Valor Econômico
Brasília monitora também eventual aumento
de importações vindas da China, no rastro da desaceleração
O presidente da China, Xi Jinping,
desembarca em Joanesburgo para a cúpula do Brics no rastro de um acúmulo de
indicadores econômicos em declínio no país nas últimas semanas, que elevam
significativamente os riscos para nações em torno do mundo.
O presidente Lula tem razões para estar
atento: nada menos de 30% do que o Brasil exportou entre janeiro e julho foi
para o mercado chinês, ilustrando o tamanho da exposição ao país asiático.
As notícias ruins na segunda maior economia do mundo começaram com uma mudança de expectativa em torno de expansão robusta, após a suspensão da política de zero covid, por temores de desaceleração severa. As vendas no varejo, a produção industrial e o investimento em ativos fixos cresceram em ritmo mais lento em julho do que no mês anterior. O desemprego entre os jovens atingiu um recorde de 21,3%. Os preços de bom número de produtos caíram e entraram em território deflacionista, prenúncio de menor atividade comercial.
As exportações caíram pelo terceiro mês
consecutivo (-14,5% só em julho) e as importações declinaram pelo quinto mês,
em outra sinalização de enfraquecimento. Além disso, falências no enorme setor
imobiliário, que normalmente impulsiona um quarto da atividade econômica,
alimentam a preocupação com contágio para o setor financeiro.
Apesar dessa situação de crise econômica,
no governo brasileiro a projeção é de que as exportações continuarão
expressivas para seu principal parceiro comercial.
A secretária de Comércio Exterior do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Tatiana
Prazeres, destaca dois pontos. De um lado, a desaceleração chinesa na China é
ponto de atenção para o comercio exterior do Brasil, afinal o mercado chinês é
destino de quase um terço do que o país exporta.
De outro lado, ‘há um risco dessas análises
colapsistas dominarem o noticiário. Estamos falando de desaceleração na segunda
maior economia do mundo, mas que é uma desaceleração para 5%. A China continua
puxando o crescimento mundial’. Ou seja, 5% de crescimento chinês é 'muito
importante e positivo'' para o Brasil.
Entre janeiro e julho, as exportações
brasileiras para a China cresceram 6,9%, puxadas pelas quantidades embarcadas,
e somaram US$ 58,7 bilhões. Em comparação, o aumento médio global das
exportações foi de 0,2% no mesmo período.
Para o segundo semestre, as perspectivas
variam de acordo com a commodity para o mercado chinês. A renda do consumidor
chinês não cresce como vinha crescendo e há uma alteração na demanda.
A situação é mais positiva para as
commodities alimentares, como milho, carnes de aves, suínos, e para celulose.
Já exportações de commodities como minério
de ferro e petróleo podem ser afetadas. Mas a secretária de Comércio Exterior
do Mdic estima que em quantidade a exportação de minério de ferro brasileiro
continuará bem, graças a sua qualidade (teor de ferro) em relação aos
concorrentes.
Nesse cenário, a projeção do governo
brasileiro é de que o país poderá fechar o ano com exportações de US$ 90
bilhões para a China, ou 27% de exportações totais de US$ 330 bilhões (US$ 335
bilhões em 2022). A projeção de venda para o mercado chinês é assim de valor
idêntico ao do ano passado.
‘Esse é um resultado notável, sobretudo
diante da queda de preços das principais commodities (neste ano)’, argumenta
Tatiana Prazeres.
A baixa de preços foi de 25% nas exportações de petróleo, de 16% nas vendas de minério de ferro e de 9,6% nas vendas de soja, no acumulado de janeiro a julho.
Com a mudança de patamar do crescimento da
economia chinesa, dois pontos estão no radar. De um lado, em tese, a China
poderia aumentar investimentos no exterior, para compensar a perda de dinamismo
doméstico e diversificar.
De outro lado, se o mercado doméstico tem
menos capacidade de absorver bens produzidos no país, suas empresas podem ser
ainda mais agressivas para compensar essa situação com vendas no mercado
externo turbinadas com subsídios e também com dumping (preços abaixo do valor
cobrado pela empresa exportadora em seu mercado doméstico).
Daí o monitoramento sobre eventuais
impactos de maior importação procedente da China. Setores siderúrgico e químico
no Brasil são especialmente sensíveis a essa situação.
Entre alguns economistas de organizações internacionais,
a percepção é também de que há exagero sobre a situação atual da China. Notam
que as autoridades chinesas tomaram algumas medidas, mesmo modestas, para
reavivar o crescimento, incluindo o corte das taxas de juros, e prometeram
fazer mais se as condições piorarem.
As autoridades de Pequim têm os meios de
impedir que a crise imobiliária se torne crise financeira, na avaliação de
diferentes analistas. E o governo central tem margem de manobra para absorver a
dívida de governos locais e restruturar seus ativos duvidosos.
A vulnerabilidade do Brasil ao cenário
chinês é clara, mas esses economistas notam que, no geral, a Europa também é
preocupante. Vários países estão em situação fragilizada e não se sabe quando
as taxas de juros deixarão de subir, enquanto na China a política é
expansionista.
De fato, as exportações brasileiras para a
Europa declinaram 9,4% no acumulado do ano. Para a Espanha, as vendas chegaram
a -23,6% comparado ao mesmo período do ano passado. Para Portugal, --19,3%,
para a Itália -10,6%, para a França -10,3, para a Alemanha – 7,8%, para a
Bélgica – 29,3%, para a Finlândia – 32,2%.
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