Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
“O desafio é encontrar uma governabilidade ‘pós-PMDB’, que permita que o governo que elegeremos em 2010 se liberte do modelo que aprisionou os dois”
Na famosa entrevista da semana passada, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) tratou às claras de questões sobre as quais os profissionais da política falam sempre e muito, ainda que em particular. No governo, no Congresso, na imprensa, entre os que vivem o dia-a-dia da política, suas declarações pouco tiveram, portanto, de reveladoras. Se houve alguma surpresa, foi de que alguém com sua biografia viesse a público dizer o que disse.
As críticas a seu partido, a suas lideranças e ao modo como atuam são conhecidas faz tempo. Nos últimos anos, não houve um só grande escândalo em que o PMDB e muitos de seus principais personagens não estivessem envolvidos, ora mais, ora menos. Em alguns, com destaque, no papel de protagonistas.
Assim, para quem tem o hábito (ou a obrigação) de acompanhar o noticiário político, Jarbas não falou nada de novo. Ao contrário, por exemplo, de Pedro Collor, quando deu suas bombásticas declarações contra o irmão. Mesmo que aqui e ali já se ouvissem comentários sobre Paulo César Farias, o que ele disse ultrapassava, em muito, qualquer especulação.
Embora fosse pequena a novidade na substância das denúncias do senador, três aspectos delas merecem consideração. Nenhum, no entanto, que diminua sua importância ou significado, como tentaram fazer os defensores da tese de que sua única motivação foi a necessidade de “desabafar”.
O primeiro é o timing da entrevista. Se o senador, homem experiente que é, tivesse que procurar hora melhor, dificilmente a encontraria. Estamos, desde outubro do ano passado, vivendo a ressaca da competente estratégia de comunicação que o PMDB adotou, com o consentimento de boa parte de nossa grande imprensa. Segundo ela, o partido teria crescido ao ponto de se tornar a “noiva cobiçada” da política brasileira, sendo disputado por todos os postulantes ao cargo de Lula em 2010.
Não existe qualquer razão para sustentá-la, pois não temos, em nossa história política recente, nenhum precedente que justifique considerar que a votação agregada dos candidatos a prefeito de um partido revele sua capacidade de angariar votos para o candidato de outro em uma eleição presidencial. Mas a tese ficou.
Quando ainda estávamos sob seu efeito, vieram as eleições de Sarney e Temer para as presidências do Senado e da Câmara, que consolidaram ainda mais a imagem da força do PMDB. Com as declarações de Jarbas, parte dela ruiu. Pelo menos, se enfraqueceu: o “gigante” tem pés de barro (ou será de lama?).
O segundo é seu alcance. Há quem tenha se perguntado se as coisas que Jarbas disse do PMDB só se aplicam ao partido ou se são a regra geral. Ou seja, não seria mais justo com o PMDB dizer que ele é, apenas, igual aos outros?
Enquanto político de trajetória sempre peemedebista, o que se deveria esperar do senador? O mais natural é que se restringisse ao partido que mais bem conhece e a respeito do qual tem mais informações. Quem achar que outros também merecem críticas que as façam.
O terceiro é uma questão de foco. Na entrevista, o senador só discutiu as relações do PMDB com o governo Lula, aproveitando para revelar sua decepção com o presidente. Isso, porém, não justifica a opção de nada falar sobre algo que é muito mais geral que um problema dos seis últimos anos.
No governo FHC, o PMDB exercia um papel muito semelhante ao de hoje e era recompensado de maneira quase idêntica. Em alguns casos, ocupando os mesmos lugares na Esplanada, em outros, os substituindo por equivalentes.
Será que Jarbas não sabia disso naquela época? Será que ele não tinha entendido por que seus colegas preferiam ministérios como o dos Transportes? Teria ele se esquecido que Renan foi ministro da Justiça? E Ney Suassuna da Integração Nacional?
Ao limitar a discussão sobre o PMDB ao atual governo, Jarbas não ajuda na tarefa mais importante que temos pela frente. Fernando Henrique e Lula (daqui a pouco) são história. O desafio é encontrar uma governabilidade “pós-PMDB”, que permita que o governo que elegeremos em 2010 se liberte do modelo que aprisionou os dois.
