quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Wilson Gomes* - Bolsonaro: autenticidade fingida, fraudes reveladas

Folha de S. Paulo

Melhor cortina de fumaça para ardis é elogiar a verdade enquanto se manipula a massa

Praticamente tudo relacionado a Bolsonaro pode, em grande medida, ser descrito pelo campo semântico da falsificação. De adulteração e armação a tramoia e trapaça, abundam ações ou falas de Bolsonaro e do seu círculo íntimo para ilustrar cada um dos vocábulos no caminho: ardil, contrafação, embuste, engano, farsa, fraude, golpe, impostura, logro, manipulação, tapeação. Procure uma palavra cujo significado seja "atitude que visa enganar" ou "situação armada para fazer de conta" e você encontrará um verbete da enciclopédia bolsonarista.

Aparentemente, há um paradoxo entre o que estou sustentando e a extrema valorização bolsonarista do que Adorno chamava o "jargão da autenticidade", o uso da busca pela autenticidade como mera fachada. Bolsonaro foi vendido como um homem autêntico em contraposição aos hipócritas: era o sujeito do "falo, sim, doa a quem doer, sem papas na língua". Disse e fez horrores para se mostrar insubmisso ao politicamente correto, chegando frequentemente ao extremo oposto, o politicamente canalha.

Hélio Schwartsman - O que fazer com os militares?

Folha de S. Paulo

Resposta da sociedade a desmandos recentes não pode ser aumento dos soldos

A última coisa de que Lula precisa agora é uma crise com os militares. Meu receio é que, com base nesse raciocínio político que é essencialmente correto, o governo deixe de propor e tomar medidas necessárias para o aprimoramento institucional do país.

Por mais que os generais queiram circunscrever o noticiário negativo em que as Forças Armadas se viram enredadas nos últimos anos a iniciativas isoladas de oficiais que não representam a instituição, penso que o buraco é mais embaixo. Sim, temos casos como o do tenente-coronel Mauro Cid, que se envolveram até a medula no que parecem ser crimes e dificilmente escaparão a uma dura punição determinada pela Justiça. Só que os flertes dos militares com o golpismo e as dúvidas sobre sua lisura foram lamentavelmente muito mais generalizados e institucionalizados.

Bruno Boghossian – Pacificação não é anistia

Folha de S. Paulo

Parceria das Forças com bolsonarismo e corrupção das tropas foi uma escolha política

O comandante do Exército fez um diagnóstico benevolente do desgaste acumulado pela instituição. Preocupado com uma crise de imagem, o general Tomás Paiva emitiu uma ordem que promete vantagens às tropas e fala em enfrentar o "desconhecimento, por parte da sociedade, das ações desenvolvidas" pela Força.

Militares parecem interessados em usar apenas remédios suaves para enfrentar a degradação a que se submeteram nos últimos anos. Oferecem silêncio nos quartéis em troca de recompensas, tratam como casos isolados infrações em série registradas em seus quadros e deixam muita coisa sob o tapete.

Vera Rosa - O recado de Marta para Valdemar

O Estado de S. Paulo

Presidente do PL lança estratégia para provocar Centrão e Bolsonaro

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, sabe muito bem que Marta Suplicy não vai se filiar ao partido de Jair Bolsonaro para ser vice na chapa do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição. Mesmo assim, Valdemar “lançou” o nome da secretária de Relações Internacionais da Prefeitura na praça como parte de uma estratégia política.

As adiantadas investigações da PF sobre Bolsonaro fizeram o mandachuva do PL acelerar as conversas porque tudo indica que o ex-presidente não será o cabo eleitoral idealizado por ele para 2024, muito menos na capital. Se Bolsonaro não estiver preso após o escândalo da venda de joias da Arábia Saudita, que envolveu até militares do governo, é provável que tenha de ser escondido na campanha por se tratar de um padrinho tóxico para Nunes.

Zeina Latif - Precisamos falar da reforma política

O Globo

A tradução dos anseios da sociedade em uma ação estatal eficiente e justa passa por instituições bem desenhadas, inclusivas

Um debate que, com frequência, opõe economistas e cientistas políticos é quanto ao timing da reforma política. Em função da urgência em corrigir falhas na ação estatal que comprometem o crescimento do país, os economistas privilegiam as reformas econômicas.

Os defensores da priorização na reforma política — um expoente é Bolívar Lamounier —acreditam que ela é pré-condição para a celeridade e amplitude das reformas estruturais, de modo a tirar o país da armadilha do baixo crescimento.

De fato, apesar das importantes reformas aprovadas, temos sido insuficientemente ambiciosos diante do quadro de rápido envelhecimento da população, emigração de talentos e desalento dos jovens; em um contexto de avanço das tecnologias digitais.

