão em operação 187 usinas, sendo 79 hidrelétricas e 108 termelétricas, gerando um total de 64 mil MW.

A única política de racionalização do uso de energia é o horário de verão. Ele sobrecarrega milhões de pessoas que trabalham muito cedo e economiza um volume irrisório de energia. Valeria a pena se fizesse parte de uma política maior de redução do desperdício.

- O horário de verão é o único programa de racionalização do consumo pelo lado da demanda. Não existe um plano de conservação de energia no Brasil. Aqui, tudo o que existe é pelo lado da oferta - diz o professor Adriano Pires, do CBIE.

Diante da crise, os Estados Unidos começaram a pensar cada vez mais em outras fontes de energia. No Brasil, parece só haver duas opções: hidrelétricas feitas a qualquer preço ambiental e fiscal e energia fóssil. Lá, Barack Obama não perde uma oportunidade para falar em energia solar, eólica, biocombustível de segunda geração. Alguém pode dizer que é porque nós temos o pré-sal e eles não. Eles têm petróleo. Na eleição, o debate foi entre a proposta republicana de explorar o petróleo do mar e do Alasca a qualquer custo ambiental, ou a proposta democrata de investir em várias fontes novas de energia, gerando emprego verde. A segunda proposta ganhou a eleição.

Termoelétricas a carvão e a óleo combustível, além de gases de efeito estufa, emitem material particulado altamente danoso à saúde. No Brasil não se faz análise real dos custos e benefícios dos tipos de energia. Aqui, não se reexamina os subsídios. O Proinfa trata as "outras energias renováveis" como residuais. É um tiro no pé porque, em breve, EUA e União Europeia terão legislação que obriga a calcular o teor de carbono dos produtos. No nosso caso, essa contabilidade tirará competitividade de produtos e os exporá a sobretaxas equivalentes a um imposto sobre o carbono.

Nem sabemos direito qual o potencial eólico do país, porque o governo e o setor elétrico não estão interessados em olhar. Pesquisas acadêmicas descobriram que ele é suficiente para suprir o país de toda a eletricidade que consome. Não só o Nordeste, mas Sul e Sudeste também têm potencial maior que o estimado. Isso sem falar em energia solar, que não exploramos, nem para esquentar água. Preferimos chuveiro elétrico, que no governo Lula tem incentivo fiscal.

Nos EUA, em 2008, a produção de energia eólica cresceu 30% e o país se tornou o maior produtor dessa energia do mundo, desbancando a Alemanha, onde essa fonte energética também tem crescido. Na semana que passou, o governo chinês disse que a crise não o fará abandonar seu programa de energia renovável. E a China, a Alemanha e os Estados Unidos não se beneficiam apenas com a energia limpa dos ventos e do sol. Exportam tecnologia e equipamentos. A China já é grande exportadora de turbinas eólicas e de filmes especiais para as placas fotovoltaicas. Melhor perguntar: o que o Brasil não tem? Visão ambiental no setor energético.

Rumo à estatização

Gilberto Scofield Jr.*
DEU EM O GLOBO

Governo Obama avalia assumir controle de bancos e Bolsa de NY cai a menor nível em 12 anos

As autoridades do sistema financeiro dos EUA anunciaram ontem que vão injetar US$300 bilhões em 350 instituições financeiras do país. Isso abre caminho para a estatização dos 20 maiores bancos americanos em dificuldades, ao permitir que o dinheiro público possa ser transformado em ações ordinárias, com direito a controle do capital e assento no conselho de administração, ainda que temporariamente. O dinheiro faz parte dos US$350 bilhões do pacote de ajuda ao sistema financeiro prometido pelo governo de George W. Bush, mas aprovado no Congresso para ser usado pela equipe de Barack Obama.

A notícia de que o governo americano poderá se tornar acionista majoritário dos bancos abalou os mercados financeiros. Os principais indicadores da Bolsa de Nova York, o Dow Jones e o S&P 500, fecharam com forte queda, recuando para o menor patamar desde maio de 1997, período da crise financeira asiática. O Dow caiu 3,4%, para 7.114 pontos, e o S&P 500, 3,5%, para 743 pontos. O índice das empresas de tecnologia Nasdaq recuou 3,71%, para 1.387 pontos.

Também pesou a informação divulgada pela rede CNBC de que a seguradora American International Group (AIG) pode ter que pedir falência se o governo não der mais recursos. Na Europa, Frankfurt caiu 1,95%, Londres, 0,99% e Paris, 0,82%.

Na contramão do resto do mercado, as ações de Citigroup e Bank of America (BofA) reagiram bem ao anúncio do pacote americano. Especialmente pela garantia de que o governo não deixará que as instituições quebrem. Os papéis do Citi fecharam em alta de 9,74% e os do BofA subiram 3,17%.

Enquanto economistas argumentam que estatizar bancos com problemas é a solução mais rápida para reativar o fluxo de crédito, muitos investidores temem que uma intervenção governamental traria um efeito negativo aos negócios.

- Se o governo disser que o banco precisa de mais capital, é altamente improvável que qualquer fonte privada se apresente, devido ao estigma (de uma instituição controlada pelo Estado) - disse Andrew Busch, analista do BMO Capital Markets, em Chicago.

Decisão de estatizar será negociada

Antes, o governo havia previsto apenas que o dinheiro público injetado nos bancos pudesse ser transformado em ações preferenciais, que pagariam juros mais elevados ao governo no futuro, quando essas instituições estivessem em melhor situação e pudessem recomprar seus papéis, remunerando-o pelo dinheiro recebido. Agora, as autoridades determinaram que estas ações preferenciais possam ser transformadas em ações ordinárias em casos mais complicados.

Apesar de abrir caminho para a estatização, as autoridades financeiras americanas destacaram que o processo de transformação de dinheiro em ações ordinárias nos bancos será uma decisão preferencialmente voluntária, tomada em consenso entre os executivos dos bancos e os representantes do governo caso a caso.

Mas há fortes razões para que alguns bancos, em situação de liquidez mais delicada, acabem optando pelo controle estatal. Segundo especialistas no mercado financeiro americano, as empresas que trocarem a injeção de recursos por ações ordinárias podem reduzir os dividendos distribuídos aos acionistas, controlar e diminuir de forma excepcional a bonificação de executivos, melhorar a avaliação da instituição junto ao mercado (com o governo de sócio, quem vai acreditar numa quebra?). Além disso, muitos investidores podem aproveitar a entrada do governo no capital para investir também, garantindo uma melhor remuneração para suas aplicações no setor bancário.

Nenhum banco foi citado nominalmente, mas a mídia americana passou os últimos dois dias dando como certo que o governo negocia uma maior participação no Citigroup. O "Wall Street Journal", por exemplo, disse que os contribuintes americanos podem acabar com 40% do banco, enquanto os executivos do grupo brigam para que a fatia do banco nas mãos do governo não passe de 25%.

Num comunicado conjunto, o Departamento do Tesouro, o Federal Reserve (banco central americano) e outras três agências reguladoras afirmaram que o chamado "teste de estresse" nos maiores bancos do país começa amanhã. Representantes de todas as agências reguladoras do sistema financeiro vão iniciar um estudo das carteiras de empréstimos e de investimentos de cada instituição para determinar o volume e a extensão dos créditos de difícil recebimento que podem colocar a instituição em risco de insolvência. Mas as autoridades trataram de evitar um pânico de correntistas e investidores ao garantir que nenhuma instituição vai quebrar:

"O governo dos EUA está lado a lado com o sistema bancário neste período de problemas financeiros, para assegurar que os bancos vão dar conta da sua principal função, que é dar crédito a famílias e negócios. Mais ainda, reiteramos a nossa determinação de preservar a viabilidade das instituições financeiras importantes, para que elas sejam capazes de cumprir os seus compromissos", diz o comunicado do Tesouro.

Em Nova York os ADRs (recibos de ações de empresas de fora dos EUA) das principais empresas brasileiras caíram. Os recibos da Petrobras, despencaram 6,22% e os da Vale, 11,76%, com a queda dos preços de matérias-primas.

Ontem o presidente Obama disse que recursos do pacote de estímulo econômico de US$787 bilhões devem ser enviados em dois dias para ajudar os estados do país a pagar o Medicaid (programa de assistência médica).

- Quarta-feira nossa administração começa a distribuir mais de US$15 bilhões em auxílio federal para ajudar vocês a cobrirem custos dos programas do Medicaid - afirmou Obama em reunião com governadores.

Ele disse que nomeará o vice-presidente, Joe Biden, para fiscalizar o plano de estímulo e nomeou o ex-agente secreto Earl Devaney para acompanhar o uso dos fundos.

Colaborou Felipe Frisch, com agências internacionais

O carnaval acaba hoje

Vejam os vídeos: link abaixo

http://www.youtube.com/watch?v=xL-47NmGGW8

http://www.youtube.com/watch?v=P4G38f2IWrs

http://www.youtube.com/watch?v=li4SgjHF3Ic

http://www.youtube.com/watch?v=SnDjD8kfwsU

http://www.youtube.com/watch?v=hTZlgZMaIL8

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1249&portal=

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sombras no avanço da esquerda

José de Souza Martins*
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO/ ALIÁS

Pouco mais de 36% dos venezuelanos decidiram, no referendo recente, pela totalidade do povo da Venezuela ao suprimir restrições à ilimitada reeleição dos governantes do país. A consulta foi feita para legitimar a pretensão de Chávez a um novo mandato, daqui a 4 anos. Grave é o fato de que a larga proporção dos que se abstiveram expressa apenas que os que preferem a alternância de poder não demonstraram ter condições de propor ao país uma alternativa consistente ao continuísmo de Chávez. A Venezuela é, hoje, um país governado em nome dos que se omitem.

