Sérgio Montenegro Filho
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Ex-deputado fundador do antigo MDB diz que partido perdeu a função a partir da redemocratização, e hoje serve apenas para abrigar interesses pessoais
As polêmicas críticas do senador Jarbas Vasconcelos ao PMDB – feitas em entrevista à revista Veja da semana passada – encontraram eco em um dos seus principais “mentores”, o ex-deputado federal Egídio Ferreira Lima. Ele elogia a “coragem” do primo, que na entrevista classificou o partido como “corrupto”. E vai direto ao ponto, ao afirmar que o PMDB “acabou”. O que existe hoje, na sua avaliação, é apenas uma sigla utilizada para “abrigar interesses pessoais, obter mandatos, cargos e benesses do governo”.
Fundador e um dos primeiros deputados estaduais eleitos pelo antigo MDB, em 1968, Egídio foi cassado um ano depois pelo AI-5. Na eleição seguinte (1970), seus votos – a grande maioria, de opinião – ajudaram a eleger o primo. Jarbas, inclusive, começou a carreira de direito como estagiário no escritório de advocacia de Egídio. Ali, também teve os primeiros contatos com a militância política de resistência à ditadura.
O ex-deputado constituinte lembra que o AI-5 foi outorgado pelo general-presidente Costa e Silva no dia da formatura de Jarbas, em 13 de dezembro de 1968. “Naquela época, ele juntou-se a nós no MDB, que não era um partido, mas uma frente criada para dar combate ao regime militar”, diz. “A partir da redemocratização, em 1985, o então PMDB perdeu seu objetivo de existir, e transformou-se no que está aí hoje”, analisa, reiterando os ataques do aliado. Ao contrário de Jarbas, Egídio desfiliou-se do PMDB em 1988, para ajudar a fundar o PSDB, criado basicamente por ex-peemedebistas descontentes com os rumos da antiga legenda.
Egídio Ferreira Lima conta que telefonou para Jarbas na segunda-feira passada, um dia após a divulgação da entrevista. “Ele me disse que meditou, que pensou muito antes de falar à revista, mas que tinha que fazer o que fez. Eu respondi que as declarações eram fortes, sérias, mas corretas, e que exigiriam muita responsabilidade, e que ele tinha essa responsabilidade”, avalia.
Tais acusações, na opinião de Egídio, não deverão, porém, gerar maiores represálias contra Jarbas, vindas dos atuais dirigentes peemedebistas. “Em 15 dias tudo isso terá desaparecido”, aposta. Não acredita sequer em reações da parte do presidente do Senado, José Sarney (AP), e do líder do partido na Casa, Renan Calheiros (AL), os principais atingidos pelos ataques.
“Eu vejo o PMDB como Jarbas vê. Renan e José são exatamente o que Jarbas descreveu: figuras danosas ao campo político, e ele não disse nenhuma inverdade. São acusações irrespondíveis.
Tanto é que os atingidos silenciaram”, reforça.
Segundo o ex-deputado, a atuação de Renan Calheiros é clara desde o escândalo que o envolveu quando presidia o Senado e foi denunciado por aceitar que um lobista pagasse a pensão de um filho seu fora do casamento. “Quanto a Sarney, há muito tempo eu disse que ele não tinha condições para fazer a transição democrática, porque ele tinha um passado do qual não conseguiria se livrar. Mas ele é um político sinuoso e não vai entrar num embate direto”, acrescenta.
Embora não creia em maiores represálias ao aliado por conta das críticas, Egídio, no entanto, concorda que Jarbas continuará enfrentando um isolamento muito duro no partido, no qual se posiciona como oposição ao governo Lula, contrariando a ampla maioria dos peemedebistas. “Ele só poderá sair do PMDB depois que for aprovada uma reforma política que permita a criação de uma nova legenda, para abrigá-lo”, analisa, reiterando as declarações do próprio senador à Veja.
“Mas se Jarbas conseguiu atuar de acordo com sua consciência no MDB dentro do regime autoritário, por que não iria conseguir atuar agora, no PMDB, em um regime democrático? Com o temperamento combativo dele, ele atuará bem, mesmo isolado”, aposta. “Como político sério, era obrigação de Jarbas fazer as denúncias que fez. Foi uma espécie de advertência ao partido e à sociedade, visando a eleição de 2010, e foi correto”, conclui.