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
“O desafio é encontrar uma governabilidade ‘pós-PMDB’, que permita que o governo que elegeremos em 2010 se liberte do modelo que aprisionou os dois”
Na famosa entrevista da semana passada, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) tratou às claras de questões sobre as quais os profissionais da política falam sempre e muito, ainda que em particular. No governo, no Congresso, na imprensa, entre os que vivem o dia-a-dia da política, suas declarações pouco tiveram, portanto, de reveladoras. Se houve alguma surpresa, foi de que alguém com sua biografia viesse a público dizer o que disse.
As críticas a seu partido, a suas lideranças e ao modo como atuam são conhecidas faz tempo. Nos últimos anos, não houve um só grande escândalo em que o PMDB e muitos de seus principais personagens não estivessem envolvidos, ora mais, ora menos. Em alguns, com destaque, no papel de protagonistas.
Assim, para quem tem o hábito (ou a obrigação) de acompanhar o noticiário político, Jarbas não falou nada de novo. Ao contrário, por exemplo, de Pedro Collor, quando deu suas bombásticas declarações contra o irmão. Mesmo que aqui e ali já se ouvissem comentários sobre Paulo César Farias, o que ele disse ultrapassava, em muito, qualquer especulação.
Embora fosse pequena a novidade na substância das denúncias do senador, três aspectos delas merecem consideração. Nenhum, no entanto, que diminua sua importância ou significado, como tentaram fazer os defensores da tese de que sua única motivação foi a necessidade de “desabafar”.
O primeiro é o timing da entrevista. Se o senador, homem experiente que é, tivesse que procurar hora melhor, dificilmente a encontraria. Estamos, desde outubro do ano passado, vivendo a ressaca da competente estratégia de comunicação que o PMDB adotou, com o consentimento de boa parte de nossa grande imprensa. Segundo ela, o partido teria crescido ao ponto de se tornar a “noiva cobiçada” da política brasileira, sendo disputado por todos os postulantes ao cargo de Lula em 2010.
Não existe qualquer razão para sustentá-la, pois não temos, em nossa história política recente, nenhum precedente que justifique considerar que a votação agregada dos candidatos a prefeito de um partido revele sua capacidade de angariar votos para o candidato de outro em uma eleição presidencial. Mas a tese ficou.
Quando ainda estávamos sob seu efeito, vieram as eleições de Sarney e Temer para as presidências do Senado e da Câmara, que consolidaram ainda mais a imagem da força do PMDB. Com as declarações de Jarbas, parte dela ruiu. Pelo menos, se enfraqueceu: o “gigante” tem pés de barro (ou será de lama?).
O segundo é seu alcance. Há quem tenha se perguntado se as coisas que Jarbas disse do PMDB só se aplicam ao partido ou se são a regra geral. Ou seja, não seria mais justo com o PMDB dizer que ele é, apenas, igual aos outros?
Enquanto político de trajetória sempre peemedebista, o que se deveria esperar do senador? O mais natural é que se restringisse ao partido que mais bem conhece e a respeito do qual tem mais informações. Quem achar que outros também merecem críticas que as façam.
O terceiro é uma questão de foco. Na entrevista, o senador só discutiu as relações do PMDB com o governo Lula, aproveitando para revelar sua decepção com o presidente. Isso, porém, não justifica a opção de nada falar sobre algo que é muito mais geral que um problema dos seis últimos anos.
No governo FHC, o PMDB exercia um papel muito semelhante ao de hoje e era recompensado de maneira quase idêntica. Em alguns casos, ocupando os mesmos lugares na Esplanada, em outros, os substituindo por equivalentes.
Será que Jarbas não sabia disso naquela época? Será que ele não tinha entendido por que seus colegas preferiam ministérios como o dos Transportes? Teria ele se esquecido que Renan foi ministro da Justiça? E Ney Suassuna da Integração Nacional?
Ao limitar a discussão sobre o PMDB ao atual governo, Jarbas não ajuda na tarefa mais importante que temos pela frente. Fernando Henrique e Lula (daqui a pouco) são história. O desafio é encontrar uma governabilidade “pós-PMDB”, que permita que o governo que elegeremos em 2010 se liberte do modelo que aprisionou os dois.
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