Estaríamos em face de mais uma ditadura latino-americana não fossem as peculiaridades do que ocorre na Venezuela e se estende à Bolívia e ao Equador. A notícia que vem sendo difundida pela imprensa desde o ano passado, de que as novas constituições e as mudanças constitucionais nesses três países são obras de um professor espanhol de direito, da Universidade de Valência, Roberto Viciano Pastor, propõe que se reveja, com outros olhos, a dinâmica do que vem sendo chamado de nova esquerda na América Latina. O que ocorre na Venezuela é apenas a ponta de uma ampla transformação política em andamento na região.

Viciano Pastor, de farda negra, já estendeu o braço direito em saudação fascista ao ditador da Espanha, o falecido generalíssimo Franco. Vem da direita católica ultramontana, pertence hoje ao Partido Comunista Espanhol e faz parte de uma entidade que se dedica à gestação e assessoramento de mudanças constitucionais na América Latina. A mobilização política se dá em nome dos novos sujeitos da ação política. Não só os que foram marginalizados ao longo da história latino-americana pelo modelo de Estado e de partido político que é basicamente expressão do legado da Revolução Francesa, mas os que foram marginalizados e subestimados pela esquerda marxista, como os camponeses e os índios. Deprecia a democracia representativa e propõe a manifestação plebiscitária de um poder popular articulado em torno de um presidencialismo concentrador, forte e continuísta. A ideologia dessas orientações é antidemocrática e integrista, de um autoritarismo dissimulado na mecânica das reeleições e na mobilização dos pobres e desvalidos como novos sujeitos de referência, de direitos e de ação política.

Em boa parte, a possibilidade dessa cruzada de direita dissimulada de esquerda no discurso verbalmente radical, nacionalista ou regionalista e anti-imperialista, surgiu com o fim da Guerra Fria e seus efeitos devastadores para os partidos comunistas, sobretudo aqui, em que sempre foram fracos. A esquerda latino-americana em boa parte o era porque aprisionada na polarização do confronto Leste-Oeste, reduzindo todos os descontentamentos sociais, até de quem proletário não era, à visão de mundo do proletariado teórico de Marx. O fim da polarização ideológica internacional suprimiu as mediações políticas dos muitos e diferentes descontentamentos sociais deixando a massa dos insatisfeitos livres de enquadramentos políticos postiços, mas ao mesmo tempo à mercê de novas ideologias e de novos demagogos de algum modo identificados com os movimentos populares ou até deles oriundos.

Na era que se abriu com o fim da Guerra Fria, há duas grandes tendências ideológicas influentes no aparelhamento e no direcionamento dos descontentamentos sociais latino-americanos e não só a do grupo espanhol influente na Venezuela, no Equador e na Bolívia. Também originário da direita católica, há o amplo leque de influência ideológica e política dos seguidores do falecido Louis Althusser. Era ele um francês nascido na Argélia, que fora militante da juventude católica. Tornou-se comunista e promoveu uma releitura da obra de Marx que, justamente, a priva do seu princípio constitutivo, o princípio da contradição. Ela a reduz a um sistema de classificações conceituais que nega a práxis e sua historicidade social e politicamente transformadora nas sobredeterminações de instâncias com relativa autonomia, como a ideologia e a religião.

O pensamento althusseriano se difundiu na América Latina a partir da França e da esquerda francesa e se difundiu também no meio católico, especialmente entre teólogos, a partir da Bélgica, da Universidade de Louvain, uma universidade católica. Essa outra tendência foi formativamente influente no surgimento e ascensão do PT, no Brasil, na Nicarágua sandinista e, agora, no Paraguai. Não é casual que o MST no Brasil, que tem como referência teórica e doutrinária a obra de uma discípula de Althusser, atue como partido político e preconize as mesmas soluções políticas integristas viabilizadas pelo grupo espanhol para a Venezuela, o Equador e a Bolívia.

Essas reorientações teóricas e ideológicas, que nos vem, na verdade, da grande tradição do pensamento conservador, se complicam num cenário político em que as demandas sociais interpelam a sociedade legada pela dominação colonial e pela escravidão. São demandas de esquerda porque questionam as estruturas sociais injustas, as iniqüidades que se renovam, a economia que não gesta transformações nem viabiliza uma sociedade nova, de desigualdades sociais no mínimo atenuadas.

Mas as respostas oriundas desse neo-autoritarismo, que se materializa nos governos da nova esquerda latino-americana, tem sido, na verdade, respostas de direita. O integrismo que as norteia propõe uma refundação da sociedade e não sua transformação. Quando o MST fala em 500 anos de latifúndio, remete-nos para a negação da história já feita e realizada e não se revela capaz, como também ocorre com o PT e vem ocorrendo com os governos desses diferentes países, de propor um projeto histórico em que a mudança se dê pela superação das contradições que geram a pobreza e a injustiça. O discurso sobre os novos sujeitos não redistribui possibilidades de mudança e de esperança. Redistribui as injustiças pela troca de lugar social de suas vítimas e não pela superação das causas das iniqüidades sociais.

*José de Souza Martins, Sociólogo, Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, é autor de Retratos do Silêncio, Coleção "Artistas da USP", Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008; Sociologia da Fotografia e da Imagem (Editora Contexto, 2008); A Sociabilidade do Homem Simples (2ª edição revista e ampliada, Contexto, 2008); A Aparição do Demônio na Fábrica (Editora 34, 2008.

Gabeira e tucanos articulam chapa para 2010

Flávio Tabak
DEU EM O GLOBO


Reunião na casa de Marcello dá início a projeto: PSDB do Rio quer também formar palanque para Serra ou Aécio

Com um carnaval de antecedência, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) começa a se movimentar com o PSDB do Rio para a campanha de 2010. Os primeiros passos foram dados na manhã de ontem, durante reunião organizada na casa do ex-governador Marcello Alencar (PSDB) em Petrópolis, Região Serrana do Rio. Entres os pontos discutidos, pesou o quadro nacional, já que a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, mantém agenda de pré-campanha. Encontros entre Gabeira e os governadores tucanos de Minas Gerais, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, serão marcados.

Embora o deputado não tenha decidido se disputará o governo do estado ou uma vaga no Senado, a cúpula do PSDB fluminense está preocupada em formar, desde já, o palanque para o candidato tucano a presidente, independentemente de quem seja. Além de Gabeira e Marcello Alencar, participaram da reunião o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha, o deputado federal Otávio Leite, ambos do PSDB, e o ex-secretário de Ciência e Tecnologia Eloi Fernández.

Gabeira diz que a corrida política já começou, influenciada pelas ações de Dilma.

- Teve influência (a pré-campanha de Dilma). O processo foi iniciado, e, quando isso acontece, todos os atores têm que se mover. Concluímos que, como a nossa campanha será no estado, não há o que esperar. É preciso começar a estabelecer contato. Ficamos de conversar com os possíveis candidatos a presidente do nosso campo (Serra e Aécio). Não dá para esperar - contou o deputado, depois do encontro promovido por Marcello, que serviu mate e pasta árabe para os convidados.

Candidaturas abertas para atrair outras legendas

O PSDB fluminense quer Gabeira como candidato a governador, mas o deputado vai adiar a decisão para não atrapalhar a formação da futura chapa, que também conta com o PPS. Não há motivo, segundo o que foi discutido ontem, para antecipar disputa por cargos. Outras legendas, como o DEM, poderiam se afastar se achassem que as cartas já estariam marcadas.

- Não queremos apresentar um prato feito para os partidos. Foi apenas um pontapé inicial, um levantamento da situação. Não houve decisão. Temos que começar, a partir de quinta-feira, a examinar situações específicas no estado - contou Gabeira.

Além da reedição da chapa montada no segundo turno da eleição municipal de 2008 na capital, os tucanos ainda contam com os votos na Baixada Fluminense do prefeito e presidente estadual da legenda, José Camilo Zito. Já o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) mandou avisar na reunião de ontem: é um "soldado" da chapa e pode se candidatar a qualquer cargo para ajudar a coligação nacional.

- Não estamos inventado nada de novo, mas sim retomando a aliança que foi construída. Ela expressa a preocupação com uma nova forma de fazer política no estado - afirma o deputado Otávio Leite.

As cidades que terão maior atenção, inicialmente, são as da serra, como Nova Friburgo e Petrópolis, e algumas do Sul do estado: Volta Redonda, Resende e Barra Mansa. A ideia é articular com forças alternativas. Os tucanos também começaram a olhar mais de perto a administração do governador Sérgio Cabral (pré-candidato à reeleição pelo PMDB) para montar a futura plataforma de governo.

Serra também já se movimenta

Ricardo Galhardo
DEU EM O GLOBO

Aécio, por sua vez, intensificará agenda antes das prévias

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Oficialmente ninguém confirma, mas a movimentação do governador José Serra (PSDB) deixa evidente que o tucano já trabalha fortemente pela sua candidatura à Presidência em 2010. Serra tem viajado para outros estados, negociado alianças, fortalecido sua liderança sobre o PSDB paulista e adotado agendas nacionais, como forma de marcar sua posição e criticar o governo federal.

- É evidente que uma figura pública da estatura do Serra, governador de São Paulo, que pretende ser o candidato do PSDB à Presidência, está se movimentando. Mas são movimentos, não é campanha - diz o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal.