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Ex-deputado fundador do antigo MDB diz que partido perdeu a função a partir da redemocratização, e hoje serve apenas para abrigar interesses pessoais
As polêmicas críticas do senador Jarbas Vasconcelos ao PMDB – feitas em entrevista à revista Veja da semana passada – encontraram eco em um dos seus principais “mentores”, o ex-deputado federal Egídio Ferreira Lima. Ele elogia a “coragem” do primo, que na entrevista classificou o partido como “corrupto”. E vai direto ao ponto, ao afirmar que o PMDB “acabou”. O que existe hoje, na sua avaliação, é apenas uma sigla utilizada para “abrigar interesses pessoais, obter mandatos, cargos e benesses do governo”.
Fundador e um dos primeiros deputados estaduais eleitos pelo antigo MDB, em 1968, Egídio foi cassado um ano depois pelo AI-5. Na eleição seguinte (1970), seus votos – a grande maioria, de opinião – ajudaram a eleger o primo. Jarbas, inclusive, começou a carreira de direito como estagiário no escritório de advocacia de Egídio. Ali, também teve os primeiros contatos com a militância política de resistência à ditadura.
O ex-deputado constituinte lembra que o AI-5 foi outorgado pelo general-presidente Costa e Silva no dia da formatura de Jarbas, em 13 de dezembro de 1968. “Naquela época, ele juntou-se a nós no MDB, que não era um partido, mas uma frente criada para dar combate ao regime militar”, diz. “A partir da redemocratização, em 1985, o então PMDB perdeu seu objetivo de existir, e transformou-se no que está aí hoje”, analisa, reiterando os ataques do aliado. Ao contrário de Jarbas, Egídio desfiliou-se do PMDB em 1988, para ajudar a fundar o PSDB, criado basicamente por ex-peemedebistas descontentes com os rumos da antiga legenda.
Egídio Ferreira Lima conta que telefonou para Jarbas na segunda-feira passada, um dia após a divulgação da entrevista. “Ele me disse que meditou, que pensou muito antes de falar à revista, mas que tinha que fazer o que fez. Eu respondi que as declarações eram fortes, sérias, mas corretas, e que exigiriam muita responsabilidade, e que ele tinha essa responsabilidade”, avalia.
Tais acusações, na opinião de Egídio, não deverão, porém, gerar maiores represálias contra Jarbas, vindas dos atuais dirigentes peemedebistas. “Em 15 dias tudo isso terá desaparecido”, aposta. Não acredita sequer em reações da parte do presidente do Senado, José Sarney (AP), e do líder do partido na Casa, Renan Calheiros (AL), os principais atingidos pelos ataques.
“Eu vejo o PMDB como Jarbas vê. Renan e José são exatamente o que Jarbas descreveu: figuras danosas ao campo político, e ele não disse nenhuma inverdade. São acusações irrespondíveis.
Tanto é que os atingidos silenciaram”, reforça.
Segundo o ex-deputado, a atuação de Renan Calheiros é clara desde o escândalo que o envolveu quando presidia o Senado e foi denunciado por aceitar que um lobista pagasse a pensão de um filho seu fora do casamento. “Quanto a Sarney, há muito tempo eu disse que ele não tinha condições para fazer a transição democrática, porque ele tinha um passado do qual não conseguiria se livrar. Mas ele é um político sinuoso e não vai entrar num embate direto”, acrescenta.
Embora não creia em maiores represálias ao aliado por conta das críticas, Egídio, no entanto, concorda que Jarbas continuará enfrentando um isolamento muito duro no partido, no qual se posiciona como oposição ao governo Lula, contrariando a ampla maioria dos peemedebistas. “Ele só poderá sair do PMDB depois que for aprovada uma reforma política que permita a criação de uma nova legenda, para abrigá-lo”, analisa, reiterando as declarações do próprio senador à Veja.
“Mas se Jarbas conseguiu atuar de acordo com sua consciência no MDB dentro do regime autoritário, por que não iria conseguir atuar agora, no PMDB, em um regime democrático? Com o temperamento combativo dele, ele atuará bem, mesmo isolado”, aposta. “Como político sério, era obrigação de Jarbas fazer as denúncias que fez. Foi uma espécie de advertência ao partido e à sociedade, visando a eleição de 2010, e foi correto”, conclui.
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