Elio Gaspari - A tunga do imposto sindical

O Globo

O governo fala em reforma tributária e requenta um imposto do Estado Novo

Era pedra cantada, e as repórteres Geralda Doca e Victoria Abel mostraram a receita. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, cozinha um projeto de restabelecimento do imposto sindical, extinto em 2017, durante o governo de Michel Temer. Esse imposto cobrava anualmente um dia de trabalho a todos os assalariados, para financiar as máquinas dos sindicatos e federações.

Para dar um toque de modernidade à tunga, ele virá com outro nome e se chamará contribuição. Pelo formato atual, será equivalente a 1% do rendimento anual do trabalhador, sindicalizado ou não. Pelas contas do professor José Pastore, um cidadão com salário de R$ 3 mil mensais pagava R$ 100 a cada ano. Neste novo sistema, considerando-se o 13º salário, pagará R$ 390. Quase quatro vezes.

O ministro Marinho sustenta que “uma democracia precisa ter um sindicato forte”. Segundo ele:

— O que está em debate é criar uma contribuição negociável. Se o sindicato está prestando um serviço, possibilitando um aumento salarial, é justo que o trabalhador não sindicalizado pague a contribuição. Se ele não aceitar pagar a taxa, é só ir à assembleia e votar contra.

Bernardo Mello Franco - A vitória de Fufuca

O Globo

Depois de fabricar crises em série, presidente da Câmara conseguiu o que queria

Depois de fabricar crises em série, Arthur Lira conseguiu o que queria. Vai emplacar um afilhado no primeiro escalão do governo. O escolhido é André Fufuca, líder do PP na Câmara.

Quando entrou na política, o deputado de bochechas rosadas ainda era estudante de medicina. Em Brasília, conheceu Eduardo Cunha e aprendeu a fazer outro tipo de operação.

A proximidade entre os dois entrou para o folclore do Congresso. Em sessão do Conselho de Ética, o ex-deputado Júlio Delgado confidenciou que Fufuca chamava Cunha de “papi”. O futuro ministro subiu nas tamancas. Disse que o termo era considerado “afeminado” em seu estado natal.

Vera Magalhães - Pressão 'técnica' sobre Marina

O Globo

Lula 3 vai se mostrando um governo em bases antigas, mas com discurso moderninho que mimetiza algumas preocupações do século XXI

Lula 3 tem se mostrado um governo preocupado em fazer um retrofit do discurso e da prática históricos do presidente e do PT. Em áreas como a trabalhista e a ambiental, a preocupação é dar uma roupagem moderna a velhas práticas e prioridades. Cai quem quer.

A discussão para a volta do imposto sindical recorre a terminologias diferentes e eufemismos para despistar a essência da proposta: tentar resgatar a força política de sindicatos, centrais e federações sindicais, aniquilada pela reforma trabalhista. Nas quedas de braço entre o inalterado desenvolvimentismo lulopetista e a preocupação ambiental prometida na campanha, a ideia agora é submeter Marina Silva a contrapontos “técnicos” para fazê-la ceder.

Fernando Exman - Um caminho produtivo para a CPI da Americanas

Valor Econômico

Comissão dificilmente avançará mais do que o Ministério Público e a Polícia Federal na apuração dos fatos

Instalada em meio à crescente desconfiança quanto à efetividade das comissões parlamentares de inquérito, a CPI da Americanas tem a oportunidade de concluir seus trabalhos deixando pelo menos um legado positivo. Para tanto, defendem fontes do meio corporativo e integrantes de órgãos de fiscalização, o colegiado deveria usar a influência de seus integrantes para tentar impulsionar a tramitação de um projeto que regulamente, no setor privado, a figura do “denunciante de boa-fé”. O chamado “whistleblower”.

O prazo de funcionamento da CPI é 14 de setembro, mas pode ser prorrogado. Os entusiastas de ampliá-lo, aliás, ganharam novo ânimo com a revelação de que ex-funcionários da companhia já fecharam ou negociam delações premiadas.

Lu Aiko Otta - Estado empresário traz tristes lembranças

Valor Econômico

Projeto voltou a Brasília e parece não ter ideias muito diferentes daquelas que trouxeram prejuízos ao contribuinte brasileiro

O Estado empresário voltou a Brasília com o paletó cheirando a guardado. Não se sabe exatamente quais são seus planos. Pelo que foi divulgado até agora, não parece que tenha ideias muito diferentes daquelas que trouxeram prejuízos ao contribuinte brasileiro e que o colocaram na geladeira nos últimos quatro anos. Mas seu entorno diz que desta vez será diferente.