De acordo com assessores de Serra, a data limite para que o governador coloque seu bloco na rua é 3 de outubro, quando encerra o prazo de filiação partidária para as eleições de 2010. A partir de então, estará dirimida a incerteza sobre os próximos passos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, rival de Serra na disputa interna.

Enquanto isso, o governador se movimenta. Para estreitar seus laços com o PSDB paulista, ele tem dedicado as sextas-feiras a viagens pelo interior. A medida é necessária para manter a coesão do partido no estado mais importante do país, que ficou ameaçada depois das divergências entre Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin na eleição municipal. A nomeação de Alckmin para a Secretaria estadual de Desenvolvimento é vista como mais um lance de Serra para unificar o partido.

O apoio do governador ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) contra Alckmin na eleição municipal de 2008 foi outro lance com vistas a 2010. Com isso, Serra atraiu não só o DEM, mas também parte do PMDB ao deixar a vice-prefeitura com Alda Marco Antônio, do grupo do ex-governador Orestes Quércia.

Sempre que pode, Serra inclui temas nacionais em sua agenda, como o aquecimento global e a crise financeira mundial. E não perde oportunidades de fustigar o PT. Na semana passada, reclamou que os prefeitos petistas não dão publicidade às parcerias com o governo estadual. Isso levou o PT paulista a divulgar nota dizendo que Serra antecipa a campanha. A nota foi encarada como piada no Palácio dos Bandeirantes.

Com muita disposição para enfrentar o colega Serra nas prévias do PSDB, o mineiro Aécio Neves tem conversado com políticos de todos os partidos e já organiza uma agenda de viagens pelo país. Mas, cauteloso, não montou uma equipe, ainda que informal, para tratar de 2010.

Tem, porém, aliados empenhados em tornar realidade seu projeto. É o caso, por exemplo, do deputado federal Rodrigo de Castro, dirigente do PSDB de Minas. Até que as prévias saiam do papel e sua pré-campanha consiga ganhar corpo, Aécio propõe que ele e Serra iniciem, no próximo mês, um périplo pelas cinco regiões do país para discutirem as propostas do PSDB para o Brasil. Ele considera que, para neutralizar o avanço do adversário do PSDB, a ministra Dilma e o presidente Lula, os tucanos precisam agir, e rápido. E sustenta que as prévias não põem em risco a unidade do PSDB.

- O PSDB tem uma oportunidade extraordinária de se preparar para 2010 andando pelo país. As prévias representam uma oportunidade que não temos o direito de perder. Antes disso, porém, eu e Serra poderemos percorrer juntos o Brasil falando sobre nossos projetos para o país - diz Aécio.
Colaboraram: Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

E Lula engoliu a oposição...

Juan Arias
DEU EM O GLOBO (ontem)


A política brasileira produziu um fenômeno único na América Latina e talvez no mundo: o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua administração, que gozam de 84% de popularidade depois de seis anos de governo, engoliram a oposição. E não o fizeram com métodos antidemocráticos, mas sim apropriando-se de suas bandeiras.

Já se sabia que Lula é um gênio político, que soube vencer as reticências no núcleo do seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores. De fato, dispõe-se a eleger uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, como sua sucessora na candidatura à Presidência em 2010, apesar de ela nunca ter disputado eleições e não ser um personagem excessivamente grato ao PT. Mas o que ninguém jamais imaginou é que ele seria capaz de eliminar democraticamente a oposição. Tanto a de direita como a de esquerda.

Como conseguiu? Com uma política que, pouco a pouco, foi escavando o chão sob os pés dos seus opositores. Cortou as asas da direita mediante uma política macroeconômica neoliberal que está lhe proporcionando bons resultados nestes momentos de crise financeira mundial graças às reservas acumuladas.

Ao mesmo tempo, pôs rédea curta nas pretensões de alguns dos movimentos sociais mais radicais, como o dos Sem Terra (MST), cujas ações têm criticado tachando-as de ilegais e instando-os a respeitar a lei em vigor. E manteve uma política de meio ambiente das mais conservadoras, algo que agrada aos latifundiários e aos grandes exportadores, que formam o núcleo mais direitista do Congresso.

Também freou as esquerdas. Conseguiu fazer calar a esquerda minoritária com uma política voltada para os estratos mais pobres do país, o que fez com que seis milhões de famílias passassem às fileiras da classe média baixa, abandonando seu estado de miséria atávica. Abriu o crédito aos pobres, que agora, com pouco dinheiro, podem abrir uma conta no banco e ter um cartão de crédito - o que os converte em partícipes da roda da economia nacional.

Para a outra esquerda, a moderada, também tornou as coisas difíceis. Hoje em dia, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a agremiação oposicionista com maiores possibilidades de ganhar as próximas eleições porque conta com dois grandes candidatos (os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves), é mais difícil fazer oposição.

Os dois aspirantes do PSDB sabem que não poderão ser eleitos contra Lula. Por isso, só falam, como acaba de fazer Aécio Neves, de uma era "pós-Lula", com um projeto de nação que aporte algo novo ao projeto do presidente, que já goza do consenso da grande maioria do país.

Desde o primeiro dia de sua chegada ao poder, Lula tem mantido Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Conservou e ampliou o projeto social "Bolsa Escola", criado pelo PSDB, batizando-o como "Bolsa Família". Esse plano ajuda hoje 12 milhões de famílias e nenhum partido da oposição se atreveria a criticá-lo.

Desde seu primeiro mandato, Lula não só demonstra ter sabido congregar apoios de 12 partidos ao seu governo, como até o momento logrou manter amizade com os candidatos opositores Serra e Neves. Ambos, além disso, desfrutam de boas relações com o PT, e inclusive não descartam governar junto ao partido de Lula se chegarem ao poder.

Mas não há realmente espaço para a oposição no Brasil? Porque, se assim fosse, haveria quem considerasse isso um grave obstáculo para uma autêntica democracia. Poderia haver, segundo vários analistas políticos, como Merval Pereira, mas o problema está no fato de que a oposição se assustou com a popularidade de Lula. Há até políticos opositores, sobre tudo dos governos locais, que buscam uma foto junto a Lula para ganhar pontos com seu eleitorado.

Se a oposição desejasse, dizem os especialistas, poderia exigir de Lula que levasse a cabo as grandes reformas de que este país ainda necessita para decolar na cena mundial, como a reforma política (é possível governar com 30 partidos no Congresso?); a fiscal (Brasil é um dos países com maior carga tributária: roça os 40%); a de Segurança Social (Lula só a realizou em parte e, apesar de un escândalo de subornos a deputados para que votassem a favor, ficou pequena); a agrária (não saiu do papel); a da educação (no Brasil ainda não é obrigatório o ensino secundário e a qualidade deste é considerada como das piores no mundo); e, por último, a penitenciária (os suicídios dos presos aumentaram no ano passado em cerca de 40%).

Juan Arias é jornalista.© El País.

PSDB busca agenda para oposição a Lula

Christiane Samarco
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Grupo criado pela legenda para profissionalizar discussão alerta para uso político da Petrobras
Depois do aval do governador paulista José Serra às prévias reivindicadas pelo colega de Minas Gerais, Aécio Neves, a cúpula do PSDB concluiu que o maior desafio do partido hoje é organizar a oposição, e não a consulta interna para escolher o candidato a presidente em 2010. "O que nós precisamos é aprender a fazer oposição. Temos sido um fracasso neste quesito", confessa o presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE).

Preocupados com o prestígio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não para de crescer, e com o aumento da popularidade da candidata do PT ao Planalto, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), os tucanos avaliam que, para retomar o poder, será preciso dar foco e eficiência máxima à oposição. A estratégia, já em curso, é profissionalizar a atuação do tucanato a partir de uma agenda temática consistente e uma análise crítica de cada setor do governo, orientada por especialistas e por pesquisas de opinião.

Para formular a agenda oposicionista e municiar a tropa com a artilharia de argumentos que vão combater o PT e o governo Lula em vários fronts, sobretudo no Congresso, o deputado Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES) está coordenando a montagem de um grupo no Rio de Janeiro. Um dos primeiros itens da pauta da oposição será, dizem, " abrir a caixa preta da Petrobrás". "A maior estatal do País sempre foi impenetrável. Vamos cobrar transparência, saber se a empresa está eficiente, se está gastando demais e se a direção não está muito partidarizada", anuncia o presidente do partido.

Velloso Lucas chama a atenção para a questão de pessoal. Lembra que, no governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobrás tinha 45 mil funcionários concursados e cerca de 100 mil terceirizados. "Na era petista, já são 85 mil crachás verdes (concursados), e o número de terceirizados triplicou, chegando a 300 mil", afirma o deputado.

Segundo ele, a diferença maior é que no período FHC a produção de petróleo cresceu a uma média anual de 10% - e agora não passa de 3%.

GRUPO DO RIO

"É por estas e outras que, antes de tratar de prévias, temos que discutir o legado do governo Lula e o que o PSDB, vencendo eleições, terá de pegar pela frente", emenda o deputado Edson Aparecido (PSDB-SP). Aparecido também entende que o partido perdeu tempo demais com questões internas e que agora terá de tirar o atraso, não dando trégua ao PT. "O discurso e o programa de governo que levaremos ao palanque serão definidos muito em função do que a oposição fará daqui até as eleições do ano que vem", observa.

Para dar consistência ao debate político e criar as bases do programa de governo para 2011, o PSDB está mobilizando economistas, sociólogos e especialistas em diversas áreas, além dos parlamentares e dirigentes do partido. Instalar o QG no Rio de Janeiro tem serventia múltipla. Além de fincar pé no terceiro maior colégio eleitoral, que é tradicionalmente de oposição, o PSDB aproveita o fato de que os coordenadores dos dois grupos temáticos mais importantes são cariocas.

Depois do carnaval, um grupo de coordenação vai se reunir semanalmente, dando orientação aos grupos temáticos que irão aprofundar os principais temas. Não por acaso, o debate prioritário é o do desemprego.

A discussão sobre economia e conjuntura será comandada pelo ex-presidente do IBGE Sérgio Besserman Vianna, com a colaboração dos economistas Luiz Roberto Cunha e José Roberto Affonso, ex-superintendente do BNDES. O sociólogo Alberto Carlos de Almeida coordena as pesquisas.

SEM XINGAMENTOS

"Faremos uma oposição de mérito, sem xingamento e sem agressão. Não temos outro caminho que não a racionalidade", pondera Velloso Lucas.

"Temos que enfrentar não o mito, mas os fatos, a obra deste governo", diz. Ele está convencido de que a oposição tem que se organizar, mas não porque não tenha feito nada até aqui. "O problema é que estamos lidando com um fenômeno de popularidade, um presidente que se tornou um mito, e um adversário voraz e pragmático. O PT não tem limite para fazer alianças sem princípios, nem para aparelhar o Estado despudoradamente", acusa.

A avaliação geral é que a tarefa do tucanato é conduzir o debate eleitoral de olho no projeto futuro. "O eleitor não vota olhando para trás", analisa Edson Aparecido, para concluir: "Vamos ter que mostrar que somos melhores e precisamos dedicar tempo para construir o sonho que o partido vai apresentar como projeto de governo à sociedade, a partir de experiências exitosas como em São Paulo e Minas."

Presidenciáveis tucanos cortejam Zito no Rio

Alexandre Rodrigues
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Prefeito de Duque de Caxias diz que PSDB precisa de cheiro de povo

Diante da aliança cada vez mais forte do PT do presidente Lula com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), o PSDB busca um caminho para garantir um palanque forte para seu candidato à Presidência no terceiro maior colégio eleitoral do País em 2010. Na capital fluminense, a prioridade é reeditar a aliança com PPS e PV - que quase elegeu o verde Fernando Gabeira prefeito - para enfrentar a dobradinha de Cabral com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), ex-tucano recém-convertido ao lulismo. Mas a principal porta para o PSDB no Rio é o prefeito tucano de Duque de Caxias, José Camilo Zito, que tem sido cortejado pelos governadores Aécio Neves (Minas) e José Serra (São Paulo), presidenciáveis do partido.

Presidente do PSDB do Rio, Zito é um dos políticos mais populares da Baixada Fluminense, que concentra quase um quarto dos 11,2 milhões de eleitores do Estado. Com um perfil bem diferente do figurino tucano tradicional, ele tirou a prefeitura de Washington Reis (PMDB), que tentava a reeleição turbinado por Lula e Cabral, logo no primeiro turno. Comandante da única vitória expressiva do PSDB no Rio, Zito é o contraponto natural ao crescimento do PT na Baixada com a reeleição de Lindberg Farias em Nova Iguaçu, outro eleitor da ministra Dilma Rousseff. No entanto, magoado com a pouca atenção que recebeu do PSDB em 2008, o prefeito ameaça ficar de fora da eleição de 2010 e atrai a atenção de vários caciques.

No dia em que foi eleito contrariando as pesquisas, Zito recebeu os parabéns de Serra pelo telefone. Serra chegou a marcar uma visita a Caxias em janeiro, adiada na véspera. "Ele disse que ainda quer vir, que quer fazer uma aproximação entre Caxias e o governo de São Paulo. Mas acho que ele quer mesmo é falar da eleição dele, né?", especula Zito em entrevista Estado.

A maior parte dos tucanos do Rio é serrista, mas Zito parece mais próximo de Aécio. O mineiro largou na frente ao visitar Caxias ainda na reta final da campanha de 2008 e faz ligações frequentes para o prefeito.

Para Zito, o PSDB perde tempo na indefinição do candidato, mas ele mesmo não se define entre Serra e Aécio. "Darei minha opinião no momento certo." Em vez de criticar a campanha antecipada de Lula, segundo Zito, o PSDB deve aprender com ele: "Acho que o PSDB precisa de um cheiro de povo."

Um país previsível

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Passado o Carnaval, entrará em rápido processo de consolidação a tese da inevitabilidade das candidaturas de José Serra (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT).Faltam 19 meses para a eleição presidencial, mas esse cenário previsível parece cada vez mais imutável.

Desde o retorno à democracia, em 1985, a política brasileira tem sido incapaz de produzir grandes novidades positivas e longevas. O PT injetaria oxigênio no sistema. Virou um partido tradicional do establishment. Aliou-se ao Democratas (ex-PFL) na escolha dos presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney.

José Serra, 66 anos, e Dilma Rousseff, 61 anos, são dois candidatos respeitáveis para um país como o Brasil. Mas talvez não preencham a demanda completa dos eleitores.Para comprovar, bastaria uma pesquisa simples nos portões dos sambódromos do Rio e de São Paulo.

O pesquisador mostraria as fotos de Serra e de Dilma. Identificaria os retratos e indagaria:

"Você considera essas duas opções suficientes para a eleição presidencial ou gostaria de ter alternativas renovadoras, que dessem novo impulso ao país?".

A resposta seria óbvia, a favor de mais nomes na disputa. Mas esse mesmo eleitor certamente não fará nada para buscar um possível Obama brasileiro.

Há um trauma no Brasil por causa da última saída novidadeira. Em 1989, o jovem Collor foi eleito. Em 1992, sofreu impeachment.

Tudo somado, o Brasil se tornou um país convencional na política. Medroso, sem coragem de inovar. É um caminho de coerência histórica.

A Independência e a República foram concertações da elite e não fruto de grandes conflitos nem de amplo desejo da população.

Além do mais, há o Carnaval. Todas as transgressões são reservadas para esta semana. Depois, o brasileiro sabe se comportar e votar nos políticos de sempre.

QUANDO (Poema)

Graziela Melo

Quando
Murcha
Estiver
Minha alma,

Secos,

Os meus
Sentimentos

Mortas,


As minhas
Idéias...

Os danos
Da velhice
Invadirem
O meu corpo,


Desfigurando
O meu rosto

Anulando
Minha vaidade...

Ainda assim,
Restará


Uma poça
De afeto

Uma reserva
Oculta


De amor
E carinho

Um monte
De compaixão

E
Uma brechinha
Na alma

Para
Olhar
O outro!!!

Rio,22/02/2009 domingo de carnaval

Foco: Projeto que cria Museu da Imprensa Comunista abre conflito entre PPS e PCB

ANDRÉ ZAHAR
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A imprensa comunista ganhará um memorial na casa da Gamboa (zona portuária do Rio de Janeiro), onde em 1950 começou a funcionar a gráfica do PCB (Partido Comunista Brasileiro). O espaço será convertido pelo PPS -que surgiu a partir do antigo "Partidão"- no Museu da História da Imprensa Operária e Comunista.

A homenagem reativou a disputa do PPS com o "novo" PCB, registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e autointitulado herdeiro político do "velho" partido comunista fundado em 1922.

O PPS foi criado em 1992 no 10º Congresso do antigo PCB, quando 58% dos delegados presentes decidiram refundar a sigla, adotando uma nova denominação. Os delegados derrotados no encontro se reorganizaram e recriaram o PCB em 1996.

O prédio de 180 metros quadrados e dois andares, situado na rua Leôncio de Albuquerque, será restaurado para abrigar jornais, revistas e livros editados até o fim da ditadura militar (1964-1985).

O secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro, 62, procurou a direção do PPS para reivindicar que o PCB também administre o museu. "Não tem sentido o museu ser administrado por quem quis acabar com o PCB. Eles fizeram um ardil jurídico para transformar o PCB no PPS, mas não são os sucessores políticos do Partido Comunista."

Para aparar as arestas, os dirigentes do PPS Givaldo Siqueira, 74, e Francisco Almeida, 69, consentiram na participação de outros partidos de esquerda no conselho responsável pelo projeto. "Vamos botar PC do B, PDT e PT no conselho. Nós nunca trabalhamos com exclusivismo", afirmou Almeida.

Segundo Siqueira, o PPS tem financiamento de empresas interessadas em isenção fiscal, além de recursos do fundo partidário. A reforma será feita pelo arquiteto Cydno Silveira, que trabalhou com Oscar Niemeyer.

Cesar Maia

Para viabilizar a obra, o então prefeito Cesar Maia, que pertenceu ao PCB nos anos 60, encaminhou à Câmara Municipal um projeto de remissão de todas as dívidas com a Prefeitura do Rio e isenção tributária.

Os títulos editados pelo PCB incluíam os jornais "Novos Rumos", "Para todos", "Voz Operária" e "Emancipação". Siqueira cita que, nos anos 40 e 50, estes veículos tinham contribuições de nomes importantes como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado e Graciliano Ramos."A ditadura empastelou e interditou as gráficas. Os dirigentes foram processados e passamos a trabalhar na clandestinidade, em subterrâneos, até 1975. Depois, começamos a imprimir a "Voz Operária" em Paris", conta Siqueira.