À parte seus defeitos, a Operação Lava-Jato mostrou que o Estado empresário se envolvera com sócios de conduta duvidosa e que recursos de empresas estatais foram desviados. Na raiz dessa associação, desde a origem pouco auspiciosa, estava a falta de base do governo no Congresso. Ligando os pontos com o cenário atual, fica difícil manter o otimismo.

O déjà-vu ficou forte com o lançamento do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O Estado empresário ficará responsável pela maior parte do programa, de R$ 1,7 trilhão. A participação privada, que dá suporte ao termo “Novo”, responderá por R$ 612 bilhões.

Luiz Carlos Azedo - Preço da governabilidade é compartilhar o poder com o Centrão

Correio Braziliense

Lula e Lira jogam uma partida em que alternam surda confrontação e cooperação. Nesse “tit for tat”, sempre acaba prevalecendo a cooperação como estratégia mais vantajosa

O novo arcabouço fiscal desencantou, nesta terça-feira, na Câmara, notícia boa para todo mundo, em especial para os moradores de Brasília, que conseguiram manter o Fundo Constitucional que financia a segurança pública e a educação. Seu desenho garante novas regras para o exercício fiscal, uma vez que o antigo teto de gastos, se mantido, exigiria um um corte brutal nas despesas do governo, com grande impacto negativo na economia. Além de reduzir os investimentos públicos, seria um sinal péssimo para investidores e empresas, com possível alta da inflação e estagnação da economia. E também um fator de crise institucional.

A próxima etapa agora é a aprovação da reforma tributária, que ainda é objeto de negociações no Senado, em razão das emendas feitas na Câmara. A resistência dos estados do Sul e do Sudeste ainda é grande, principalmente em relação à centralização da arrecadação pela União. Também se negocia a redução das isenções aprovadas na Câmara, cujos jabutis podem provocar o aumento das alíquotas. A reforma tributária será a principal âncora da política econômica do governo Lula, que é protagonista de uma reforma das mais difíceis, discutida há mais de 30 anos no Congresso.

César Felício - Aprovação do arcabouço é vitória para o governo

Valor Econômico

Exclusão de emenda que alterava período de inflação para correção do limite do marco fiscal, proposta pelo líder do governo no Senado, sinaliza falta de consolidação de uma base governista

aprovação do arcabouço fiscal nesta terça-feira (22) é uma vitória importante para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Está longe, contudo, de ser um indicativo de consolidação de uma base governista.

Um sinal neste sentido foi a exclusão pelos deputados da emenda do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que alterava o período de inflação para cálculo da correção do limite do marco fiscal. De R$ 32 bilhões a R$ 40 bilhões são as estimativas do que a mudança poderia proporcionar ao governo federal.

A exclusão do Fundeb e do Fundo Constitucional do Distrito Federal do limite fiscal, alterações do Senado que foram chanceladas pelos deputados, não eram iniciativas do governo federal.

A situação na Câmara dos Deputados ainda é a de negociações estanques: as maiorias se formam caso a caso, a depender da pauta, conforme acertos pontuais do colégio de líderes.

Congresso aprova novo arcabouço fiscal e põe fim ao teto de gastos

Folha de S. Paulo

Texto vai para sanção e substitui regra para as contas públicas criada por Temer há mais de seis anos

BRASÍLIA - O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve aval do Congresso Nacional nesta terça-feira (22) para enterrar o teto de gastos, criado há mais de seis anos, e implementar o novo arcabouço fiscal —uma nova regra para as contas públicas que prevê o crescimento das despesas acima da inflação.

O projeto de lei do Executivo já havia sido aprovado pela Câmara em um primeiro momento (em maio), tendo voltado para a análise dos deputados após modificações feitas pelo Senado (em junho). Por já ter passado pelas duas Casas, o texto segue agora para sanção presidencial.

Na sessão da Câmara desta terça, foram discutidas principalmente as emendas ao texto oriundas da Casa vizinha. O governo conseguiu apoio de 379 deputados em uma votação sobre um primeiro bloco de emendas e 423 em outra, sobre um segundo bloco.

Os números seriam suficientes para aprovar uma PEC (proposta de emenda à Constituição), cujo mínimo é 308 votos. Como o texto é um projeto de lei complementar, eram necessários, no mínimo, 257 votos dos 513 deputados.

A nova regra foi desenhada com a promessa de garantir mais recursos para políticas públicas e ao mesmo tempo reequilibrar gradualmente as contas do governo, que entraram no vermelho em 2014 —e, desde então, só exibiram resultado positivo em 2022.

A proposta determina que as despesas federais vão crescer todo ano de 0,6% a 2,5% em termos reais (além da inflação). O percentual vai variar dentro desse intervalo de forma proporcional às receitas obtidas pelo governo —ou seja, quanto maior tiver sido a arrecadação, mais será possível gastar.