O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, 74, trabalhou na "Imprensa Popular" em 1956 e 57. Ele recorda que, mesmo antes da ditadura, o irmão Raul Azêdo Neto, então revisor do jornal, participou de mobilizações nas oficinas para resistir às ameaças de invasão pelos adversários do PCB.

"Eles defendiam as oficinas contra ameaças externas, inclusive de armas na mão. Não houve nunca necessidade de reação a tiros, mas foi um período muito difícil, que exigia muita coragem e resistência", assinala.

Já é Carnaval

Vejam os vídeos dos sambas da Portela e Grande Rio

http://www.youtube.com/watch?v=h0bIqj8370I

http://www.youtube.com/watch?v=draFnRPXW2g

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1248&portal=

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O MST e suas aulinhas

Sérgio da Costa Franco
Historiador
DEU NO ZERO HORA (RS)

Está em pauta o assunto das aulinhas itinerantes que o Estado custeia para os filhos dos combatentes do MST. E escrevemos “combatentes”, porque esse movimento nada tem a ver com a pacífica reivindicação de terras agricultáveis, pois se converteu em agressiva milícia, que interrompe estradas, ocupa repartições públicas, invade e depreda fazendas produtivas. Seus integrantes podem ter sido, nos primeiros tempos, lavradores sem terra, ansiosos por obter uma gleba própria, onde fixar-se e trabalhar na agricultura.

Hoje não passam, em sua maioria, de aventureiros recrutados na periferia das cidades, sob a liderança de revolucionários encapuzados, que lhes prometem benesses de terra doada e de vida fácil. A maior parte deles não têm a menor experiência de trabalho agrícola, de que são prova os numerosos assentamentos improdutivos, que apenas sobrevivem pelo auxílio governamental, pela distribuição de cestas básicas e dos benefícios sociais do bolsa-família e assemelhados.

Dias atrás, respondendo a uma crítica deste gênero, houve um funcionário do Incra que argumentasse com o suposto sucesso de colonização da Fazenda Annoni, após 40 anos de sua implantação. Quase nos sentimos inclinados a intervir no debate para comparar o caso da Annoni com episódios antigos da implantação de autênticas e vitoriosas colônias: Erechim, com assentamento iniciado em 1910, já se tornava município emancipado e próspero em 1918; Santa Rosa, iniciada em 1914, alcançava a emancipação em 1927. Para não lembrar os casos mais remotos de São Leopoldo, Santa Cruz, Caxias, Garibaldi e Bento Gonçalves. A diferença básica é que os “sem-terra” daqueles idos tempos trabalhavam no eito, lavravam o solo, erguiam suas próprias casas. Os de hoje, acampados em barracas de lona, próprias para os rápidos deslocamentos, ocupam-se de escutar sermões e discursos inflamados, em repetir refrões e palavras de ordem. Armados de foices e facões, que apenas servem para enfrentamentos com a polícia. Além de, obviamente, receberem os auxílios governamentais que a demagogia consolidou e perenizou.

Os colonos do passado não esperavam que governos lhes dessem aulas e professores. Eles mesmos, logo que puderam, contrataram seus mestres-escola. E não era muito difícil fazê-lo porque não eram itinerantes, nem viviam cuidando de invasões sucessivas, aqui e ali, em outro propósito se não as pressões políticas.

Em tese, proporcionar escola e ensino aos filhos desses aventureiros seria gesto de humanidade e dever da administração pública. Mas, obviamente, dentro dos esquemas de rede oficial, com professores selecionados em concurso, fiscalizados e supervisionados na forma do regulamento.

Entretanto, o MST conseguira o privilégio de selecionar os próprios professores e administrá-los, como se fosse uma autarquia estatal, e receber dos cofres do Estado, por uma interposta organização, o respectivo pagamento. O resultado é que o Estado estava subvencionando a difusão de doutrinas revolucionárias, um subproduto fossilizado do maoísmo e do stalinismo. Em providência oportuna e meritória, o Ministério Público Estadual interferiu no assunto, para que os alunos dessas fantásticas aulinhas itinerantes sejam absorvidos pela rede escolar oficial, como é direito elementar de todas as crianças. Mesmo os nômades, como os ciganos, cuidam de deixar nas cidades alguns habitantes fixos, que cuidem de matricular e manter seus filhos em aulas regulares.

Mas, ao que parece, o MST não está interessado em educar para a civilidade e a democracia.

Egídio: O PMDB acabou

Sérgio Montenegro Filho
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ex-deputado fundador do antigo MDB diz que partido perdeu a função a partir da redemocratização, e hoje serve apenas para abrigar interesses pessoais

As polêmicas críticas do senador Jarbas Vasconcelos ao PMDB – feitas em entrevista à revista Veja da semana passada – encontraram eco em um dos seus principais “mentores”, o ex-deputado federal Egídio Ferreira Lima. Ele elogia a “coragem” do primo, que na entrevista classificou o partido como “corrupto”. E vai direto ao ponto, ao afirmar que o PMDB “acabou”. O que existe hoje, na sua avaliação, é apenas uma sigla utilizada para “abrigar interesses pessoais, obter mandatos, cargos e benesses do governo”.

Fundador e um dos primeiros deputados estaduais eleitos pelo antigo MDB, em 1968, Egídio foi cassado um ano depois pelo AI-5. Na eleição seguinte (1970), seus votos – a grande maioria, de opinião – ajudaram a eleger o primo. Jarbas, inclusive, começou a carreira de direito como estagiário no escritório de advocacia de Egídio. Ali, também teve os primeiros contatos com a militância política de resistência à ditadura.

O ex-deputado constituinte lembra que o AI-5 foi outorgado pelo general-presidente Costa e Silva no dia da formatura de Jarbas, em 13 de dezembro de 1968. “Naquela época, ele juntou-se a nós no MDB, que não era um partido, mas uma frente criada para dar combate ao regime militar”, diz. “A partir da redemocratização, em 1985, o então PMDB perdeu seu objetivo de existir, e transformou-se no que está aí hoje”, analisa, reiterando os ataques do aliado. Ao contrário de Jarbas, Egídio desfiliou-se do PMDB em 1988, para ajudar a fundar o PSDB, criado basicamente por ex-peemedebistas descontentes com os rumos da antiga legenda.

Egídio Ferreira Lima conta que telefonou para Jarbas na segunda-feira passada, um dia após a divulgação da entrevista. “Ele me disse que meditou, que pensou muito antes de falar à revista, mas que tinha que fazer o que fez. Eu respondi que as declarações eram fortes, sérias, mas corretas, e que exigiriam muita responsabilidade, e que ele tinha essa responsabilidade”, avalia.

Tais acusações, na opinião de Egídio, não deverão, porém, gerar maiores represálias contra Jarbas, vindas dos atuais dirigentes peemedebistas. “Em 15 dias tudo isso terá desaparecido”, aposta. Não acredita sequer em reações da parte do presidente do Senado, José Sarney (AP), e do líder do partido na Casa, Renan Calheiros (AL), os principais atingidos pelos ataques.

“Eu vejo o PMDB como Jarbas vê. Renan e José são exatamente o que Jarbas descreveu: figuras danosas ao campo político, e ele não disse nenhuma inverdade. São acusações irrespondíveis.

Tanto é que os atingidos silenciaram”, reforça.

Segundo o ex-deputado, a atuação de Renan Calheiros é clara desde o escândalo que o envolveu quando presidia o Senado e foi denunciado por aceitar que um lobista pagasse a pensão de um filho seu fora do casamento. “Quanto a Sarney, há muito tempo eu disse que ele não tinha condições para fazer a transição democrática, porque ele tinha um passado do qual não conseguiria se livrar. Mas ele é um político sinuoso e não vai entrar num embate direto”, acrescenta.

Embora não creia em maiores represálias ao aliado por conta das críticas, Egídio, no entanto, concorda que Jarbas continuará enfrentando um isolamento muito duro no partido, no qual se posiciona como oposição ao governo Lula, contrariando a ampla maioria dos peemedebistas. “Ele só poderá sair do PMDB depois que for aprovada uma reforma política que permita a criação de uma nova legenda, para abrigá-lo”, analisa, reiterando as declarações do próprio senador à Veja.

“Mas se Jarbas conseguiu atuar de acordo com sua consciência no MDB dentro do regime autoritário, por que não iria conseguir atuar agora, no PMDB, em um regime democrático? Com o temperamento combativo dele, ele atuará bem, mesmo isolado”, aposta. “Como político sério, era obrigação de Jarbas fazer as denúncias que fez. Foi uma espécie de advertência ao partido e à sociedade, visando a eleição de 2010, e foi correto”, conclui.

Jarbas e o PMDB

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

“O desafio é encontrar uma governabilidade ‘pós-PMDB’, que permita que o governo que elegeremos em 2010 se liberte do modelo que aprisionou os dois”

Na famosa entrevista da semana passada, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) tratou às claras de questões sobre as quais os profissionais da política falam sempre e muito, ainda que em particular. No governo, no Congresso, na imprensa, entre os que vivem o dia-a-dia da política, suas declarações pouco tiveram, portanto, de reveladoras. Se houve alguma surpresa, foi de que alguém com sua biografia viesse a público dizer o que disse.

As críticas a seu partido, a suas lideranças e ao modo como atuam são conhecidas faz tempo. Nos últimos anos, não houve um só grande escândalo em que o PMDB e muitos de seus principais personagens não estivessem envolvidos, ora mais, ora menos. Em alguns, com destaque, no papel de protagonistas.