Uma vez assinado por Lula, o texto dará fim ao congelamento de gastos criado no fim de 2016 por Michel Temer (MDB). A extinção automática do teto no ato da sanção do arcabouço é prevista pela PEC criada ainda na época da transição de governo, em 2022.

O que a mídia pensa: editoriais / opiniões

Brasil deveria criar distância da China em reunião do Brics

O Globo

Ampliação não pode transformar bloco num veículo para interesses antiamericanos dos chineses

Com a presença de todos os governantes, com exceção do russo Vladimir Putin, que não viajou porque corria o risco de ser preso, a cúpula do Brics — bloco formado por Brasil, RússiaÍndiaChina e África do Sul, sede do encontro — é marcada pelo debate sobre sua expansão. O plano da China é atrair novos integrantes para tentar criar um competidor ao G7, formado pelas maiores economias do Ocidente e pelo Japão. Presente na reunião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa manter o equilíbrio para não sucumbir à retórica antiocidental.

Sem dúvida o Brics é uma plataforma útil para o Brasil. Nas relações internacionais, permite uma atuação não alinhada e reforça a posição de liderança regional. Do ponto de vista econômico, aumenta a visibilidade do país por associá-lo a dois motores do PIB global: China e Índia. Para uma potência média e uma economia emergente como a brasileira, o Brics tem relevância.

Poesia | Euclides da Cunha - Dedicatória

 

Música | Paulinho da Viola, - Timoneiro

 

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Míriam Leitão – Nada garante quem ameaça

O Globo

Encontro com os comandantes deixa a impressão de que as Forças Armadas precisam ser acalmadas e compensadas, mesmo com os recentes episódios

Só um país em crise faz uma reunião, sábado, de seis às oito da noite, no palácio residencial, entre os comandantes militares e o presidente da República. A crise foi gerada pelo envolvimento de muitos militares no projeto de um novo golpe contra as instituições democráticas. Em uma parte da reunião, eles falaram sobre investimentos que o governo pretende fazer nas Forças Armadas. No PAC, até 2026, seriam R$ 53 bilhões. De novo, o esforço dos civis é para tentar compensá-los e acalmá-los não se sabe por qual motivo. É simplesmente inconcebível que quepes pairem sobre a República. Mas essa presunção dos militares foi plantada há muito tempo.

O historiador Carlos Fico, da UFRJ, lembra que um erro da Constituição de 1891, a primeira da República, acabou se eternizando na história constitucional brasileira.

—Durante a constituinte de 1988, Afonso Arinos, José Genoíno e Fernando Henrique Cardoso, quer dizer, direita, esquerda e centro, tentaram evitar que o artigo 142 fosse redigido daquela maneira. Não conseguiram. Por pressão do general Leônidas Pires Gonçalves. Nunca conseguimos enfrentar o que se iniciou em 1891. Rui Barbosa, na época, incluiu o artigo 14 na Constituição de 1891, estabelecendo que as Forças Armadas eram a garantia dos poderes constitucionais. Mas o que era isso? Era uma atribuição do poder moderador do Imperador que, por causa desse artigo, foi atribuído às Forças Armadas. Esse fantasma, que vem do século 19, continua a assombrar. Há dezenas de exemplos na história. É um problema muito arraigado na sociedade, no imaginário militar e em muitos setores civis também.

Carlos Andreazza – Contrabandos

O Globo

As versões do advogado de Mauro Cid produziram muitos efeitos

O terceiro advogado de Mauro Cid tinha dado — até o momento em que escrevo, tarde de segunda (21 de agosto) — pelo menos cinco entrevistas desde que assumira a defesa do tenente-coronel, na terça, dia 15. Na última, domingo (20), falou ao Estadão:

— Vou dar 20 ou 30 versões. Posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos.

A comunicação da obviedade é clara: a versão da defesa ainda não existe. Não existe a defesa. Não ainda. Há o verbo, em movimento e reforma constantes, do advogado. Há testes especulativos e recados. Que produzem (produziram) efeitos. Mais que expectativas — a de que Cid confessaria, a maior de todas—, efeitos.

Dora Kramer - Demora ministerial

Folha de S. Paulo

Astuto, Lula procrastina reforma para suavizar efeito da entrada do centrão no governo

Há quem considere que o presidente da República tenha errado ao deixar seus ministros anunciarem a dita reforma ministerial para em seguida ele mesmo procrastinar o ato formal da atração de deputados da chamada oposição.

Luiz Inácio perdeu o "timing", dizem nas entranhas do Congresso os mais impacientes. Mas Lula, em sua astúcia, pode ter optado por dar esse enorme tempo ao tempo no intuito de normalizar a entrada do centrão no governo.