Assim, para quem tem o hábito (ou a obrigação) de acompanhar o noticiário político, Jarbas não falou nada de novo. Ao contrário, por exemplo, de Pedro Collor, quando deu suas bombásticas declarações contra o irmão. Mesmo que aqui e ali já se ouvissem comentários sobre Paulo César Farias, o que ele disse ultrapassava, em muito, qualquer especulação.

Embora fosse pequena a novidade na substância das denúncias do senador, três aspectos delas merecem consideração. Nenhum, no entanto, que diminua sua importância ou significado, como tentaram fazer os defensores da tese de que sua única motivação foi a necessidade de “desabafar”.

O primeiro é o timing da entrevista. Se o senador, homem experiente que é, tivesse que procurar hora melhor, dificilmente a encontraria. Estamos, desde outubro do ano passado, vivendo a ressaca da competente estratégia de comunicação que o PMDB adotou, com o consentimento de boa parte de nossa grande imprensa. Segundo ela, o partido teria crescido ao ponto de se tornar a “noiva cobiçada” da política brasileira, sendo disputado por todos os postulantes ao cargo de Lula em 2010.

Não existe qualquer razão para sustentá-la, pois não temos, em nossa história política recente, nenhum precedente que justifique considerar que a votação agregada dos candidatos a prefeito de um partido revele sua capacidade de angariar votos para o candidato de outro em uma eleição presidencial. Mas a tese ficou.

Quando ainda estávamos sob seu efeito, vieram as eleições de Sarney e Temer para as presidências do Senado e da Câmara, que consolidaram ainda mais a imagem da força do PMDB. Com as declarações de Jarbas, parte dela ruiu. Pelo menos, se enfraqueceu: o “gigante” tem pés de barro (ou será de lama?).

O segundo é seu alcance. Há quem tenha se perguntado se as coisas que Jarbas disse do PMDB só se aplicam ao partido ou se são a regra geral. Ou seja, não seria mais justo com o PMDB dizer que ele é, apenas, igual aos outros?

Enquanto político de trajetória sempre peemedebista, o que se deveria esperar do senador? O mais natural é que se restringisse ao partido que mais bem conhece e a respeito do qual tem mais informações. Quem achar que outros também merecem críticas que as façam.

O terceiro é uma questão de foco. Na entrevista, o senador só discutiu as relações do PMDB com o governo Lula, aproveitando para revelar sua decepção com o presidente. Isso, porém, não justifica a opção de nada falar sobre algo que é muito mais geral que um problema dos seis últimos anos.

No governo FHC, o PMDB exercia um papel muito semelhante ao de hoje e era recompensado de maneira quase idêntica. Em alguns casos, ocupando os mesmos lugares na Esplanada, em outros, os substituindo por equivalentes.

Será que Jarbas não sabia disso naquela época? Será que ele não tinha entendido por que seus colegas preferiam ministérios como o dos Transportes? Teria ele se esquecido que Renan foi ministro da Justiça? E Ney Suassuna da Integração Nacional?

Ao limitar a discussão sobre o PMDB ao atual governo, Jarbas não ajuda na tarefa mais importante que temos pela frente. Fernando Henrique e Lula (daqui a pouco) são história. O desafio é encontrar uma governabilidade “pós-PMDB”, que permita que o governo que elegeremos em 2010 se liberte do modelo que aprisionou os dois.

Jarbas conta tudo

CARTA AO LEITOR
DEU NA REVISTA VEJA

É enorme o peso que tem em um processo judicial o depoimento de uma testemunha ocular. Esse tipo de relato, quando dado de boa-fé e sem inconsistências, é decisivo na formação do veredicto.
Na política, os testemunhos de personagens com intimidade com os fatos que revelam são igualmente poderosos. O processo que culminou com o impeachment do presidente da República Fernando Collor, em 1992, começou com um desses depoimentos, a espantosa entrevista que seu irmão concedeu a VEJA em maio daquele ano e que foi estampada na capa com a chamada "Pedro Collor conta tudo". A Carta ao Leitor daquela edição tinha o título "Depoimento que não se pode ignorar". Não foi. Dezenove semanas depois das revelações do irmão a VEJA, Collor deixava a Presidência. As Páginas Amarelas desta semana trazem um conjunto de revelações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos ao repórter Otávio Cabral, 37 anos, quatro dos quais na sucursal de Brasília. Elas constituem um depoimento que também não se pode ignorar.

Com 43 anos de política dedicados primeiro ao antigo MDB e depois ao PMDB, duas vezes governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos relata com a eloquência das testemunhas oculares que seu partido, hoje detentor das presidências do Senado e da Câmara, é uma agremiação que se move apenas por "manipulação de licitações, contratações dirigidas e corrupção em geral". A entrevista de Jarbas Vasconcelos a VEJA não deixa muitas opções a seus colegas de partido e, por consequência, ao Congresso: processam o senador por falta de decoro parlamentar, imolam-se em praça pública ou vestem a carapuça e começam a mudar seu comportamento. O Brasil precisa acompanhar muito de perto o desenrolar do depoimento do senador a VEJA. Ele tem tudo para ser o motor de um profundo e histórico processo de limpeza da vida pública brasileira.

A sujeira pré-eleitoral

Gaudêncio Torquato
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


"Não basta ganhar uma eleição, é preciso ganhá-la limpamente." Esta observação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto, a propósito da cassação do mandato de Cássio Cunha Lima, governador da Paraíba, levanta poeira no momento em que a velha questão do uso da máquina do Estado e abuso do poder econômico e político reingressa ao centro do debate nacional. O fato novo a merecer consideração daquela Corte diz respeito à antecipação de campanhas eleitorais, objeto de representação feita pelo DEM, que apontou "viés eleitoreiro" no encontro de 3.500 prefeitos com o presidente Lula e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Se o TSE tem efetivamente intenção de limpar os entulhos que entopem as vias eleitorais, não pode deixar de enxergar a obviedade que bate às suas portas: a campanha de 2010 já está em curso.

Paralelo ao julgamento de outros sete governadores ameaçados de perder o mandato por envolvimento em situações assemelhadas à de Cunha Lima, os magistrados obrigam-se a pôr ordem no ciclo pré-eleitoral antecipado pelo açodamento de alguns atores, a começar pelo presidente da República. Vale lembrar que manobras de hoje terão consequência amanhã, comprometendo o conceito de vitória limpa, de que fala o ministro Britto. A pergunta que abre o debate é: quando começa uma pré-campanha? Pela legislação, em princípios de junho, quando têm início as convenções partidárias. A rigor, a partir do momento em que um partido fecha posição em torno de um nome e passa a massificá-lo, instala-se a pré-campanha. Ocorre que a campanha de 2010 já está no palanque. Esta hipótese é corroborada quando o nome escolhido ganha apoios informais de lideranças partidárias, adquirindo condição praticamente irreversível com o patrocínio do mandatário-mor da Nação. Dilma Rousseff rebate que age como pré-candidata do PT, mas é desmentida pelos fatos.

Risível é a explicação de que sua locomoção pelo País para fiscalizar obras do PAC não se impregna de interesse eleitoreiro. É óbvio que o périplo pretende fixar as estacas da viabilidade eleitoral. A favor da ministra há o fato de que sua situação não pode ser analisada isoladamente.

Encaixa-se na moldura de gestores públicos que se candidatam a cargos proporcionais e majoritários. No seu caso há um diferencial: o cargo em disputa é o mais importante da Nação e ganha relevo com a chancela do líder de massas, o presidente Lula. Esse fato lhe confere exposição extraordinária na mídia e inigualável poder de pressão e negociação. A propósito, é oportuno frisar que detentores de funções públicas agregam melhores condições e recursos para alcançar êxito em incursões eleitorais. A razão? O uso da máquina administrativa. Basta verificar as taxas de sucesso de candidatos lotados nos Poderes Executivos de Estados e municípios.

Desde a aprovação da Emenda Constitucional 16, em 1997, houve seis disputas para chefe do Poder Executivo, três em nível federal e estadual (1998, 2002 e 2006) e três na esfera municipal (2000, 2004 e 2008). As margens de reeleição nos três pleitos foram, respectivamente, de 66,6%, 71,4% e 73,7%, enquanto as taxas de prefeitos reeleitos foram de 69,5%, 72,7% e 67%. Essas margens demonstram que a máquina pública é fator primordial de eficácia eleitoral.



Pode-se alegar que gestores desaprovados pelo eleitorado não ganham o passaporte de continuidade. É verdade, mas nem sempre a reeleição decorre de feitos positivos de presidentes, governadores e prefeitos. Não raro as vitórias se devem a programas demagógicos e projetos circunstanciais que, projetados nas curvas do futuro, ocasionarão mais malefícios que bem-estar social. Como lembra Alexis de Tocqueville, em lição deixada no século 19, "muitas vezes o anseio imediato de um corpo social não corresponde às aspirações de longo prazo da sociedade".


O aparato populista de um Hugo Chávez, por exemplo, abre-lhe as portas do futuro. Mas os índices sociais na Venezuela, sob seu comando, pioraram nos últimos anos.