Tivesse batido o martelo lá atrás, em meio à demissão da então ministra Daniela Carneiro, do Turismo, provavelmente seria alvo de pesadas críticas devido à adesão ao fisiologismo explícito, ao toma lá dá cá de raiz.

Hélio Schwartsman - Democracia lotérica

Folha de S. Paulo

Trocar eleições por sorteio para cargos públicos protegeria sistema de personalidades perigosas

Vamos acabar com as eleições? Calma, a ideia não é minha, mas de Adam Grant, que não é exatamente um golpista de quatro costados, mas um acadêmico, interessado em aprimorar a democracia. Ele expôs essa ideia em artigo que acaba de ser publicado no New York Times.

Grant é um psicólogo organizacional e, se há algo que psicólogos organizacionais temem, é a chamada tríade sombria, o nome dado à conjunção de altos teores de narcisismo, psicopatia e maquiavelismo numa mesma personalidade. Essa combinação é característica de líderes autoritários e bem mais comum entre políticos do que na população geral. Uma das razões para isso é que portadores da tríade tendem a ter ambição política e a ser bons manipuladores, o que lhes dá vantagem nas urnas.

Alvaro Costa e Silva - Preso na miséria da favela

Folha de S. Paulo

Modelo de Bukele, o ditador de El Salvador, já é realidade no Brasil

Na campanha eleitoral de 2018, Wilson Witzel —político que "tentando a subida desceu", como a Conceição de Cauby Peixoto— disse que iria construir navios-presídios em alto mar para abrigar presos. A cadeia flutuante é realidade nos EUA e, no Brasil, remete aos tempos da chegada da Corte portuguesa, em 1808, com as presigangas fundeadas na baía de Guanabara que funcionavam como depósito de "escravos em correção".

Não duvide que a ideia volta, impulsionada pelo efeito Nayib Bukele, o ditador de El Salvador que surfa numa onda de popularidade de 90% após adotar uma política de julgamentos e detenções em massa, assassinatos e tortura. Bukele se orgulha de ter inaugurado o maior presídio da América Latina, com capacidade para 40 mil pessoas. Apesar de ser um risco real à democracia, serve de inspiração para candidatos à Presidência do Equador e Guatemala. Logo, logo, surge um Bukelezinho por aqui.

Rubens Barbosa* - A tirania da mediocridade

O Estado de S. Paulo

A busca da eficiência e de resultados com visão de futuro, com uma nova liderança política e uma burocracia mais competente, é do que o Brasil precisa

Poucos pensam e discutem o Brasil acima de preocupações político-partidárias e de interesses pessoais. Não se trata de criticar a ação do governo de turno e de outros que o precederam. Hoje, na prática, o País está sem projeto de nação, que defina os rumos da economia; sem estratégia nacional de segurança, que defina o lugar do Brasil no mundo em rápida e profunda transformação; sem uma clara definição de objetivos modernos para a educação que dê base para a inovação e o desenvolvimento tecnológico; e sem saber como equacionar seus problemas sociais e ambientais no médio e no longo prazos.

Com forte influência populista, o País está dividido ideologicamente e politicamente. Ao não ousar, vê seu crescimento reduzido, as desigualdades aumentando, a violência crescendo, a base industrial se deteriorando e as vulnerabilidades econômicas, comerciais, sociais, militares e de defesa aumentarem. A segurança jurídica está abalada por decisões contraditórias e a competitividade da economia, paralisada pela ineficiência da burocracia e do tamanho do Estado.

Eliane Cantanhêde - PF e Coaf de volta à ativa

O Estado de S. Paulo

Enquanto PF e Coaf abrem os podres do bolsonarismo, Lula reúne cúpula militar em torno da piscina

Tão perseguidos e asfixiados nos últimos quatro anos, a Polícia Federal, que teve quatro diretores, e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que pulou de galho em galho, recuperaram prestígio e estão trabalhando a todo o vapor, de forma firme, discreta e com uma eficiência poucas vezes vista. Além de se abastecerem mutuamente, também fornecem dados fundamentais e luzes para a CPMI do Golpe.

São dois caminhos, que passam por militares da ativa e da reserva, tipos condenados e presos, advogado apelidado de “cleaner” (que limpa a “sujeira”)

e chegam diretamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao Planalto durante o seu governo. Um é o do golpe, o outro é o das joias e contas, lembrando que “só” as joias, por mais diamantes que tenham, não justificam a movimentação financeira astronômica identificada pelo Coaf no entorno de Bolsonaro.

Andrea Jubé - Debate sereno sobre militares surpreendeu

Valor Econômico

Encontro reuniu militares, políticos de diferentes matizes e pesquisadores acadêmicos na CCJ na quarta-feira

Em meio ao escândalo da venda de joias do acervo da Presidência da República, que implica a participação de militares de altas patentes; e ao avanço da comissão parlamentar de inquérito (CPI) mista que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que envolvem a participação de militares de todas as patentes, o debate sobre os limites constitucionais de atuação das Forças Armadas, realizado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados nesta conjuntura tão explosiva, surpreendeu pelo tom majoritariamente conciliador.

Como se sabe, os desdobramentos das investigações da Polícia Federal sobre os desvios de joias do patrimônio público sugerem o envolvimento direto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do tenente-coronel Mauro Cid - militar da ativa, que foi seu ajudante de ordens na Presidência, e se encontra preso -, e do pai dele, general de quatro estrelas Mauro Lourena Cid, oficial da reserva.

Assis Moreira - Brasil prevê exportações de US$ 90 bi para a China, apesar da crise

Valor Econômico

Brasília monitora também eventual aumento de importações vindas da China, no rastro da desaceleração

O presidente da China, Xi Jinping, desembarca em Joanesburgo para a cúpula do Brics no rastro de um acúmulo de indicadores econômicos em declínio no país nas últimas semanas, que elevam significativamente os riscos para nações em torno do mundo.

O presidente Lula tem razões para estar atento: nada menos de 30% do que o Brasil exportou entre janeiro e julho foi para o mercado chinês, ilustrando o tamanho da exposição ao país asiático.

As notícias ruins na segunda maior economia do mundo começaram com uma mudança de expectativa em torno de expansão robusta, após a suspensão da política de zero covid, por temores de desaceleração severa. As vendas no varejo, a produção industrial e o investimento em ativos fixos cresceram em ritmo mais lento em julho do que no mês anterior. O desemprego entre os jovens atingiu um recorde de 21,3%. Os preços de bom número de produtos caíram e entraram em território deflacionista, prenúncio de menor atividade comercial.

Pedro Cafardo - Por que os Brics deveriam ser Cirbs

Valor Econômico

Infelizmente, o Brasil continua sendo a maior decepção entre os quatro países do grupo original

No dia em que começa a reunião de cúpula dos líderes do Brics, em Joanesburgo, é oportuno atualizar os dados sobre o crescimento dessas nações que, 20 anos atrás, eram consideradas as grandes potências econômicas emergentes do século XXI.

Infelizmente, o Brasil continua sendo a maior decepção entre os quatro países do grupo original, formado também por Rússia, Índia e China.

Vale recordar que esse grupo surgiu de um estudo feito em 2003 pelo economista Jim O’Neil, então do Goldman Sachs, e assinado também por Dominic Wilson e Roopa Purushothaman.

O estudo é detalhista e ousado em “profecias”. Projeta o crescimento do Produto Interno Bruto, ano a ano, para cada um dos quatro países desde o ano 2000 até 2050, quando o quarteto, em conjunto, deveria superar o PIB do G6, formado por EUA, Alemanha, Japão, França, Inglaterra e Itália. A África do Sul não fez parte do estudo e só entrou no grupo em 2011.

Janaína Figueiredo* - Milei muito além da dolarização

O Globo

Em todos os setores da sociedade há argentinos desiludidos com um país que há 80 anos vive aos trancos e barrancos

Se o candidato de extrema direita Javier Milei for eleito presidente da Argentina, o país — que em dezembro completará 40 anos consecutivos de democracia, fato inédito desde o golpe militar de 6 de setembro de 1930, contra o presidente Hipólito Yrigoyen, da tradicional União Cívica Radical — poderá abrir um capítulo inesperado em sua História recente. Muito se fala da proposta de dolarização do candidato do jovem partido A Liberdade Avança, e poucos sabem que sua vice, a advogada Victoria Villarruel, defende uma “revisão da década de 70” e considera as Mães e Avós da Praça de Maio, acima de qualquer coisa, mães de terroristas.

À medida que passam os dias, o fenômeno Milei cresce, e é preciso entender profundamente o que ele representa, porque sua eventual vitória terá impacto dentro e fora da Argentina. O economista e suas ideias penetraram em todos os setores sociais do país — ricos, classe média e pobres. Essencialmente, porque em todos esses setores há argentinos desiludidos com um país que há 80 anos vive aos trancos e barrancos, sem encontrar saída sustentável para sucessivas crises econômicas. São pessoas em situação precária, marginalizadas do mercado de trabalho formal, mas também profissionais bem remunerados que vivem em casas luxuosas de grandes condomínios da província de Buenos Aires. Para todos, a Argentina precisa de uma alternativa radical, de alguém que chute o balde, que faça o país “explodir” (expressão literal, que ouvi da boca de muitos argentinos), para ressurgir das cinzas e voltar a ser a nação rica e próspera do início do século passado.