Imaginemos, agora, a locomotiva chamada Programa de Aceleração do Crescimento, que o marketing reduz para PAC, estabelecendo estreita relação com o nome Dilma, a ponto de fazer o corpo de um respirar na alma do outro e vice-versa. A locomotiva começa a puxar um gigantesco trem, que circunda montanhas e vales, centros e arredores, despejando na paisagem frutos variados de rica floresta: escolas, hospitais, estradas, adutoras, saneamento, energia, telecomunicações, etc. As massas com acesso a essa gama de produtos, que ganharão camada adicional de cosmética dos pintores do Estado-espetáculo, só terão a agradecer ao piloto da locomotiva por tanta generosidade. Pois bem, esse trem de generosidades será o maior eleitor de Dilma. Por extensão, fica patente que condutores de locomotivas menores - candidatos a governos de Estados ou de prefeituras - também ganham reforço em seus pleitos eleitorais, suplantando postulantes que não têm portfólio de obras para exibir.

Dito isto, repõe-se a questão inicial: o que o TSE pode fazer para evitar o uso da máquina pública e a antecipação de campanha eleitoral? Definir limites entre função administrativa e função eleitoreira. Os espaços entre ambos se imbricam, mas é possível distinguir palanque eleitoral de canteiro de obras. Não dá para enganar. Reunir um mar de prefeitos em Brasília para anunciar um pacote de bondades é espetáculo político. Os alcaides poderiam economizar dinheiro e receber a comunicação em seus municípios. É impensável censurar falas de servidores por ocasião de eventos públicos. Mas há um código de condutas vedadas aos agentes, entre elas o culto ao personalismo e o uso de estruturas e serviços custeados pelo poder estatal.

Infelizmente, a Comissão de Ética Pública, órgão responsável por esse instrumental, não faz bem seu trabalho. Por isso a decisão é do TSE, onde o presidente Ayres Britto dispõe de sabão e água para fazer uma boa limpeza no tecido pré-eleitoral.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político

Samba de uma nota

Nas Entrelinhas: Daniel Pereira
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Dilma é como seu filho dileto, o Programa de Aceleração do Crescimento. Por enquanto, ela não passa de um projeto, de uma obra em construção, em termos eleitorais

Um ar de euforia tomou conta do Palácio do Planalto nas duas últimas semanas. E, apesar dos efeitos nefastos da crise econômica, como as demissões em massa, reforçou o tom otimista do discurso governista. O motivo é suposto fortalecimento da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Para auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma ganhou musculatura e se consolidou no páreo da sucessão. Depois de subir nos trilhos da disputa, estaria em marcha firme rumo a 2010.

“A oposição acusou o golpe e está patinando”, diz um dos ministros mais influentes do governo, citando os recursos de PSDB e DEM ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nos quais acusam Dilma de campanha eleitoral antecipada. “Eles estão dando uma mídia gratuita para a ministra. Temos de erguer as mãos para o céu e agradecer pela oposição que enfrentamos”, reforça o ministro. Para ele, esses erros estratégicos dos adversários, somados à aprovação popular recorde do governo e ao fato de a oposição estar sem discurso, já credenciariam Dilma como favorita na corrida sucessória.

Nem Pangloss, o célebre otimista do clássico Candido, de Voltaire, seria capaz de desenhar um cenário tão róseo. Ou irreal. Enquanto os tucanos têm dois pré-candidatos consolidados, os governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais), Dilma é como seu filho dileto, o Programa de Aceleração do Crescimento. Por enquanto, ela não passa de um projeto, de uma obra em construção, em termos eleitorais. E, tal qual o PAC, não renderá dividendos nas urnas se não sair do papel até outubro do próximo ano.

E os russos?

Não será fácil para Dilma se viabilizar como candidata. Os obstáculos à sua frente tornam ridícula a quantidade de entraves que a ministra superou, por exemplo, para realizar as licitações de sete lotes de rodovias federais e das hidrelétricas do Rio Madeira, usadas como prova de sua capacidade gerencial. Uma das barreiras no horizonte é a falta de apoio dos partidos políticos. A “mãe do PAC” continua como a preferida de Lula. Mas só dele e, de uns seis meses para cá, do PT, devidamente enquadrado pelo presidente.

Aliadas de Lula, legendas de esquerda, como PSB, PDT e PCdoB, não estão fechadas com Dilma.
Pior: afastam-se dela, ao menos na retórica, em reação à prioridade dispensada ao PMDB como parceiro eleitoral. PSB e PDT têm, inclusive, pré-candidatos, o deputado Ciro Gomes (CE) e o senador Cristovam Buarque (DF), respectivamente. “Ela precisa estreitar laços com os petistas e os demais partidos. Precisa conversar mais, exercitar a boa política, interagir com os políticos”, diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Sem isso, ressalta, será uma candidata sem tropa. Ou sem palanque.

Oposição a Lula até 2006, os deputados peemedebistas agora estão de corpo e alma no governo. Mas mantêm, como os senadores da legenda, um pé na canoa de Dilma e outro na barca de Serra, além de flertarem com Aécio. “Ela almoça e janta todo dia. Podia se liberar de vez em quando da agenda do Planalto e receber líderes partidários. Precisa aprender um linguajar mais ameno, mais agradável. Ela ainda é muito dura”, afirma Alves. “Preparo técnico e consistência ela tem. Falta a forma”, arremata o deputado.

O próprio Lula reconhece outra fragilidade da auxiliar. A “mãe do PAC”, a “gerente da máquina”, a “capitã do time”, a mais respeitada ministra, é uma ilustre desconhecida. Em viagens recentes para inaugurar e anunciar obras do PAC, Dilma foi testemunha in loco disso. Depois de festejada nos palanques pelo presidente, foi chamada de “Nilma”, “Vilma” e assemelhados pela plateia. Além disso, não houve quem ousasse mencionar seu sobrenome. É por isso que o Planalto planeja uma extensa lista de aparições públicas para a ministra em 2009. Aposta na superexposição a fim de lhe garantir pelo menos 20% das intenções de voto na virada do ano. Se isso não ocorrer, há o risco de debandada geral da pré-candidatura.

Segundo pesquisa CNT/Sensus, Dilma tem 13,5%, contra 41% de Serra. Enquanto parte dos governistas quer “esticar” o tempo para ter mais chance de reduzir essa desvantagem, outros se mostram preocupados com a distância das eleições. Receiam que a ministra não consiga resistir a mais de um ano de tiroteio pesado da oposição. “Se já estamos tendo esse tipo de problema agora...”, afirma um ministro, referindo-se aos recursos ao TSE. Em café com jornalistas em dezembro, Lula disse que Dilma não é candidata e sequer teria tratado do assunto com ela. Já a ministra declarou recentemente que “nem amarrada” responderia se sonha ser presidente. A resposta era mesmo desnecessária.

No Planalto, a trilha sonora que embala a agenda nestes dias de carnaval é um consagrado samba da Mocidade Independente de Padre Miguel, segundo o qual “sonhar não custa nada, e o meu sonho é tão real”.

Blocos na rua para 2010

Maiá Menezes e Flávio Tabak
DEU EM O GLOBO (ONTEM
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Garotinho e Lindberg se aproximam para conter Cabral, que convida Lula para desfile

Seja nos camarotes da Sapucaí, na folia de Salvador, nos blocos do Rio ou em encontros fora do circuito carnavalesco, o enredo dos políticos é um só: 2010. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agrega amanhã o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB, em uma incursão histórica ao Sambódromo, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), que passa o carnaval fora do Rio, cria, para o ano que vem, um bloco anti-Cabral. O prefeito e o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), adversários ferrenhos, conversaram há duas semanas. Garotinho poderia ainda sair candidato ao Senado, embora não seja sua principal opção.

Os dois se aproximaram e agora mantêm conversas que o governador não gostaria de ouvir nem como letra de samba. Lindberg resiste a aceitar a opção ventilada por Cabral: desistir de concorrer ao governo para disputar o Senado. Como resultado, o ex-líder estudantil passará a festa longe da Sapucaí: preferiu investir na agenda pré-carnavalesca distribuindo, em blocos de rua, máscaras da pré-candidata a presidente preferida de Lula, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Garotinho quer voltar ao cenário

O ex-governador, presidente estadual do PMDB, não esconde seu desejo de voltar ao Palácio Guanabara. Mas o partido, o principal da base de Lula no Congresso, ainda tenta convencê-lo a disputar a vaga de deputado federal para o fortalecimento da bancada. Garotinho não descarta se filiar a outra legenda. Já recebeu convites do PTB e PSC.

- Os dois (Lindberg e Garotinho) têm conversado muito sobre o quadro da sucessão. Eles desejam disputar e constataram que o Cabral trabalha para eliminar as duas candidaturas - conta a vereadora e filha do ex-governador, Clarissa Garotinho (PMDB).

O assunto já está na pauta de Lula. Cabral, segundo seu vice, Luiz Fernando Pezão, já avisou ao presidente e à ministra Dilma Rousseff que sairá candidato à reeleição.

- Lula é amigo especial do Cabral. Foi um dos primeiros a se engajar na campanha da Dilma - afirmou o vice-governador.

Correndo por fora, o carnaval do bloco "Tucano-verde" subirá a Região Serrana do estado. Fernando Gabeira (PV) vai almoçar amanhã em Petrópolis, na casa do ex-governador Marcello Alencar, com o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), a fim de traçar os caminhos para 2010 em pleno domingo de folia. A chapa deve incluir ainda o PPS, segundo o vereador Paulo Pinheiro (PPS), e o DEM, de acordo com o deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ).

O ex-prefeito Cesar Maia (DEM), para quem a discussão sobre 2010 é ainda "prematura", pode concorrer ao Senado ou a uma vaga de deputado. Além disso, caso o governador de Minas, Aécio Neves, ou o de São Paulo, José Serra, ambos do PSDB, vençam o páreo na eleição presidencial, está cotado para assumir um ministério. Com a temperatura mais amena da serra fluminense e longe da festa do ex-companheiro Lula, Gabeira ainda não confirma que disputará o governo, mas dá uma dica.