Luiz Carlos Azedo - E se Trump fosse o presidente dos EUA?

Correio Braziliense

Defender a democracia como valor universal é um escudo antigolpista. Tanto no plano interno quanto na política internacional

O ex-chanceler do México Jorge Castañeda disse à CNN Internacional, no sábado, que o golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro para continuar no poder não ocorreu em 8 de janeiro porque os Estados Unidos atuaram para “persuadir” as Forças Armadas brasileiras a não aderir aos atos golpistas. Seu comentário foi feito num contexto em que criticou a atuação do presidente Joe Biden em favor da democracia na América Latina. Cientista político, economista e diplomata, Castañeda foi secretário das Relações Exteriores do México de 2000 a 2003, durante a presidência de Vicente Fox. Escreveu livros sobre os movimentos de esquerda na América Latina, entre os quais uma biografia de Che Guevara.

“Com a exceção do Brasil, os Estados Unidos não foram uma fonte de força para a democracia na América Latina, em um momento que ela estava enfraquecida por todos esses eventos que nós vínhamos falando. No caso do Brasil, sim, os Estados Unidos convenceram, persuadiram as Forças Armadas brasileiras a não perseguir um golpe militar contra o presidente Lula, que foi eleito no final do último ano e tomou posse em primeiro de janeiro, e foi quase deposto em um golpe com grande participação militar em 8 de janeiro”, disse na entrevista, divulgada aqui no Brasil pelo site Congresso em Foco.

O que a mídia pensa: editoriais / opiniões

Volta do imposto sindical seria um retrocesso

O Globo

Projeto que ministro Luiz Marinho pretende encaminhar ao Congresso estabelece valor fora da realidade

Mesmo antes de tomar posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais escondeu a intenção de rever a reforma trabalhista aprovada em 2017. O Ministério do Trabalho foi entregue a Luiz Marinho, que comandou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC como Lula e já fora ministro em mandatos anteriores. Agora, enquanto o Supremo demora a julgar se é constitucional haver uma contribuição obrigatória a sindicatos, Marinho confirma que o governo remeterá ao Congresso um projeto que, na prática, recria o imposto sindical (ainda que com outro nome).

Até 2017, cada trabalhador recolhia o equivalente a um dia de trabalho por ano para sustentar a burocracia sindical. Na reforma, a obrigatoriedade acabou. Foi um avanço, pois os sindicatos deixaram de ter uma fonte cativa de recursos sem fazer esforço e precisam se aproximar das categorias que representam. Os sindicalistas, há décadas habituados ao privilégio, tiveram de começar a justificar com seu trabalho o sustento das entidades.

Poesia | Pablo Neruda - A Dança

 

Música | Edu Lobo, Romero Lubambo e Mauro Senise - Valsa Brasileira

 

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Fernando Gabeira - Um golpe fora do lugar

O Globo

Os dados rocambolescos e a incompetência de golpistas não podem ser usados como atenuantes

Na minha idade, é impossível falar de golpe de Estado no Brasil e se desvencilhar da memória. Ouço isso desde garoto. Quando comecei a trabalhar no Rio, conheci um repórter veterano chamado Redento Júnior. Ele cobria a Aeronáutica e estava sempre esperando algo: Aragarças, Jacareacanga, movimentos em que um grupo aterrissava na selva amazônica para derrubar o governo.

Era até um pouco romântico. Vi o capitão Lameirão andando pelas ruas de Juiz de Fora, carregava a memória de rebeliões fracassadas. Em 1961, aos 20 anos, no Rio, acompanhei eletrizado o sequestro do transatlântico Santa Maria pelo capitão português Henrique Galvão e pelo general Humberto Delgado. Era uma ação espetacular contra a ditadura salazarista.

Em 1964, cobri com uma dor no coração o golpe que derrubou Goulart. Entrevistei o general Mourão e me vinguei no primeiro parágrafo da matéria: o comandante da marcha militar contra o Rio sofreu um enfarte depois de andar alguns quilômetros em Copacabana.

Demétrio Magnoli - A cor é política

O Globo

Tribo chique da pureza racial precisa do racismo para prosperar

A cor é política. Só assim entende-se a mudança captada pelo IBGE na declaração de cor/raça entre 2012 e 2022. No curto intervalo, os pretos saltaram de 7,4% para 10,6% dos brasileiros, enquanto a parcela de brancos caiu de 46,3% para 42,8%. As alterações, que parecem refletir o efeito das leis de preferências raciais, não tiveram impacto sobre os autodeclarados pardos: 45,6% em 2012; 45,3% em 2022. É uma prova, entre tantas outras, do fracasso do identitarismo racial.

“Mestiçagem, identidade e liberdade”, o novo livro do antropólogo Antonio Risério, publicado pela TopBooks, esclarece a finalidade das políticas de raça. Não se trata, como alegam seus arautos, de oferecer oportunidades a pessoas em desvantagem, via acesso às universidades ou a empregos públicos. Busca-se, de fato, dissolver a consciência da mestiçagem que sustenta nossa identidade nacional, substituindo-a pela imagem de um país bicolor, dividido entre “brancos” e “negros”.

Marcus André Melo* - Bolsonaro e a morte anunciada

Folha de S. Paulo

As duas faces da corrupção e suas consequências políticas

Em coluna publicada em 2019 afirmei que "a exposição da grande corrupção favoreceu Bolsonaro; a da pequena poderá fraturar sua base". A conjetura mostrou-se acertada. Na atual conjuntura o caso das joias está levando o ex-mandatário a uma bancarrota política inédita.

literatura especializada distingue a petty corruption (corrupção de pequena escala) da grand corruption (de grande escala). A primeira diferencia-se por ser transações singulares, individualizadas, e não institucionalizadas; a segunda por ser institucionalizada, envolvendo burocracias públicas, partidos políticos, estatais, sendo recorrente e de elevado valor.

Referia-me na coluna às rachadinhas e ao papel que a exposição na opinião pública do mensalão e petrolão teve na ascensão de Bolsonaro. O caso teve pelo menos dois desdobramentos institucionais –no Coaf e na Polícia Federal— nos quais teve participação ativa com custos políticos e derrotas no STF. A fratura na base acarretou a defecção dos setores que apoiavam a Lava Jato da coalizão que levou Bolsonaro ao Planalto. Seu símbolo foi a saída de Moro do governo. Ao que se seguiu o rapprochement do governo com o centrão e a marginalização de olavistas e militares.

A pequena corrupção no país é uma das menores da América Latina e similar à média da OCDE. Já no pioneiro Barômetro da Corrupção (2011) a percentagem de brasileiros que declaravam ter pago propina (a policiais, fiscais, provedores de serviço etc.) foi de 4%, baixa comparada aos 12% da Argentina, 21% do Chile e 31% do México. Em 2019, continuou a menor da região (11%).

Camila Rocha* - Bolsonaro e o futuro dos militares

Folha de S. Paulo

Era difícil imaginar que o golpismo militar poderia se tornar novamente uma fonte de preocupação

Para parte expressiva dos brasileiros que cresceram após a redemocratização do país, as Forças Armadas são tidas como sinônimo de ditadura.

No entanto, há 20 anos era difícil imaginar que o golpismo militar poderia se tornar novamente uma fonte de preocupação.

Afinal, os defensores da ditadura pareciam se restringir às comemorações emboloradas do golpe de 1964, manifestações de pequenos grupos neonazistas, e à circulação restrita de uma obra revanchista, publicada após a transição democrática, intitulada "O Livro Negro do Terrorismo no Brasil", mais conhecida como "Orvil", livro de trás para a frente.

Porém, em meio às investigações que se avolumam em torno de Jair Bolsonaro e dos militares que o apoiaram em suas intenções golpistas, os anos 1980 nunca pareceram tão atuais.

Em 1989, na coletânea Democratizing Brazil, a cientista política Maria do Carmo Campello de Souza publicou um texto intitulado: "A Nova República sob a Espada de Dâmocles".

Ana Cristina Rosa - Uma dívida irreparável

Folha de S. Paulo

O Brasil está diante de um déficit gigante no que tange à regularização fundiária e de uma dívida irreparável com a vida

assassinato da ialorixá Bernadete Pacífico, Coordenadora Nacional da Articulação de Quilombos (Conaq) e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, na Bahia, dia 17, expôs a violação de ao menos quatro direitos constitucionais reiteradamente sonegados aos negros no Brasil: vida, liberdade, segurança e propriedade.

execução de Mãe Bernadete um mês após ter se encontrado com a presidente do STF e alertado para os riscos que corria expôs a omissão do Estado. Ou, nas palavras dela (gravadas em vídeo), "o descaso das autoridades, principalmente quando se trata do povo negro (....) É justo? O que nós recebemos é ameaças (....) Vivo assim, eu não posso sair, minha casa toda cercada de câmeras".

Apesar da gravidade da denúncia, nenhum mecanismo foi efetivado para proteger a vida da ialorixá que, ao representar sua ancestralidade e lutar pela titulação das terras habitadas por quilombolas, incomodou e contrariou interesses.