- Vamos conversar sobre a situação do Rio. Existe uma tendência de pelo menos os três partidos estarem juntos. O quarto seria o DEM, mas ainda depende de conversa. A possibilidade maior que é eu dispute um cargo majoritário (governo ou Senado). Vamos percorrer o estado depois do carnaval - afirma o deputado federal do PV.

Tucanos disputam palanque de Gabeira

Para os tucanos, Serra ou Aécio terão no Rio, com Gabeira, palanque à altura da força política de Cabral. Cesar Maia sustenta que o "desenlace" da disputa interna no PSDB vai produzir um "efeito arraste" nos partidos aliados - consolidando o bloco contra Dilma nos estados.

- Em todos os estados deve-se esperar o desenlace do PSDB, pois a candidatura presidencial produz um efeito arraste - disse Cesar.

No bloco do "Eu-sozinho, mas nem tanto", estão o deputado estadual Wagner Montes (PDT) e Denise Frossard (PPS), que disputou o segundo turno com Cabral em 2006. Ambos podem concorrer ao governo do estado. Wagner, que teve um bom desempenho nas pesquisas pré-eleitorais da eleição para prefeito do ano passado, sugere uma candidatura ao Palácio Guanabara, embora não a confirme. Pelo menos, seu bloco já tem nome.

- Qualquer jogador de futebol sonha chegar à seleção brasileira. Já o sonho de cada político é chegar ao governo do seu estado. O nome do meu bloco de carnaval é "Cheiro do povo". Não uso perfume francês. Acho que não se combate violência só com caveirão (carro blindado da PM do Rio). Temos que valorizar os profissionais de segurança investindo em educação e saúde - afirma o deputado, numa prévia de sua plataforma.

Embora não pule o carnaval na Sapucaí, o senador Marcelo Crivella (PRB), aliado incondicional de Lula, é outro nome para 2010. O mais provável é que concorra ao Senado, mas o governo do estado está descartado. O senador disse não estar pensando no assunto, mas lembrou Denise:

- Acho que é cedo para discutir 2010, sobretudo com os efeitos da crise financeira. A hora é de trabalhar pelo Rio. As coisas ainda estão no nível da especulação. Não podemos esquecer o nome da deputada Denise Frossard, e creio que o PDT, como da vez passada, também terá candidato.

Também para o Senado, forças do PMDB planejam lançar o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, numa dobradinha com o pastor e deputado federal Manoel Ferreira (PTB). Mas nomes como secretário da Casa Civil do estado, Regis Fichtner, também estão no páreo.

O desemprego é paulista

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Quase todo o desemprego de janeiro veio da Grande SP; Estado também pesa mais na redução do emprego formal

QUASE TODO o aumento do número de pessoas desocupadas em janeiro veio da Grande São Paulo. Trata-se dos dados do IBGE, divulgados na sexta-feira, que cobrem apenas as regiões metropolitanas paulista, de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio e Porto Alegre.

Em relação a janeiro de 2008, apenas São Paulo e Rio registraram aumento no número de desocupados. Foram 104 mil paulistas a mais em busca de emprego, e 15 mil cariocas. Mas a taxa de desemprego paulista foi a 9,4%; no Rio, a 6,6%. Entre as regiões metropolitanas pesquisadas, o desemprego em São Paulo só não é maior do que em Salvador.

Nos números do emprego registrado em carteira, os do Caged, o Estado de São Paulo não faz melhor figura. No Estado vivem cerca de 33%, um terço, dos empregados pela CLT. Mas, desde outubro, São Paulo contribuiu com mais de 40% da redução do número de empregos registrados em carteira (798 mil, no total), segundo dados do Ministério do Trabalho, que cobrem todo o país.

O salto da taxa de desemprego também foi maior na região metropolitana de São Paulo (segundo dados do IBGE). Na virada de dezembro para janeiro, a taxa de desemprego no Brasil costuma aumentar, todos os anos. Em pontos percentuais, essa alta típica da desocupação foi, neste ano em São Paulo, quatro vezes aquela registrada na virada de dezembro para janeiro de 2008. Apenas em Recife se viu tal incremento, mas o dado não é tão significativo como o de São Paulo.

Nos números do IBGE sobre emprego não aparecerão os 4.200 demitidos da Embraer, a maioria deles moradora de São José dos Campos e arredores. Nem os demitidos da indústria da cana e associadas, todas no interior do Estado. Ou da construção civil e do comércio do rico interior paulista (note-se, de passagem, que o IBGE não tem uma pesquisa nacional de emprego porque não dispõe de recursos para fazê-lo). Mas, a julgar pelos números do Caged, do Ministério do Trabalho, já em janeiro o interior de São Paulo passou a demitir mais empregados com registro em carteira do que a região metropolitana, tanto em números absolutos como relativos.O peso da indústria de transformação na economia do Estado deve explicar boa parte do drama paulista. As montadoras, a indústria de peças, as metalúrgicas, a indústria de máquinas estão demitindo pessoas com salários bem maiores que os da média nacional e mesmo paulista, arrastando empregos no comércio e, daqui a pouco, nos serviços.

São Paulo sofreu, de modo adiantado, o impacto que as crises costumam ter no emprego, efeito que em geral leva alguns meses para se manifestar. A catastrófica queda na indústria no final de 2008, coisa rara de ver até na volátil economia brasileira, produz em São Paulo uma prévia desafortunada da recessão.

O desemprego realimenta a crise. Deprime o ânimo dos empregados-consumidores, obviamente evapora o consumo dos demitidos, rebaixa o salário dos novos contratados, inibe a empresa que pretendia investir, provoca mais inadimplência e, assim, afeta o crédito. Para recorrer à metáfora clichê, a gripe forte de dezembro começa a virar pneumonia. A hipótese de que o PIB não cresça nada em 2009 ficou mais verossímil.

Interrupção da dinâmica virtuosa

Yoshiaki Nakano
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Com juros tão altos e cenário externo adverso, manter a dinâmica virtuosa se torna um impossibilidade

SEGUNDO os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho, foram fechados, no mês passado, 102 mil postos de trabalho. Trata-se do pior resultado para janeiro desde 1996. Em dezembro último, já havíamos atingido um recorde de demissões, com o fechamento de 655 mil postos de trabalho. Interrompe-se, assim, a dinâmica virtuosa que havia sido conseguida nos últimos cinco anos, de continua expansão da economia com geração de empregos. Nessa dinâmica virtuosa, a geração de empregos formais era acompanhada de aumento de produção e da produtividade, o que permitia o aumento do salário real dos trabalhadores sem pressionar os preços, gerando aumento na demanda agregada e nos investimentos produtivos, o que garantia um crescimento sustentado.

Um círculo virtuoso.
Agora interrompido o circulo virtuoso, podemos entrar num círculo vicioso: o aumento do desemprego reduz a demanda agregada, que levará à contração na produção, à queda na produtividade, à elevação nos custos médios, à redução nas margens de lucro com consequentes cortes nos investimentos e a novos cortes nos postos de trabalho. É possível reverter esse quadro em meio a plena crise internacional?

A resposta é sim, mas infelizmente pouco provável. É possível porque, depois de quase 25 anos de semiestagnação, a economia brasileira havia conseguido criar a referida dinâmica virtuosa.

Além da política de salário mínimo, expansão de crédito e transferência de rendas por meio do Bolsa Família, o círculo virtuoso de crescimento foi gerado por uma mudança demográfica fundamental que mudou a dinâmica do mercado de trabalho. De fato, a taxa de natalidade atingiu no Brasil seu pico em 1984, quando nasceram mais de 4 milhões de brasileiros, para cair em seguida e atingir 3,5 milhões dez anos depois. A população jovem entrando no mercado de trabalho, que vinha aumentando fortemente, começa a declinar a partir de 2002. Segundo os dados e as projeções do IBGE, a população de 15 a 17 anos atingiu seu pico em 2000, para, em seguida, começar a declinar, reduzindo o fluxo excedente de trabalhadores e pressionando menos o mercado de trabalho. Esse fenômeno demográfico certamente é um dos elementos que explicam o contínuo aumento do salário real, que se tornou virtuoso, pois foi acompanhado do aumento de produtividade.

Antes da crise, o Brasil tinha replicado, internamente, uma dinâmica de crescimento clássica dos países capitalistas avançados, criando a possibilidade de romper com a dependência externa em que havíamos caído, especialmente após o Real. Romper com dependência externa não significa fechar a economia, pois elevar o fluxo de comércio é um dos elementos vitais do círculo virtuoso, já que é pelo comércio que incorporamos as inovações tecnológicas e garantimos o aumento da produtividade, sem o que o aumento de salário se torna inflacionário.

Portanto, as possibilidades estão postas, mas, com a atual configuração do nosso sistema monetário, do refinanciamento da dívida pública e da política monetária praticada pelo BC, isso será pouco provável. Aliás, com juros tão elevados, num quadro de liquidez internacional adverso, a manutenção da dinâmica virtuosa se torna uma impossibilidade.

YOSHIAKI NAKANO, 62, diretor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).

Já é Carnaval

Escolas de Samba Rio de Janeiro
Vejam o vídeos abaixo

http://www.youtube.com/watch?v=zdWmYZjVg5g

http://www.youtube.com/watch?v=C7JDBnniiH0

http://www.youtube.com/watch?v=ThMD2jFbNeg

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1247&portal=